terça-feira, 25 de maio de 2021

 

01 DISTINTIVO DOS PARENTES DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Segundo São Marcos havendo muita gente assentada à volta de Jesus, disseram-lhe: “Olha, tua mãe e teus irmãos, estão ali fora procurando-te”. A resposta de Jesus deixou clara a dignidade de seu seguidor, pois Ele olhando todos que estavam a sua volta afirmou que quem faz a vontade de Deus, esse é para Ele irmão, irmã e mãe (Mc 3,32-35). Neste episódio é de se notar que os que pertenciam a sua família saíram de onde moravam para estar com Ele. Jesus, porém, num dinamismo admirável ampliou esta sua família com numerosos seguidores dilatando o espaço territorial daqueles que já lhe pertenciam pelo sangue. Dinâmica admirável que através dos séculos se daria, pois surgiriam milhares de discípulos de todas as nações. Um sem número procurando-O e milhares assentados a sua volta, para escutar seus sábios ensinamentos. Todos incrustrados solidamente nele, se gloriando de ser seus fiéis seguidores, tornando-se se disponíveis a tudo que dele recebem e se fazendo arautos de sua celestial doutrina. Como outrora, como relata o Evangelho de hoje, a todos Ele olha com muito amor. O importante é se deixar por Ele se instruir se predispondo a ser doutrinado por este Mestre divino. A ordem dele é “Escutai” (Mc 4,3) e duas vezes Ele insistirá: ´Quem tem ouvidos para ouvir que ouça” (Mc 4,9.23). Orientação firme atingindo a todos que entram no círculo de seus adeptos que Ele elevou à dignidade de serem seus familiares. Isto significa não apenas procurar sempre Jesus, mas também aderir a todo o projeto salvador do Filho de Deus, captando a profundidade do plano redentor. Jesus quando disse, referindo-se aos que estavam a sua volta, “Eis aí minha mãe, meus irmãos” conferiu um título de glória aos que lhe pertencem semelhante os que ostentavam o liame sagrado de sangue.  Todos, porém, incluídos no projeto salvador de seu reino neste mundo e no outro. Ele não exclui seus parentes de sangue, mas solenemente inclui a multidão que através dos tempos se diriam cristãos. Um admirável parentesco espiritual. O modo de ser de todos se distinguiria em fazer em tudo e acima de tudo a vontade de Deus. A vontade de Deus é que todos como sua Mãe, Maria Santíssima, fossem produtivos, dando frutos para a vida eterna. Jesus depois explicou o que significa fazer a vontade de Deus, ou seja, acolher e praticar tudo que o Ser Supremo ordena. Esse Deus que é Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, que quis fazer o homem livre, sabia que este tantas vezes O desobedeceria, roubando a glória divina. Deus pode tudo, mas a liberdade de que dotou o ser racional o permite dele divergir, mas os que dele divergem não pertencem à família de Jesus, podendo, porém, nela se reintegrar pelo arrependimento e pela penitência. Tem então a possibilidade, antes de deixar este mundo, de voltar a fazer Sua vontade santíssima   para não estar por toda a eternidade longe dele. Infeliz daquele que não quer fazer a vontade de Deus, mas realizar suas próprias experiências, se afastando de seu Criador. Cumpre pedir sempre a Ele: “Senhor, ensina-me fazer Tua vontade (Sl 119,26). O certo é que deixados a si mesmos os seres racionais podem, porém, cair num triste impasse, perdidos, incapazes de discernir o bem e o mal, o desejável e o condenável. É preciso, portanto estar todos atentos procurando em tudo fazer a vontade Deus, como insistiu Jesus no Evangelho de hoje. Na Bíblia está palpitante a Lei divina. O desejo de Deus, sua vontade, comporta sempre uma parte de mistério, simplesmente porque ela se liga à pessoa humana e sua relação íntima, amorosa com este Deus que é Pai, Redentor e Iluminador. Como diz o Livro da Sabedoria o homem é incapaz por si mesmo de compreender a vontade de Deus e apreender o que Ele, de fato, exige (Sab 9,13). A vontade de Deus deve ser captada também lá no íntimo do coração numa meditação constante da Palavra revelada. A finalidade da mensagem divina é a felicidade de cada um. Não simplesmente a felicidade terrestre, mas a felicidade de viver com Ele e nele por toda a eternidade. Daí o fervor com que se devem repetir as palavras da oração que Jesus nos ensinou, dirigindo sinceramente cada um a Deus: “Seja feita a vossa vontade”. É fazendo a vontade divina que todos nos tornamos irmãos uns dos outros, filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo. Que a vontade de Deus se faça com sua graça, porque por nós mesmos somos incapazes de a praticar. A vontade de Deus não se resume, num mero desejo pessoal, mas na certeza absoluta de que Deus sábio, deve ser sempre obedecido, pois longe de seus desígnios só pode reinar a infelicidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 15 de maio de 2021

 

SANTISSIMA TRINDADE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na festa da Santíssima Trindade celebramos Deus Uno e Trino, que é Amor e que convida a todos a partilhar este amor, a receber esta dileção generosa e a corresponder sinceramente à mesma. Inúmeros através dos tempos os escritos teológicos sobre o mistério divino, mas impossível à mente humana compreendê-lo. É preciso crer nesta verdade e viver em função dela. Jesus foi claro ao mostrar a missão dos Apóstolos: “Ide, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo que vos mandei!  E eis que eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 26,16-20), Os cristãos receberam esta mandato e o interiorizaram século após século. A salvação é anunciada e é oferecida numa vida de comunhão intima com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O Ser Supremo não apenas fez saber que Ele existe, mas revelou que há três pessoas realmente distintas numa só natureza divina. Com efeito, o Pai que nos ama e deseja a salvação de toda a humanidade; o Filho, o enviado do Pai a este mundo no qual se realiza esta salvação pela sua Morte e Ressurreição; e o Espírito Santo que habita em nossos corações, fazendo-nos viver e rezar como filhos e filhas de Deus, santificando as ações humanas. Nosso Deus não é um Deus longínquo, frio, impessoal, mas um Deus no qual se vive uma comunhão e relações pessoais. Esta revelação extraordinária é evocada cada vez que se faz o sinal da Cruz, quando então se reza “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. É que se trata do mistério de um Deus presente na vida do cristão e de toda a Igreja.  Mistério de vida, de comunhão com as pessoas divinas que agem na vida de cada um, vida da graça recebida no dia do batismo. Nesta solenidade da Santíssima Trindade celebramos então esta troca permanente, este dom total de uma a outra das três pessoas da Trindade. Cristo não guardou nada para si mesmo, pois tudo que recebeu do Pai, Ele colocou em suas mãos. A vontade de Jesus não foi outra a não ser manifestar o amor de seu Pai. É no seu Filho único que esse Pai nos patenteou sua ternura infinita. É na pessoa de Cristo Crucificado que Ele nos mostrou seu imenso amor e na pessoa de Cristo Ressuscitado que Ele revelou seu extraordinário poder. É graças à ação do Espírito Santo que tudo isto se realizou A Santíssima Trindade é, deste modo, este mistério de amor e de vida que hoje recordamos, contemplando a grandeza imensa de nosso Deus, Uno e Trino. Na carta aos Romanos São Paulo nos faz tomar consciência da glória à qual somos chamados. Assim se expressa o Apóstolo: “Efetivamente não recebestes o espírito de escravidão para cairdes de novo no temor, mas recebestes o espirito de adoção filial, pelo qual clamamos: Aba, ó Pai. O Próprio Espírito atesta com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos igualmente herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rom 8,17-18). É o amor que une o Pai ao Filho o ao Espírito Santo que está presente em nós.  Esta relação filial não cessa com nossa morte, mas somos chamados a ressuscitar e a entrar na glória do Filho, Ele que partilha a intimidade do Pai no Espírito Santo. Não fomos criados para a morte, mas destinados a entrar na glória da Trindade. Pela comunhão eucarística o fiel recebe o penhor desta vida eterna. Por tudo isto o amor que une entre elas cada uma das pessoas da Santíssima Trindade constitui o fundamento da comunidade dos cristãos entre si.  Amar com o amor que une as três pessoas divinas, amar como Deus se ama, amar com o amor que Deus tem para com cada um de nós. Eis como se deve viver o mistério do Deus Uno e Trino. Trata-se da dimensão da solidariedade que deve caracterizar o cristão, para que ele não se perca num ativismo vazio, nem se omita numa condenável ausência de um apostolado frutífero que leva a fazer Deus de fato conhecido e amado. Em tudo devemos estar iluminados pelo Espírito Santo, trabalhados pela Palavra de Cristo, fazendo em tudo a vontade do Pai, testemunhando o amor do Deus Trindade. Ele nos convida a entrar neste seu amor trinitário, vivendo segundo o Espírito Santo, a fim de nos tornarmos autênticos discípulos de Cristo. Temos toda nossa vida para aprender a viver segundo o Espírito Santo, sendo verdadeiros seguidores de Jesus numa adoração perfeita a Deus Pai. Cumpre penetrar, de fato, no amor trinitário para se tornar verdadeiramente um cristão maduro e completo. Evitar, portanto, as fraquezas que desfiguram a imagem de Cristo em si mesmo, procurando fazer crescer o desejo de conhecer e amar sempre mais as Três Pessoas divinas. Escutar e obedecer sempre as inspirações do Espírito Santo santificador, deixando-se guiar por Ele em tudo, sempre lembrados do que preceituou Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).  *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

 

01 SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A solenidade de Pentecostes, cinquenta dias após a Ressurreição de Jesus, comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. Depois de sua ressurreição, Jesus apareceu várias vezes aos seus discípulos, continuando a instruí-los, sendo que no dia da Ascensão os enviou em missão para proclamar o Evangelho a toda criatura, lhes tendo prometido a assistência do Espírito Santo. Jesus foi claro:” Quando vier o Confortador que eu enviarei lá do Pai, o Espírito da Verdade, que do Pai procede, Ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho de mim” (Jo 15, 26).  O dom do Espírito Santo se dá   em sequência ao dom da Lei e a Igreja é o novo povo de Deus que sucede ao povo de Israel. A Boa Nova trazida por Jesus não marcou uma ruptura com a aliança   concluída entre Deus e Israel.  Pelo contrário, ela é o cumprimento, o aperfeiçoamento, o acabamento desta aliança que doravante não estava mais reservada apenas ao povo judeu, mas, pela Igreja se estenderia a todos os povos. No dia de Pentecostes   os Apóstolos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, sinal também desta admirável universidade, notável catolicidade. Guiada pelo Espírito Santo a Igreja tem por vocação acolher e reconciliar todos os povos. O Espírito Santo. Veio para dar aos Apóstolos a força e o dinamismo para difundir a Boa Nova. Isto se deu de uma maneira espetacular: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estava reunidos “e veio subitamente, do céu, um ruído, semelhante a um sopro de vento impetuoso que encheu toa a casa onde eles habitavam. E apareceram-lhes línguas divididas e a maneira de fogo e pousou sobre cada um deles e ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras língua segundo o Espírito lhes concedia que se exprimissem (Atos 2, 2-5). Assim é que age a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, ou seja, com energia, mas com muita doçura. Eis porque aqueles que estavam trancados dentro de casa por medo dos judeus são enviados a corajosamente pregar o Evangelho e afrontar perseguições e o martírio. Enunciaram então, corajosamente que Jesus havia ressuscitado e que Deus é amor e, na verdade, pregação a ser feita e isto não só em Jerusalém, mas toda parte. Para nosso hoje cinquenta dias d depois da Páscoa, celebramos a descida do Espeito Santo sobre a Igreja nascente, mas também sobre a Igreja de hoje, pois este é um acontecimento que se repete dado que a Igreja tem necessidade um Pentecostes perpétuo. De fato, todos os dias nosso coração precisa estar repleta do Espírito Santo para um apostolado eficiente lá onde Deus colocou cada um de nós. Há necessidade de que o Espírito Santo venha para transformar nossos hábitos, nossas rotinas com seu sopro vivificador, modificador. Ele vem para mudar corações de pedra em corações de carne, isto é, corações que se deixam transfigurar pela vontade divina. O ruído da chegada do Espírito Divino é para acordar   sonolências que impedem o progresso espiritual. possibilitando passar do medo para segurança, da fraqueza para a audácia de partilhar a fé, a esperança e o amor a Deus. Ele dá coragem para falar quando não se deve calar, testemunhar quando é preciso proclamar as maravilhas do Evangelho e s grandezas da verdadeira Igreja de Cristo sem apoiar as misérias morais difundias pelos meios de comunicação social. O Espírito Santo que transformou os Apóstolos em um instante, é capaz a de continuar a modificar os cristãos para transformar o mundo na verdade que Jesus veio trazer a esta terra. Trata-se de ajustar cada batizado plenamente aos desígnios de Cristo. É preciso que o verdadeiro cristão não viva numa zona de conforto, quando tantos males campeia em seu derredor, exigindo uma ação eficiente de quem ama a Jesus. Daí a importância dos seus sete dons: a sabedoria, a inteligência, o conselho, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus. Será então possível usufruir o que São Paulo preconizou, a saber, amor, alegria, paz paciência, bondade, benevolência, fidelidade, doçura e domínio própria (Gálatas 5, 22-25), Isto significa então viver resolutamente, marchar decididamente sob as luzes da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Trata-se de corresponder à abundância da graça divina com a qual o fiel se repleta das luzes celestiais comunicas do Alto. Passa reinar então a harmonia pessoal e compreensão no meio no qual se vive. Nada a impedir a multiplicidade e as diferenças porque o Espírito Santo é unificador, levando a degusta o que é correto. Ele está sempre a lembrar que e não são as conquistas científicas, os progressos tecnológicos que resolverão   os problemas da união entre os povos ou a harmonia entre pessoas da mesma etnia, porque o que se deve buscar é colocar em prática a linguagem universal da deleção mútua.  Cumpre pedir ao Espírito de Pentecostes que desça de novo sobre a terra e ensine a toda a humanidade que ninguém deve querer ws impor, mas que se divulgue, isto sim, a língua do amor que deste Espírito procede, a qual é a única que pode unir e salvar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

O SENHOR FOI ELEVADO AO CÉU

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Como relatou o evangelista Marcos, Jesus, depois de dar aos Apóstolos a missão de pregar o Evangelho a toda a criatura, “foi assumido ao céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16, 15-20). Segundo bons intérpretes da Sagrada Escritura estar assentado à direita de Deus é uma imagem rica de ensinamentos. Ele está assentado como aquele que possui plenos poderes. Na verdade, à direita de Deus, falando ao Pai de igual a igual, intercedendo por nós num perene diálogo de amor. Nada O fará deixar este ministério, apesar das incoerências humanas que surgem nas guerras, em tantos escândalos, nas contradições de muitos de seus seguidores através dos séculos. Assentado à direita de Deus, contemplando também as vitórias, as grandezas, a fulgente santidade de milhares de discípulos que Lhe são fiéis. Ele está assentado na mais repousante paz na qual espera todos aqueles que lhe são leais na trajetória terrena. Daí ser a solenidade da Ascensão portadora de uma mensagem de profunda serenidade, de inebriante esperança. O cristão deve então, por entre as dificuldades e agitações deste peregrinar terrestre, experimentar a mais total tranquilidade, pois tem certeza de que, se for fiel a Jesus, um destino fulgurante o espera na outra vida. O essencial é então uma fidelidade constante, fruto de um amor ininterrupto aos ensinamentos do Filho de Deus. Trata-se da confiança radical no divino Redentor, confiança alicerçada numa inabalável esperança, que fortifica o batizado na caminhada até a pátria celeste. Nada deve, portanto, esmorecer o cristão porque Aquele que tanto o amou e por ele padeceu, completada sua carreira nesta terra, está assentado à direita do Pai a sua espera. O seguidor de Jesus é então um arauto de   uma boa nova, fanal de vitórias contra o mal, testemunha viva das verdades pregadas pelo divino enviado do Pai que veio a esse mundo para salvar e libertar. A esperança que paira no coração do cristão não o decepciona nunca, mesmo porque o Espírito Santo recebido no batismo o fortifica a cada hora. O cristão é alguém que se acha revestido da força do alto e nada o deve separar do Pai e do Filho. A ordem de Cristo foi clara: “Ide ao mundo inteiro e proclamai a boa nova”. É preciso que cada batizado examine como tem sido o seu apostolado. Cumpre levar por toda parte a mensagem salvadora do Redentor. Evidentemente, cada um deve examinar como tem vivido sua condição de epígono de Jesus. É preciso que a palavra do Evangelho tenha a força transformadora que construa um mundo segundo os desígnios divinos. A “nova evangelização” está a urgir uma atitude corajosa, persistente, diante dos males que infligem a sociedade hodierna. Isto exige uma análise objetiva, sincera, levando a um engajamento no apostolado que lhe é possível exercer. A evangelização não depende de um estudo sociológico do momento, nem de qualquer estratagema político, mas de uma ordem de Cristo que nunca deixa de iluminar, amparar, fortificar aqueles que se entregam a um apostolado vibrante e persistente: “Ide e proclamai a Boa Nova”. A palavra do batizado não é simplesmente algo a mais no conjunto das ideias e das opiniões, mas ela tem todo o peso de mensagens fortes e definitivas. Tratasse de uma proclamação, uma declaração pública, jubilosa, entusiasta de fatos decisivos e salvadores. Nada portanto de um silêncio nefasto, de uma timidez condenável. O cristão deve se lembrar sempre que não há nada mais persuasivo do que a vivência da doutrina de Jesus, do testemunho da virtude   a irradiar suas luzes por toda parte. Nada supera sua eloquência, suscitando desejos imperiosos que arrastam para o bem e a virtude. Surgem então aspirações vigorosas no mais profundo do ser humano. Isso porque o cristão crê firmemente que este mesmo Jesus que foi assumido ao céu voltará um dia da mesma maneira como foi visto no momento de sua Ascensão. Esta Ascensão revela que mais um ponto sólido e durável ficou estabelecido entre o céu e a terra, entre o  homem e Deus.  São Paulo escreveu aos Efésios: “Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, afim de dar cumprimento   a tudo “(Ef 4,10). Trata-se de uma bem solidificada fé. Ele desceu para nos elevar e subiu, o inocente, o maior dos profetas que nos deu o exemplo e ensinou a verdade, para nos reservar um lugar junto dele por toda a eternidade. Ele é, verdadeiramente, o Cristo glorificado, assentado à direta do Pai todo Poderoso. Seu discípulo está aqui na terra, mas Ele o aguarda lá no céu. Aqui na terra uma série de limitações, de provas de imperfeições, mas nelas o batizado não se acha aprisionado, pois no céu está Alguém a sua espera, se ele persevera na prática daquilo que este seu Mestre ensinou! Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos!

 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

 

O AMOR  CRISTÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*                                                                                           

Há sempre alguma força no ser humano que o impulsiona a trabalhar, a progredir, a se organizar. Ânimo que o leva a agir dia a dia, ano a ano, durante toda sua passagem por este mundo Para uns, esta força, por exemplo, é o interesse, para outros é a sede do poder. Para o verdadeiro cristão, para o autêntico seguidor de Cristo, porém, acima de tudo e sobretudo, deve ser o amor sobre o qual Ele falou longamente aos apóstolos, sendo Ele mesmo a fonte, o modelo, desta verdadeira dileção. Claras as suas palavras: “Permanecei no meu amor “(Jo 15,9-17). Isto porque Ele, somente Ele, tem as palavras e a realidade da vida eterna. Ele, por primeiro, nos amou, vindo a este mundo para se sacrificar   pela nossa salvação até à morte e morte de cruz. Este amor de Jesus pelos homens O levou a uma imolação sem limites. Tal atitude exige, então, uma correspondência a tanta generosidade e Ele mesmo mostrou como agir em consequência: “Se sois fieis a meus mandamentos, vós permanecereis no meu amor”. A fidelidade a seus ensinamentos eis aí, o que mede a amizade entre Jesus, o Filho de Deus e nós que somos também filhos e filhas de Deus. É preciso que se lembre sempre que amar é deixar que os outros existam plenamente não obstante as fronteiras sociais e culturais, as incongruências da existência humana, as sombras do egoísmo ou da agressividade, seja onde quer que se esteja vivendo. Amar é saber repartir o bem sem cessar em casa, nas comunidades eclesiais, nos locais de trabalho porque o amor de Cristo nos deve impelir a espalhar o bem, desejando-O participante de todos com os quais se convive. Isto inclusive imitando a Deus a quem assim se dirige o salmista: “Tu abres a mão e sacias a todo vivente” (Sl 145,16). Deste modo procede o discípulo de Jesus   que jamais tem as mãos fechadas, nunca deixando de fazer o bem. O caminho da caridade não deve ter limites. Isto para que a alegria de Jesus esteja em nós e para que nossa alegria seja perfeita. Lembremo-nos sempre que Deus ama cada um pessoalmente com uma dileção total, incondicional e a vinda de Jesus a este mundo ratificou que, seja cada um de nós quem for, ou o que tenhamos feito ou faremos, o seu amor   jamais diminuirá, e isto nos deve encher de ânimo   para que   sejamos sempre bons uns para com os outros. A única retribuição que Jesus espera de cada um de nós é reconhecer a imensidão de seu amor e O acolher para viver dele. Donde tal deve ser a prece o cristão: “Senhor, eu sei que tu me amas. Obrigado por         tudo!”. Jamais, portanto viver sem Jesus como se Ele não existisse. Daí viver coerentemente, nunca passando um minuto sequer longe dele.  Ele mostrou como assim proceder: “Se vós sois fiéis a meus mandamentos, vós permanecereis no meu amor, como eu guardei fielmente os mandamentos de meu Pai e eu permaneço no seu amor”. Ser fiel aos dez mandamentos é se mostrar fiel a seu Pai. E como é que Jesus nos amou?  Basta olhar para a Cruz. Pois “a cruz é glória não porque é um instrumento de dor, mas porque é o sinal do fim infligido a quem amou, a quem é justo, a quem livremente e por afeição depôs a própria vida pelos outros”. Seu amor foi gratuito, antes mesmo de sermos redimidos pelo seus sofrimentos salvíficos. Ao olhar o crucificado vemos que Ele passou um cheque de amor em branco e tem todo o direito de receber uma resposta de afeto de nossa parte, através do amor que manifestamos uns aos outros, a saber, como Ele nos amou. Suas palavras foram claras: “O que fizestes a menor de meus irmãos foi a mim que o fizestes”. Deste modo, a existência do cristão fica sempre valorizada. Tudo que que ele faz pelos membros de sua família, pelos amigos, pelos colegas de trabalho, pelos membros de sua Paróquia fica realmente valorizado. Isto sem priorizar ninguém, mesmo porque não há uma ordem de prioridade no dom mesmo que Deus faz a cada um de nós. Em toda parte viver deste modo a dileção de Jesus. É preciso que se lembre sempre que Maria, sua mãe e nossa mãe, não foi uma revolucionária, nem uma a mulher fechada em si mesma, ela a cheia de graças, se limitando a amar Jesus e José. Deus fez crescer nela um coração que abrigou um imenso amor e a fez a mãe de todos os homens, fonte de todas as graças para   os que vivem a dileção divina. Jesus não nos pede coisas extraordinárias, impossíveis. Ele quer simplesmente que acolhamos seu afeto por nós e, em consequência, que amemos os outros como Ele nos amou. Ele deseja nos ver como um apóstolo que dê fruto para os irmãos, fruto que se manifesta numa dileção sincera. Como bem se expressou São João Crisóstomo, “se o amor está difundido por toda parte disto nascerá uma infinidade de bens”.  Amar é, portanto, dar a própria vida numa abnegação constante, sacrificando o seu tempo, sempre interessado no progresso espiritual e material dos irmãos, para que eles se desenvolvam continuamente. Amar é saber proteger os outros, possibilitando que cresçam como autênticos seres humanos. Amor concreto, e como foi dito, frutuoso, porque o amor do cristão, se ele não se manifesta em obras que ajudam, é um amor vazio, fruto de uma fé morta. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.