A MANIFESTAÇÃO DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade da Epifania envolve os corações numa profunda alegria. Enorme gáudio sentiram os Reis Magos ao partirem ao encontro de Jesus. O Evangelista registrou: “A estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles até que parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao verem a estrela, sentiram grandíssima alegria” (Mt 2, 9-10). Aquele astro que brilhou no firmamento era bem o símbolo da luz que refulgiu na noite de Belém. Aliás, o próprio Jesus dirá mais tarde: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A luz traz sempre exultação e envolve o ser humano no otimismo, na paz, na alacridade. As trevas geram tristeza, aflição, consternação. A Epifania, deste modo, de plano deixa esta mensagem de contentamento, satisfação, porque ir até Jesus, luz verdadeira que ilumina a todo homem, é encontrar a felicidade na luminosidade mais beatificante. Além disto, há outros aspectos que devem merecer atenção nesta caminhada daqueles sábios até Belém. São Mateus oferece comparações repletas de lições preciosas. Ele relaciona o rei Herodes com Jesus, rei dos Judeus. Neste caso, há uma coroa real em jogo que pertence realmente ao verdadeiro soberano do povo judaico. Os Magos, com efeito, indagam: “Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer?” Eles se referiam a Jesus, a criança frágil e dependente, incapaz de se defender. Nas últimas páginas de seu Evangelho Mateus de novo dará este título a Jesus. Os soldados romanos numa atitude irônica proclamarão: “Salve, Rei dos Judeus e Pôncio Pilatos mandará escrever sobre a cruz a causa da condenação de Cristo: “Este é o rei dos judeus”. Diante do crucificado o deboche ferino: “Se és o Rei dos Judeus, desce da cruz”. A expressão dos sábios do Oriente à procura de um rei era um prelúdio do que aconteceria mais tarde. Entretanto, no decorrer de seu Evangelho São Mateus apresenta sempre Jesus como um rei humilde que veio não para ser servido, mas para servir. Neste dia da Epífania é preciso que se adore com os Magos a Jesus, Rei do Universo, e se aprenda a humildade e o desejo de ser serviçal aos outros. Além disto, São Mateus compara Jerusalém e Belém. Jerusalém é grande cidade, o centro do culto de Israel, lugar privilegiado do Templo. Nesta urbe a estrela não brilhou. É que Jerusalém preferia suas sombras à luz, seus velhos pergaminhos mal interpretados à Palavra encarnada de Deus. Lá imperava um soberano autoritário, sanguinário. Belém pelo contrário era uma aldeia do pastor Davi, nome que significa a casa do pão, o pequeno burgo de umas poucas famílias onde vivia gente simples e aberta a Deus. Maria havia dito que o Ser Supremo abate os orgulhosos, mas aos humildes oferece a sua graça. Adite-se que São Mateus coteja os que procuram sinceramente a Deus com os que se julgam os donos da verdade e não mais querem saber daquele que é o Criador de tudo. Os Magos representam todos aqueles que procuram a Luz e a Verdade com a simplicidade do coração, ao passo que muitos habitantes de Jerusalém, sobretudo os escribas e fariseus manipulavam a Deus a quem cultuavam apenas exteriormente, estando longe da verdadeira prática da Lei do Senhor. Finalmente, São Mateus apresenta o contraste entre o esplendor dos presentes dos Magos que levaram ouro, incenso e mirra, e a pobreza que rodeava Jesus. Tudo isto mostra que Deus tem caminhos bem diferentes das vias humanas. Aliás, avisados em sonho, os Magos voltaram para sua pátria por outras estradas. É de notar ainda que, como realça o evangelista, eles tinham encontrado Jesus com Maria sua Mãe. Eles tinham visto uma estrela no firmamento, mas agora depararam a verdadeira Estrela da Manhã. No século XII, São Bernardo numa das mais belas páginas da mariologia, explicará esta analogia. Dirá ele que em todas as circunstâncias da vida, sobretudo, nos momentos mais difíceis, cumpre olhar a estrela e invocar a Maria. É necessário decodificar tudo isto para, realmente, procurar e encontrar os caminhos de Jesus. Na vida de cada um é Ele sempre que dá o primeiro passo. Na história dos Magos foi Ele que, inicialmente, ofereceu o sinal da estrela. É Deus que procura cada um, antes mesmo que se comece a caminhada. Mister se faz ter a disponibilidade e a perseverança daqueles sábios e discernir os apelos interiores que chegam do alto. A vida do ser humano neste mundo é uma viagem rumo à Jerusalém do céu. O Senhor oferece a cada um uma estrela luminosa que é Maria a qual guia até o verdadeiro rei que não se acha no bulício do mundo e nem em palácios deslumbrantes. O contato com Deus abre sempre estradas desconhecidas e muda a maneira de pensar, de agir, de viver. Daí a necessidade da uma total receptividade. Os Magos puderam encontrar Jesus porque estavam atentos aos sinais e buscavam a verdade e a encontraram. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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