quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O QUE O PAPA NÃO DISSE

                                  O QUE O PAPA NÃO DISSE
                                         Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Como esta de se esperar o livro “A infância de Jesus” de Joseph Ratzinger, o atual Papa Bento XVI, obra recentemente lançada, haveria de provocar inúmeros comentários na mídia sequiosa de sensacionalismo. As normas mais elementares da leitura de um texto são infligidas e daí a desorientação de muitos que não leram ou não lerão o que realmente disse o sábio Pontífice. É de se notar que este levanta questões sobre o que se acha nos Evangelhos e a solução é apresentada didaticamente com uma precisão absoluta. Assim, por exemplo, muitos fiéis, induzidos pela mídia, passaram a dizer que o presépio está errado, porque o papa disse que lá  não havia o boi e jumento.  O que ele afirmou e, é verdade, “no Evangelho não se fala de animais”. Explica, porém, que “ a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher essa lacuna, reportando-se ao profeta Isaías 1,3: “ O boi conhece o seu dono, e jumento, a manjedoura do seu senhor, mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender”. De fato, o Filho de Deus nascido num estábulo, na mais completa pobreza, se tornou para muitos um personagem incompreensível. Eis porque, ensina claramente o Papa, “bem depressa a iconografia cristã individuou este  motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento”. É de se notar também que nunca se pode tirar um texto do contexto. Alguns já andaram proclamando que o notável teólogo Joseph Ratzinger chamou Jesus de  “operário provinciano, mas há de se ler todo o capítulo no qual  ele analisa a origem do Redentor  “como  uma questão acerca do seu ser e da sua missão” para entender esta expressão. Além disto, o Papa que percorreu as explicações dos grandes hermeneutas e se posiciona perante as mesmas, em certas questões acha insuficiente tudo que até agora foi dito. Assim, por exemplo, no que tange a indagação de Maria ao anjo na cena da Anunciação: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?  Conclui o Papa: “Permanece o enigma – ou talvez melhor dizer: o mistério -  dessa frase. Maria, por razões que não nos são acessíveis não vê nenhum modo de se tornar mãe do Messias por meio da relação conjugal”. Portanto, até agora nenhum intérprete da Escritura pôde bem explicar o sentido deste posicionamento, como ressalta o Papa, nem Santo Agostinho. Entretanto, as considerações anteriores de Bento XVI sobre a saudação do Anjo da Anunciação o levam a falar com rara profundidade sobre a teologia da alegria.  Por certo, um dos aspectos que despertará a curiosidade de quem vai ler o citado livro deste Papa é saber o que ele diz sobre a estrela que guiou os magos até Belém. Aí Bento XVI patenteia que  “saber detalhadamente como esses homens chegaram à certeza que os fez partir e os levou, finalmente, a Jerusalém e a Belém, é uma questão  que temos de deixar em aberto. A constelação estelar podia ser um impulso, um primeiro sinal para a partida exterior e interior; mas não teria conseguido falar a esses homens se eles não tivessem sido tocados também de outro modo: tocados interiormente pela esperança daquela estrela que  devia surgir de Jacó (cf. Nm 24,17). Enfim,  será de bom alvitre que todos que puderem adquiram o volume  lançado pela Editora Planeta do Brasil Ltda. Esta leitura levará fatalmente a um aumento da fé  através de  tudo que os evangelistas escreveram sobre  a infância de Jesus. Haverá passagens que exigirão da parte dos fiéis um maior embasamento filosófico e teológico, como quando o Papa discorre sobre o cântico dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de seu agrado”. Aí a questão sempre debatida entre a relação da graça de Deus e a liberdade humana toca num dos pontos cruciais que tantos debates têm provocado no decorrer dos tempos. Entretanto, as considerações que ele apresenta sobre o ”sim” de Maria não exigirá maiores elucubrações e levará  ao desejo intenso de acolher a Palavra de Deus que na Mãe de Jesus se tornou tão fecunda. Mais uma vez Bento XVI presenteia os cristãos com um livro que o mostra como um dos maiores teólogos de todos os tempos.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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