TEMPO DE CONVERSÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos foram aqueles que interrogaram a João Batista desta forma “Que devemos fazer?” O Precursor respondia sabiamente mostrando a necessidade de uma mudança de vida nos pensamentos, nos afetos, em todas as ações (Lc 3, 10-15). Àqueles que julgavam ser ele o Messias, deu uma lição de profunda humildade ao dizer que do Redentor ele não digno de desatar as correias das sandálias (Lc 3, 15-18). Deste modo, ele preparava seus ouvintes para bem receber a Jesus. O tempo do Advento é um tempo de conversão e de preparação para o Natal. Tempo de vigilância espiritual para uma correção total nos deveres particulares de cada um, para bem acolher o Salvador no dia venturoso em que se comemorará seu natalício. Vive-se num contexto impregnado de relativismo que contesta a Verdade e que não admite as normas estabelecidas pelo Ser Supremo. Cumpre, então, uma caminhada até o fundo do coração para uma revisão de vida, indo até o inconsciente para deletar todos os registros negativos, após os fazer aflorar. Mister se faz verificar se há realmente uma total conformidade com a vontade de Deus com aquela sinceridade que caracterizava São João Batista. Um exame detalhado se tem havida uma completa responsabilidade no cumprimento exato do dever específico das tarefas cotidianas e na decodificação dos sinais que Deus envia a toda hora, chamando cada um a uma maior perfeição em tudo. Isto quer nas relações com o próximo, quer nas preces individuais, nos momentos de consolações ou de desolações, as quais, aliás, são provações que Ele permite no decorrer dos dias. São João Batista ensina que se deve aderir em tudo aos planos divinos, aos quais é preciso sempre se ajustar. É isto essencial no caminho da conversão. Isto porque o Natal não é uma lembrança de um fato histórico longínquo, mas precisa se constituir, através da liturgia, na vivência plena de seu significado revivido cada ano. É Cristo que vem visitar de uma maneira especial o mais íntimo da existência de cada um de seus seguidores. Chega a eles com todas as graças que um dia raiaram neste mundo com seu nascimento lá no Presépio, mas que agora se dá em cada coração que o deve acolher com júbilo e disponibilidade total. Este é um tempo de vigilância. Esta significa aguardar atentamente um acontecimento extraordinário no qual se dá um reencontro especial com um personagem importante. Isto, contudo, sem nenhuma inquietação, dado que dentro de alguns dias se estará mais uma vez diante do divino Infante que vem trazer mais graças de salvação, felicidade e paz. Não se trata de uma espera inútil, desde que, de fato, haja uma preparação condigna. O verdadeiro cristão não espera o Natal passivamente, pois esta atitude seria utópica e ilusória e nada lhe traria de novo para sua vida. É preciso hidratar a esperança, alimentar a fé e dilatar a caridade. Cumpre verificar se Jesus está apenas nos lábios, ao passo que o mundo está lá dentro do coração. Tarefa importantíssima durante o Advento esta revisão de vida. É desta maneira que se está atento para se receber a plenitude das novas graças natalinas. Trata-se de uma vigilância contemplativa e ativa. Contemplativa porque voltada para a Pessoa de Jesus que enche de otimismo. Ativa, porque cumpre mobilizar a vontade para um preparativo fervoroso rumo ao mistério a ser revivido dia 25 de dezembro. É assim que se passa da desilusão para a consolação. Desilusão de um mundo no qual impera a crise econômica e os desvios do dinheiro público, onde há trabalhadores sem emprego, países à beira da falência, doentes sem assistência, planos de saúde muitas vezes fraudulentos. Enfim, decepção perante uma crise que vem de um mundo que abomina os valores espirituais dentro de uma sociedade que se diz leiga, na qual há muita injustiça na estrutura sócio-política e nas relações sociais. No entanto, a responsabilidade dos verdadeiros cristãos é grande, porque Deus não quer fazer nada sem a cooperação humana e muitos, porém, são omissos. O Advento vem despertar a consciência de cada discípulo de Jesus. Os desafios são grandes, mas a solenidade de seu Natal fará renascer a esperança. Cristo deseja o empenho de todos para que haja um mundo melhor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário