quarta-feira, 31 de maio de 2023

 

  

ACOMPANHAR SEMPRE JESUS

     Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho fala de um chamado especial de Jesus, a vocação do publicano Mateus (Mt 9.9-13). O Mestre divino preparou um pequeno grupo de discípulos que deveriam continuar sua missão de salvação. Ele toma aqueles que Ele quer: pecadores ou pessoas de uma tarefa humilde. Assim sendo. Ele chama inclusive um publicano, quem exercia uma profissão que era mal vista pelos judeus, dado que os publicanos recebiam impostos em nome do governador romano ao qual eles não queriam se submeter. O apelo de Jesus foi claro: “Segue-me”. Mateus então abandona sua profissão e envolto numa profunda alegria oferece a Cristo um festim para expressar seu agradecimento. Muitos publicanos e pecadores se puseram à mesa com Jesus. Os fariseus não se calaram e abordaram os discípulos: “Porque vosso Mestre come com os publicanos e pecadores”? Tendo escutado isto, Jesus imediatamente dá a resposta em nome dos seus discípulos: “Não precisam de médico os que têm boa saúde, mas os doentes “. A analogia era perfeita: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Atualíssimas estas palavras de Cristo, pois Ele continua a nos chamar para segui-lo, cada um segundo o sua condição e sua profissão. Seguir Jesus quer dizer muito frequentemente abandonar paixões desordenadas, maus comportamentos familiares, a perda do tempo que deveria ser consagrado à oração, ao banquete eucarístico, à evangelização. Enfim, tudo isto quer dizer que um verdadeiro cristão, conforme ensinou Santo Inácio de Antioquia, não é seu próprio mestre, mas se oferece sempre ao serviços de Deus. É certo que Jesus exige mudanças na vida de quem acatou seu chamado, tanto mais que o ser humano pode e deve aprimorar-se continuamente. O que passou entre Jesus e Mateus nós não o sabemos, mas pelo texto do Evangelho sabemos que houve um chamado bem correspondido. Sob o olhar de Jesus aquele que Ele chamou e outros que constituiriam o Colégio apostólico, cada um pôde se conhecer, reconhecer sua fraqueza   e o caminho pessoal de cada um lhe permitia reconhecer os outros para os atrair para o Mestre divino. A Boa Nova não era para indivíduos   isolados, era para um grupo de pessoas e Jesus deixou claro que Ele viera chamar não os justos, mas os pecadores arrependidos. Esses então atrairiam outros para o ideal pregado por Cristo.  Eis aí o valor da palavra e do bom exemplo pelos quais se pode evangelizar num acolhimento que não exclui, mas salva.  Ser salvo é ser acolhido por Jesus no seu reino de Justiça e de Paz. Além disto, de numa maneira espiritual, há também a salvação na participação na vida trinitária, pois nos tornamos filhos adotivos do Pai. Trata-se, portanto de viver numa comunhão pessoal e íntima com Deus nosso Pai. Deve-se então compreender a salvação como a expressão do amor de Deus que nos estabelece numa nova relação com Deus e, assim sendo, devemos entender a salvação como um dom e acatar em tudo a santíssima vontade divina.  Ao seguir os planos divinos o homem não pode se tornar Deus, mas Deus pode fazer do homem seu filho. Ao seguir em tudo a vontade de Deus o homem se estabelece numa relação nova com Deus. Seguindo o desígnios divinos cada um pode e deve participar do amor infinito que existe entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Significa, portanto, ser amado e participar do amor de Deus. Foi o que aconteceu com Mateus e fez dele um admirável seguidor de Cristo. Mais tarde Mateus, tornando-se um notável evangelista registrará estas palavras de Jesus: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no reino dos céus, mas sim, aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. (Mt 7,21). Portanto, seguir em tudo o chamado de Deus representa viver o dom deste chamamento A questão que se põe não é saber o cristão o que ele deve fazer para merecer o céu, mas saber como se obedece ao apelo de Deus e isto tão prontamente como ocorreu com Mateus. Note-se que a infidelidade mata o dom recebido, pois não seguir logo o apelo de Deus se mata o dom precioso de seu chamado. Está no Apocalipse: Eis que estou à porta e batose alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo.” (Ap 3,20). Foi o que fez Mateus e nos deixou tão valioso exemplo. Ele abandona imediatamente o seu serviço e segue Jesus! Isto significou uma conversão total. Jesus chamou um pecador que se converte plenamente   Vemos que Jesus nos mostra duas verdades: Deus olha o coração do homem que Ele chama quando quer e como Ele quer. Deus vem a cada um não importa sua situação espiritual. Ele o santificará. Em segundo lugar o importante é nunca fechar a porta ao chamado divino. Cumpre atendê-lo e se colocar ao serviço dos outros e da palavra com fez Mateus. Abrir-se sempre a porta do coração e se esteja atento aos desígnios divinos. O que disto resultará está nãos mãos de Deus * Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 23 de maio de 2023

 

SANTÍSSIMA TRINDADE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Fé de todos os cristãos se concentra na Santíssima Trindade. O amor de Deus alcança seu mais alto grau ao sacrificar o seu Filho unigênito, isto é, Jesus, o Verbo encarnado, por todos e cada um dos homens. Deus quer, portanto, a salvação de todos e não sua condenação e todos os homens ao crerem nele, isto é, em Jesus Redentor, podem ter a vida eterna. (João 3, 16-18). Deus salvou o mundo através de Jesus, porque Ele é amor e se Ele é amor é Trindade e esta revelação está no centro da mensagem cristã. Com efeito, se entende que Deus é amor neste sentido que Deus age a nosso respeito com misericórdia, solicitude e ternura, e isto o povo de Israel o sabia e o Corão não o rejeita também. Neste caso se pode dizer somente que Deus nos ama, mas não que Deus   é amor. Como nós podemos dizer de cada um de nós que nós amamos tal ou tal pessoa ou coisa, mas isto não nos permite de dizer que nós somos amor. Ora a revelação do Novo Testamento vai até dizer que Deus é Amor. A revelação cristã chega à vida íntima de Deus, sobre seu ser e não sobre o seu simples agir ou sentimento. O Senhor se revelou junto dos homens pela sua solicitude por nós, por intenções benevolentes junto dos homens. Com Jesus Cristo, porém, vamos além da simples compreensão da manifestação do amor de Deus. Nós podemos compreender que não somente Deus age com amor e por amor, mas que Ele e é o amor mesmo. Com Jesus Deus se revelou como comunhão de amor entre o Pai e o Filho no Espírito Santo. Se podemos dizer que Deus é por essência amor, é porque   nós cremos que Ele não é solitário. Com efeito, não há amor senão se há uma pessoa que ama e uma pessoa amada. Se eu não amo nada nem pessoa alguma, a rigor eu posso ter um desejo de amor, mas eu não posso dizer que eu amo. Eu não posso dizer que eu amo senão se há uma pessoa ou um objeto para o qual meu amor se orienta. Ao dizer que Deus é amor significa que nele mesmo e independentemente da criação há nele uma possibilidade de relações. Dizer que Deus é amor é dizer que   há nele mesmo uma pessoa que ama e uma pessoa amada.  Isso porque o amor não existe em teoria, nem de maneira abstrata, ele não existe senão na realidade de uma relação.  Eis porque a revelação da Trindade vai de par com a revelação da essência de Deus como amor. É o mistério mesmo do amor que está no princípio e no fim de nossa existência. Cada uma das três pessoas não existe por ela mesma, ela não existe senão sendo pelas duas outras pessoas. O Pai não existe como Pai distinto do Filho ao qual se dá inteiramente. O Filho não existe como Filho distinto do Pai senão sendo todo inteiro um elã de amor para com o Pai. O Pai não existe como uma pessoa constituída nela mesma e por ela mesma, mas é o ato de engendrar o Filho que O constitui como pessoa. O Espírito Santo é por sua vez o dom do Pai ao Filho e a resposta do Filho ao Pai. O que é assim revelado é que a relação de amor é a forma original de ser, isto é que o fundo do ser divino é esta comunhão de amor. Deus nos ama porque o amor está nele. Esta realidade do amor de Deus, como uma característica de seu ser, nos assegura também a realidade de seu amor. Ele não pode deixar de nos amar, ou Ele não o seria o que Ele é.  Seu amor para conosco é abertura da comunicação do amor que constitui o seu ser. Nós não fazemos senão partilhar o que constitui a relação do Pai com o Filho no Espírito Santo.  Deus me ama porque Ele é amor (1 Jo 4, 7-10).  No lugar de uma força obscura, de uma energia prodigiosa, mas sem visão, nós descobrimos na criação e na origem desta a visão de um Amor que é Deus. Estas revelação de Deus Trindade é capital porque ela permite ao ser humano se compreender a si mesmo. Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se compreende como fruto do amor divino.  Criado à imagem e semelhança de Deus o homem se descobre fundamentalmente como um ser de relações e comunhão. Todo homem possui este desejo de amar e de ser amado, anelo que não se realiza plenamente senão entrando em si mesmo e no acolhimento do outro. Nossa vocação fundamental ao amor e à felicidade é, portanto, uma vocação, o dom e o acolhimento do outro.  O mistério da Santíssima Trindade é portanto também essencial para aclarar nossa vida. Este mistério nos revela que nos dispomos ao trabalho de uma conversão permanente que consiste em ultrapassar nossa maneira equívoca de amar. Por tudo isto podemos compreender que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério do amor de Deus que é amor. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

 

RECEBEI O ESPIRITO SANTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de hoje Jesus nos mostra que seus seguidores, após Pentecostes, entram plenamente de corpo de alma no movimento dinâmico, na nova maneira de ser: “Assim como o Pai me enviou, também eu envio a vós [...] Recebei o Espírito Santo” (Jo  20, 19-23). Cristo nos envia a falar e a fazer as maravilhas de Deus. Maravilhas, de fato, da misericórdia que é preciso anunciar de verdade. Ele nos envia como Ele mesmo foi enviado, não somente a comparação vale para a evangelização, mas também vale para a maneira de a fazer, porque nós evangelizamos pela e com nossa humanidade, nossas palavras e nossos gestos, mas uma humanidade renovada dado que num liame direto e muito íntimo com a sua santa humanidade que depois da Ascensão está junto do  Pai. Esta relação é tão intima que com São Paulo é preciso falar de uma real unidade, ou seja, aquela de um só corpo cuja Cabeça está no céu. Entretanto os membros deste corpo ficariam sem vida se o Sopro de Deus que repousava outrora sobre as águas não viesse a soprar com uma respiração divina neles mesmos. Jesus foi claro: “Do mesmo modo que o Pai me enviou, eu também vos envio”. Tendo assim falado, Ele soprou sobre eles e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”. Os discípulos já estavam repletos de uma alegria inteiramente humana, ou seja, aquela de ter encontrado seu Mestre e Amigo. Júbilo, outrossim, santo de reencontrar Jesus que veio até eles estando as portas fechadas, com uma humanidade ressuscitada, mas verdadeiramente humana dado que eles reconheceram os traços da efusão do sangue. Nova efusão nesta manhã, ou seja aquela do Espírito Santo. O Verbo a eles se dirige e os convida a ´receber, a acolher neles não algo que teriam que descobrir ou reconhecer com suas forças, mas um Dom infinitamente além de tudo o que lhes era capaz de conceber e esperar, dado que se tratava de Deus em pessoa, o Espírito Santo e é de se notar que é Jesus que nos ordena de O receber: “Recebei o Espírito Santo”. Neste final do Evangelho segundo São João, neste fim do tempo de Páscoa, escutamos ressoar no fundo de nosso coração a voz da santa humanidade de Jesus cujas palavras o Evangelista maravilhosamente gravou. Escutamos esta voz que nos pede receber o Espírito Santo. São Paulo então emprega um termo bem forte: “Todos fostes embebidos em um só Espírito” (I cor 12,13), Ora não se pode ser embebido se antes não tenha provado e, na verdades, com uma sede que faz intensamente desejar beber, tomar desta água. Isto conforme está no Salmo: “Senhor meu Deus, de vós tem sede a minha alma, por vós anela o meu corpo languente como terra árida sem água” (Sol 62,2). Abramos então a medida de nosso coração para desejar um Dom tão precioso. Pentecostes é assim uma solenidade extraordinária, pois nela inclusive a Igreja começou a existir, neste sentido em que ela começou a se manifestar. Sua formação real e concreta é bem mais antiga. Certos primeiros teólogos fazem remontar esta formação   no começo da Encarnação do Verbo na Virgem Maria no dia da Anunciação. A Igreja não pode se desenvolver exteriormente com justeza no mundo senão na medida em que   ela não cessa de retornar aos fatos de sua formação. Há um duplo movimento a viver neste dia para nós. Um movimento retrospectivo e um movimento prospectivo. Este mostra a Igreja que sai de si mesma quando Jesus envia ao mundo os Apóstolos. Cumpria vencer os temores ao experimentar a paz e a alegria pela presença do Ressuscitado que imprime confiança ao degustar seu amor misericordioso. Receber o Espírito Santo é fundamentalmente para a libertação nossa e dos outros. A maravilha de Pentecostes deve nos levar a sermos os arautos desta libertação prometida. Devemos fazer de nossos dias um Pentecostes contínuo onde quer que estejamos. Como é então que anunciamos estas verdades? Trata-se de levar o Evangelho onde quer que agimos. Cumpre partilhar com os irmãos a Boa Nova. Nossa fé não pode ser uma doce ilusão, mas deve ser real e concreta nos levando às últimas consequências de nossa adesão completa ao divino Ressuscitado. É por isto que Ele está a nos mandar: “Recebei o Espírito Santo”. Saibamos cultivar e colher seus sete dons vivendo sempre na sua presença santíssima. Peçamos sempre a Ele seus doze frutos e Ele nos santificará e iluminará em todas as circunstâncias de nossa vida.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

 

ESTAREI SEMPRE CONVOSCO

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Clara a promessa de Jesus: “Eu estarei convosco todos os dias até fim dos tempos” (Mt  28,16-20). Depois destas palavras os discípulos O viram se elevar e desaparecer a seus olhos em uma nuvem. Cristo havia terminado seu percurso nesta terra ao lado de seus apóstolos e sua preleção acabara neste mundo e se dá então  sua admirável ascensão aos céus onde está assentado à direita de Deus. Jesus era bem o Messias prometido por todos os profetas. Entretanto, sua partida para o céu não significou que tudo estava terminado e que não seríamos órfãos do Mestre divino. A palavra de Jesus não terminara aqui em baixo na terra. Ela vai continuar mais do que nunca, dado que os onze apóstolos receberam a missão de ir pelo mundo inteiro para  proclamar a Boa Nova. A palavra de Jesus que durante sua vida terrestre tinha se confinado em Jerusalém e na Galileia, não tendo ultrapassado a não ser excepcionalmente as fronteiras do pais, agora ela iria se expandir em todo o império romano. O Livro dos Atos dos Apóstolos que nos relatam o trabalho das primeiras comunidades cristãs nos revela que não somente a Palavra de Deus vai atingir o mundo inteiro, mas ela contudo não perderá nada de sua eficácia. Sobretudo   os apóstolos Pedro e Paulo não somente anunciam a mensagem de Jesus, mas eles também fazem milagres tão admiráveis como aqueles do divino Mestre. Com efeito, eles curam os cegos, os coxos e mesmo até ressuscitam mortos. Os corações deveriam se abrir à sua luz para fazer compreender a esperança que traz consigo seu apelo, a glória sem preço da herança que deviam partilhar com os fiéis e o poder infinito que tocaria os que acreditassem.

A misericórdia e o poder do Senhor não haviam terminado para os homens, porque Jesus se fora para junto do Pai. Bem, ao contrário, mais que nunca, embora ausente, Jesus continuaria sua obra entre seus discípulos, ou mais precisamente pelos seus apóstolos. Se as maravilhas e os milagres divinos continuavam a se manifestar aos homens é que os discípulos com toda a sua Igreja seriam os continuadores da obra de Jesus e, mesmo melhor, a Igreja que é o corpo de Cristo e por ela é Cristo que continuaria sua obra. É certo que Jesus foi elevado corporalmente diante de seus discípulo, mas continuaria a lhes falar e agir com eles e por eles de uma maneira inteiramente nova. Eis porque o Evangelho de hoje coloca em seus lábios estas palavras: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos”. Mesmo assentado à direita do Pai, Cristo continuaria a agir, estando Ele no coração de sua Igreja. De uma certa maneira Ele está muito menos ausente do que se possa imaginar. Eis porque Ele deu a entender a seus discípulos que seria mais vantajoso que Ele se fosse. Ele estaria, porém, com eles até o fim dos temos, até o seu retorno em sua glória. Cumpre, pois, compreender o mistério da Ascensão tendo em vista duas realidades que parecem opostas. De uma parte, nos era proveitoso que Jesus fosse para junto do Pai e de outra parte também sua ausência aparente, que esconderia sua presença, era útil, pois se Ele nos deixava fisicamente era para nos estar presente espiritualmente de uma maneira mais eficaz. Toda narrativa dos Atos dos Apóstolos tende a demonstrar a veracidade desta dupla afirmação que parece contraditória. No início dos Atos dos Apóstolos, a narrativa que nos é feita da primeira comunidade cristã nos mostra que os discípulos não compreendiam ainda plenamente esta realidade da presença espiritual e ativa de Jesus na sua Igreja. Até o dia de Pentecostes os apóstolos ficavam fechados em casa, tinham medo. Seria preciso que a promessa de Jesus se realizasse, promessa de lhes enviar o Espírito Santo. Esse lhes daria então não somente a lembrança de Jesus e de suas palavras para anunciarem a Boa Nova aos homens, mas seria em seu coração e na sua vida a força e o poder do Mestre divino. Isto fará mais do que cobrir o vazio deixado pela sua partida, pois é isto que fará da Igreja o Corpo Místico de Cristo e cobriria espiritualmente a distância criada pela partida física de Jesus. Espiritualmentev a partida de Cristo e a vinda do Espírito Santo fazem que Jesus esteja hoje mais presente em sua Igreja e em cada um de nós, porque na Igreja nós somos o Corpo de Cristo. Deus Pai lhe a tudo submetido e O colocando no mais alto que tudo Ele fez dele a cabeça da Igreja que é seu corpo e a Ele Deus O cumula totalmente de sua plenitude. Tornar-se cristão será pois para nós, antes de tudo crer, que Cristo Jesus não está ausente de nossas vidas.   * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

OUTRO DEFENSOR ESTARÁ SEMPRE CONVOSCO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A liturgia deste domingo já orienta nosso olhar para a festa de Pentecostes, dado que acentua a obra do Espírito Santo

na comunidade dos cristãos.  Jesus promete claramente a vinda do Espírito divino para estar conosco para sempre

(Jo 14, 5-21). Cristo com sua partida, ou pelo menos com sua ausência sensível, poderia, de fato, nos fazer sentir

abandonados, órfãos   como que entregues a nós mesmo e distantes   ante   palavras e gestos colocados no passado.

Jesus, porém, nos convida a acolher o dom do Pai, isto é, o Espírito Santo derramado em nossos corações como o

grande defensor, o protetor de nossa fé e o pedagogo para nossa vida espiritual. Deste modo, de uma certa maneira, o

que não nos deixa jamais sozinhos e de outra parte em nos guarda nele como nosso defensor e enfim a nos ampara nele

como nosso mestre espiritual.  É desta maneira de estar conosco que o Espírito Santo poderá derramar seus sete dons

para acabar a obra do Pai realizada por Jesus: dom da sabedoria, do conselho e da fortaleza, dom da inteligência e da

ciência, dom da piedade e do temor do Senhor. Através dos tempos vivemos na Igreja toda uma renovação espiritual

em torno do  Espírito Santo para lhe dar o lugar na vida da Igreja e da vida espiritual dos cristãos. Note-se em 1938

a obra do jesuíta Pe. Victor Billard, que escreveu sobre o Espírito Santo, obra  intitulada “Ao Deus desconhecido”.

Depois toda uma preparação da celebração do concílio Vaticano II e a renovação carismática. Tudo isto nos levou

a uma profunda relação com o Espírito divino como o autor central de nossa vida espiritual, como  hospede interior,

nosso  mestre espiritual, que incrementa nossa fé, esperança e caridade. Em uma relação pessoal e íntima com Aquele

que já quando na preces nós temos o tempo da escuta, nós criamos o espaço que O permite agir em nós. Entramos assim

num diálogo com aquele que faz de nosso corpo seu Templo, ou seja, o lugar do encontro e da celebração, aquele que

habita no mais íntimo de nós mesmos e deseja  nos transformar inteiramente. O batismo e a confirmação nos dispõem

de maneira permanente a esta escuta e a um diálogo com o Espírito para nos deixar agir por Ele. É assim por esta obra

do Espírito em nós que a vida das palavras de Jesus se tornam atuais e sempre novas para cada um de nós e para toda

sua Igreja. Sem Ele nossa vida religiosa e espiritual não seria senão uma mera comemoração de um passado que se foi,

mas com Ele tudo se faz atual e novo e Ele nos orienta para a plena realização das promessas das quais a ressurreição de

Jesus constitui a garantia. Eis porque Jesus nos diz: “Dentro em breve o mundo não me verá mais (porque não recebeu

o  Espírito Santo), mas vós (que O haveis recebido) vós me vereis vivo e vivereis também”.  Eis, portanto, bem o cerne

da relação com Deus, da vida com Deus, vivendo sua palavra, portanto, não somente O conhecendo mas nele vivendo.

Peçamos então ao Espírito Santo que venha nos iluminar, nos ensinar a assim bem viver no amor do Senhor.

Trata-se, porttanto, da participação da plenitude divina.  Incorporados em Deus, sob o influxo do Espírito divino, nós

Estaremos imersos na fonte da vida de Deus que habita em nos. Eis porque nós não obstantes nossas misérias,

podemos e devemos estar em tertúlia contínua com o Senhor. Eis a maravilha que opera em nós o estado da graça

santificante.  Jesus foi claro: “Aquele que recebeu os meus mandamentos e lhes resta fiel, é aquele que me ama; e

Aquele que me ama meu Pai o amará, eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14,21). Deste modo o cristão

vive na presença de Deus. Não há, deste modo, lugar para outros desejos ou pensamentos que nos façam perder

tempo e nos impeçam de fazer a vontade divina. A presença de Deus em nossa vida nos ajudará a descobrir e a

realizar neste mundo os planos que a Providência nos destinou. O Espiritado Senhor suscitará em nossos corações

iniciativas que colocaremos no princípio de todas as atividade humanas. Seremos assim verdadeiros filhos de Deus

e nos sentiremos seus amigos em todo o lugar e instante, em todas as circunstâncias de nossa vida. Toda a luz e

todo o fogo da vida divina se expandirá sobre o cristão que está assim disposto a receber o dom da habitação divina.

Trata-se de penetrar na frequentação contínua da Trindade Santa, pois o Divino Espírito Santo está em nós. O cristão traz em em si mesmo esta grandeza infinita conforme mostra a religião verdadeira. Uma vida cristã é estar conectada no

Espírito divino. Vê-se bem então forças sobrenaturais entro de nós. Além disto, é este Espírito que nos defende de

todas as formas de realidades terrestres. Eis ´porque se vê na História da Igreja o número de perseguições que têm por fim fim impedir a vida espiritual. A própria interdição dos cultos públicos é uma maneira de destruir a vida

espiritual. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.