MIISERICORDIOSOS COMO O Pai CELESTE É MISERICORDIOSO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho
No sermão da montanha, logo após as
bem-aventuranças, Jesus nos legou um belíssimo trecho sobre a caridade cristã, especialmente
sobre o amor aos inimigos (Luc 6, 27-38). Trata-se dos inimigos pessoais ou dos
inimigos do grupo ao qual se pertence, da comunidade em que se vive. Em
síntese, o Mestre divino ensina que se deve fazer o bem àqueles que nos odeiam,
desejar coisas boas àqueles que nos maldizem e rezar por aqueles que nos
maltratam, isto é, pedir tudo de bom para aqueles que são também filhos de Deus
e para os quais o Ser Supremo tem também tesouros de paciência. A ordem de
Cristo é clara “Sede misericordiosos, como o Pai do céu é misericordioso”. Além
destas características de um amor sem fronteiras Jesus fala da não-violência,
da oferta da outra face a quem de um lado lhe bateu, da túnica a quem lhe tomou
o manto, tudo isto sob o olhar de Jesus. Trata-se de pagar o mal com o bem.
Cristo preconiza um estilo de vida que Ele quer inculcar a seu seguidor, um novo
olhar sobre a conduta cristã, sobre os acontecimentos, sobre as pessoas. Ao se
deixar levar por seus impulsos humanos, o homem cai na lei de talião, ou seja
“olho por olho, dente por dente”. Nada, portanto, dentro de tal coração de
gratuidade, de benevolência, tomando atitudes adversas bem longe da
misericórdia de um Deus benévolo. A atitude, porém, verdadeiramente cristã
consiste em proceder exatamente ao contrário do agressor seja ele quem for
segundo a ordem de Cristo: “Amai vossos inimigos e fazei-lhes o bem”. Somente
assim, acrescenta Jesus, “sereis filhos do Altíssimo, o qual é bom para com os
ingratos e os malvados”. Para quem assim procede, afirma Jesus, grande será a recompensa.
Poderíamos, neste caso, indagar onde está a gratuidade que deve impregnar o
procedimento cristão. A gratuidade fica salva, incontaminada, porque a recompensa
da qual fala o Mestre divino não é um novo ter, mas um suplemento do ser
daquele que é, de verdade, idêntico a Cristo no seu bom proceder, agindo como
filho de Deus. Com efeito, mais nós amamos nossos irmãos por eles mesmos,
apesar de suas malevolências, mais então cresce nossa semelhança com o Pai
celeste. Deste modo, esta semelhança não é uma recompensa à qual poderíamos renunciar,
mas se torna o sentido mesmo e o fim último de nossa vida neste mundo. Ela é,
desta maneira, em nós o anúncio da vida eterna. Maravilhoso o resultado da caridade
cristã na existência do autêntico seguidor de Cristo. Irradia-se, assim, por
toda parte a paz de Cristo, apartados os conflitos e tornando-se o mundo não
uma casa de guerras, mas a mansão da tranquilidade. Eis aí a realidade última
que os bons sentimentos geram, afastando estratégias ilusórias de pacificação ante
a agressividade alheia. Nossa fé no Deus misericordioso, a quem devemos imitar,
nos obriga a ter consciência de nosso papel neste mundo visível, eivado de
violências inconsequentes, levantando pontes que são passagem possíveis para um
outro mundo no qual os inimigos da paz e da verdadeira vida podem ser olhados
sob um ponto de vista otimista porque o verdadeiro cristão se torna aquele que inscreve
o amor invisível de Deus nos acontecimentos visíveis da história humana. A
mensagem de Cristo é então transformadora em tantos lugares nos quais nossos
irmãos e irmãs, nossas famílias e nossos amigos são engolidos numa espiral de
violências não só corporais como espirituais, quando as leis eternas de Deus
são menoscabadas. Para o coração de quem entende a lição de caridade de Jesus
não há situação irreversível. Se somos verdadeiramente cristãos temos o mundo
em nossas mãos pelo nosso proceder, pelas nossas preces, irradiando por toda
parte tranquilidade, sossego, compreensão.
Cumpre vencer a lógica do medo, da exclusão e isto não por uma
demonstração de forças contrárias e sem limites, não por estratégias humanas
mas pelo amor que vem de Deus misericordioso. Assim o inimigo real que propaga
as forças da morte é até olhado como um amigo capaz de receber o amor divino,
levando por toda parte a mensagem salvífica de Cristo que se fez homem para se
tornar próximo de todos os seres humanos e preceituou “Amai-vos uns aos outros
{...} Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso “*Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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