domingo, 30 de dezembro de 2012

HOMILIA POR OCASIÃO DO CASAMENTO DE JULIANO E IVY

         HOMILIA POR OCASIÃO DO CASAMENTO DE JULIANO E IVY NA IGREJA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2012.

Les grandes eaux ne  peuvent éteindre l`amour et les fleuves ne le submergeraient pas.
         Águas caudalosas não conseguem extinguir o amor nem arrastá-lo as grandes inundações (Cântico dos cânticos 8,7).

         Poucas vezes este celebrante preside uma cerimônia como esta tão caracterizada pela uma marca internacional.
         Aliás, o convite já indica isto e um telefonema,  ainda neste mês de dezembro, vindo lá de Miame dos Estados Unidos,  era do Juliano a fazer o convite para esta solenidade na qual ele  se convolaria núpcias com Ivy que fez da França como que sua segunda pátria, lá onde aprofundou seus estudos, passando a cultuar a língua francesa que é a língua dos poetas, dos sábios, dos intelectuais. Razão pela qual as reflexões de hoje estarão embasadas em pensamentos profundos bem codificados nesta bela língua. Cumpre, porém, de plano observar que é o amor que conduziu ao Altar aqueles que se encontraram um dia nos caminhos da vida.
         Prezados Juliano e Ivy,há uma grande complexidade no conceito de “encontro”
         O homem de hoje mal sabe o que vem a ser propriamente encontro, apesar de todos os dias, a toda hora, estar submetido a eles.
         No entanto há sempre algo de significativo no ato do  encontro.
         É como uma pedra que tomba na água e que produz visíveis círculos concêntricos na superfície do líquido e outros invisíveis nas profundeza e no ar. 
         Está repleto de segredos que vão do passado ao presente e até ao futuro os quais  criam relações entre os seres racionais  e mesmo com as  coisas que estão em seu derredor.
         Um dia houve um encontro entre vocês, Juliano e Ivy. Não foi no JSC ao qual pertenceu  o Juliano, como soe acontecer com tantos jovens dos quais o Diretor Espiritual tem tido a honra de presidir casamentos em nome da Igreja.
          Foi no COLUNI  e isto mostrou que aí já estava um mensagem de vida para dois jovens idealistas, profundamente religiosos, e  que percorreriam as estradas da sabedoria na Biologia e na Engenharia de Alimentos.
         L`amour  n`a pas meilleur ministre que l`occasion – O amor não tem melhor instrumento do que a ocasião e, desde o início, vocês perceberam que ocorreria o que dizia Marie de France: Ni vous sans moi et ni moi sans vous – nem eu sem você e nem você sem mim. Foi o que falou Antoine  Bret era  le premier soupir de l`amour – o primeiro suspiro do amor,          Aliás, Disraeli discorreu sobre  La magie du premier amour. Como explica  Beaumarchais L´amour est le roman du coeur – o amor é o romance do coração.
         Sabedores, porém, de que, como bem se expressou Alfred de Musset, on se badine pas avec l`amour – não se brinca com o amor, vocês levaram a sério o que um sentia pelo outro.
          Tanto isto é verdade que contradisseram o provérbio francês loin des yeux, loin du coeur – longe dos olhos, longe do coração e apesar de terem que fazer seus estudos de pós-graduação em países diferentes nunca se sentiam longe um do outro.
         Um encontro, porém, foi marcante na vida de ambos e se deu em Paris, como bem descreveu o Juliano num relato minucioso desta história de amor. Foi uma estadia na França que consolidou definitivamente os laços que uniam duas nobres almas. Como  l`amour rend éloquent ceux qu´il anime - o amor torna eloqüente aqueles que ele anima, uma das passagens  mais belas do referido texto juliano é exatamente sobre este encontro  na França.
         Hoje é o dia solene, quando o sacramento do matrimônio unirá para sempre duas vidas e as bênçãos divinas  tornarão esta união inalterável: elles rendront cette union inaltérable e este casamento estará para sempre escrito no céu un mriage pour toujours écrit en ciel.
         Preceituou Jesus: Ce que Dieu a uni, que l’homme ne le sépare pas – o que Deus uniu o homem não ouse separar      (Mc 10 1-12). Para isto que vocês rezem sempre: “ Seigneur, permets-nous d’apprendre de toi le chemin, la vérité et la vie. Libère notre cœur de tout attachement  à l’égoïsme” - Senhor, daí-nos aprender de vós o caminho, a verdade e a vida. Libertai nosso coração de todo e qualquer egoísmo”.
         Nunca se recordam demais as palavras de São Paulo sobre o sacramento do matrimônio: " Ce mystère est grand, je veux dire qu'il concerne le Christ et l'Eglise " (Ep 5, 32) – Grande mistério  é este, mas digo-o referendo-me a Cristo e à Igreja.
         Assim como Cristo se sacrificou pela sua Igreja, do mesmo modo o marido se imola por sua esposa. Durante mais de dois mil anos a Igreja, a esposa mística do divino Redentor, vem proclamando suas grandezas, assim  a esposa é por toda parte a  glória de seu marido.
         Que vocês sejam ótimos pais que saibam bem educar seus filhos, inoculando-lhes o respeito a Deus, pois diz o salmista que  "La crainte [la révérence et l`adoration] de l'Éternel est le commencement de la sagesse" ( Ps 111.10) – a flor da sabedoria é o temor de Deus, ou seja, a reverência, a submissão ao Ser Supremo.
         Então haverá uma família feliz porque assim alicerçada naqueles princípios religiosos que ambos herdaram e que transmitirão àqueles que serão seu tesouro mais precioso no qual se prologará o amor que os trouxe até o Altar.
         Les grandes eaux ne  peuvent éteindre l`amour et les fleuves ne le submergeraient pas.
         Águas caudalosas não conseguem extinguir o amor nem arrastá-lo as grandes inundações (Cântico dos cânticos 8,7).

sábado, 29 de dezembro de 2012

A MANIFESTAÇÃO DO SENHOR

                              A MANIFESTAÇÃO DO SENHOR
                                          Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade da Epifania envolve os corações numa profunda alegria. Enorme gáudio sentiram os Reis Magos ao partirem ao encontro de Jesus. O Evangelista registrou: “A estrela que tinham visto no  Oriente ia adiante deles até que parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao verem a estrela, sentiram grandíssima alegria” (Mt 2, 9-10). Aquele astro que brilhou no firmamento era bem o símbolo da luz que refulgiu na noite de Belém. Aliás, o próprio Jesus dirá mais tarde: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A luz traz sempre  exultação  e envolve o ser humano no otimismo, na paz, na alacridade. As trevas geram tristeza, aflição, consternação. A Epifania, deste modo, de plano deixa esta mensagem de contentamento, satisfação, porque ir até Jesus, luz verdadeira que ilumina a todo homem,  é encontrar  a felicidade na luminosidade mais beatificante. Além disto, há outros aspectos que devem merecer atenção nesta caminhada daqueles sábios até Belém. São Mateus oferece comparações repletas de lições preciosas. Ele relaciona o rei Herodes com Jesus, rei dos Judeus.  Neste caso, há uma coroa real em  jogo que pertence realmente ao verdadeiro soberano do povo judaico. Os Magos, com efeito, indagam: “Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer?” Eles se referiam a Jesus, a criança frágil e dependente, incapaz de se defender. Nas últimas páginas de seu Evangelho Mateus de novo dará este título a Jesus. Os soldados romanos numa atitude irônica proclamarão: “Salve, Rei dos Judeus e Pôncio Pilatos mandará escrever sobre a cruz a causa da condenação de Cristo: “Este é o rei dos judeus”. Diante do crucificado o deboche  ferino: “Se és o Rei dos Judeus, desce da cruz”. A expressão dos sábios do Oriente à procura de um rei era um prelúdio do que aconteceria mais tarde. Entretanto, no decorrer de seu Evangelho São Mateus apresenta sempre Jesus  como um rei humilde que veio não para ser servido, mas para servir. Neste dia da Epífania é preciso que se adore com os Magos a Jesus, Rei do Universo, e se aprenda  a humildade e o desejo de ser serviçal aos outros. Além disto, São Mateus compara Jerusalém e Belém. Jerusalém é grande cidade, o centro do culto de Israel, lugar privilegiado do Templo. Nesta urbe a estrela não brilhou.  É que Jerusalém preferia suas sombras à luz, seus velhos pergaminhos mal interpretados à Palavra encarnada de Deus. Lá imperava um soberano autoritário, sanguinário. Belém pelo contrário era uma aldeia do pastor Davi, nome que significa a casa do pão, o pequeno burgo de umas poucas famílias onde vivia gente simples e aberta a Deus. Maria havia dito que o Ser Supremo abate os orgulhosos, mas aos humildes oferece a sua graça. Adite-se que São Mateus coteja os que procuram sinceramente a Deus com os que se julgam os donos da verdade e não mais querem saber daquele que é o Criador de tudo. Os Magos representam todos aqueles que procuram a Luz e a Verdade com a simplicidade do coração, ao passo que muitos habitantes de Jerusalém, sobretudo os escribas e fariseus manipulavam a Deus a quem cultuavam  apenas exteriormente, estando longe da verdadeira prática da Lei do Senhor. Finalmente, São Mateus apresenta o contraste entre o esplendor dos presentes dos Magos que levaram ouro, incenso e mirra, e a pobreza que rodeava Jesus. Tudo isto mostra que Deus tem caminhos bem diferentes das vias humanas. Aliás, avisados em sonho, os Magos voltaram para sua pátria por outras estradas. É de notar ainda que, como realça o evangelista, eles tinham encontrado Jesus com Maria sua Mãe.  Eles tinham visto uma estrela no firmamento, mas agora depararam a verdadeira Estrela da Manhã. No século XII, São Bernardo numa das mais belas páginas da mariologia, explicará esta analogia. Dirá ele que em todas as circunstâncias da vida, sobretudo, nos momentos mais difíceis, cumpre olhar a estrela e invocar a Maria. É necessário decodificar tudo isto para, realmente, procurar e encontrar os caminhos de Jesus. Na vida de cada um é Ele sempre que dá o primeiro passo. Na história dos Magos foi Ele que, inicialmente, ofereceu o sinal da estrela. É Deus que procura cada um, antes mesmo que se comece a caminhada. Mister se faz ter a disponibilidade e a perseverança daqueles sábios e discernir os apelos interiores que chegam do alto. A vida do ser humano neste mundo é uma viagem rumo à Jerusalém do céu. O Senhor oferece a cada um uma estrela luminosa que é Maria a qual guia até o verdadeiro rei que não se acha no bulício do mundo e nem em palácios deslumbrantes. O contato com Deus abre sempre estradas desconhecidas e muda a maneira de pensar, de agir, de viver. Daí a necessidade da uma total receptividade. Os Magos puderam encontrar Jesus porque estavam atentos aos sinais e buscavam a verdade e a encontraram. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O QUE O PAPA NÃO DISSE

                                  O QUE O PAPA NÃO DISSE
                                         Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Como esta de se esperar o livro “A infância de Jesus” de Joseph Ratzinger, o atual Papa Bento XVI, obra recentemente lançada, haveria de provocar inúmeros comentários na mídia sequiosa de sensacionalismo. As normas mais elementares da leitura de um texto são infligidas e daí a desorientação de muitos que não leram ou não lerão o que realmente disse o sábio Pontífice. É de se notar que este levanta questões sobre o que se acha nos Evangelhos e a solução é apresentada didaticamente com uma precisão absoluta. Assim, por exemplo, muitos fiéis, induzidos pela mídia, passaram a dizer que o presépio está errado, porque o papa disse que lá  não havia o boi e jumento.  O que ele afirmou e, é verdade, “no Evangelho não se fala de animais”. Explica, porém, que “ a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher essa lacuna, reportando-se ao profeta Isaías 1,3: “ O boi conhece o seu dono, e jumento, a manjedoura do seu senhor, mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender”. De fato, o Filho de Deus nascido num estábulo, na mais completa pobreza, se tornou para muitos um personagem incompreensível. Eis porque, ensina claramente o Papa, “bem depressa a iconografia cristã individuou este  motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento”. É de se notar também que nunca se pode tirar um texto do contexto. Alguns já andaram proclamando que o notável teólogo Joseph Ratzinger chamou Jesus de  “operário provinciano, mas há de se ler todo o capítulo no qual  ele analisa a origem do Redentor  “como  uma questão acerca do seu ser e da sua missão” para entender esta expressão. Além disto, o Papa que percorreu as explicações dos grandes hermeneutas e se posiciona perante as mesmas, em certas questões acha insuficiente tudo que até agora foi dito. Assim, por exemplo, no que tange a indagação de Maria ao anjo na cena da Anunciação: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?  Conclui o Papa: “Permanece o enigma – ou talvez melhor dizer: o mistério -  dessa frase. Maria, por razões que não nos são acessíveis não vê nenhum modo de se tornar mãe do Messias por meio da relação conjugal”. Portanto, até agora nenhum intérprete da Escritura pôde bem explicar o sentido deste posicionamento, como ressalta o Papa, nem Santo Agostinho. Entretanto, as considerações anteriores de Bento XVI sobre a saudação do Anjo da Anunciação o levam a falar com rara profundidade sobre a teologia da alegria.  Por certo, um dos aspectos que despertará a curiosidade de quem vai ler o citado livro deste Papa é saber o que ele diz sobre a estrela que guiou os magos até Belém. Aí Bento XVI patenteia que  “saber detalhadamente como esses homens chegaram à certeza que os fez partir e os levou, finalmente, a Jerusalém e a Belém, é uma questão  que temos de deixar em aberto. A constelação estelar podia ser um impulso, um primeiro sinal para a partida exterior e interior; mas não teria conseguido falar a esses homens se eles não tivessem sido tocados também de outro modo: tocados interiormente pela esperança daquela estrela que  devia surgir de Jacó (cf. Nm 24,17). Enfim,  será de bom alvitre que todos que puderem adquiram o volume  lançado pela Editora Planeta do Brasil Ltda. Esta leitura levará fatalmente a um aumento da fé  através de  tudo que os evangelistas escreveram sobre  a infância de Jesus. Haverá passagens que exigirão da parte dos fiéis um maior embasamento filosófico e teológico, como quando o Papa discorre sobre o cântico dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de seu agrado”. Aí a questão sempre debatida entre a relação da graça de Deus e a liberdade humana toca num dos pontos cruciais que tantos debates têm provocado no decorrer dos tempos. Entretanto, as considerações que ele apresenta sobre o ”sim” de Maria não exigirá maiores elucubrações e levará  ao desejo intenso de acolher a Palavra de Deus que na Mãe de Jesus se tornou tão fecunda. Mais uma vez Bento XVI presenteia os cristãos com um livro que o mostra como um dos maiores teólogos de todos os tempos.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

domingo, 23 de dezembro de 2012

JUBILEU ÁUREO DO PE. José Eudes de Carvalho Araújo

GRATIAS AGIMUS TIBI, DOMINE
                            Nós vos redemos graças, ó Senhor!

Oração gratulatória proferida pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho dia 23 de dezembro de 2012, no Santuário Santa Rita de Cássia em Viçosa. ao ensejo do Jubileu de Ouro Sacerdotal do Pe. José Eudes de  Carvalho Araújo.

Exórdio

         O jubileu sacerdotal é apenas uma etapa de luz numa caminhada juncada de vitórias.
         A ordenação de um padre é sempre um triunfo para a Religião de Jesus Cristo, porque a perpetuidade da Igreja está identificada com este fato grandioso.
         É só no interesse do Evangelho que o Espírito Santo através dos bispos ordena mestres defensores do rebanho do divino Redentor, propagadores da Boa Nova trazida pelo Filho de Deus a esta terra.
         A grandeza do sacerdócio nunca é demais proclamada.
          A apologia do  importantíssimo ministério presbiteral cumpre seja sempre  apregoada .
         Entretanto, o que é um padre com relação à humanidade em geral se pode resumir nesta proposição sublime, sempre repetida com emoção: Sacerdos alter Christus.
          O Papa Bento XVI recentemente explicou com rara clarividência o significado desta assertiva: “O presbítero é servo de Cristo, no sentido que a sua existência, ontologicamente configurada com Cristo, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive em Cristo, por Cristo e com Cristo na missão de salvar almas. É então precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero encontra-se radicalmente ao serviço dos homens: é ministro da sua salvação, nesta progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no “estar coração a coração” com Ele” (1) .
         De fato, o padre é por excelência o pregador do Verbo Encarnado, através do exercício de cargos ou funções  ad gloriam Dei et bonum animarum para glória de Deus e bem das almas.
         Hoje aqui nos reunimos junto ao Altar num hino de Ação de Graças, momento sublime da Eucaristia para celebrar cinqüenta anos vividos em função deste maravilhoso ideal.
         No glorioso Santuário Santa Rita de Cássia, que tem sido palco de tantos eventos significativos, há 50 anos, era ordenado mais um sacerdote viçosense pelas mãos do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira.
        
        
O jubileu áureo sacerdotal

         O perfil, a têmpera, a estatura e o caráter  deste sacerdote, Pe. José Eudes de Carvalho Araújo, neste seu jubileu áureo sacerdotal, sob qualquer ângulo de sua gloriosa existência, necessariamente, hão de centrar sempre no modo como tem vivido o seu sacerdócio. Aliás, ele sempre afirma por toda parte, com rara convicção, que sua vocação foi ser padre e que  muito se rejubila com  este chamado de Deus.
         Aí a fonte inspiradora, a força motriz, criadora e propulsora de seus notáveis empreendimentos, impregnados de sentimentos de amor à Igreja e a suas ovelhas.
         Daí, outrossim, uma fé profunda que ele irradia por toda parte

         Notabilíssimo Pároco
        
         Embora ostente uma atividade polimorfa, entre tantos títulos e feitos, o timbre de sua carreira é ter sido sempre um notabilíssimo Pároco, estando marcado seu apostolado com suas atividades em Barbacena na Paróquia de Santo Antônio.
         Deste santo hauriu sempre não só uma grande proteção, como também os exemplos magníficos, encarnando no seu ministério todas as virtudes, toda sabedoria do famoso taumaturgo de Pádua.
         Quando a 42 anos foi criada a nova Paróquia barbacenense, desmembrada da Paróquia de São Sebastião, após trabalhar sete anos com o Pe. Hilário  da Motta Barros na Paróquia de São José Operário, o Pe. José Eudes aceitou o desafio de  organizar a novel circunscrição eclesiástica.
         Nos sete anos anteriores ele participou ativamente do primeiro jubileu de São José, da elevação  da Basílica  a Santuário.
         A quatro décadas atrás o jovem Pe. José Eudes foi então parar num bairro distante do centro  e no primeiro ofício do Livro do Tombo está registrado  o pedido à prefeitura de abertura de uma avenida para o Alto do Santo Antônio. Graças a seu empenho as máquinas foram cedidas pela Aeronáutica e, assim, o antigo Alto do Cangalheiro foi inteiramente integrado à cidade.
         Habilidoso no trato com os políticos e os fiéis, o Pe. José Eudes teve sempre o apoio de todos os prefeitos e da comunidade.
Certo de que as ações valem mais do que as palavras, ele se tornou um pioneiro, revelando-se supervisor, urbanista e, sobretudo, formando uma comunidade católica bem dentro do ideal cristão: “Um por todos, todos por um”, como  aconteceu no início da História da Igreja, quando, segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos, a multidão dos que acreditavam possuía um só coração e uma só alma - “ cor unum et anima una (2)
 O profícuo trabalho de evangelização, numa sábia abertura aos métodos mais atualizados e eficientes de apostolado, foi transformando a Paróquia de Santo Antônio numa das jóias da Arquidiocese de Mariana.
Território imenso, compreendendo inicialmente não apenas a sede, mas também  Caminho Novo, Santa Efigênia, Novo Horizonte, Água Santa,  Guarani, Greenville e Cabeça Branca.
 Todas estas Capelas objeto do desvelo de um Cura d`Ars dos tempos hodiernos e de um novo Santo Antônio, pois ele  parece ter também  o dom  da ubiquidade, fazendo-se onipresente em todo a vasta região a ele confiada.
Uma onipresença manancial de luzes, consolo para os aflitos, de orientação para as famílias, de estímulo  para a juventude.
Com rara perspicácia, o Pe. José Eudes procurou sempre captar a identidade de cada setor e isto numa flexibilidade de atuações sempre  adaptadas às necessidades específicas das diversas comunidades.
No calendário de festas da Paróquia de Santo Antônio, além das solenidades tradicionais, passou a promover o encontro anual dos motociclistas, os quais primam pelo respeito e amor à vida, refletido isto no baixo índice de acidentes entre os orientados pelo zeloso sacerdote, com comprovam as estatísticas,
Acrescente-se o Festival de Música Católica por ocasião da festa de Santo Antônio, com grande repercussão em toda as cidades vizinhas, inclusive em Juiz de Fora.
Criou a Paróquia São Pedro que foi sendo preparada através de uma profícua e esclarecida pastoral,  dividindo assim a vasta área sob sua juristidção
Como radialista, apreciadíssimo seu Programa Social Educativo pela Rádio Correio da Serra de Barbacena
Tornou-se por tudo isto um dos  grandes Apóstolos da região da Mantiqueira, tendo recebido o título de Cidadão Honorário de Barbacena.
Este seu jubileu sacerdotal já foi solenemente festejado naquela cidade, inclusive de modo particular no Santuário de São José Operário e, evidentemente, sobretudo na Paróquia de Santo Antônio.
É que o lema do Pe. José Eudes tem sido as palavras de Cristo: “Não vim para ser servido, mas para servir” (3).

              Cultura a serviço do Evangelho

Apesar de tudo isto, com  segura imponência moral e intelectual , o Pe.José Eudes abriu caminho para o magistério como outra  forte opção espiritual de ser útil também através do ensino e  levado pelo empenho de formar aqueles que se tornam líderes na sociedade, exercendo, no bom sentido do termo, a pastoral das elites por vezes tão descurada. Tornou-se um exímio professor de Organização Social e Política Brasileira, Língua Pátria, Cultura Religiosa, Filosofia, Pedagogia e Moral e Cívica
Para colocar ainda mais seus dons intelectuais a serviço do próximo se entregou ao aprimoramento sistematizado da cultura do cientista do Direito, sendo Bacharel em Ciências Jurídicas. O Direito se tornou para ele também uma religiosidade da ação caritativa, um instrumento capaz de traduzir socialmente em bens de vida e de liberdade as aspirações mais altas do ser humano.
Além disto, fez Cursos de Especialização em Psicologia, Psiquiatria, Liderança Social e Curso de Capelães no Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica no Rio de Janeiro.
     Servido por uma inteligência vigorosa e arguta, por um imenso zelo apostólico, Pe. José Eudes se dedicou também à atividade de Capelão da Aeronáutica em Barbacena. Está Registrado no Diário Oficial da União (DOU) do dia primeiro de setembro de 1986, por sinal data de seu aniversário: “No 751 - Promover, no Quadro de Oficiais Capelães do Corpo de Oficiais da Ativa da Aeronáutica, ao posto de Capitão, por antigüidade, o Primeiro-Tenente JOSE EUDES DE CARVALHO ARAUJO”. Posteriormente, nosso homenageado foi elevado ao posto de Major no qual se aposentou como Tenente-Coronel.
      A Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR) aos quais tanto tem se dedicado o Pe. José Eudes, é uma tradicional instituição de ensino da Força Aérea Brasileira sediada em Barbacena,. Tem como missão preparar jovens para ingresso no Curso de Formação de Oficiais Aviadores  da Academia da Força Aérea Brasileira de tanta importância para a História do Brasil.
Adite-se que o Pe. José Eudes é Membro fundador da Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos; Membro da Academia Barbacenense de Letras.
Foi o Primeiro Coordenador de Pastoral da Região Sul da Arquidiocese de Mariana e exerceu também, com enorme eficiência, os cargos de Representante do Presbitério de Mariana, de Coordenador Arquidiocesano de Pastoral; de Vigário Forâneo de Barbacena.
Como Assistente  Eclesiástico da Ação Católica foi responsável pelo Encontro Nacional da JUC EM 1966.
Nesta ocasião, mais destemido do que São Sebastião perante o Imperador Diocleciano, destemidamente impediu que tropas Militares invadissem e prendessem os mais de 300 universitários ali presentes, reunidos no Colégio da Borda do Campo, em Antônio Carlos.
        



     Atividades internacionais

     Nestes cinquenta anos de padre um momento marcante na vida do Pe. José Eudes foi também a audiência especial que teve com o diplomata Miguel d`Escoto Brockmann na sede de ONU em Nova York Esta  entrevista  revela bem a mentalidade aberta do homenageado de hoje.
Estava este diplomata nicaragüense, como Presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas. A conversa com ele durou mais de duas horas, inclusive tendo sido modificado o horário de uma das reuniões do Presidente que priorizou o colóquio com este sacerdote marianense.
Abordaram as grandes prioridades do Dr. Miguel d`Escoto Brockmann, como a fome, a pobreza, mudança climática, terrorismo, direitos humanos, desarmamento nuclear, diversidade cultural, os direitos dos mulheres e crianças e a proteção da biodiversidade.
Foi-lhe também permitido ir à Sala de Reuniões do Conselho de Segurança  e uma visita ao Parlatório da ONU.
Percorreu inúmeras regiões dos Estados Unidos, inclusive com uma visita à Universidade Havard.
Aliás seja dito que, como filho dedicado, acompanhou seus pais dr. Octávio Silva Araújo e Maria de Carvalho Jannotti Araújo numa viagem à Terra Santa e a vários países da Europa, sendo para eles muito significativa a ida a Lisieux pela profunda devoção que sempre ostentaram a Santa Terezinha do Menino Jesus.

     Ligações com grandes autoridades

      Não menos importantes foram as tertúlias que  o Pe. José Eudes teve com D. Clemente Isnard, beneditino, Bispo da Diocese de Nova Friburgo, o qual depois de 30 anos de episcopado, como bispo emérito, foi morar no Mosteiro do Rio de Janeiro. Aí viveu de 1992 até seu falecimento em agosto do ano passado. Inúmeras as visitas que recebeu do Pe. José Eudes, o qual era intimado por ele a ir vê-lo sempre que fosse descansar no seu apartamento em Copacabana.
Discutiam sobre os problemas da Igreja no Brasil  no mundo e o Pe. José Eudes recebeu do notável antístite idéias fulgurantes para seu apostolado em Barbacena.  
Adite-se que o nosso homenageado de hoje tem sido conselheiro de Núncios e Arcebispos notáveis, tendo inclusive hospedado o Núncio Apóstólico D. Carlo Furno na Residência Paroquial de Santo Antônio.
     Recebeu do Arcebispo Dom Oscar de Oliveira várias incumbências jurídicas que executou com rara competência, colocando em prática o princípio de que o legislador deve se ater ao essencial sem se perder em digressões inúteis que afetam o cumprimento das determinações em pauta.

    

     Peroração

     Por tudo isto se regozija hoje a Cidade de Viçosa e, em particular, as famílias Silva, Araújo,  Lopes e Carvalho que tem dado tantos padres à Igreja, como os já falecidos Pe. José Silvério Carvalho Araújo; Pe Pedro Lopes da Silva; Cônego Francisco Lopes da Silva Reis, mais conhecido como Pe. Chiquinho, cujo túmulo aqui em Viçosa tem sido tão visitado e diante do qual se têm obtido inúmeras graças por sua intercessão junto de Deus.
     Um jubileu como este vem então mostrar como é maravilhoso ser padre.
      É toda uma vida que culmina e encontra sua misteriosa e universal fecundidade, devido a um grande amor que tudo entrega a Deus, doando-se a si mesmo pelas almas.
     O júbilo fundamental que se acha na vida de um padre é estar continuamente com Cristo, cuja predileção faz as delícias do sacerdote.
     Como bem se expressou São Paulo, o padre é o embaixador do divino Redentor (4). É o mediador entre Deus e os homens, fazendo chegar ao trono da divindade as preces dos fiéis e  lhes trazendo a resposta do Criador.
     Semeador da palavra de Deus, o padre prega, orienta, abençoa e conduz os que se transviam de volta à amizade do Ser Supremo.
     É o guardião da ortodoxia.
     É o pastor encarregado de proteger e de salvar o rebanho de Cristo.
 Como médico das almas sana as chagas feitas pelo pecado e lhes  restitui   a vida da graça santificante.
      O padre, homem como os outros, nada tem de que possa se envaidecer, uma vez  que o poder que possui lhe vem  de Deus e não lhe foi dado para satisfazer a sua presunção, mas para a felicidade de todos, transmitindo-lhes as bênçãos celestiais.
Vive então o que falou São Paulo: “Eu plantei, Apollo regou, mas só Deus dá o crescimento. Portanto aquele que planta nada vale, nem aquele que rega, mas Deus que faz germinar e crescer” (5).
 O padre está, assim, convencido de que é um simples intermediário  e que apenas Deus confere a graça e a salvação.
      Que destino formidável, porém, ser o instrumento da glória de Deus!
     Função que reveste de uma dignidade especial a quem é tirado do meio dos homens para o serviço do Altar e para ser um ícone de Deus junto dos fiéis
       O padre, portador da revelação de Deus, é sinal vivo de uma teofania contínua que é atualizada em cada Missa celebrada em união com a Igreja peregrina neste mundo, padecente no Purgatório e gloriosa nos céus na vivência plena da comunhão dos santos.
O sacerdote é o suporte de tudo isto, fazendo como que descer junto do Altar o Reino dos céus o qual aí  se torna presente.
Graças ao padre, Cristo se faz contemporâneo de todas as gerações.
     O padre é deste modo o canal essencial para a transmissão dos frutos salvíficos do Gólgota.
     Segundo São João Maria Vianney, o Cura d Ars, “o Sacerdote é o amor do Coração de Jesus” (6).
     É que o Padre desvenda, na alheta de Cristo, o desígnio do amor do Pai.
      Este amor se caracteriza pela gratuidade e pela universalidade. Com efeito, o sacerdote distribui as graças divinas e ama todas as almas por serem destinadas ao céu.
     Pelos sacramentos se torna a testemunha da ternura e da misericórdia de Deus. Por isto ele é por excelência um consagrado ao Ser Supremo.
     É que há algo extraordinário no sacerdócio, ou seja, o Onipotente, Ens a Se, Ispsum  esse subsistens, Aquele no qual a essência se confunde com a existência, o Todo-Poderoso, se confia a pobres seres humanos para, através deles, agir na sociedade abrindo  as portas da eternidade feliz.
     É esta atitude audaciosa do Criador que faz a grandeza do padre, detentor de poderes sublimes.
     Quando então contemplamos tudo isto vivido profundamente durante 50 anos, o júbilo se apossa de cada um de nós e ao rendermos graças ao Senhor por uma existência tão digna de louvores, agradecemos também ao Pe. José Eudes de Carvalho Araújo por tudo que tem feito pela causa do Evangelho, colaborando generosamente na missão da Igreja.
     Entretanto, como outrora o anjo ao profeta Elias tal a mensagem final desta Oração gratulatória: “Grandis enim vobis restat via”– resta-vos ainda um longo caminho (7) .
     São milhares de almas que  estão à espera do desdobramento de todas estas portentosas atividades, sequiosas, também elas, de receberem as benesses divinas durante multos multosque annos.
     Tudo isto para glorificação da Igreja , para honra de Barbacena e de Viçosa que se ufanam de todas estas magníficas realizações.
     Então erguemos o hino gratulatório até o trono de Deus, comemorando este jubileu que ultrapassa os lindes terrenos e repercute na Jerusalém celeste .
     Gratias agimus tibi, Domine – Nós vos damos graças, Senhor, porque destes à Igreja um padre como José Eudes de Carvalho Araújo,  glória do sacerdócio de Jesus Cristo!
     Sacerdote  que ostenta profundas qualidades humanas e as raras intuições da vida. Um puritano do dever e um paladino da evangelização, um luzeiro intenso da caridade e um exemplar famoso da virtude.
     Sacerdote inteligente e ativo, brioso e íntegro, de crenças extremadas, dotado de uma perseverança inquebrantável e de um zelo apostólico e abrasador.
50 anos de um apostolado intenso a mostrarem todas as decorações do mérito, esmaltando-lhe a vida os mais luminosos eflúvios do trabalho que são as mais finas jóias da santidade.
Meio século que abrilhanta uma existência que se fez um farol para inúmeros corações por ser este sacerdote abertamente altruísta, revestido dos nimbos do ideal preconizado por Pio XII, ou seja, ele  tem sido sempre  sadiamente moderno (8).
Jubileu áureo que pindariza um dos mais notáveis membros do clero marianense, despertando as mais gratas esperanças no porvir sempre glorioso da Igreja católica.
     Eis porque nós vos damos graças, Senhor -  Gratias agimus tibi, Domine!
    
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NOTAS
1    BENTO XVI,  Audiência geral, Praça de São Pedro,    Quarta-feira,                                      24 de Junho de 2009
2   Atos 4,32
3  Mc 10,45
4  2 Cor 5,20
5  1 Cor 3,7.
6  BENTO XV, na Homilia da abertura do ano sacerdotal no 150°                                                aniversário da morte de São João Maria Vianney, Basílica                                           Vaticana, Sexta-feira, 19 de Junho de 2009
7  3 Reis 19,7
8 PIO XII, Exortação apostólica   MENTI NOSTRAE


From Wikipedia, the free encyclopedia FONTES
S. Jean Chrysostome, Sur le sacerdoce, VI, 4, SC 272, 317
Diário Oficial da União (DOU) de 01/09/1986,  Pg. 36. Seção 2.
wikipedia.org/wiki/Miguel_d'Escoto_Brockmann
wikipedia.org/wiki/Basílica_de_São_José_Operário
radiocatedraljf.com.br/.abertas-inscricoes-para-o 1° Festival de Música                         Católica de             Santo Antônio
CONSTRUINDO, informativo da Paróquia de Santo Antônio. Barbacena.
ENTREVISTA do Pe. José Eudes de Carvalho Araújo ao jornal                                             SEMEANDO, Paróquia de Santa Rita de Cássia, Viçosa, Ano XIII,                                n.154, p.4.
Informações fornecidas também pelo Dr. Lúcio Octávio de  Carvalho Araújo


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A FAMÍLIA DE NAZARÉ

A FAMÍLIA DE NAZARÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O domingo da Sagrada Família, logo após o Natal, apresenta o trecho do Evangelho de São Lucas sobre Jesus no templo entre os doutores, cujos detalhes podem causar perplexidade (Lc 2, 41-52). O evangelista não tinha em mira apresentar um conjunto de histórias destinadas a comover, mas oferecer acontecimentos atinentes à pessoa e à personalidade do divino Redentor. A narrativa é bem realista e até surpreendente. Jesus desgarra-se de seus pais. José e Maria O procuram durante três dias entre parentes e conhecidos e, depois, na agitada Jerusalém. Por ocasião do reencontro ecoa a queixa amarga de Maria que revelava o quanto sofreram ela e José, angustiados, à procura do filho amado. È que apenas aos poucos Jesus iria assumir a missão que viera realizar nessa terra atinente à salvação da humanidade e, tendo apenas doze anos, suas palavras dizendo que deveria estar na casa do Pai eram obscuras, não inteligíveis, de imediato, para José e Maria. São Lucas, porém, acrescentou que Sua mãe “conservava no coração todas estas coisas”. Com efeito, após os acontecimentos que culminaram com o encontro de Jesus no templo, Ele voltou com seus pais para Nazaré e lhes era submisso. A família que o Evangelho propõe como santa e como modelo conheceu, portanto, as inevitáveis crises humanas e as tensões que nascem da divergência dos pontos de vista. Jesus se explicou e Maria legou um exemplo magnífico, refletindo sabiamente a respeito da atitude daquele que iria crescer “em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e diante dos homens”. Jesus mostrou como os filhos devem dialogar com seus pais, dando-lhes sempre explicações de suas atitudes. Maria revelou como o amor é educador, faz crescer e se adaptar aos planos divinos. A dileção que deve envolver pais e filhos é um dom, um acolhimento. Resulta de influências recíprocas envoltas num profundo respeito. Amar é educar e educar é saber criar valores. Maria e José ao regressar para Nazaré longe de ficarem remoendo o sofrimento que tiveram, entenderam que os caminhos de Deus exigem sacrifícios.  Jesus, deste modo, se fazia também educador da fé de seus pais. Deste modo, a Sagrada Família estava legando uma lição de compreensão numa situação realmente difícil por que passaram José e Maria. É de se notar que eles não se revoltaram contra os desígnios de Deus. Da casa do Pai onde encontraram foram para a casa de Nazaré na qual reinava o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as inspirações divinas, preparando-se Maria para dores muito mais pungentes e José recebendo ânimo contínuo para seu árduo trabalho na sua carpintaria. Os problemas que surgem devem ser contornados com aquela perspicácia que o episódio do reencontro de Jesus proporcionou. Tudo a mostrar que há necessidade imperiosa da comunicação aberta e da comunhão de pensamentos numa união profunda. É este o ponto essencial que enfatiza a família de Nazaré, patenteando a dimensão fundamental à qual são chamados todos os que vivem a vida familiar. Jesus, depois de fixar para José e Maria, que ele era verdadeiramente o Filho de Deus a maravilhar os mestres no templo de Jerusalém, ali na Casa do Pai, Ele, em Nazaré, ensinou a obediência a todos os filhos. Os jovens mais do que nunca precisam cultivar a submissão a seus pais, aceitando os exemplos maduros da família e de seu comportamento humano. Que responsabilidade então a dos pais que devem servir de espelho e orientadores para seus filhos!  Os problemas  humanos mais profundos estão ligados à família, comunidade primeira, fundamental e insubstituível.  À família estão ligados valores fundamentais que não podem ser menoscabados sob pena de se instaurar a desordem social. Estes valores devem ser defendidos com tenacidade e firmeza. Em primeiro lugar o amor conjugal que se exprime na absoluta fidelidade recíproca até à morte.  Em seguida, a educação dos filhos que os leve a conquistar a verdadeira dignidade humana na prática de todas as virtudes e no desenvolvimento de todas as suas potencialidades.  Por entre as incongruências do mundo hedonista, materialista. deste terceiro milênio cabe, porém, aos filhos serem um arrimo especial para seus pais, ajudando a construir um ambiente de paz, serenidade, tranquilidade dentro do lar, como acontecia na casa de Nazaré. Foi lá que, durante anos, Jesus se preparou para iniciar e consumar sua obra redentora. A solenidade da Sagrada Família é então um apelo para a revitalização do ambiente familiar com todas estas mensagens deixadas por Jesus, Maria e José, a mostrarem que é sempre a paz doméstica a verdadeira base de uma vida feliz por entre os percalços existenciais. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.                                                          


domingo, 16 de dezembro de 2012

TEMPO DE CONVERSÃO

                                   TEMPO DE CONVERSÃO
                                               Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos foram aqueles que interrogaram a João Batista desta forma “Que devemos fazer?” O Precursor respondia sabiamente mostrando a necessidade de uma mudança de vida nos pensamentos, nos afetos, em todas as ações (Lc 3, 10-15). Àqueles que julgavam ser ele o Messias, deu uma lição de profunda humildade ao dizer que do Redentor ele não digno de desatar as correias das sandálias (Lc 3, 15-18). Deste modo, ele preparava seus ouvintes para bem receber a Jesus. O tempo do Advento é um tempo de conversão e de preparação para o Natal. Tempo de vigilância espiritual para uma correção total nos deveres particulares de cada um, para bem acolher o Salvador no dia venturoso em que se comemorará seu natalício. Vive-se num contexto impregnado de relativismo que contesta a Verdade e que não admite as normas estabelecidas pelo Ser Supremo. Cumpre, então, uma caminhada até o fundo do coração para uma revisão de vida, indo até o inconsciente para deletar todos os registros negativos, após os fazer aflorar. Mister se faz verificar se há realmente uma total conformidade com a vontade de Deus com aquela sinceridade que caracterizava São João Batista. Um exame detalhado  se tem havida uma completa responsabilidade no cumprimento exato  do dever específico das tarefas cotidianas e na decodificação dos sinais que Deus envia a toda hora, chamando cada um a uma maior perfeição em tudo. Isto quer nas relações com o próximo, quer nas preces individuais, nos momentos de consolações ou de desolações, as quais, aliás, são provações que Ele permite no decorrer dos dias. São João Batista ensina que se deve aderir em tudo aos planos divinos, aos quais é preciso sempre se ajustar. É isto essencial no caminho da conversão. Isto porque  o Natal não é uma lembrança de um fato histórico longínquo, mas precisa se constituir, através da liturgia, na vivência plena de seu significado revivido cada ano. É Cristo que vem visitar de uma maneira especial o mais íntimo da existência de cada um de seus seguidores. Chega a eles  com todas as graças que um dia raiaram neste mundo com seu nascimento lá no Presépio, mas que agora se dá em cada coração que o deve acolher com júbilo e disponibilidade total. Este é um tempo de vigilância. Esta significa aguardar atentamente um acontecimento extraordinário no qual se dá um reencontro especial com um personagem importante.  Isto, contudo, sem nenhuma inquietação, dado que dentro de alguns dias se estará mais uma vez diante do divino Infante que vem trazer mais graças de salvação, felicidade e paz. Não se trata de uma espera inútil, desde que, de fato, haja uma preparação condigna. O verdadeiro cristão não espera o Natal passivamente, pois esta atitude seria utópica e ilusória e nada lhe traria de novo para sua vida. É preciso hidratar a esperança, alimentar a fé e dilatar a caridade. Cumpre verificar se Jesus está apenas nos lábios, ao passo que o mundo está lá dentro do coração. Tarefa importantíssima durante o Advento esta revisão de vida. É desta maneira que se está atento para se receber a plenitude das novas graças natalinas. Trata-se de uma vigilância contemplativa e ativa. Contemplativa porque voltada para a Pessoa de Jesus que enche de otimismo. Ativa, porque cumpre mobilizar a vontade para um preparativo fervoroso rumo ao mistério a ser revivido dia 25 de dezembro. É assim que se passa da desilusão para a consolação. Desilusão de um mundo no qual impera a crise econômica e os desvios do dinheiro público, onde há trabalhadores sem emprego, países à beira da falência, doentes sem assistência, planos de saúde muitas vezes fraudulentos. Enfim, decepção perante uma crise que vem de um mundo que abomina os valores espirituais dentro de uma sociedade que se diz leiga, na qual há muita injustiça na estrutura sócio-política e nas  relações sociais. No entanto, a responsabilidade dos verdadeiros cristãos é grande, porque Deus não quer fazer nada sem a cooperação humana e muitos, porém, são omissos. O Advento vem despertar a consciência de cada discípulo de Jesus. Os desafios são grandes, mas a solenidade de seu Natal fará renascer a esperança. Cristo deseja  o empenho de todos para que haja um mundo melhor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



sábado, 15 de dezembro de 2012

ADVENTO, MARIA E O NATAL

ADVENTO, MARIA E O NATAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Este ano, quase às vésperas do Natal o Evangelho recorda a visitação de Maria a Isabel (Lc 1, 39-45). A presença da Virgem Santa que trazia Jesus no seu seio  ocasionou  regozijo imenso para a Mãe de João Batista, o qual  também exultou no seu seio.  Isabel, repleta do Espírito Santo se torna então a primeira teóloga do Novo Testamento ao dizer a Maria: “Donde me é dado a graça que venha visitar-me a mãe de meu Senhor”. Deixou então o célebre elogio a sua privilegiada prima: “Ditosa daquela que acreditou que teriam cumprimento das coisas que lhe  foram ditas da parte do Senhor”. Hoje em dia, é ainda o mesmo Jesus que continua a falar aos seus discípulos através da presença de sua Mãe Santíssima. Jesus, porém, no seu Natal deseja de cada um uma resposta a seu amor. Com a ajuda de Maria, o cristão, encarnando sua bondade, sua ternura e sua justiça, leva por toda parte a mensagem salvadora que Ele trouxe do céu a esta terra. É preciso, a exemplo de Maria, acreditar, ter fé. Quando isto acontece o amor surge com um raio de luz e conduz cada um a uma aventura magnífica, qual seja, ser servidor da caridade que resplandeceu um dia lá no Presépio. Maria levou Jesus até Isabel. O cristão, como outro Cristo, deve levá-lo por toda parte, irradiando sua dileção imensa. Como à Virgem Maria, Deus confia a todo batizado uma missão. Esta tarefa se torna então uma fonte de felicidade para si mesmo e para todos com quem se convive. Daí a interrogação que cada um deve  fazer  a si mesmo neste Natal:  “Estou, de fato, disposto a aceitar a chegada de Cristo em mim para o anunciar por toda parte”? Além disto, o encontro de Maria e Isabel oferece outras lições preciosas. Duas piedosas mulheres que se saúdam no raiar da Nova Aliança: uma idosa, a outro ainda jovem, mas ambas resumem toda a História Sagrada. Atrás de Isabel estão longos séculos de preparação para a vinda do Salvador e diante de Maria brilha o anúncio glorioso da Igreja de Jesus, portadora desta redenção admirável. É o encontro do Antigo e do Novo Testamento. Entre aquelas piedosas mulheres havia algo de comum, ou seja, a esperança e os frutos benditos de suas maternidades, engajadas nos planos sublimes de Deus. Dois meninos que são obras do impossível diante dos homens, pois Isabel era estéril e Maria tinha se decidido a ficar virgem. Ambas testemunham na sua carne que para Deus nada é impossível. Que diferença, porém, entre as duas crianças que elas trazem dentro de si! Uma, por um admirável milagre, é filho de Zacarias, a outra, por uma sublime intervenção divina é o próprio Filho de Deus, concebido pelo poder do Espírito Santo.  A presença das duas mães marcou extraordinariamente o encontro invisível de seus filhos destinados a sublimes missões dentro da História humana. Naquele instante, entretanto, Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rei, ela é para Isabel, a mãe de seu Soberano.  João leva sua genitora a acolher o mistério dos planos divinos. É de se observar que esta cena maravilhosa que se deu na casa de Zacarias foi um anúncio feito aos homens de que a desgraça de Eva estava para sempre apagada. O Espírito Santo, de fato, quis que o primeiro diálogo sobre a esperança do mundo fosse entre duas mulheres grávidas, imagens perfeitas da expectativa da felicidade. A ventura que envolvia Maria assim inserida na obra redentora estava enraizada na fé elogiada por Isabel, pois ela acolheu e guardou sempre a palavra de Deus, meditando-a no seu coração. Cumpre, porém, não apenas estar cada um consciente de todas estas mensagens, como ainda sentir a necessidade de as levar para dentro de casa, para a comunidade na qual se vive, afim de que o Natal se revista de seu sentido espiritual que pode se perder em manifestações vazias por força da comercialização econômica de um fato de  tão transcendental alcance. Cristo veio para remir, ele veio na sua humildade e como Ele e sua Mãe gostariam que a grande comemoração natalina fosse, antes de tudo, para todos uma fervorosa participação na comunhão eucarística. Neste domingo Maria vem nos visitar da parte de Deus para dizer a cada um: “O Senhor está próximo, aprimora a preparação para bem O receber”!    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.