quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A CARIDADE E OS MOTIVOS DE ORDEM SOBRENATURAL

A CARIDADE E OS MOTIVOS DE ORDEM SOBRENATURAL
            Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus ensinou: “Aquele que recebe um profeta, na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. Aquele que recebe um justo, na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo. Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa (Mt 10, 41-42). Por força da unidade do corpo místico de Cristo, todos os cristãos, principalmente os apóstolos que são os enviados de Jesus Cristo e munidos dos seus poderes, formam uma só coisa com seu Chefe, cabeça deste Corpo Místico. Por esta razão quem recebe um apóstolo  ou a um justo e lhe faz algum benefício, ainda que seja ao menor dos discípulos de Jesus, recebe e beneficia  ao próprio Senhor Jesus, e por isto, é digno de recomensa eterna. Para que o benefício seja merecedor de tamanho  prêmio deve, porém, der feito não por motivos humanos e sim com relação a Deus e ao Messias que Ele enviou. O que deve mover o cristão a amar os que o rodeiam e a todos os homens são motivos de ordem  sobrenatural. Todo amor, realmente, toda simpatia, todo afeto, inclusive qualquer benefício para com os outros, não é, em si, necessariamente o amor pregado por Cristo. Este depende dos móveis, das intenções que levam a todas estas louváveis posturas. Amar e ajudar alguém porque nos agrada, nos presta serviços, nos pode ser útil, não é a autêntica caridade. Muito menos se for por causa da beleza física, ou da nobreza do caráter, ou do vigor da personalidade ou outros dotes e talentos. Os que não têm fé também agem levados por tais motivos que podem até inclinar para a caridade, abrir-lhe espaço, ser sua iniciação, mas não são a sua essência, sua mais fulgurante manifestação. A caridade paira muito mais alto. Transcende o sensível e não considera no outro sua pobre natureza humana tão imperfeita e que pode até levar à antipatia, à repulsa, ao desagrado. O amor que Cristo determinou  leva a contemplar no próximo um reflexo do próprio Deus, Sua claridade infinita e, desta maneira, o bem é feito a todos indistintamente, dado que todos os homens são dignos de amor e respeito independentemente de qualquer fator meramente humano. Seja dito inclusive que tanto maior é este amor sobrenatural quanto as razões pessoais levariam ao menoscabo por falta de qualquer atração meramente externa ou material. É esta a doutrina do Mestre divino: “Se amais aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios a mesma coisa?  (Mt 5,46-47) Se amais os que vos amam que graça alcançais? Pois até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Até os pecadores agem assim!     [...] Muito pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, pois ele é bom para com os ingratos e os maus” (Lc 6, 32-35).  Diretrizes admiráveis do Filho de Deus que revelam ser a reta intenção que torna meritória a ação caritativa. Trata-se de ultrapassar  as alianças e inclinações naturais que fluem dos sentidos para, através do dom da Ciência, sobrenaturalizar tudo, fazendo inclusive daquilo que é fácil e agradável um ato revestido da luz divina. O cristão está, então, sempre a repetir em tudo: “Coloquei minha vida a serviço do próximo e o próximo é Jesus Cristo”. De fato, é sabedoria celestial transformar todas as atividades em atos meritórios via amor, porque quer queiramos quer não, tudo que se faz é sempre um serviço ao outro. Em casa, no trabalho, no convívio de cada hora tudo pode ser valorizado para a recompensa eterna, se feito com todo empenho visando servir a Cristo no irmão. É esta mentalidade que não apenas conduz a atos heróicos para com os desafetos ou para com aqueles com os quais nenhuma força extrínseca justificaria os gestos de compreensão, préstimos ou afeição, mas também leva à eficiência no labor diário, pois este é então feito em função de Jesus, que disse “tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.   

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