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RECEBEI O ESPIRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com o envio do Espírito Santo por
Cristo se comemora o começo da Igreja neste sentido em que ela começou a se manifestar mundo
todo, a se irradiar. Sua criação, real, secreta, porém é bem mais antiga.
Certos Padres de Igreja, ou seja, influentes teólogos, mestres cristãos, na grande maioria importantes
bispos de igrejas cristãs
primitivas, assinalam a
Encarnação do Verbo como início desta Igreja. Após sua ressureição, porém,
tendo aparecido aos Apóstolos no Cenáculo, depois de lhes desejar a paz, Jesus
lhes disse: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” e, dito Isto,
soprou sobre eles e afirmou-lhes:” Recebei o Espírito Santo àqueles a quem
perdoardes os pecados ficarão eles perdoados, àqueles a quem os retiverdes
ficar-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23). Os discípulos estavam amedrontados, mas
Jesus lhes mostrou que deviam sair pelo mundo e lhes dá o Espírito de fortaleza
que é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Por isto, inicialmente, lhes
desejou duas vezes: “A paz esteja convosco”. Não mais o medo, o temor que deles
se apoderaram. O verdadeiro dom de Deus lhes era outorgado, não somente a
ausência de angústia ou vitória sobre o medo, mas o shalom bíblico que é de uma só vez calma e harmonia, energia e
plenitude da força divina sobre eles. Foi depois disto que os discípulos O reconheceram
ao ver as chagas daquele que fora crucificado.
Era uma paz concedida por quem havia por eles se sacrificado e que deveria permanecer neles sem
cessar. O Cristo da fé deveria ser
sempre identificado como o Jesus da história, o Salvador que tinha este poder
de lhes enviar o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo”. Tratava-se de uma
permanência perene deste Espírito vivificador. Então Ele os enviava ao mundo
eles que não são mais do mundo, os envia com sua paz a afrontar o mundo do
pecado, da recusa de Deus e de toda e
qualquer divisão. Eles seriam testemunhas a difundir a esperança que estava
neles. O Paráclito testemunharia que tudo que
Ele ensinara era verdadeiro e justo. Era o Espírito da Verdade que atestaria a cada homem que ele é filho e
herdeiro de Deus: Espírito de santidade
que rediz a cada um “ Abba, ó Pai” e que vem a cada um com gemidos inenarráveis (Rm 8,36). Tudo isto nos é recordado na
solenidade de hoje e mostra a cada fiel a missão de que se acha revestido. Não
se trata de uma posse egoísta do Espírito Santo, pois cumpre difundir por toda
parte os dons celestes que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade oferece. Tudo isto fruto
de um grande amor recebido. Assim a solenidade de hoje leva a cada um a viver,
na paz e na alegria de Jesus, o mistério mesmo de sua Igreja, pois esta Igreja
é a uma só vez anamnese da obra de Jesus, atualização da vida do Senhor e
profecia da glória de Jesus Cristo, para todos os homens amados por Deus. Neste
dia de Pentecostes, esta passagem de São João tomada nas primeiras aparições do
Ressuscitado está a fixar alegria e paz naqueles que O recebem. Trata-se de um
júbilo que sai do interior para o exterior Um duplo movimento a ser vivido no
dia de hoje O movimento prospectivo na vida do nosso cotidiano. Jesus soprou sobre os Apóstolos e lhes desejou que recebessem o Espirito Santo
e isto foi fundamentalmente para uma total libertação individual e dos outros.
Assim sendo toda ação do cristão tem total consistência. A Igreja será ela
mesma em todos os momentos da história, ou seja, na medida em que recebe o
Espírito Santo, Por Ele se dá sempre a prece do coração que une todos os
cristãos no mesmo Espirito. Cada cristão se torna então o arauto
da redenção operada por Cristo e consumada pela presença da Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade. Esse, assim enviado por Cristo, para transmitir a paz, a alegria,
a união que sai do coração e se irradia por toda parte. Flui de cada um aquela
orientação de reconciliação com a vida do próximo, fazendo de cada instante um Pentecostes contínuo. É um movimento que parte do interior de cada
um envolvendo a todos. É o admirável
ritmo de toda a Igreja de Cristo que pôde dizer aos Apóstolos “Recebei o
Espírito Santo” e daí todas as maravilhas acima refletidas e que devem se
expandir por toda a parte. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.