COMBATE CORAJOSO DOS VICIOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nada mais necessário ao cristão do que prestar atenção ao que se passa no seu interior.
Os mestres de espiritualidade, com notável argúcia psicológica, aconselham que se esteja atento aos pensamentos que surgem espontaneamente, quando alguém não se acha concentrado num trabalho mais absorvente ou em outra atividade absorvedora.
É o que ocorre quando se faz uma caminhada ou nos momentos de espera em alguma fila nos mercados ou em outras circunstâncias do dia a dia.
São os pensamentos que surgem pouco antes de dormir ou quando há ocasião para devaneios. Aditem-se os que são denominados de distrações nas orações.
Estas imagens são normalmente indicativas de um ou vários desvios que tendem a dominar a vida do ser pensante.
São elas, no fundo, clara ou sub-repticiamente, atinentes à gula, à luxuria, à cupidez, à depressão, à irritação, à acídia, à vaidade.
Ao se analisar cada um destes vícios se conclui que quem não se entrega a um sábio regime alimentar e vive fora do peso ideal tende a idealizar o que vai comer e as imagens dos mais variados petiscos lhe vêem à mente.
Quantos, além disto, se deixam envolver em representações obscenas ainda que agridam o sexto ou o nono mandamentos. Isto sustentado inclusive por todas as imprudências diante do que os meios de comunicação oferecem e nelas acaba se comprazendo o desavisado seguidor de Jesus. Multiplicam-se então o desejos sexuais que passam a habitar dentro coração imprudente.
Numa sociedade de consumo muitas vezes não se dá um basta aos anseios de comprar até o que é desnecessário e inútil. É o cristão que não contenta com o que tem e nem sabe usufruir o que já possui. Quando tais imagens não são controladas fica aberto o caminho para a frustração que conduz à depressão, à tristeza crônica. São os vales que se tornam precipícios, se providências não são tomadas a tempo.
Acrescente-se que, para quem não procura frear suas fantasias, a irritação contra os outros fica aquecida e o remoer possíveis desatenções leva a horripilos sentimentos de ira. Estes podem até chegar ao ponto de se arquitetarem vinganças.
Outro aspecto do imaginário é a acídia ou preguiça. O indivíduo se entrega a sonhos mesmo irrealizáveis, se deslocando mentalmente das tarefas a serem cumpridas ou desejando férias paradisíacas nos mais encantadores lugares da terra. Esta atitude coincide com a indolência contra a qual se deve lutar a cada instante.
Finalmente, também a vaidade é fonte provocadora de distrações com milhares de fantasias, visando sempre querer impressionar os outros através de uma ostentação fictícia. O intuito é atrair a atenção e caracteriza o frenesi de quem quer ser sempre o foco de todos e em tudo.
Cumpre, portanto, por tudo isto, uma análise dos caprichos que se multiplicam e que são uma projeção das desordens interiores, um reflexo dos defeitos dominantes.
Todas estas ficções podem vir à tona, igualmente, para aqueles que aguardam, por exemplo, o resultado de uma loteria e se põem a imaginar o que fariam com a quantia que vierem a ganhar.
É necessário, contudo, que cada um se liberte das aspirações insatisfeitas, dos desejos imoderados, das emoções não controladas.
Um auto-exame é o caminho para o triunfo sobre todas estas obsessões.
Isto na alheta do que ensinou o Mestre divino no pedagógico conselho “sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”.
Aí está uma senda segura para a santificação pessoal com a correção dos vícios e a pratica das virtudes que tanto nobilitam o epígono de Cristo.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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