01 DISTINTIVO DOS PARENTES DE JESUS
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
Segundo
São Marcos havendo muita gente assentada à volta de Jesus, disseram-lhe: “Olha,
tua mãe e teus irmãos, estão ali fora procurando-te”. A resposta de Jesus
deixou clara a dignidade de seu seguidor, pois Ele olhando todos que estavam a
sua volta afirmou que quem faz a vontade de Deus, esse é para Ele irmão, irmã e
mãe (Mc 3,32-35). Neste episódio é de se notar que os que pertenciam a sua
família saíram de onde moravam para estar com Ele. Jesus, porém, num dinamismo admirável
ampliou esta sua família com numerosos seguidores dilatando o espaço
territorial daqueles que já lhe pertenciam pelo sangue. Dinâmica admirável que
através dos séculos se daria, pois surgiriam milhares de discípulos de todas as
nações. Um sem número procurando-O e milhares assentados a sua volta, para
escutar seus sábios ensinamentos. Todos incrustrados solidamente nele, se
gloriando de ser seus fiéis seguidores, tornando-se se disponíveis a tudo que
dele recebem e se fazendo arautos de sua celestial doutrina. Como outrora, como
relata o Evangelho de hoje, a todos Ele olha com muito amor. O importante é se
deixar por Ele se instruir se predispondo a ser doutrinado por este Mestre divino.
A ordem dele é “Escutai” (Mc 4,3) e duas vezes Ele insistirá: ´Quem tem ouvidos
para ouvir que ouça” (Mc 4,9.23). Orientação firme atingindo a todos que entram
no círculo de seus adeptos que Ele elevou à dignidade de serem seus familiares.
Isto significa não apenas procurar sempre Jesus, mas também aderir a todo o projeto
salvador do Filho de Deus, captando a profundidade do plano redentor. Jesus
quando disse, referindo-se aos que estavam a sua volta, “Eis aí minha mãe, meus
irmãos” conferiu um título de glória aos que lhe pertencem semelhante os que
ostentavam o liame sagrado de sangue.
Todos, porém, incluídos no projeto salvador de seu reino neste mundo e
no outro. Ele não exclui seus parentes de sangue, mas solenemente inclui a
multidão que através dos tempos se diriam cristãos. Um admirável parentesco espiritual.
O modo de ser de todos se distinguiria em fazer em tudo e acima de tudo a vontade
de Deus. A vontade de Deus é que todos como sua Mãe, Maria Santíssima, fossem produtivos,
dando frutos para a vida eterna. Jesus depois explicou o que significa fazer a
vontade de Deus, ou seja, acolher e praticar tudo que o Ser Supremo ordena. Esse
Deus que é Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, que quis fazer o homem
livre, sabia que este tantas vezes O desobedeceria, roubando a glória divina. Deus
pode tudo, mas a liberdade de que dotou o ser racional o permite dele divergir,
mas os que dele divergem não pertencem à família de Jesus, podendo, porém, nela
se reintegrar pelo arrependimento e pela penitência. Tem então a possibilidade,
antes de deixar este mundo, de voltar a fazer Sua vontade santíssima para não estar por toda a eternidade longe
dele. Infeliz daquele que não quer fazer a vontade de Deus, mas realizar suas
próprias experiências, se afastando de seu Criador. Cumpre pedir sempre a Ele:
“Senhor, ensina-me fazer Tua vontade (Sl 119,26). O certo é que deixados a si
mesmos os seres racionais podem, porém, cair num triste impasse, perdidos,
incapazes de discernir o bem e o mal, o desejável e o condenável. É preciso, portanto
estar todos atentos procurando em tudo fazer a vontade Deus, como insistiu Jesus
no Evangelho de hoje. Na Bíblia está palpitante a Lei divina. O desejo de Deus,
sua vontade, comporta sempre uma parte de mistério, simplesmente porque ela se
liga à pessoa humana e sua relação íntima, amorosa com este Deus que é Pai,
Redentor e Iluminador. Como diz o Livro da Sabedoria o homem é incapaz por si mesmo
de compreender a vontade de Deus e apreender o que Ele, de fato, exige (Sab
9,13). A vontade de Deus deve ser captada também lá no íntimo do coração numa
meditação constante da Palavra revelada. A finalidade da mensagem divina é a
felicidade de cada um. Não simplesmente a felicidade terrestre, mas a felicidade
de viver com Ele e nele por toda a eternidade. Daí o fervor com que se devem
repetir as palavras da oração que Jesus nos ensinou, dirigindo sinceramente cada
um a Deus: “Seja feita a vossa vontade”. É fazendo a vontade divina que todos
nos tornamos irmãos uns dos outros, filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo.
Que a vontade de Deus se faça com sua graça, porque por nós mesmos somos
incapazes de a praticar. A vontade de Deus não se resume, num mero desejo
pessoal, mas na certeza absoluta de que Deus sábio, deve ser sempre obedecido, pois
longe de seus desígnios só pode reinar a infelicidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.