AS BEM-AVENTURANÇAS E AS MALDIÇÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Das Bem-aventuranças São Lucas
reteve sobretudo os elementos mais apropriados para sustentar uma comunidade de
pobres, provados e ameaçados. Entre os Evangelistas ele é o único a reforçar as
beatitudes, opondo-lhes quatro maldições. Jesus a dizer “Bem-aventurados sois
vós” e depois igualmente quatro vezes “Infelizes sois vós”. (Lc 6, 17.20-226).
Pode-se, deste modo, abordar a mensagem de Jesus sob dois aspectos, a saber, o lado
das reprovações nos quais o homem sentirá o erro que o afastará da virtude e o
lado da promessa no qual cada apelo ao heroísmo se torna um penhor de
felicidade. As bem-aventuranças e as maldições têm por mira a felicidade. Toda
a moral cristã está ordenada a esta felicidade, ou seja, à felicidade assegurada
ou à felicidade que escapa. É de se notar que Jesus dá a razão de cada uma
destas situações. Cristo claramente
mostra quem é realmente feliz e, logo em seguida, usando o termo “ai de vós”
define quem, erroneamente, procura a felicidade lá onde ela não se encontra.
São casos opostos entre si. A pobreza abre o Reino, a riqueza oferece a
consolação imediata que conduz a uma ilusão a quem a endeusa. Somos deste modo
convidados a perceber ao vivo as nuanças do pensamento do Mestre divino sob
dois aspectos opostos entre si. “Ai de vós os ricos” afirma Jesus. Infelizes
por que? Não pelo fato de serem ricos, uma vez que Jesus tinha amigos entre
pessoas afortunadas como Mateus e Zaqueu. Marta e Maria tinham posses e Joana que seguia
o grupo dos discípulos era esposa de Cusa, o intendente de Herodes. Então, porque infelizes os ricos? Vós tende
já a recompensa é a explicação de Jesus, para quem o rico é aquele que não
espera mais nada de Deus, dado que ele fecha as mãos e tem toda sua consolação
no que possui, endeusando uma segurança material. Para muitos o Deus deles é o
dinheiro. Ser rico neste caso é não
esperar mais nada de Deus, porque tal rico se fecha em si mesmo e não deixa
mais aquele espaço que somente o Ser Supremo pode preencher, aquele lugar de
esperança que apenas o Criador deve ocupar, não impedindo as amarguras e apreensões.
Felizes, ao contrário, os pobres, porque o Reino de Deus a eles pertence, dado
que a riqueza deles é este reino do amor que neles e por eles se realiza. Jesus
não afirma que a miséria é felicidade, porque a miséria é um mal que deve ser
eliminado. O Mestre divino, porém declara que é causa de felicidade a pobreza
que abre o coração aos dons de Deus e é, de fato, a fonte do verdadeiro contentamento.
Infelizes os que estão agora fartos, porque
haverão de ter fome, pois estes, com efeito, correm o risco de não ter fome de Deus,
das riquezas sobrenaturais que realmente engrandecem o ser humano. Muitos de
fato se contentam com o imediato e se deixam satisfazer com as coisas que fazem
e que possuem, abrindo um poço sem fundo, uma saciedade insensata e deixam
escapar a fome de uma vida autêntica, aberta e generosa. Ter fome das realidade
divinas é o que deve ter em mira o autêntico cristão que não se prende às
coisas passageiras desta vida. Infelizes, realmente, os que se sentem bem
quando se instalam na comodidade, no egoísmo sem nada de profundo que os
motive, tendo horizontes limitados e naufragam quando qualquer desgraça os
visita. Felizes ao contrário os que sabem chorar no momento em que o sorriso
divino triunfa sobre todas as provações. Estes gozarão o jubilo dos corações
livres, a satisfação do que amam e se sentem amados por Deus e pelo próximo.
Infelizes os que se tornam profetas da mediocridade, esquecidos das exigências
do Reino de Deus e que se deixam levar, como dizia São Paulo, por todo o vento
de doutrinas falsas (Ef 4,14) e não têm coragem de se afirmarem como alguém que
crê em Jesus e no que Ele ensinou ou se põem a duvidar de tudo que está
revelado na Bíblia, não tendo coragem de se mostrarem fiéis a seu Senhor.
Felizes, bem-aventurados, contudo, se por causa de Cristo e de sua fé em Deus,
é detestado, rejeitado. Se, de fato, é
pelo fato de se ser cristão é que se é desprezado está na hora de se sentir
feliz e de se tornar um profeta de Jesus e não pelas falácias do que é terreno,
pondo a felicidade naquilo que é mundano, buscando as alegrias superficiais e
não procurando senão em Deus a recompensa que Ele reserva para os que Lhe são fiéis.
Pode-se, portanto, ser feliz ou infeliz quando se sabe administrar as próprias qualidades
ou misérias longe das mensagens que Jesus condensa em quatro beatitudes ou
maldições. Examine-se então o cristão para ver se está sob as luzes do Espirito
Santo para poder sempre discernir entre o certo e o errado, a felicidade e a
maldição. A exclusividade de São Lucas ao abordar este tema da pregação de
Cristo merece toda a atenção, * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário