quarta-feira, 30 de junho de 2021

 

O ENVIO MISSIONÁRIO DOS APÓSTOLOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

São Marcos mostrou como Jesus ofereceu uma sublime missão aos doze Apóstolos (Mc  6, 7-13). Dois a dois pela primeira vez os envia como evangelizadores. É Cristo, o divino missionário que chama cada um dos cristãos e lhe confia um grande ministério. Isto fica também claro no evangelho de São João: onde lemos que Jesus dirá a seus discípulos: “Não fostes vós que escolhestes a mim, fui eu que vos escolhi a vós e vos constitui, para que vades e produzais fruto...” (Jo 15,16) Isto é maravilhoso, mas significa uma grande responsabilidade de se saber comissionado pelo Filho de Deus na difusão de seu reino nesta terra. Uma certeza, porém, tem o cristão, a saber, que ele não está sozinho, mas que Jesus está com ele e nele, É Ele que se está a anunciar e isto ocorre por meio da ação e das palavras de seus seguidores. Eis porque Ele prescreveu que não se levasse nada, a não um simples cajado, nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto Esta pobreza do apóstolo não somente pobreza material, mostra bem que ele leva um tesouro em vasos frágeis. Isto significa que não se deve pretender tocar o coração das pessoa através de talentos pessoais, ou qualquer artifício literário, mas unicamente contando com a graça de Deus. Cumpre ser sempre um instrumento humilde nas mãos divinas e maravilhas de conversão se darão sempre no campo do apostolado. Quando alguém percebe que é fraco é que se torna forte e rico do poder divino. Foi com esta humildade que os apóstolos expulsavam muitos demônios e curavam com unções inúmeros doentes. Viam assim o fruto de sua missão bem executada. Por vezes Deus não torna visível o que Ele opera nos corações, mas o apóstolo não desanima, pois tem certeza de que no momento oportuno virão os frutos daquilo que se plantou. Nem sempre a palavra de Deus é acolhida, mas só o fato de se ter pregado em nome do Senhor é um testemunho que poderá um dia germinar. A verdade é que todos os atos corretos do cristão retêm uma mensagem de vida eterna. Cumpre ao batizado fazer um ato de total abandono aos desígnios divinos para que Deus possa tocar os corações através de um testemunho de vida verdadeiramente salutífero. Portanto, o itinerário do seguidor de Cristo se dá numa pedagogia celestial, esteja ou não consciente disso quem procura tudo realizar para glória de Deus e bem das almas. Por vezes a confrontação com as forças do mal pode se tornar uma luta terrível, mas a perseverança do cristão expulsa demônios que querem infestar a seara do Senhor. Adversidades surgem para serem vencidas, seja aonde for. Assim sendo, para proclamar as grandezas do reino de Jesus, antes de tudo e sobretudo, é preciso o desapego dos bens terrenos para incutir nos outros o amor às riquezas celestiais. Trata-se de um minimalismo que leva a simplificar a vida, eliminando os excessos e mantendo apenas o que é essencial. Um salutar desejo de saber viver com menos, numa liberação até do espaço físico. Quando Jesus instruiu os doze primeiros missionários recomendando-lhes a levar poucas coisas consigo Ele pregava o combate à cultura consumista tão acentuada em nossos dias, quando a mídia lança a ideia de que uma vida boa é uma vida cheia de coisas supérfluas. Quando o apóstolo tem menos coisas, segundo o Mestre divino, ele tem mais liberdade para pregar o evangelho. Com menos coisas acumuladas à sua volta o dia a dia do comunicador da Boa Nova pode estender sua comunicação por abrir assim espaços para as mensagens de Jesus. O desapego das coisas materiais mostra que para o evangelizador as pessoas são mais preciosas que as coisas e o essencial é viver em função das realidades perenes que levam a uma vida eterna feliz junto de Deus. Menos coisas e mais energia vital, eis o que é importante Jesus enviou os apóstolos dois a dois mostrando assim também que o apostolado deve ser feito comunitariamente numa alteridade salutar no anúncio da Boa Nova, tendo, como foi dito, fecundidade não no apoio meramente material, ou seja, nem pão, nem alforre, nem dinheiro, criando assim um espaço Àquele que tudo pode na medida da fé do pregador. É assim, sem dúvida, que se proclama que um Outro é que trabalha no apóstolo, nele e por ele. Este apóstolo abre então grandes espaços para Cristo, tomado como Mestre e Amigo. Este humilde servidor do Evangelho tem no reino de Deus o mais belo lugar, porque servir a Deus torna o homem livre como Ele. Lembremos- nos, finalmente, que Jesus enviou seus apóstolos em número de 12, número altamente simbólico que representa uma totalidade e uma universalidade. De fato os batizados são enviados de   Deus que deseja agir através deles e, por isto, Jesus acentuou a importância da simplicidade dos meios necessários à evangelização a ser vivida em comunidade com o objetivo de fazer crescer o Reino de Deus nesta terra. Se somos cristãos temos o mundo em nossas mãos * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 29 de junho de 2021

 

            MENSAGEM AOS JOVENS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

É de suma importância que o jovem, como fruto de uma reflexão séria, tenha, com relação a seu futuro, objetivos tangíveis e viáveis, após fazer, o teste de seu perfil caracterológico. Nada de cultivar ilusões, pois estas levam ao insucesso, gerando frustrações muitas vezes irreparáveis. Isto por que, com a aceleração da história, por exemplo, após alguns semestres, mudar de Curso não deixa de ser algo pernicioso, sobretudo se for para uma área completamente diferente. Ocorre que há Cursos com muitos pleiteantes e o fato de não conseguir de imediato a vaga leva alguns a procurar outro Curso. Quem escreve este texto ao incentivar a tentar com perseverança o Curso pretendido, após duas ou três tentativas, houve quem conseguisse a vaga e se tornasse depois ótimo profissional. Na vida oportunidade simplesmente não aparecem, mas devem ser procuradas por quem as prepara. O êxito só vem com muito trabalho e dedicação. Uma vez obtido sucesso no ingresso de um determinado Curso pode ocorrer para alguns a necessidade de ajustamento profissional, o que difere de mudança de rumo, ou seja, alguém que esteja estudando matemática passar para um Curso de engenharia, ou o estudante de biologia ir para o curso de medicina. Toda atenção é pouca para se estar atento visando suportar e direcionar os imprevistos, os percalços, que possam impedir alcançar a meta traçada, Caminhos alternativos devem sempre ser previstos para que, se surgirem fatos novos, imprevisíveis, haja opções compensadoras. Nem sempre se lembra que para se ter as belas flores, é preciso trabalhar a terra, lançar as sementes e cultivar as plantas. A paciência e a perseverança levam às grandes conquistas, Cumpre cultivar as qualidades individuais inatas, exercitando- e fortificando-se na pratica daquilo que é mais razoável sem se submeter simplesmente às dificuldades que podem ser vencidas. Além disto, é preciso ter cuidado com as amizades. Há amigos frívolos, ociosos que impedem o bom aproveitamento do tempo de estudo e que só incentivam a procura de diversões e, pior ainda, os corruptos que levam aos vícios, à depravação. É de suma importância saber escolher as pessoas com as quais se convive, pois estas ajudam a progredir nos estudos e a trilhar os caminho luminosas da virtude. Nos Grupos Jovens, porém, se encontram moços idealistas, virtuosos que são ótimas companhias rumo a obtenção de grandes ideais, que levam a grandiosos feitos. * Diretor espiritual do Grupo Jovens Seguidores de Cristo (JSC). em Viçosa - MG

quarta-feira, 23 de junho de 2021

 

JESUS, O CRISTO, O FILHO DO DEUS V IVO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na solenidade de São Pedro e São Paulo se celebram aqueles que foram os fundamentos da Igreja primitiva e, portanto, da fé cristã (Mt 16,13-19). Apóstolos do Senhor, eles viveram os primeiros momentos da expansão da Igreja e selaram com seu sangue sua fidelidade a Jesus. Numa de suas primeira alocuções o Papa Francisco ao falar aos cardeais mostrou que os cristãos devem “marchar, edificar e confessar”. Cumpre, de fato, ter uma caminhada de vida, construindo a Igreja e proclamando, como São Pedro, a divindade do Filho de Deus. Jesus demandou ao pescador da Galileia um ato de fé, na sua condição divina e Pedro não hesitou em afirmar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ato contínuo, Jesus instituiu o primado dizendo a Pedro que ele seria a rocha sólida sobre a qual ele construiria sua Igreja, dando-lhe o poder das chaves, ou seja, a faculdade suprema para reger sua Igreja. Como outrora aos apóstolos, Jesus nos interroga: “Quem dizeis que eu sou?” Quem é Ele para nós? O maior dos sábios? Um profeta de Deus? Ele é o Nosso Senhor, o Unigênito do Pai, nosso único Salvador? Será que podemos repetir com São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive me mim” (Gl 2,20). Além disto, se é verdade que Pedro e seus sucessores são sempre assistidos pela força do Espirito Santo, eles têm necessidade das preces dos cristãos, Quando Pedro estava na prisão, lemos nos Atos dos Apóstolos que a Igreja rezava incessantemente por ele (Atos 12,5). Cumpre orar sempre pelo Papa, por sua pessoa e suas intenções Entretanto, como Pedro, nossa fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, deve nos levar também a ser testemunhas da sua divindade, a viver no seu amor, a sermos servidores da Igreja estando a serviço do apostolado a favor das almas que a compõem. Tudo isto tanto mais importante nos dias de hoje quando as correntes de pensamento de um mundo que se aliena de Deus afastam a tantos de Jesus, o Filho bem amado de Deus. A vida dos cristãos precisa estar inteiramente embasada na Palavra do Unigênito do Pai, na fé viva em sua divindade. Jesus chamou bem-aventurado Pedro, o Filho de Jonas, porque ele abriu seu coração à revelação divina e reconheceu Jesus como o Filho de Deus Salvador. Deixou um exemplo magnífico, pois é assim que devemos nos postar diante de Cristo. Da fé recebida de nossos pais, dos catequistas, dos sacerdotes, dos amigos, dos mestres, nós devemos passar a uma fé personalizada em Jesus, nos tornarmos, por nossa vez, suas testemunhas porque é nisto que consiste o centro da fé do cristão, fé que deve crescer e se irradiar. É unicamente a partir desta nossa fé e de nossa comunhão com Cristo que nós vencemos as potências do mal. O reino da morte se manifesta no meio de nós, causando-nos   sofrimentos e nos incitando a levantar questões muitas vezes contrárias aos ensinamentos de Cristo, mas o Reino dos céus se manifesta entre nós e igualmente em nós despertando a esperança. A Igreja que é o sacramento deste Reino no mundo, fundado sobre a rocha da fé professada por Pedro faz nascer em nós a certeza e a alegria da vida eterna. Enquanto houver seres humanos no mundo a esperança nesta vida eterna será necessária e esta é a missão da Igreja e, por isto, o poder do inferno jamais prevalecerá, porque Cristo presente no seu povo lhe é a garantia de um novo céu e de uma nova terra. Eis porque a resposta de Pedro ultrapassou os limites terrenos e foi além da carne e do sangue, isto é, de um parecer meramente humano e além dos critérios habituais nas sociedades desta terra.  O Cristo apresentado por Pedro supõe adeptos aptos às novidade de Deus. Trata-se do Messias esperado que abriria para todos um futuro luminoso, Abre-se então a perspectiva de um mistério que fascina, centrado na pessoa de Jesus, que poderia se dizer Filho de Deus. Eis por que a figura de Simão Pedro, de Simão o Rochedo, tem um significado profundo. Seu privilégio é ser a pedra de fundação, o arauto da Palavra divina, o responsável dos Doze, o decimo segundo pastor após Jesus. Todos os cristãos são pedras vidas, inseridas na construção do Filho de Deus. Aí está a razão pela qual o batizado deve ser também pedra de fundação, quer para cada família, quer nas diversas tarefas que lhe são confiadas. Que todo batizado tenha a dita de poder, realmente, dizer ao deixar esta terra: “O mundo ficou melhor eu por ele passei!” Para isto é preciso seguir o caminho aberto por Pedro, ultrapassando sempre a carne e o sangue, ostentando uma fé e uma confiança que vão além dos desígnios terrenos, podendo sempre dizer a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus: à Ti entrego todas as minhas forças, hoje e para sempre!”. Donde ser necessário corresponder às inspirações de Deus que pacientemente, paternalmente, nos atrai para Jesus, para a Igreja de Cristo, reunidos fraternalmente em torno de Pedro, o Vigário do Unigênito do Pai, guiados pelos mestres que Deus suscita e que nos oferecem a luz de Jesus. Estar sempre entre os que confessam Cristo, que Lhe são fiéis e que O aceitam. Uma vez por todas fazer Jesus Salvador conhecido e amado, cônscios todos de sua missão na Igreja do Filho de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quinta-feira, 17 de junho de 2021

 

MANIFESTAÇÕES DO PODER MIRACULOSO DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Duas manifestações do poder miraculoso de Jesus registra São Marcos (Mc 5,21-43). Nessa narrativa devemos observar diferentes atitudes.  Jesus tinha uma grande fama de miraculoso e multidões acorriam a Ele. O evangelista destaca duas pessoas de meios sociais bem diferentes, a saber, Jairo, chefe da sinagoga, portanto judeu praticante, e uma mulher que não se sabe fosse praticante o não, mas que estava gravemente enferma há doze anos e tudo já fizera para se curar, mas piorava cada vez mais. Jairo, não obstante o cargo que ocupava, teve coragem de publicamente implorar Jesus, pois o amor paterno o fez vencer todas as barreiras. A mulher agiu com mais discrição e demonstrando uma fé um tanto mágica resolveu tocar as vestes do célebre taumaturgo, como se as roupas é que curavam. A reação de Jesus foi diversa, pois com Jairo ele parte logo em seguida, com a mulher, entretanto, ele a faz se manifestar e indaga: “Quem me tocou?” Tratava-se da fé que não deve nunca ser mágica, supersticiosa, dado que é a pessoa de Cristo que salva, o encontro com Ele, a certeza de que Ele possui um poder divino. Isto se deu quando a mulher se aproximou e laçando-se a seus pés declarou a Cristo todo o seu problema.  Esta fé afirmada valeu para ela sua cura. Era a  pessoa de Jesus que a curara e não  o que Ele trajava. Tudo isto deve levar os fiéis a refletirem como se comportam em suas orações, como se colocam diante do Santíssimo Sacramento, qual o significado das imagens que trazem consigo ou têm em casa. É melhor ter Cristo fixo no coração do que nos Crucifixos muitas vezes osculados até sem maior afeto ao divino Redentor. Voltando, porém, à narrativa de São Marcos, enquanto Jesus continuava caminhando para a casa de Jairo este recebeu a notícia de que a menina tinha falecido. Para Jesus, contudo, ela apenas dormia Ele foi motivo de chacota por parte dos circunstantes ao dizer isto. Ele, contudo, havia dito a Jairo: “Não temas, basta ter fé”. Demonstrando seu poder divino   tomou a doente pela mão e deu uma ordem: “Menina, eu te mando, levanta-te”. Nele era preciso acreditar, não, porém, como um homem poderoso, meramente milagroso, mas, sim, como quem era também o Filho de Deus.  Ele quer de seus seguidores uma fé límpida, isenta de toda e qualquer crendice, Não basta ter o Terço de Nossa Senhora dependurado dentro do automóvel, é preciso observar fielmente as leis do trânsito para merecer em tudo a proteção da Mãe de Jesus a amparar contra todo acidente. A fé que se tem em Cristo deve se expressar numa vida vivida com Ele, fonte de todas as graças. Não adianta possuir as mais valiosas relíquias, se não se tem um profundo amor a Deus. O mesmo se diga sobre a água benta. A ação de Deus supõe portanto uma fé ardente, uma dileção profunda do amor divino e Ele sabe discernir o que se passa na mente que O invoca diretamente ou através de seus anjos e santos. Ao conceder suas graças Deus espera sempre uma correspondência sincera daquele agraciado no sentido de fazer sua Palavra conhecida e seguida e de se ter uma conduta fraternal sobretudo para com os sofredores. A Deus devemos sempre orar: “Eu creio Senhor, mas ajuda a minha incredulidade” (Mc 9,24). Deus quer sempre uma fé sincera, audaz, mas sem alarido, alvoroço, tumulto, o que, aliás Ele censurou naqueles que pranteavam a suposta morte da filha de Jairo. A prece confiante do cristão deve ser feita com serenidade, fruto de uma reflexão madura, resultado de uma convicção interior impregnada de confiança. Diante de Jesus a morte nunca terá a última vitória, o que ficou bem demonstrado também no episódio na casa de Jairo. Quem deu esta ordem era o Senhor da Vida e nele se pode confiar! Não nos esqueçamos, contudo, que já para todos nós, se temos fé, cada instante é um encontro com aquele que cura e salva. Cada dia no meio de nossas inquietudes, de nossas tribulações, se prestamos atenção. percebemos Cristo a nos redizer: “Creia somente”. Nada de se deixar abater pela febre do nosso coração, de se deixar paralizar pelos retorno sobre si mesmo, desvitalizados pela falta de fé, É prestar atenção e escutar Jesus a dar esta ordem: “Levanta-se “. É Jesus a fortalecer, a reanimar, a encher de vida e de esperanças. Finalmente é de se notar no término da narrativa de São Marcos que Jesus ‘mandou que dessem de comer à menina que ele curara. Isto mostra também o que é a vida para Jesus, ou seja o que ela é cm sua necessidade de se alimentar, de estar atento para impedir as moléstias, as epidemias, a fome. Célebre ficou uma das orientações luminosas do Papa Francisco, recomendando a “cultura do cuidado” para preservar a dignidade humana e o meio ambiente, pois de fato, “não há paz sem a cultura do cuidado”.  É um dever saber cuidar da vida * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quinta-feira, 10 de junho de 2021

 

ATO DE FÉ ABSOLUTA EM JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Uma tempestade lançava ondas sobre o barco no qual estavam os discípulos e o Mestre divino que se achava descansando. Apavorados os apóstolos O despertaram e, Ele com seu poder, serenou a procela. Cristo, porém, chamou a atenção de seus epígonos que estavam dominados pelo temor: “Porque estais com tanto medo? Como ainda não tendes fé? (Mc 4,35-40) É que eles não haviam ainda abandonado a maneira humana de conhecer Jesus para poder depositar um ato de fé incondicional nele, o Salvador que ali estava. Cumpre um verdadeiro conhecimento de Jesus e de sua capacidade que salva pela força e pela glória que lhe pertencem. Ao acalmar o vendaval Ele demonstrou seu domínio sobre o vento e sobre o mar. Os discípulos sem a fé, que lhes seria mais tarde fruto da manhã de Páscoa, se apavoraram com a tempestade mesmo estando Jesus junto deles. Cristo diagnosticou a causa de seus temores e, entre elas, a falta de absoluta confiança nele. Viu neles pessoas de fé diminuta. É a fé profunda que possibilita compreender toda a grandeza de Jesus no qual se deve inteiramente confiar. Os apóstolos puderam ultrapassar de uma compreensão exterior dos atos de Cristo a uma compreensão interior de sua divindade. Passaram com o tempo dos gestos exteriores do Mestre, ao Jesus Redentor. Isto mostra que se limitar aos gestos exteriores do Filho de Deus, ao Jesus da história pode impedir que se chegue a um ato de fé verdadeiro. Eis uma das grandes lições a se tirar do maravilhoso episódio da tempestade acalmada. Ainda como Cardeal, Ratzinger, o Papa São João Paulo II, alertava sobre a tentação de se reduzir Jesus-Cristo, o filho de Deus, a um simples Jesus histórico, a um mero homem, embora se professando seu poderio extraordinário.  Ainda que não se negue abertamente a divindade de Jesus, cria-se um Jesus à medida terrena, “um Jesus possível e compreensível segundo os parâmetros da historiografia humana”. Advertia ainda o então Cardeal Ratzinger: “Este Jesus histórico é um artefato, imagem de seus autores e não a imagem do Deus vivo.   Não é, porém, o Cristo da fé que é um mito, mas o Jesus histórico que não passa de uma figura mitológica, auto inventada por falsos intérpretes. Entretanto o Jesus fraco, fatigado e dormindo e o Jesus forte que serena a tempestade são a mesma pessoa, o único Filho de Deus, Redentor onipotente. Cumpre se tenha uma fé firme no Verbo encarnado manifestada na observância integral de todos os seus ensinamentos e não apenas recorrer a Ele nos instantes cruciais como se Ele fosse apenas um super. Homem”. Pelo Evangelho de hoje Jesus quer nos falar desta fé verdadeira, integral que leva os cristãos a ver sempre nele o Deus e homem verdadeiro e não apenas o protetor nos momentos tempestuosos da vida. Jesus está então a interrogar: “Porque estais com medo?  Como ainda não tendes uma fé verdadeira que envolva toda a vida em cada instante?” Nada, portanto, de uma atitude eivada de ceticismo, de dúvida, de angústia, de medo, de falta de coragem. A fé em Jesus, Deus e homem verdadeiro, deve dar ânimo total e, por outro lado, está fé exige coragem para enfrentar os problemas da vida sem se entregar a mórbidas agonias. A fé em Jesus, enquanto é um ato de confiança e não de simples adesão intelectual, deve se refletir na conduta, no modo de ser do cristão que nunca se deixa dominar pela tristeza, pela depressão, pelo desânimo, pelo pavor. Quem tem fé verdadeira em Cristo sabe que não apenas Ele caminha a seu lado e pode agir nos momentos tempestuosos da existência, mas ainda que Ele deve ser a vida da vida de cada um, de seu seguidor que está sempre disposto a fazer em tudo a vontade do Mestre divino e, assim, jamais se deixa dominar pela angústia, pelo medo, pois repete sempre com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. (Fil 4,13) Então, sim o. discípulo de Cristo conhece o verdadeiro caminhar espiritual. Lá na barca Jesus viu o interior dos apóstolos apavorados, pessimistas, dado que tudo estava perdido para eles e, não obstante, ali estava quem era todo poderoso, não apenas para amainar a ventania, mas que devia dar segurança absoluta, afastado todo o doentio temor. Jesus não via então uma fé absoluta que impregnava inteiramente aqueles apóstolos apavorados. Como hoje em dia tantos entregues a suas inseguranças interiores, aos abatimentos, às amarguras por não depositar absoluta confiança em Jesus presente na sua Igreja, ao lado de seu verdadeiro discípulo que nele pode e deve inteiramente acreditar. Esta é a questão que Jesus oferece a seus seguidores no coração das tempestades de suas vidas:” Por que ter medo se Ele está junto deles”.  O questionamento de Jesus é importante porque a fé não consiste em dizer “eu creio” quando tudo vai vem, mas em dizer “eu creio e confio em Ti” quando surgem as tormentas.  A fé deve se apoiar em Cristo, impregnando inteiramente o ser de seu discípulo, que deve viver todos os acontecimentos com Ele e, portanto, sem vãos temores, pois Ele não abandona nunca quem deposita nele total confiança. Jesus coloca em paralelo fé e destemor, confiança e coragem. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 1 de junho de 2021

 

DESENVOLVIMENTO DO REINO DE DEUS

Con. José Geraldo Vidigal de Carvalho*     

No capítulo quarto de seu Evangelho São Marcos oferece uma série de parábolas sobre o Reino de Deus. Esta maneira de falar em parábolas era uma característica do ensinamento de Jesus às multidões e aos discípulos. Desta maneira o Mestre divino levou a compreender o mistério do Reino de Deus, oculto aos orgulhosos, mas que se revelava aos pequeninos e humildes de coração. Nas duas parábolas do semeador e do grão de mostarda há um duplo aspecto que merece especial atenção (Luc 4,26-34). Apelo a fazer qualquer coisa, como o semeador a semear a tempo e a contra tempo, com perseverança, a Boa Nova do Evangelho, mas também apelo a fazer isso sem inquietude, sem se culpabilizar, porque como Jesus falou, ¨quer se dorme ou se levanta, a semente germina, cresce, não se sabe como”. É preciso crer que o Evangelho é a semente lançada pelo Filho de Deus nos corações e traz consigo mesmo um princípio de desenvolvimento, uma força que a levará a seu completo acabamento. A semente da Palavra de Deus está na Bíblia e vem a todos também através dos comentários que sobre ela são feitos por escrito ou oralmente e cada cristão então pode se tornar também um semeador cooperando com seu Senhor do qual se torna servidor. Tudo isto com muita fé e esperança, amor e perseverança dado que toda a energia vem do alto. Através dos tempos o mundo se mostra refratário, resistente e até mesmo hostil ao anúncio do Evangelho, mas o pequeno grão tem germinado não se sabe como e o minúsculo grão do Reino de Deus pode até se tornar uma grande árvore. Formidável é o poder de Deus oculto num germe da vida. Paciência, verdadeira energia do Espírito, trabalho invisível até chegar os tempos das colheitas. Cumpre, entretanto, não se esquecer que é próprio da fé crer e  esperar. O semeador crê na colheita que   há de vir. Quando se semeia não se sabe ainda como será a colheita final, mas se semeia porque se crê na potência da Palavra de Deus. A semente vem do céu até o ser humano que depois a espalha por palavras e exemplos. Com a graça de Deus a sua Palavra, semente divina, mais hora menos hora, produzirá resultados maravilhosos. Apenas Deus sabe a quantidade de frutos que virão. Quem ouve a Palavra de Deus ou depois a semeia não deve querer resultados imediatos, pois poderá ficar decepcionado. Os precipitados entram sempre no rol dos desiludidos. Quem recebe a semente da Palavra divina e a semeia entrega o tempo a Deus sem se preocupar com a quantidade da produção que ao Senhor pertence. Ele não impõe uma quota, mas ordem “Semeai”! Acolher ao máximo a semente de Deus dentro de si mesmo e semear tudo que possa, tanto quanto se pode, até mesmo o pouco que se tenha, porque o mais pequenino grão pode se tornar uma planta frondosa. Recebida, porém, a palavra de Deus e, em seguida, a semear, o importante não será possuir muita sabedoria teológica, mas o principal, isto sim, é ter muito amor a Deus, distribuindo os grãos recebidos do Senhor no campo, isto é, onde cada um vive e trabalha. Nunca se deve esquecer que o Reino de Deus consiste na Santidade e na Graça, na Verdade e na Vida, na Justiça, no Amor e na Paz, como proclamamos no Prefácio da solenidade de Cristo Rei. Este reino se faz realidade, em primeiro lugar, dentro de cada um, para em seguida ser espalhado mundo todo. Na alma de cada cristão Deus pelo batismo semeia as sementes celestiais. Cabe ao batizado possibilitar que estas sementes germinem, cresçam e, deste modo, elas se multipliquem em boas obras de serviço e caridade, de amabilidade e de generosidade, de sacrifício, dando frutos de felicidade para todos com quem os discípulos de Cristo convivem. Deste modo, o Reino de Deus se estende dentro das famílias, nas cidades, em toda a sociedade. Esta fica então iluminada pela verdade e retificado se torna o caminho que leva ao céu, tudo penetrado pela força da graça, iluminado pela luz da verdade. A semente começa pequenina como um grão de mostarda quando é semeada na terra. Depois, porém de semeada cresce e pode até ultrapassar todas as hortaliças. Como no tempo dos primeiros cristãos, Jesus pede que hoje em dia espalhemos seu Reino nesse mundo.  O Reino de Deus é poder, superabundância de vida. A semente germina por si mesma, mas precisa cair em terra boa. O semeador pode se distanciar, podem vir a noite e o dia, porém, como diz o salmo 125, o Senhor é o protetor de quem nele confia. A imagem do desenvolvimento do Reino de Deus reflete bem a grandeza em que vive o cristão, realidade que o ultrapassa mas que deve ser usufruída em plenitude. Excede sempre o ser humano, mesmo porque o Reino de Deus não fica confinado nesta terra, mas é algo a ser gozado por toda a eternidade. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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