quinta-feira, 31 de maio de 2012

Análise da oração ensinada por Jesus

            ANÁLISE DA ORAÇÃO ENSINADA POR JESUS
                        Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Feliz o momento em que os discípulos pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Do coração do Redentor fluiu uma oração repleta de ternura e contendo verdades maravilhosas. Ele mostrou como se dirigir ao Pai que está nos céus. Nada mais sublime nem tocante do que esta prece que brotou a sabedoria infinita do Mestre divino. Comovedora pela simplicidade, profunda pelo conteúdo, encerra, numa síntese surpreendente o que se deve suplicar a Deus para sua honra e glória e pelas mais prementes necessidades humanas. Pai é a primeira palavra desta prece inigualável. Pai é pujança suavizada, é dedicação, é fortaleza, é amparo. Pai é a sublimidade, a inteligência que ensina, a sabedoria que dirige, a força que protege, o vigor que anima, a antevisão que premune, a voz que acautela, o exemplo que arrasta, a luz que ilumina. Pai é nome que é título de glória, escudo, arma poderosa, manancial de esperanças e de proteção nos embates da vida. Pois bem, Cristo mostra que Deus é antes de tudo Pai amoroso, poderoso. Seja, pois, conhecido, adorado e santificado por toda a parte o nome desse Pai misericordioso e onipotente. Que o seu reino se dilate, de sorte que todos possam gozar da glória divina, e que o céu e a terra, submissos à sua santíssima vontade, sejam o santuário da Divindade. Uma coerência absoluta no ensinamento de Jesus! Lembrando, porém, o Pai celeste Ele não se esqueceu de inserir na sua prece o homem e suas maiores necessidades. Poucas palavras encerram as indigências do presente, do passado e do futuro. No presente o ser racional necessita viver, e, portanto, solicita, ardentemente, o pão substancial do corpo e da alma. O passado de nada precisa a não ser do perdão, mas para alcançar esse perdão, o homem começa perdoando a todos do íntimo de si mesmo. No futuro ele teme as tentações, as paixões desregradas, o pecado, e como os sofrimentos corporais e espirituais têm um grande império sobre o coração do homem e exercem o seu domínio em toda parte, a oração termina com um ato de confiança na proteção divina: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Esta oração, em consequência, não pode nunca ser mutilada sob pena de se estar censurando a Cristo. Certa vez, este sacerdote que traceja estas linhas, procurado por uma jovem, esta tinha um sério problema, dado que possuía um rancor intenso contra alguém que ela não perdoava. Foi-lhe indagado se ela rezava o “Pai Nosso”. Ela disse que sim. Perguntada então como dizia ao Pai que perdoava a quem a tinha ofendido, respondeu com uma simploriedade total: “Eu salto este pedaço”! (sic) É lógico que lhe foi dito que ela, infelizmente, não estava sendo uma boa cristã, não podia comungar, uma vez que não observava o preceito de Jesus que é anistiar a todos diante de suas ofensas. Pedagógica também, portanto, a oração que Cristo ensinou.  Sintetiza o que diz respeito ao céu e o que diz respeito à terra, ao presente, ao passado como ao futuro, o tempo e à eternidade. Tudo aí está sob uma forma excelsa. É a oração universal. A bondade divina quis explicitar palavra por palavra dessa sublime oração que deve ser recitada pela manhã, durante o dia, à noite, em todos os momentos de perplexidade. Ela detém uma eficácia divina. O homem deste início de milênio, na azáfama do dia a dia, encontra nesta prece breve, completa, curta, substancial uma maneira bem adequada para se dirigir ao Ente Supremo sem poder das desculpas de que não tem tempo suficiente para orar. O espírito leviano e inconstante de quem vive na era pós-moderna encontra no “Pai Nosso” uma forma perfeita para não se furtar à sua vocação de orante, colocado que está à frente da natureza visível para ser o adorador da Natureza Invisível. O extraordinário desenvolvimento técnico e científico ofereceu aos homens preciosos instrumentos que projetam rapidamente novos fatos. Os historiadores e demais cientistas sociais analisam a aceleração da História, o mundo se tornou uma “aldeia global”, a palavra da moda é globalização. Transformou-se a sociedade. Rasgaram-se novos horizontes. Criaram-se novas perspectivas. Surgiram novos problemas. Era inteiramente diferente para a humanidade. Complexas questões nunca dantes imagináveis surgiram a envolver todas as estruturas sobre as quais repousa a felicidade comum. O ser racional se vê imerso numa agitação que nunca dantes o envolveu. Pois bem, ele encontra, porém, na recitação do “Pai Nosso” um oásis na turbulência em que vive. Seu coração volúvel e irrequieto depara então a tranquilidade, a imperturbabilidade e pode orar isento das perniciosas distrações. Os sete pedidos nessa admirável oração convêm aos justos e aos pecadores em todas as circunstâncias da vida e oferecem completa serenidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

A oração do cristão

                                 A ORAÇÃO DO CRISTÃO
                                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A oração do cristão é uma voz poderosa que penetra até o céu e abre os tesouros divinos. Tal a promessa explícita de Jesus: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7). Aliás, o divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua assertiva, dado que também disse: “Tudo que pedirdes em meu nome, fá-lo-ei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jô 14,13). Desta forma, Cristo empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo conceder a quem piedosamente orasse. Uma prova do valor da oração mostram os mais significativos edifícios da terra que são os consagrados às preces dos fiéis, desde as pequenas capelas até os grandes templos e majestosas catedrais e basílicas nos quais ecoam os mais belos hinos que são as preces dirigidas ao céu.  A oração é a fonte de todas as bênçãos para a humanidade e tão importante para o homem como a chuva é necessária às sementeiras, a água ao peixe e o sol à natureza.  A oração é o manancial da grandeza e da força do homem. Além disto, é um dever de justiça, de amor e de gratidão para com Deus. Quem a Ele se dirige na prece já está reconhecendo que Ele é o Todo-Poderoso Senhor de quem se depende em tudo. A ação de graças pelos benefícios recebidos são um tributo de agradecimento que muito agrada ao Ser Supremo. É da oração que vem a fortaleza do cristão para vencer as ciladas do demônio e, por isto, Jesus recomendou: “Vigiai e orai” (Mt 26,41). Segundo São Lucas Ele insistiu que se orasse sempre sem desfalecer, ou seja, sem jamais se  cansar, vivendo uma vida de oração (Lc 18,1). Se, pois, Ele ordenou que seus seguidores rezassem, Ele ensinou também como se deve orar e ele mesmo rezava, como lemos em tantas passagens do Evangelho. Ele, sendo Deus e Homem, fez-se o primeiro e o maior dos orantes. Um dos fatos marcantes de sua adolescência foi ir com José e Maria ao templo de Jerusalém. Ao se iniciar sua vida pública se retirou ao deserto para rezar e fazer penitência. Lemos em São Mateus: “Ele subiu à montanha para orar na solidão. E, chegando a noite, estava lá sozinho (Mt 14,23). Antes de sua dolorosa paixão uniu-se ao Pai no jardim das Oliveiras. No céu continua a ser o nosso perpétuo intercessor. Tudo isto patenteia como é sublime orar, imitando o próprio Filho de Deus. Além disto, quem se põe em oração se torna um embaixador de toda humanidade, obtendo de Deus a paz, a justiça, a felicidade para todos. A chave da oração, porém, é a confiança inabalável namisericórdia divina. Por isto, S. Bernardo chama a oração a onipotência suplicante. Ela tudo consegue para aquele que confia na bondade de Deus. Não basta, nem vale amontoar preces sobre preces, se não há fidúcia total. Muitos rezam, acumulam súplicas sobre súplicas e nada conseguem porque não há uma certeza completa na benevolência e no domínio de Deus. A oração verdadeira, sincera, eleva, santifica, consola, acalma, introduz nas províncias da eutimia, facilita o perdão dos pecados e traz a esperança da eternidade feliz. Saber orar é uma grande realidade, é possuir uma potência invencível. Foi através de preces constantes que os santos encontraram as luzes de uma fé profunda, arras da vitória sobre as aliciações satânicas, o heroísmo de suas virtudes maravilhosas. A oração é o laço das santas afeições celestiais, pois é ela que estabelece correntes de graças em todo Corpo Místico de Cristo. Atrai bênçãos, que animam os que lutam, consolam os que sofrem e alegram ainda mais os que estão envoltos em júbilo. Ela une os corações separados pelas distâncias e os reúne no coração de Deus, centro e foco do verdadeiro amor. Ela é como o arco-íris que, elevando-se da terra, passa pelo céu onde recebe todas as suas cores radiantes, e recai na terra em uma visão luminosa e cheia de esperanças. O grande acontecimento que transformou o mundo, o início da História da Igreja se deu no Cenáculo de Jerusalém, onde os Apóstolos perseveravam unânimes na oração com Maria, a mãe de Jesus. Por tudo isto, cumpre não se esquecer nunca que a vida do cristão neste mundo é uma luta contínua contra os poderes das trevas. É preciso, portanto, pedir sempre numa prece fervorosa os recursos necessários para não se perder o rumo do céu. Na oração o cristão se torna forte contra as tentações e recebe todas as forças do céu. Cumpre, porém, que a oração não seja mecânica, rotineira, envolta em distrações, mas seja uma prece feita no recolhimento, oração meditada, proferida como um clamor de amor que parte de um coração que, realmente, ama a Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 29 de maio de 2012

PROVAS INCONTESTÁVEIS DO AMOR DE DEUS

                     PROVAS INCONTESTÁVEIS DO AMOR DE DEUS
                                            Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O homem conhecedor de sua finitude, ciente de suas limitações é, por essência, um ser religioso. Com efeito, percebe-se um ser criado e, naturalmente, se tem bom senso, se volta para o Ser Supremo. Este se revelou na Bíblia como o amor substancial. São João, num momento de pulcra inspiração, declarou: “Deus é amor” (1 Jo 4,7). Por isto mesmo o que mais desagrada o Todo-Poderoso Senhor é alguém duvidar desta sua dileção infinita. Eis porque nunca se medita demais sobre as provas incontestáveis do amor de Deus, que se revelou aos homens como Pai repleto de ternura.  Criou o homem à sua imagem e semelhança e colocou a seu serviço as obras maravilhosas que existem neste mundo. No planeta terra por toda parte há reflexos de seu poder. Além disto, Ele quis se manifestar aos homens e a Bíblia é sua palavra maravilhosa que alimenta a fé dos que possuem o dom de crer. Ofereceu ao homem essas páginas santas, cheias de ternura, de grandeza, de milagres e de promessas, repletas de conselhos e de preceitos. As Sagradas Escrituras manifestam, de fato, toda grandeza do Onipotente Senhor e aí encontra o coração humano consolação para todas as dores, resposta para todas as dúvidas, esperança e conforto que fortalecem para os embates da existência. No Antigo Testamento pairou notável promessa de um Redentor que, na plenitude dos tempos, veio ao mundo. O Filho bem-amado do Pai deixou os esplendores celestes, visitou então a terra para mais uma demonstração do amor de Deus para com a humanidade. A encarnação do Verbo Divino foi um presente incomensurável da grande ternura do Criador para com sua criatura racional. Durante trinta e três anos a humanidade esteve nesta terra aquele por quem todas as coisas foram feitas.  Crianças, jovens, pobres, humildes, pecadores e enfermos, todos O viram. Ele perdoou, abençoou e salvou. Os seus olhos refletiam a bondade, as suas mãos espalhavam benefícios, os seus lábios ensinavam verdades e distribuíam misericórdia. Enfim, como não há maior prova de amor do que morrer pela pessoa amada, Jesus quis morrer pela redenção de todos. É que. como lembrou São João. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça” (Jo 3,26). A morte de Jesus, porém, não foi a última palavra do seu amor. Era necessário que ficasse entre os homens, na sua companhia, para protegê-los e consolá-los. Ele não veio ao mundo unicamente para a satisfação de um pequeno país, nem somente para deixar na história uma saudosa lembrança de sua passagem na terra. Os filhos de outras nações e de outros séculos não são menos seus filhos que o povo judeu ao qual pertenceu. A sua grande e universal família era, realmente,  a humanidade de todos os tempos e de todos os lugares. Por isto, Ele se deixou ficar na Eucaristia para ser o contemporâneo de todas as gerações. Com toda sua onipotência nada podia fazer que honrasse e distinguisse mais a humanidade do que deixando neste sacramento o memorial perene de sua dileção. Por uma nímia condescendência de seu amor  Jesus pode ser encontrado nos tabernáculos das Igrejas, pode ser visitado, adorado. Ele quis, num rasgo de ternura sem limites, perpetuar a sua presença no meio dos homens.  Deste modo, Ele está presente não somente em sua doutrina e em sua Igreja, mas ainda na Eucaristia, sacramento do seu amor pelos homens. Pela Eucaristia Ele quis que sua morte de amor fosse renovada em cada Missa e se fizesse alimento das almas, como garantia da eterna redenção numa união profunda com Ele: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 55-57).  Jesus por incomensurável dileçao tornou-se o companheiro inseparável do homem e tem acompanhado os seus passos através de todas as gerações. Jesus tornou-se ainda o pão das almas, o alimento poderoso da vida espiritual, fazendo brotar virtudes na vida dos cristãos, conservando no mundo o apreço dos autênticos valores, inspirando dedicação, humildade, caridade, a todas as classes sociais. A Eucaristia foi mais um milagre do amor de Deus pelos homens, sustentando a vida das almas e oferecendo o penhor seguro de esperanças imortais. Foi com todas estas provas incontestáveis de amor que Deus se fez conhecido. Diante de tudo isto só resta aos homens colocar em prática o célebre axioma latino: “Amor com amor se paga”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


FESTA DE CORPUS CHRISTI

FESTA DE CORPUS CHRISTI
Con. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A festa de Corpus Christi é uma  solenidade especial que congrega os fiéis para agradecer a Cristo sua presença real no sacramento da Eucaristia.  Era mister, verdadeiramente,  houvesse esta festa, especial tributo de gratidão àquele que, indo para o céu, quis, no entanto, ficar entre os homens.  Acompanhar Jesus eucarístico conduzido processionalmente pelas ruas das  vilas e cidades, cercado de amor por  todos que se inclinam e, reverentes,  O adoram sob as espécies sacramentais oferece momentos de grande arrebatamento espiritual. Ruas engalanadas, janelas enfeitadas, cânticos vibrantes a saudarem o Redentor amado que passa a todos abençoando e cumulando de novas graças e benesses celestiais são características do dia de Corpus Christi. Jesus no sacramento da Eucaristia é o amigo que sustenta neste exílio terreno e, se unindo a cada um, comunica sua proteção divina para os embates da existência. Sua assertiva fora maravilhosa: “Eis que eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Isto se dá de modo singular nas celebrações das Missas e pela sua permanência nos sacrários das Igrejas. Na última ceia Ele deixou como herança para os que nele crêem sua presença real e substancial sob as aparências de pão e de vinho. A Hóstia consagrada é verdadeiramente seu corpo, sangue, alma e divindade. O mesmo corpo que nasceu da Virgem Maria, que foi açoitado, coroado de espinhos, imolado e pregado na cruz; o seu verdadeiro sangue derramado no Calvário, pela salvação do mundo. A Eucaristia é o Filho de Deus feito homem, a segunda Pessoa da SS. Trindade encarnada, que se faz concidadão de todas gerações cristãs. Neste exílio terreno a morte domina por toda parte. O nosso corpo tem suas fadigas, suas dores, suas enfermidades; a nossa carne tem uma tendência invencível para voltar à terra de onde saiu.  Em nossa inteligência o erro e o orgulho exercem funesta tirania bem como  em nossos sentidos.  O nosso coração feito para amar a Deus agita-se no meio das tristezas, das falsidades e das infidelidades das criaturas. Era preciso o poder divino para levantar essas ruínas; era necessária uma força de ressurreição e de vida para triunfar dessa corrupção, para transfigurar e glorificar o nosso ser e Cristo, a vida divina, está entre nós, está nos tabernáculos sagrados para operar esses prodígios.  Com efeito, o  que é o sol na criação, o que  o coração é no homem, é a Eucaristia na Igreja. É o centro do culto católico, o ponto para onde convergem as nossas adorações, as nossas homenagens, todos os ofícios e todas as cerimônias religiosas; é o princípio vital do Cristianismo, porque comunica às almas a vida cristã e sobrenatural. Nesse sacramento  Cristo continua a viver realmente no meio dos homens, a instruí-los e a salvá-los, como fez durante sua vida mortal. Nesse sacramento o divino Redentor continua a oferecer cada dia pela humanidade o sacrifício que ofereceu no Calvário e aplica a cada alma em particular, no ato incomparável da comunhão, as graças e os méritos da redenção. É o maior, o mais prodigioso e o mais divino dos sacramentos. Jesus  tem direito às nossas adorações, ao nosso respeito e ao nosso amor à Eucaristia, porque ele aí está real e substancialmente presente, e as nossas igrejas são verdadeiramente a casa de Deus, a porta do céu, a morada da virtude e da santidade. Jesus eucarístico  é a vida, é a paz, é a glória. Na festa de Corpus Christi os fiéis renovam sua fé em tudo que Jesus realizou no Cenáculo e proclamam as maravilhas do grande Sacramento.  Recebe a homenagens públicas das inteligências e dos corações que intentam retribuir tanto amor e tanta fidalguia daquele que quis se fazer nosso companheiro de jornada para que ninguém perca o rumo do céu. Nesta solenidade, ainda com mais fervor, ecoam os brados entusiásticos que fluem do íntimo das almas: “Graças e louvores se dêem a cada momento ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento” [...] “Honra e glória louvor sempiterno a Jesus, a Jesus Eucarístico” !* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


sábado, 26 de maio de 2012

AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA

                              AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA
                                         Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As aparições de Nossa Senhora e as interpretações equivocadas acerca das mesmas no que tange os comentários feitos pelo espiritismo caem por terra diante da doutrina católica sobre tais aparições. Estas aparições são principalmente as de Fátima (1917),  de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, na Rue du Bac,140, em Paris (1830); em La Salette (1846); a Santa Bernadette, em Lourdes (1858). Com efeito, segundo os melhores teólogos, quando Maria apareceu nos citados acontecimentos seu corpo glorioso permanecia no céu e no lugar da aparição só havia uma forma sensível que a representava. É o que explica, inclusive, como ela apareceu ora sob uma forma, ora sob outra. A possibilidade de tais fenômenos está incluída dentro da possibilidade do milagre. Deus, Autor da natureza, Ser Supremo, pode abrir exceções às leis que Ele mesmo impôs aos elementos, desde que para tanto, haja motivo proporcionalmente importante. Adite-se que tais aparições, ainda que reconhecidas e até solenizadas na Liturgia pela autoridade da Igreja, não se impõe, obrigatoriamente, à fé dos católicos, pois ficam fora do depósito da revelação pública e universal.  A Igreja não considera herético o católico que não as aceitasse. Seria, porém, uma atitude temerária, arrogante e soberba a negação de tais fenômenos, pois a Igreja não costuma tomar posições afoitas e o posicionamento dos Papas é sumamente significativo, indo, até mesmo, alguns deles pessoalmente venerar Nossa Senhora, invocada com tanta confiança nos lugares onde se deram as aparições.  Quem traceja estas linhas e que já foi em peregrinação aos santuários onde se deram as aparições acima referidas numa de suas idas a Lourdes presenciou um fato notável. Lá estava um general brasileiro que afirmou: “Estou aqui por causa de minha esposa que é muito carola. Eu não acredito em aparições de Nossa Senhora”. Pois bem, à hora da procissão das velas, às 18 horas, grande surpresa por ver o general com vela nas mãos participando daquela homenagem à Mãe de Deus. Argüido, depois ele afirmou: “De fato, aqui se sente uma proteção especial da Virgem Maria”! Como Rainha que é, Maria quis estabelecer por vontade de Deus seus palácios pelo mundo afora nos quais dá sempre audiência aos seus filhos que nela confiam.  Os milhares de fiéis que sempre visitam os templos marianos são uma prova incontestável de quão numerosas são as graças obtidas quando veneram a Nossa Senhora sob os mais variados títulos e por suas manifestações extraordinárias com mensagens que levam à conversão, à imitação de suas virtudes. Firma-se deste modo a fé nas verdades reveladas, cresce a esperança de se estar um dia com ela lá na Casa do Pai, aumenta o amor a Deus e ao próximo. O que fica evidente é que Ela se revela como a zeladora da saúde do corpo e da alma dos que a homenageia e imploram sua proteção. Cientistas insuspeitos atestam ocorrências extraordinárias na recuperação de moléstias incuráveis. A cura de Maria Ferrand, em Lourdes, levou à conversão o notável médico Alexis Carrel. Atacada de peritonite tubercular no último estágio, ela, diante da gruta de Massabielle, ficou radicalmente curada. Em Fátima é Margarida Rebelo na idade de 18 anos que é agraciada. Tendo caído de uma janela, aos 25 de dezembro de 1939, fraturara a segunda vértebra lombar e isto lhe ocasionou chagas terríveis. Aos 13 de maio de 1944 parecia estar no fim da vida. À hora da bênção do Santíssimo Sacramento percebeu que estava livre do mal. O Dr. Pereira Gens confirmou o fato, como mostra H. Bonn no livro “O Milagre diante da Ciência”, editado em Paris, em 1957. Centenas de outras curas estão registradas em Lourdes, Fátima e em outros templos consagrados à Virgem poderosa. As averiguações médicas, abertas a todos os sábios de qualquer nacionalidade ou credo, são rigorosíssimas. Não se trata para tais peritos de procurar o milagre a todo custo. Pelo contrário, grande parte deles está ali para negar qualquer intervenção sobrenatural. Flui então a realidade dos acontecimentos. Os incrédulos ficam pasmos, mas os que têm a dita de crer sabem que Maria compraz em ajudar os que padecem e chama os pecadores à mudança de vida. Adite-se que quando a saúde corporal não é obtida, nota-se outro comportamento nos doentes que passam a levar com mais tolerância e compreensão sua pesada cruz.  Acrescente-se também, que o rigor com que as autoridades eclesiásticas  têm sempre examinado fatos que poderiam ser mistificações, conferem credibilidade ao que ocorre nos mencionados lugares. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

JESUS CRISTO, O DIVINO SALVADOR

JESUS CRISTO, O DIVINO SALVADOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Por entre a azáfama diária impulsionada pela aceleração da História, sobretudo nos dias de hoje é sumamente salutar recordar verdades que devem sustentar a fé do verdadeiro seguidor de Cristo. Cumpre se conscientizar de que os  ensinamentos de Jesus revelam a elevação, a profundidade, a grandeza e a ciência de sua inteligência, que não teve nem terá igual na terra. Ele demonstrou conhecer os destinos das nações e os segredos dos corações. O futuro de Jerusalém lhe foi tão visível como o que aconteceria a Pedro e a Judas. Ele contemplou o mundo que iria nascer do pé de sua cruz, dessa cruz que seria amada e respeitada pelos homens de boa vontade, que seria levantada à margem de todos os caminhos percorridos pela humanidade na realização de sua sublime profecia: "Quando eu for elevado, atrairei todos a mim". (Jo 12,20)  De fato, a mais de dois mil anos que Ele vem  seduzindo toda a humanidade uma vez que conquistou adeptos em todas as partes do mundo. Ele fez sua a inteligência e a liberdade de milhares de seguidores. Ele apoderou-se  dos corações sinceros e ardentes de um verdadeiro amor. Em todos os quadrantes da terra, de um polo a outro, a figura singular de Jesus Cristo  fez surgir multidões de súditos que, empolgados pelo sublime de sua doutrina, pelo excelso de suas sábias máximas, pelo belo de suas idéias fizeram de sua existência empenho único qual seja servir Mestre tão amável. Em toda as camadas sociais, em todas as nações, nos mais diversos rincões, nas mais afastadas plagas, no Oriente e no Ocidente, nos fogos do Equador, nos gelos polares aparecem santos, heróis formidáveis, que espantam o universo pela grandiosidade de seu afeto, de sua dedicação, de seu devotamento e imolação a Jesus. Ele apareceu amorosamente ante a sociedade e iluminou as inteligências, oferecendo aos povos sua Religião, única tábua de salvação e progresso. Eletrizou as mentes com a verdade da qual se fez mensageiro divino. Os corações sempre lhe reservaram tudo aquilo que eles de melhor possuem, a saber, sua afeição irrestrita, seu amor total. Este amor lhe fez guarda ao túmulo de pedra e seu sepulcro foi não só glorioso, como também objeto das manifestações mais ternas da dileção mais fervorosa. Eis porque seu nome  não se apaga nunca através dos tempos e Ele prossegue vivo, amado, seguido por milhares neste início de milênio. A sua divindade  transpirou de todas as suas palavras, de todos os seus atos, de toda a sua personalidade e atinge centenas de corações que procuram a verdadeira felicidade. Porque Ele muito amou a humanidade que veio salvar, Ele se deu em holocausto. A sua hora, como ele a chamou,” foi o momento  do Calvário, onde os seus sofrimentos subiram até a altura do seu infinito amor. Esse amor do Filho de Deus não se encerrou entre algumas pessoas, pois Ele abraçou todos os homens e com o mesmo ardor. Ele não percebeu criatura alguma bastante impura para ser repelida pelo seu coração tão puro, nem bastante vulgar para ser desprezada pelo seu coração tão nobre. Ele levantou e ergue sempre o que jaz por terra e reabilita o que parece perdido. O mundo teria esmagado a Madalena aos pés do Cristo, teria apedrejado a mulher adultera. Jesus abaixa-se  sempre para erguer os infelizes, emprega toda a indústria de sua dileção  para lhes dar coragem e vida, e lhes diz com ternura: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou manso e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (Mt, 11,28-30).  Disse mais ainda: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” (João 7:37). Ele desaltera os que têm sede de felicidade,  de consolação, de santidade e de paz, imperturbabilidade, tranquilidade. O poder divino O leva a satisfazer  todos esses desejos. Por tudo isto o divino Redentor não somente amou os homens com um amor infinito, mas ainda inspirou e acendeu a chama eterna do amor absoluto no coração dos homens.  Ele inspirou esse amor sem hesitações, sem reticências, amor generoso que arranca o homem dos prazeres e que, em certas circunstâncias, leva até a oferta do sangue, até o sacrifício da vida, como aconteceu e acontece com os heróis do cristianismo. Eis porque milhares repetem sem cessar as palavras de São Paulo: “Quem  poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? [...] Mas em todas estas coisas somos nós mais do que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8,35-37). Jesus é, realmente, o divino Salvador! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A SABEDORIA DE JESUS

A SABEDORIA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nas páginas da História Jesus Cristo, o Verbo Encarnado de Deus, se destacou com o esplendor de uma sabedoria sem igual entre todos os homens, e a sua palavra a mais de vinte séculos ecoa  iluminando as inteligências. Sabemos pelo relato dos Evangelistas que na idade de trinta anos Ele deixou a vida silenciosa e oculta de Nazaré; recebeu o batismo das mãos de São João Batista nas águas do rio Jordão e começou a sua missão com um jejum de quarenta dias. Foi depois à Galiléia, onde fez ouvir pela primeira vez sua palavra e realizou o seu primeiro milagre. À vida doméstica sucedeu a existência pública. Pregou, instruiu e promulgou a doutrina, que oferece aos homens o caminho seguro para chegar à pátria verdadeira. Firmou a veracidade de sua palavra com os milagres mais estupendos e confirmou ainda sua divindade com sua vitória sobre a morte, ressuscitando gloriosamente, após remir a humanidade no alto de uma Cruz. Sua sábia palavra foi também uma manifestação de que Ele era verdadeiramente o Filho de Deus. Jesus falou como mestre insuperável. Eis porque São Mateus registrou: “Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas. (Mt 7,29). O  próprio Jesus afirmou peremptoriamente: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. (Mt 28,18). Por isto  sua palavra  se elevou acima de todos os ensinamentos dos maiores sábios; excedeu a dos legisladores, dos doutores, dos profetas, e se impôs com o esplendor de um educador supremo, que não tem acima de si nenhum outro personagem. Ele não discorreu  como os outros moralizadores: “Eu vou mostrar-vos o caminho,” mas  proclamou: “ Eu sou o caminho”. Não apregoou como os sábios: “Eu vou ensinar-vos a verdade,” mas afirmou: “Eu sou a verdade”.  Não asseverou como os legisladores, os conquistadores e os profetas: “Encontrareis eutimia em minhas leis e a proteção em minhas armas,” mas  patenteou: “Eu sou a vida”. Ele não se manifestou como um mensageiro de Deus, mas como o próprio Deus, pois disse: “Eu e o Pai somos um”. Por isto o que Ele falou repercutiu pelo mundo afora e vem atravessando os séculos, revelando uma universalidade jamais alcançada, mesmo porque os que vieram antes dele e os que viveram após sua passagem por este mundo sempre ficaram marcados pelo espírito de sua época, contramurados num contexto histórico e  restritos a um determinado público. A palavra de Jesus, porém, passa sobre o mundo diáfana, ultrapassando todas as fases históricas, acima de todas as bandeiras, de todas as literaturas, e se harmoniza com todos os governos, combatendo, porém, todos os vícios.  Ela convive com todos os séculos sem tomar o seu espírito, ela abraça  todos os povos sem tomar os seus defeitos, e ao mesmo tempo que ela se adapta a todas as eras ela resiste e condena todas as corrupções. A palavra do Mestre divino permanece imutável no meio de todas as transformações, indestrutível no meio de todas as ruínas, sempre nova no meio das filosofias que envelhecem, e sempre atual no meio dos progressos científicos e tecnológicos. Ininterruptamente a mesma no meio dos regimes que se sucedem, sempre vivente e vitoriosa no meio das gerações que passam e desaparecem. Ela é eterna, porque é divina. A palavra oral ou escrita dos mais renovados pensadores  não penetram nem comovem todas as almas como  acontece com os ensinamentos do Rabi da Galiléia. Como o sol, a sua sabedoria se derrama em torrentes luminosas pelos séculos afora.  Cristo foi e será sempre o pregador mais sublime e mais universalmente conhecido e seguido. É que Ele falou  e os pobres foram evangelizados, o povo conheceu e adquiriu os seus direitos, as mais belas verdades se revelaram sob o véu das parábolas, a inteligência se iluminou com novos clarões, conhecendo os mistérios de Deus e da alma, as leis da consciência e os princípios fundamentais da família e da sociedade. Palavra universal, porque palavra de Deus. Por tudo isto a palavra de Jesus que revelou sua sabedoria infinita tem sido tão fecunda.  Ele lançou nas consciências e nos corações a sua mensagem de justiça, de paz, de amor, de abnegação, de sacrifícios e de virtudes. Cumpre então ler, estudar e viver o que Ele ensinou e que se acha compendiado nos Evangelhos,   onde  está escrito, na majestade de sua simplicidade, o que pregou a sabedoria eterna que fulgiu neste mundo. Donde a fidelidade em acatar tudo que  o Filho de Deus doutrinou, fazendo de sua palavra a lei, a vida, a esperança do verdadeiro  epígono que, iluminado por esta sabedoria, um dia, chegará a uma felicidade perene, prometida pelo próprio Cristo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


domingo, 20 de maio de 2012

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O fato de não se encontrar na Bíblia a palavra Trindade já oferece ocasião para uma reflexão profunda sobre esta verdade fundamental que é o mistério de um só Deus em três pessoas realmente distintas. O termo que surgiu no segundo século, foi fixado mais tarde nos Concílios de Nicéia e de Constantinopla, e exprime magnificamente o que Jesus revelou sobre a vida íntima de Deus em várias passagens do Evangelho.  A ordem de Cristo foi clara: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).  A revelação do mistério trinitário, feito pelo próprio Filho de Deus, foi preparada pedagogicamente através de todo o Antigo Testamento que firmou a existência de um só Deus, Senhor de tudo. O Livro do Deuteronômio, por exemplo, registrou o que Moisés falou ao povo: “Reconhece, pois, hoje e grava-o em teu coração que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra e que não há outro além dele (Dt 4,39). Jesus se referiu muitas vezes ao Pai e ao Espírito Santo e, deste modo, a fórmula filosófico-teológica foi precisa na formulação da extraordinária realidade referente ao Deus três vezes santo. O mistério da Santíssima Trindade demonstra que o Ser Supremo não se acha longe de suas criaturas, inacessível. O Mestre divino deixou patente que a natureza mesma da essência divina é o amor absoluto ou, melhor ainda, o absoluto do amor. Foi o que compreendeu magnificamente São João ao proclamar: «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo 4, 16).   O Espírito Santo chama o cristão a viver a vida mesma de Deus e o convida a crer no belo amor do Pai que através do Filho realizou maravilhas de dileção, de perdão e misericórdia.  Ser cristão é entrar na corrente de vida, corrente  de amor, semelhante à circulação de amor infinito que vai do Pai ao Filho pelo Espírito Santo. Eis porque viver o mistério da Santíssima Trindade é lhe ofertar o dom total da própria vida e, por isto mesmo, dom total também ao próximo, segundo o desejo de Cristo: “Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti" (Jo 17,21). À luz do mistério trinitário se compreende melhor o que Deus disse ao criar o ser racional: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança! (Gn 1,2-27). Todas estas verdades se recordam a cada passo ao se fazer o sinal da cruz pronunciando o nome das três Pessoas divinas. Trata-se de um sinal que se torna como que a assinatura de Deus, proprietário de tudo e de todos, irmanados na mesma fé. É a lembrança viva de que o amor e a comunhão fraterna são capazes de ir até o dom da própria vida como aconteceu com o Verbo de Deus Encarnado. Cumpre, porém, que se recorde sempre que a vida doada à honra e glória da Trindade Santa e ao serviço do próximo não é imolada de uma só vez, mas sim gota a gota, dia após dia. Este amor a Deus e ao próximo, contudo, só é possível na união perseverante que tudo envolve na dileção divina. É que o amor é a vida mesma da Santíssima Trindade na qual há uma comunhão plena, total, uma eterna e perfeita comunhão de doação e de comum união realidade que deve envolver todas as pessoas. São João foi enfático quando na sua primeira carta exortou: “Caríssimos, amemo-nos mutuamente, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus” (1 João 4,7). Isto significa que penetrar fundo no mistério da Santíssima Trindade é compreender a verdadeira natureza das relações pessoais com o Ser Supremo e com o semelhante, envolvendo tudo num oceano de amor. A abertura da vida para o Deus Uno e Trino inclui, portanto, o acatamento mútuo, o espírito de serviço e de compartilhamento. Tal foi a ordem de Jesus aos Apóstolos que eles partilhassem com os outros, mundo afora, a Boa Nova e a experiência que tiveram da sua dileção.  Eles não deveriam ficar reunidos nem ficar entre os judeus, mas, num apostolado eficiente  deveriam levar a todas as partes o anúncio da salvação. Foram enviados para batizar em nome de um Deus de amor, Uno e Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Não se tratava de um mero rito, nem de uma adesão a ideais, mas de uma conversão concreta e de uma participação vital na experiência do Evangelho, numa vida inteiramente conformada à mensagem que, do seio da Trindade, Cristo trouxe a esta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

A ATIVIDADE DO ESPÍRITO SANTO

                                    A ATIVIDADE DO ESPÍRITO SANTO
                                               Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Pentecostes lembra a todos os fiéis que é preciso viver o seu Pentecostes, pois as palavras de Cristo foram claras: “Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior” São João explicou: ”Jesus falava do Espírito que deviam receber os que tivessem fé nele” (Jo 7, 37-39). Donde a recomendação do Apóstolo Paulo: “Deixai-vos conduzir pelo Espírito” (Gl 5,16). É que filhos de Deus, discípulos de Cristo, recebemos continuamente o Espírito Santo. Este é então uma realidade pessoal, concreta e ativa. Ele torna possível a fé, a esperança e o amor a Deus e ao próximo, vivificando a existência do seguidor de Jesus e fazendo-o participante da missão do Filho de Deus. A efusão do Espírito Santo recebida pelos apóstolos e outros discípulos no dia de Pentecostes não tardou a se espalhar  entres os judeus testemunhas do acontecimento em Jerusalém, depois sobre os pagãos que desejavam crer na obra salvadora de Jesus, recebendo os dons da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Eis porque São Paulo alertou aos Romanos: “Não recebeste um Espírito de escravo, mas de filhos”! (Rm 8,15). Aos Coríntios ele explica que o Espírito Santo oferece uma variedade de dons àqueles que crêem: “A cada um a manifestação do Espírito é dada em vista ao bem comum. Entretanto um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz. (1 Cor 12,11) . Aos Efésios ele escreveu: “Não constristeis o Espírito de Deus que vos marcou com seu selo para o dia da redenção. Mostrai-vos bons e compassíveis uns para com os outros” (Ef 4,30). Aos Filipenses ele confidenciou: “Graças às vossas orações e ao socorro do Espírito de Jesus Cristo sei que isto me resultará em salvação” (Fl 1,19). O Espírito Santo, porém, continua sua obra em todas as Igrejas, suscitando fiéis repletos de fé, cumulando-os com as benesses celestiais por toda parte. Os mártires, os grandes santos, os missionários denodados, os fiéis que se engajam nas diversas pastorais, todos recebem a força do Espírito. Portanto, o Pentecostes que se celebra hoje é a eterna efusão do Espírito Santo sobre todos os cristãos. É o Petencostes permanente da Igreja e todos que têem fé são disto testemunhas. É o mesmo Espírito, o mesmo poder divino, o mesmo Paráclito que opera maravilhas através da História da Igreja. Não se pode, assim duvidar da atividade da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade para que todos participem da missão sublime da obra redentora de Cristo. Não se deve jamais temer a ausência do Espírito Santo para procurar excussas no que tange a própria santificação e a  um apostolado vibrante em todos os setores. Trata-se de cooperar efetivamente na obra divina. Para isto cumpre o esforço contínuo pela própria santificação, sinceramente invocando os sete dons e cultivando os  frutos do Espírito Santo, atentos às suas inpirações de cada momento.  Deste modo, Ele sustenta a vida da todo aquele que foi batizado, lhe dá perseverança, o desejo de possuir a Deus, a atenção para com o próximo, a fidelidade no amor às coisas do céu, enfim tudo que é necessário para que se seja realmente fiel ao Ser Supremo, percebendo a beleza e a harmonia de se estar possuído pela Trindade que habita lá no íntimo de quem se acha em estado de graça. É desta maneira que todo e qualquer descorajamento fica banido e ninguém se sente então abandonado por Deus, julgando que hoje o Espírito Santo não age como no início da Igreja, com o mesmo vigor, com todo o esplendor de sua luminosidade extraordinária.  Deste modo ninguém hesitará de olhar a obra de Deus e realizá-la com ardor em si mesmo e nos outros, rendendo graças ao Senhor pela atividade contínua de sua poderosa graça. Então os assaltos do mal são combatidos com denodo e persistência sem omissões, vencidas, como alertou São Paulo a tendência da carne que se opões às tendências do Espírito Santo: “A aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do Espírito é a vida e a paz. (Rm 8,6) .  Trata-se da eterna luta entre o bem e o mal a exigir que o cristão esteja de atalaia, atento, renovando-se a cada hora e tornando o mundo sempre melhor. Enfim, Pentecostes, desde o que ocorreu em Jerusalém, significa que o Espírito Santo nunca deixa de investir no coração dos discípulos de Jesus  dando-lhes força nesta pugna constante contra o espírito do mundo. Confortada, entretanto, a esperança pela presença da graça celeste o cristão, feliz, corajoso, sabe agir sob a conduta do Espírito Santo, sendo neste mundo, como o desejou Jesus, luz e instrumento de salvação para todos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




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terça-feira, 8 de maio de 2012

O ESPÍRITO SANTIFICADOR

               O ESPÍRITO SANTIFICADOR
                           Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Após o Espírito Santo  ter se manifestado  visivelmente nesta terra e  ter descido sob a forma de línguas de fogo sobre os Apóstolos  reunidos no Cenáculo,  firmou-se a crença um só Deus e a certeza de que os homens formam uma única família e que  todos os povos deviam praticar a única e verdadeira religião para alcançar a glória celeste que o Ser Supremo promete à humanidade. A História da Igreja começou exatamente no dia de Pentecostes e os Apóstolos passaram a executar plenamente a ordem do Mestre Divino: “Ide e ensinai a todas as nações” (Mt 28,19). Desde então as regiões da terra começaram a ouvir falar de Jesus Cristo e da verdadeira religião. Surgiram cristãos denodados, santificados pela Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a derramar sobre os corações seus dons, a fazer frutificar seus doze frutos, a inspirar as mais belas ações, a formar os santos de todas as condições sociais. A história não registra em seus anais palavra mais prodigiosa, projeto mais arrojado e de mais difícil execução do que a ordem do Cristo aos seus primeiros discípulos de levarem a mensagem do Evangelho por toda parte.  Os planos humanos nunca pretenderam obter uma universalidade semelhante, tanto mais quanto essa universalidade gozaria de uma perpetuidade incomparável, pois o mesmo Cristo acrescentou: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos séculos ” (Mt 28,20). Cristo não lhes traça nenhuma estratégia humana. Eles deveriam simplesmente confiar na sua proteção e na ação vivificadora do Paráclito. Se os poderosos deste mundo tivessem então ouvido a determinação de Jesus a seus epígonos teriam sorrido, achando irrealizável tal pretensão.  Esta extraordinária missão era confiada a pobres pescadores encontrados nos lagos da Galiléia, a  homens inermes e pusilânimes que já tinham abandonado e até renegado ao Mestre por ocasião do seu atroz martírio. É certo, porém, que, dando-lhes essa ordem, Jesus  já havia declarado ao mesmo tempo que não poderiam começar semelhante empresa sem antes receberem o Espírito Santo. Apenas animados por esse Espírito seriam capazes de vencer o mundo e de evangelizar os povos. Jesus lhes havia prometido o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviaria em meu nome, esse lhes ensinaria todas as coisas e os faria lembrar-se de tudo o que lhes tinha dito. (Jo 26). No início deste milênio quem analisa objetivamente o panorama mundial pode atestar que  os apóstolos executaram com total êxito a ordem de Jesus. Não há nação alguma, civilizada ou bárbara, que não tenha ouvido falar no Evangelho. Tudo o que há de nobre e grande sabe inclinar-se diante da religião de Cristo. Homens os mais eminentes pelo gênio, pelo talento, pelas virtudes, na ciência, nas artes, na santidade se ufanaram de ser epígonos do Filho de Deus. Para milhões de seres humanos  não há maior consolação, nem esperança mais deliciosa, do que terminar a vida abraçado com a cruz do Redentor,  recebendo os seus sacramentos e pronunciando o seu nome adorável. Jesus Cristo  tem o comando das almas, e milhares de corações reservam para ele o seu melhor amor. Maravilhosa realidade que se deve à ação do Divino Espírito Santo.  É de sua ação santificadora que dependia a evangelização do mundo. Tudo começou em Jerusalém no dia de Pentecostes. Os apóstolos impelidos pelo Espírito de Deus apresentam-se em público e pela vez primeira começam a pregar a doutrina cristã. Muitos pediram o batismo e aderiram a Cristo. Assim começou a conversão do mundo. A primeira cidade portanto que recebeu dos lábios dos apóstolos a palavra de Deus foi Jerusalém. Aí Jesus tinha sido crucificado, e foi aí o primeiro lugar do mundo, onde foi reconhecida a sua divindade e a sua religião. Os apóstolos que, durante o tempo dos sofrimentos e da morte do Salvador, se tinham ocultado por medo dos judeus, apresentaram-se corajosamente diante desse povo, e anunciaram a ressurreição e a divindade daquele que tinha sido crucificado. De uma só vez três mil pessoas acreditaram na missão divina de Jesus e abraçaram a religião cristã. Foram os primeiros convertidos, os primeiros cristãos.  Jerusalém foi apenas o ponto de partida da conversão do mundo. Do seio de todas as raças  haveriam de sair homens, mulheres e crianças, que saberiam adorar a Deus em espírito e verdade, praticando virtudes e morrendo por Cristo. Razão tinha S. Agostinho ao declarar: “Contemplai o universo... Haverá maior milagre do que a conversão dos povos ao Filho de Deus? Haverá maior prodígio do que ver as nações adorarem um crucificado?” É que santificados pelo Espírito Santo os missionários  percorreram o mundo inteiro. Hoje é uma realidade a ordem do Divino Mestre. As nações são ensinadas e os povos são batizados. Cristo conseguiu a fé em sua pessoa, submetendo as inteligências aos extraordinários ensinamentos de sua doutrina; conseguiu o amor, mas o melhor e mais puro amor, o amor santo, ensinando ao mundo a virgindade, a humildade, a mortificação; conseguiu a adoração dos espíritos e dos corações, impondo a sua divindade não obstante a revolta das paixões e a perversidade dos seus inimigos. Trabalho apostólico hercúleo e esta abnegação, esta coragem que excede todas as forças humanas  prova claramente a descida real e positiva do Espírito de Deus sobre os discípulos do Cristo. Sim, para conseguir resultado tão divino foi necessário que o Espírito Santo viesse do céu, iluminasse as inteligências, purificasse os corações, fortificasse as vontades e inspirasse o temor de Deus. Que esse mesmo Espírito reine em todos os corações, purifique o  amor e difunda  virtudes, para que todos os homens de boa vontade estimulados pela mesma fé dos apóstolos do Cristo, possam dilatar cada vez mais o reino de Deus neste mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.