quinta-feira, 29 de junho de 2023
quinta-feira, 22 de junho de 2023
CRISTO,
O FILHO DO DEUS VIVO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A profissão de fé de Simão, assinala uma mudança radical na vida pública de Jesus.
Agora Ele vai privilegiar a formação de seus discípulos mais próximos e vai anunciar-lhes
sua paixão e sua ressurreição. A questão: “Quem dizem os homens que é o Filho
do homem?”, resume um pouco como que o balanço de seu ministério na Galileia.
Depois de tantas horas de pregação, de tantas jornadas de curas e de milagres,
as opiniões sobre Sua pessoa eram diferentes. O máximo era a ideia de comparar
Jesus a personagens já conhecidas, como Jeremias ou João Batista, ou ainda a um
profeta como Elias, cujo retorno era esperado como sinal dos tempos messiânicos.
A resposta de Simão vai muito mais longe: ‘’ Tu és o Messias, o Filho do Deus
vivo”, porque ele ultrapassa o nível da carne e do sangue, ou seja, um
julgamento puramente humano. A “carne e o sangue” é o homem deixado a seus
limites, a suas contingências, inapto às novidades de Deus. Perante Jesus, o
Enviado do Pai, é tudo isto que é preciso ultrapassar para poder Lhe dizer: “Tu
és o Cristo”. Não somente tu nos lembras os grandes crentes do passado, as
forças proféticas deste passado, mas tu és, tu mesmo, o Messias esperado que
nos abre o futuro. “Tu és o Filho do Deus vivo”, acrescenta Simão, e assim ele
tenta expressar o mistério que já o fascina na pessoa de Jesus: Ele age, Ele fala,
Ele vive por aquele que Ele crê ser o Filho de Deus. Simão é inspirado por Deus
e deixa Deus por ele revelar quem é Jesus. Imediatamente, após esta resposta de
fé, que é um engajamento diante de todos em seu amigo Jesus, Simão vai viver um
momento de graça extraordinária. De início Jesus faz dele um portador de uma
beatitude: “Bem-aventurado es tu Simão, Filho de Jonas”. É a beatitude. É isto
é a felicidade anunciada, daqueles e daquelas que sabem fazer e refazer o passo
da fé e que ousam um nome novo que será programa de vida. Jesus diz: “Tu és
Pedro, tu és a Rocha”. É uma palavra
criadora e recriadora. Agora Simão o pescador será o rochedo de fundação da
Igreja de Jesus. A experiência de Simão Pedro¸ de Simão o Rochedo, tem muito a
nos dizer. É certo que é seu o privilégio de ser pedra de fundação, o segundo
Pastor, após Cristo. Nós somos, por nossa parte, pedras vivas, inseridas na construção.
Mas nós nos tornamos pedras de fundação seja para a família, seja para a
mensagem que nos é confiada, tendo em vista a transmissão de uma vida santa
como aqueles que nos precederam, fascinados por Ele. Para isso é preciso então
seguir o caminho aberto por Simão Pedro. Cumpre ultrapassar a carne e o sangue,
cessar de tudo fazer nas proporções de nossa inteligência e de nosso coração,
cessar de fazer esperar o Mestre divino, nele, porém, depositando toda nossa fé
e nossa confiança e ousar dizer enfim a nosso amigo Jesus a palavra para nós
decisiva: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus: a Ti eu entrego todas as minhas forças,
hoje e para sempre”. É preciso se tornar maleável à graça divina numa entrega absoluta,
uma vez que esta graça nos atrai para
Jesus, para a comunidade de Jesus, reunida fraternalmente em torno de Pedro, o Pastor
Supremo depois de Jesus, guiados por Deus, guiados por Ele à luz de Jesus
Cristo. É preciso que entremos na beatitude de Simão, o Rochedo, na felicidade
dos que confessam Cristo, que não se afastam de Jesus e que aceitam uma vez por
todas ter os olhos sempre voltados para o Salvador. Fiéis sempre ao Papa
sucessor de Pedro, o qual proporciona através dos tempos a mesma felicidade e
obediência a Cristo. Porque Pedro reconheceu Jesus como o Filho de Deus ele
recebeu as chaves do Reino dos céus. São Pedro juntamente com São Paulo foi o
fundamento da Igreja primitiva e por conseguinte de nossa fé cristã. Por isto são
celebrados neste dia por serem estes Apóstolos do Senhor, testemunhas que na
primeira hora viveram os primeiros momentos da expansão da
Igreja e selaram com seu sangue a fidelidade a Jesus. Eles nos concitam a uma
fidelidade absoluta à Igreja de Cristo. Nós cristãos do século vinte e um
possamos ser testemunhas fidedignas do amor de Deus aos homens como o foram
estes dois Apóstolos que hoje festejamos No dizer do Papa Francisco,
gloriosamente reinante, nós devemos marchar, edificar e confessar que Jesus é o
Filho de Deus. Estaremos as recebendo toda a beatitude que recebeu Pedro e estaremos
imitando também Paulo que sempre foi fiel discípulo de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
quarta-feira, 14 de junho de 2023
RETIRA A
TRAVE DO TEU OLHO;
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Claro o preceito de Jesus com relação
ao julgamento do próximo (Mt 7,1-5). Somente Deus é o juiz (Sl 75,8). Ele é, de fato, o julgador supremo
de todas as criaturas e nenhum ser humano
tem o direito de julgar seja quem for. Mesmo que nós escutemos as palavras de Jesus,
mas não a observamos, não é Jesus que,
nos julgará, porque Ele veio ao mundo
não para julgar o mundo, mas para o salvar (Jo12,47). Nós mesmos é quem nos
julgamos, pois, como bem mostra a psicologia, transferimos muitas vezes para os
outros nossos próprios defeitos. Eis porque é de bom alvitre pedir ao Mestre
divino que seu amor misericordioso habite em nosso coração para que saibamos
dar graças a Deus por tudo de positivo que
se acha em nossos irmãos. Isto nos impedirá querer tirar a trave do olho
dos outros. Além disto, com a medida com que julgamos os outros é com ela que
nós mesmos somos julgados. Pelo exemplo da trave e do argueiro Jesus quer nos dizer que nós
devemos melhorar a nós mesmos antes de procurar melhorar os outros. De uma
parte nosso amor próprio nos impede de ter uma visão objetiva de nossos atos em
relação aos dos outros. Como diz Rupert
de Deuz, talvez o que tu vês ou crês ver no olho de teu irmão, não seja
mesmo uma trave, mas a sombra de uma trave e tu vês mal e tu discernes mal,
porque tu não vês a trave de teu olho.
De outra parte não se trata de ter a falsa humildade de me purificar de minhas
pequenas faltas para mostrar o exemplo a meus vizinhos que devem se corrigir de
enormes pecados. Não se trata da verdadeira humildade que consiste de ser
convencido desta verdade que sou, tantas vezes, bem pior que os outros. Além
disto, se eu vejo os outros cometer os pecados mais horríveis, que sei eu de
suas intenções ou das circunstâncias
daquela ação? E quem me diz eu
não cairei na mesma tentação um dia? Era a convicção de Santa Teresinha do
Menino Jesus: “ Eu reconhecia que sem
Ele eu teria podido cair tão baixo que
santa Madalena e a profunda palavra de
Nosso Senhor a Simão repercutia com uma grande doçura em minha alma (Eu o sei: ”Aquele a quem se
perdoa menos, menos ama” (Lc 7,40-47) , mas eu sei também que Jesus me remiu
mais que a santa Madalena pois que Ele me remiu preventivamente impedindo-me de
cair”. Esta Santa compreendeu
perfeitamente o que o Mestre divino ensinou sobre a relação de seus seguidores
uns com os outros. Ele foi taxativo “Não
julgueis os outros para que não sejais vós mesmos julgados!”. É de se notar
que a palavra julgar pode ser interpretada de vários modos, ou seja, condenar, discernir
entre o que o bem e o mal ou ainda
disciplinar o próximo. Quando, porém se examina
outras declarações de Jesus e do
Novo Testamento, fica claro que Cristo interdiz é uma condenação que não é de acordo com a justiça. Pelo contrário, trata-se da capacidade de
discernir entre o que é bem e mal, ilusão e realidade, o verdadeiro e o falso,
o que é direito e injusto. Cumpre ter cuidado de não criticar a torto e a
direito sem conhecer os verdadeiros motivos que levara àquela ação. Julgar é
delicado e exige muita humildade. Deus quer que saibamos discernir o que é
conforme a sua vontade e o que é uma violação de sua santidade e de sua justiça. O que Jesus interdiz é um julgamento que
provém de um espírito amargo e crítico, que quer se vingar, que se exalta
simplesmente rebaixando o outro. Condena os hipócritas que condenam o próximo ficando cegos sobre
seu próprio modo de ser. Antes de
levantar uma acusação contra o próximo,
devo me assegurar que eu sou Isento daquela culpa por dois motivos.
Primeiramente porque eu serei medido da mesma maneira pela qual eu avaliei o meu próximo e, depois,
porque é fácil de me enganar, se meus valores
são motivações egoístas. Portanto antes de julgar e condenar alguém,
convém prudência e um sério exame de si mesmo. Preciosíssimas lições que fluem das
palavras de Jesus, as quais devem orientar nosso modo de tratar os outros. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
VINDE
A MIM, DISSE Jesus
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O
Evangelho nos diz que Jesus “Vendo as multidões, teve compaixão delas porque
estavam fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor/” (Mt, 9,36-10.8).
Percorrendo nosso mundo deparamos, de fato, esta triste realidade descrita pelo
Filho de Deus. Os dirigentes muitas
vezes mais se preocupam com o poder e dinheiro próprio e não têm olhos
para ver a miséria em seu derredor. Muitos os desesperados, torturados,
esfaimados, É a eles que se dirige Jesus, Aquele que pode trazer esperanças de
uma vida melhor através de seus ministros dedicados que, com generosidade, podem dulcificar
tantos sofrimentos por meio da luz de sua doutrina, desanuviando as trevas do sofrimento e fazendo
degustar a alegria perdida, mas tão
desejada O povo de Israel podia melhor
que nós captar a ideia do papel de um bom pastor e sabia
exatamente a importância de sua missão na assistência a suas ovelhas. Jesus por
meio de seus ministros, bons pastores, desejava e deseja sempre através dos
tempos que haja bons pastores que possam direcionar os desorientados que
almejam bem conceituar o sentido da vida. Eis porque Jesus escolheu os doze
apóstolos que teriam seus sucessores séculos afora para virem de encontro aos
sofredores, pregando a solução de seus problemas, expulsando os demônios, valorizando
seus sofrimentos oferecidos em reparação dos pecados que são a fonte de tantos
males. A mensagem de Jesus condoído pelos moléstias que tantos padecem é uma
mensagem de paz, de amor que pode sanar as enfermidades, curar suas feridas,
oferecendo a certeza de uma felicidade perene junto dele numa eternidade feliz,
esperança esta que ampara sempre nas tormentas da vida. Jesus veio a este mundo
como o Messias salvador e nele se pode inteiramente confiar e com Ele vencer
nas procelas que surgem na existência humana neste vale de lágrimas. É a
verdadeira fé que leva cada um a poder afirmar: “Jesus é o meu salvador”. Então
se compreende o valor da prece confiante a sustentar o cristão nos momentos
mais tenebrosos. Hoje mais do que nunca cumpre se peça a Jesus que envie
operários para sua messe que possam continuar sua obra redentora. Entretanto,
se é verdade que cabe aos sucessores dos
Apóstolos estarem na primeira linha de amparo aos sofredores, cabe a cada
cristão, seja onde ele estiver; ser também a guarida corajosa a seus irmãos. O
batizado não pode ser um mero usufruidor do amor de Jesus. Deve ajudar o Mestre
divino na sua obra de consolação dos aflitos nas mais diversas circunstâncias.
São Vicente de Paulo, que afirmou que “o estado de sofrimento é uma felicidade
porque ele santifica as almas”,
declarou que “o amor não pode ficar ocioso, é preciso socorrer o doente e o
assistir tanto quanto se pode em suas necessidades e em suas misérias, cuidando
de o livrar das mesmas em tudo ou em parte”. Nunca o cristão pode se esquecer
das palavras de Jesus “o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a mim que o
fizestes”. Socorrer o irmão doente é socorrer o próprio Cristo. À sombra da
Cruz de Jesus ir ao encontro dos que padecem males físicos ou morais, os que sofrem
violências familiares, que padecem nas ruas, os alcoolizados, os drogados.
Trata-se da caridade redentora, de toda forma de generosidade e de amor para
com os que sofrem e que jazem numa necessidade de amparo fraternal. Isto
significa viver o espírito de Cristo, fixando nele nossa fé e a dedicação ao
próximo que sofre. Segundo o Profeta
Isaias Jesus na sua Paixão se tornou “familiar do sofrimento” e assim durante
seu ministério mostrou sua compaixão, reflexo da compaixão do Pai. Cristo bebeu
o cálice do absoluto despojamento do amor próprio, e se fez nosso modelo. Como
escreveu São Paulo aos Filipenses Ele “subsistindo na natureza de Deus, não
julgou o ser igual a Deus um bem a que não devesse nunca renuciar, mas
despoujou-se a si mesmo, tomndo a natureza
de servo , tornando-se semelhante
aos homens e reconhecido como homem por todo o seu exterior, humilhou-se a si
memso fazendo-se obediente até a morte e
à morte de cruz (Fil 2,6). Tornou-se
assim para nós um modelo de total abnegação. Ele dissse aos peregrinos
de Emaus que era preciso que Ele sofresse para entrar na sua glória (Lc
24,26). É sobretudo no serviço aos sofredores que o cristão pode, de fato,
imitar o Mestre divino, fazendo-se tudo para todos. Seus sofrimentos foram o
fruto maduro de sua imensa caridade e
seu amor o levou até a dar sua vida por todos os homens. Ele se fez o Cordeiro
que tira os pecados do mundo na sua grandiosa dileção pelos que padecem os
males nessta terra. O autêntico cristão imita a Jesus e vai de encontro a todos
as dores do próximo, aliviando-lhe seus padecimentos. * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.