A TIRANIA DOS PODEROSOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Continua infelizmente o descaso de muitos setores públicos pelas camadas mais pobres da sociedade, sobretudo, nas regiões mais carentes do Brasil. É inadmissível que muitos filhos de Deus sejam tratados com profundo descaso. Dois mil anos depois de Cristo, ainda impera a tirania de muitos que detêm o poder.
Grave, por exemplo, é a situação dos que moram na região de Crateús no Estado do Ceará. Um dos males cruciais é a falta de água. Seres humanos, animais e plantações estão sofrendo na região do semiárido nordestino, numa das maiores secas das últimas décadas.
Bispos, padres, religiosas e coordenadores das pastorais da diocese de Crateús apresentaram uma série de medidas imediatas e continuam lutando junto aos governos municipais, estaduais, federal, à Cagece, Conab, BNB e demais instituições, mostrando deste modo que deve haver sempre uma mobilização lá onde o clamor dos marginalizados não é ouvido.
Há soluções práticas e inadiáveis para o combate aos grandes males sociais.
Não se pode ficar indiferente à privação transitória ou persistente do que é preciso para o justo e indispensável viver.
A falta de água ou daquilo que é necessário à subsistência são males horrípilos, que destroçam, como tumor maligno, as entranhas do organismo social, pragas assombrosas, epidemias terríveis, morféia medonha, que deformam e deslustram a face luzidia deste país e que ofusca o progresso atingido em tantas regiões.
Ora, os males de uma sociedade curam-se como as feridas de um corpo, debelam-se, cortando-as em suas raízes. Célebre o axioma filosófico: sublata causa, tollitur effectus - tirada a causa, afasta-se o efeito. Nisto, exatamente, está o valor, o primor, o prestígio da solidariedade. Ela, por sua própria índole, reage energicamente, abertamente, implacavelmente contra as causas que têm produzido qualquer desventura. Ela, como terapêutica divina, medica, sara, infalivelmente, o doloroso mal do pauperismo, pois suscita medidas salutares de combate à miséria sob a ação de um amor intenso.
Como bem observou um dos líderes católicos da Imprensa no Brasil, “não fosse a ação dos Profetas de nossa Igreja, a coisa seria muito pior”. Cumpre, de fato, a cada um, no meio em que vive, estar atento às carências do próximo para o socorrer no que estiver ao próprio alcance.
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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