quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

 

AS BEM-AVENTURANÇAS E AS MALDIÇÕES

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Das Bem-aventuranças São Lucas reteve sobretudo os elementos mais apropriados para sustentar uma comunidade de pobres, provados e ameaçados. Entre os Evangelistas ele é o único a reforçar as beatitudes, opondo-lhes quatro maldições. Jesus a dizer “Bem-aventurados sois vós” e depois igualmente quatro vezes “Infelizes sois vós”. (Lc 6, 17.20-226). Pode-se, deste modo, abordar a mensagem de Jesus sob dois aspectos, a saber, o lado das reprovações nos quais o homem sentirá o erro que o afastará da virtude e o lado da promessa no qual cada apelo ao heroísmo se torna um penhor de felicidade. As bem-aventuranças e as maldições têm por mira a felicidade. Toda a moral cristã está ordenada a esta felicidade, ou seja, à felicidade assegurada ou à felicidade que escapa. É de se notar que Jesus dá a razão de cada uma destas situações.  Cristo claramente mostra quem é realmente feliz e, logo em seguida, usando o termo “ai de vós” define quem, erroneamente, procura a felicidade lá onde ela não se encontra. São casos opostos entre si. A pobreza abre o Reino, a riqueza oferece a consolação imediata que conduz a uma ilusão a quem a endeusa. Somos deste modo convidados a perceber ao vivo as nuanças do pensamento do Mestre divino sob dois aspectos opostos entre si. “Ai de vós os ricos” afirma Jesus. Infelizes por que? Não pelo fato de serem ricos, uma vez que Jesus tinha amigos entre pessoas afortunadas como Mateus e Zaqueu.  Marta e Maria tinham posses e Joana que seguia o grupo dos discípulos era esposa de Cusa, o intendente de Herodes.  Então, porque infelizes os ricos? Vós tende já a recompensa é a explicação de Jesus, para quem o rico é aquele que não espera mais nada de Deus, dado que ele fecha as mãos e tem toda sua consolação no que possui, endeusando uma segurança material. Para muitos o Deus deles é o dinheiro.  Ser rico neste caso é não esperar mais nada de Deus, porque tal rico se fecha em si mesmo e não deixa mais aquele espaço que somente o Ser Supremo pode preencher, aquele lugar de esperança que apenas o Criador deve ocupar, não impedindo as amarguras e apreensões. Felizes, ao contrário, os pobres, porque o Reino de Deus a eles pertence, dado que a riqueza deles é este reino do amor que neles e por eles se realiza. Jesus não afirma que a miséria é felicidade, porque a miséria é um mal que deve ser eliminado. O Mestre divino, porém declara que é causa de felicidade a pobreza que abre o coração aos dons de Deus e é, de fato, a fonte do verdadeiro contentamento.  Infelizes os que estão agora fartos, porque haverão de ter fome, pois estes, com efeito, correm o risco de não ter fome de Deus, das riquezas sobrenaturais que realmente engrandecem o ser humano. Muitos de fato se contentam com o imediato e se deixam satisfazer com as coisas que fazem e que possuem, abrindo um poço sem fundo, uma saciedade insensata e deixam escapar a fome de uma vida autêntica, aberta e generosa. Ter fome das realidade divinas é o que deve ter em mira o autêntico cristão que não se prende às coisas passageiras desta vida. Infelizes, realmente, os que se sentem bem quando se instalam na comodidade, no egoísmo sem nada de profundo que os motive, tendo horizontes limitados e naufragam quando qualquer desgraça os visita. Felizes ao contrário os que sabem chorar no momento em que o sorriso divino triunfa sobre todas as provações. Estes gozarão o jubilo dos corações livres, a satisfação do que amam e se sentem amados por Deus e pelo próximo. Infelizes os que se tornam profetas da mediocridade, esquecidos das exigências do Reino de Deus e que se deixam levar, como dizia São Paulo, por todo o vento de doutrinas falsas (Ef 4,14) e não têm coragem de se afirmarem como alguém que crê em Jesus e no que Ele ensinou ou se põem a duvidar de tudo que está revelado na Bíblia, não tendo coragem de se mostrarem fiéis a seu Senhor. Felizes, bem-aventurados, contudo, se por causa de Cristo e de sua fé em Deus, é detestado, rejeitado.  Se, de fato, é pelo fato de se ser cristão é que se é desprezado está na hora de se sentir feliz e de se tornar um profeta de Jesus e não pelas falácias do que é terreno, pondo a felicidade naquilo que é mundano, buscando as alegrias superficiais e não procurando senão em Deus a recompensa que Ele reserva para os que Lhe são fiéis. Pode-se, portanto, ser feliz ou infeliz quando se sabe administrar as próprias qualidades ou misérias longe das mensagens que Jesus condensa em quatro beatitudes ou maldições. Examine-se então o cristão para ver se está sob as luzes do Espirito Santo para poder sempre discernir entre o certo e o errado, a felicidade e a maldição. A exclusividade de São Lucas ao abordar este tema da pregação de Cristo merece toda a atenção, * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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