A ESPERANÇA EM JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na alheta do bem-aventurado Papa João Paulo II se celebra no segundo domingo da Páscoa a festa da Misericórdia divina. Este pontífice havia conhecido os horrores da segunda guerra mundial e os terrores espalhados por Hitler, sobretudo na sua pátria a Polônia. Esta foi o primeiro país invadido pelas tropas nazistas. Depois vieram as horripilas abominações do regime comunista. Jovem, e mais tarde sacerdote e bispo, aquele que se tornaria um dos papas mais queridos da História se opôs corajosamente aos ditadores que humilhavam e perseguiam a torto e a direito. Como Chefe da cristandade João Paulo II preferiu propor a misericórdia que se torna perdão aos sentimentos de ira e vingança que nazistas e comunistas provocaram. Como os seres humanos são lentos em se corrigir de seus maus sentimentos suscitados pelos conflitos que abalaram a História, o Papa quis que o prolongamento da festa da Páscoa fosse impregnado da misericórdia divina, ocupando um lugar importante na vida dos seguidores de Cristo ressuscitado, o Bom Pastor. Atendeu inclusive ao desejo do próprio Cristo através das revelações à Irmã Faustyna. Jesus havia se apresentado no meio de seus discípulos com saudações de paz e instituindo exatamente o Sacramento do Perdão. Os pecados por graves que fossem submetidos ao tribunal da Penitência seriam anistiados pelos apóstolos e seus sucessores. Deus é misericordioso e está sempre pronto a perdoar, mas uma das fraquezas humanas é a falta de fé. Quantos como Tomé recusam crê sem ver e sem tocar as chagas do Redentor! É um mal que reina sobretudo no mundo hedonista e materialista de hoje. Como outrora a Tomé Jesus está a repetir: “Bem-aventurados os que não viram e creram”. A fé em Cristo ressuscitado é fundamental. É a base sobre a qual repousa o engajamento cristão desde o início do cristianismo. São João na sua primeira carta escreveu: “Todo o que crê que Jesus é o Cristo, este verdadeiramente nasceu de Deus” (1 Jo 5,1-6). Depois ele afirmaria ser a fé a vitória sobre o mundo. Segundo São João o mundo é o mal e tudo que dele decorre. A fé oferece as forças necessárias para lutar contra as desgraças que existem nesta terra. Desta maneira, o domingo da Misericórdia tende a levar o cristão à transformação de seu coração para poder também operar a metamorfose do mundo. Abertura ao perdão das ofensas para poder vencer as forças do mal que estão sempre em ação. A Ressurreição foi a vitória do amor de Deus sobre o pecado e cabe a seus seguidores prolongar este triunfo pelos séculos afora. Cumpre, porém, não se esquecer que o perdão divino não opera como se nada tivesse acontecido. O perdão não é uma negação com relação ao erro praticado. É um avanço por ser um triunfo sobre o desvio cometido que passa a ser inteiramente abominado, ou seja, se fosse possível voltar atrás tal pecado não teria sido cometido. Eis porque Cristo ressuscitado mostrou as cicatrizes que marcaram suas chagas dolorosas e dizia sempre aos que ele perdoava: “Não tornes mais a pecar”. Deus, porém, sempre repetindo ao pecador: “Não tenhas medo”, palavras que percorrem toda a Bíblia. O salmista aconselha então: “Dai graças ao Senhor porque eterno é o seu amor” (Sl 117,1). A manifestação máxima desta dileção foi o acontecimento salvífico através da morte e ressurreição de Cristo. Este prodígio da misericórdia divina mudou o destino da humanidade. A solidariedade do Redentor que assumiu a natureza humana foi surpreendente. Aí está a razão pela qual crer neste seu amor é acreditar na misericórdia infinita do Ser Supremo. Disto resulta a paz interior que depois se irradia por toda a sociedade, mesmo porque o verdadeiro cristão inebriado nas manifestações do amor de Deus é levado a imitar a bondade do seu Senhor, sendo também misericordioso com todas as pessoas à sua volta e se interessando pela paz no mundo inteiro. Do mesmo modo como agiu com Tomé, Jesus mostra a cada um suas chagas gloriosas e seu coração, fonte inesgotável de luz e de vida, de amor e de perdão. Daí jorraram a redenção, a salvação, a santificação. Santa Faustiyna viu fluir do coração de Cristo dois raios de luz que iluminam o mundo. Estes raios representam o sangue e a água. O sangue lembrando o sacrifício do Gólgota e o mistério da Eucaristia. A água fazendo pensar no batismo e no dom do Espírito Santo (Jo 3,5;4,14), Dentro do Coração divino do Salvador se encontram a felicidade autêntica, durável, o segredo da serenidade absoluta. Como concitou o bem-aventurado Papa João Paulo II, cumpre repetir sempre “Jesus, eu confio em vós”. Isto deve significar um abandono total nas mãos do Senhor, nosso único Redentor. Que cada um se deixe envolver nos raios da esperança mais fulgente, porque em Jesus se pode confiar. Ele é paz, amor, beatitude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.