JESUS PERSEGUIDO EM NAZARÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os moradores de Nazaré que ficaram repletos de admiração por Jesus quando Ele lhes explicava as palavras do Profeta Isaías, se identificando com o Messias prometido, de repente se entregaram a um grande furor contra Ele (Lc 4,21-30). É que o Mestre divino não cedia à tentação de uma popularidade fácil, a um consenso superficial. Ele não faria na sua terra os prodígios que seriam feitos em outras regiões e citou o que ocorreu no tempo de Elias e de Eliseu. Estes respectivamente haviam socorrido a uma viúva em Sarepta de Sidônia e a ao sírio Naamã. Os nazarenos queriam se aproveitar de privilégios exclusivos, de milagres especiais porque Jesus era um deles. Recusavam, porém, em crer nele porque não O conheciam profundamente. Para eles Cristo não passava do filho de José, o carpinteiro e, deste modo, desconfiavam da tarefa salvadora daquele que era o Salvador da humanidade e punham em dúvida sua missão redentora. Por isto não mereciam os sinais que Ele reservava para os que verdadeiramente cressem em suas palavras ainda que fossem de outras aldeias e cidades. Ergueram-se então os nazarenos e O lançaram fora e O levaram até a beira de um monte sobre o qual estava construída Nazaré e intentavam precipitá-lo no precipício. Mais tarde Jesus seria afastado da cidade de Jerusalém para ser crucificado e isto bem símbolo de outra cruel rejeição. Em muitas passagens do Evangelho os evangelistas sublinham a agressividade dos que recusavam o Filho de Deus, mas também realçam a alegria dos que eram abertos a suas mensagens. São Lucas opõe a atitude dos conterrâneos de Jesus, os nazarenos, com a dos habitantes de Cafarnaum, cidade cosmopolita e em grande parte pagã, mas onde Jesus foi sempre melhor acolhido e aceito do que em Nazaré. Em Belém Cristo teve que nascer numa manjedoura porque não havia lugar para Ele na hospedaria, mas os pastores se rejubilaram diante do presépio. São Mateus opôs o rei Herodes e os doutores da Lei aos sábios vindos do Oriente que procuravam a Deus e se alegraram com o reaparecimento da estrela que os levou até Jesus. São João dirá mais tarde que Deus veio aos seus e os seus não O receberam, acrescentando que todos que O acolheram tiveram o poder de se tornarem Filhos de Deus (Jo 1,11). Lá no Calvário um dos que foram crucificados com o divino Sofredor se converteu e o outro nem junto do Filho de Deus se salvou. É sempre assim. O homem é livre para aceitar ou renegar Jesus. Todas estas considerações devem então levar cada um a examinar sua própria vida e verificar se não há uma terrível dualidade, ou seja, ora se aceita Jesus, ora Ele é renegado, como acontece muitas vezes diante da televisão, dos sites pornográficos, dos disseminadores de falsas idéias. No entanto, cumpre ao cristão verdadeiro ser discípulo de Jesus 24 horas por dia, sete dias em sete dias da semana, a toda hora, a todo instante, em qualquer circunstância da vida. É preciso que se viva sempre num ambiente de fé, de esperança e de muito amor mútuo. Não é fácil ser autêntico cristão num mundo pluralista no qual se multiplicam ideologias que não se coadunam com o Evangelho. Neste universo pluridimensional as convicções do batizado são continuamente testadas, mas é preciso que se fique firme apesar das agressões à Igreja Católica, à religião em geral, aos bons costumes, a tudo que está no decálogo. Muitos, porém, deixam esvaziar o conteúdo religioso de sua postura perante o Redentor. O cristão deve ser epígono de Jesus em casa, no trabalho, nas diversões, seja onde estiver. Se não se quer imitar os nazarenos, é necessário defender sempre os valores que devem influenciar tudo que se é e tudo que se faz. É preciso evitar afastar Deus das atividades diárias, de tudo que se faz durante o decorrer das horas. Mister se faz viver a paz, a fraternidade, o perdão, a abertura às necessidades do próximo, evitar tudo que contradiz o que o Mestre divino ensinou e preceituou. Não se deve lançar Jesus fora para se acomodar ao que o mundo oferece de ilusório e diabólico. Deste modo o Evangelho de hoje é provocante e quer despertar do torpor espiritual os que se acham acomodados ao mundanismo sem uma existência verdadeiramente de acordo com o que Cristo falou. É preciso deixar que a Palavra de Deus penetre fundo no íntimo do coração e, ao invés, de expulsar Jesus, como fizeram os nazarenos, deixemos que Ele nos acompanhe em todos os momentos de nossa vida. Ele, e apenas Ele, deve ser o centro da existência de seu discípulo porque Ele, e unicamente Ele, é o bom amigo, fiel e poderoso para amparar, consolar e dar a vida eterna. Nele se pode confiar! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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