sábado, 24 de abril de 2021

 

A UNIÃO MÍSTICA COM CRISTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

De uma maneira maravilhosa Jesus nos fala sobre a nossa união com Ele (Jo 5,1-8). Duas assertivas entretanto merecem, de início, nossa atenção: “Sem mim nada podeis fazer”, declaração peremptória; e uma promessa admirável “Quem permanece em mim e eu nele produz muitos frutos”. Quem deseja ser verdadeiramente cristão não pode ficar indiferentes a tais palavras deste Mestre divino. Ou tudo com Ele e sem Ele nada. Isto por que Ele é a verdadeira vinha, uma vez que é aquele que corresponde plenamente à confiança que Deus havia colocado no povo escolhido, mas que, ante suas infidelidades e recusas estéreis, teve que se queixar: “Que mais poderia fazer pela minha vinha que não o tenha feito? Porque esperando eu que me desse boas uvas, produziu apenas   agraços, isto é, uvas verdes? (Is 5,5). Não obstante tudo isto, depois de tantos profetas rejeitados, de idolatrias irrisórias, de favores malbaratados, crimes vergonhosos, Jesus desceu do céu à terra afirmando “Eu sou a verdadeira vinha”, Ele o justo, o santo, o bem amado do Pai, a vinha por excelência. Vinha única e universal ou, no dizer de Santo Agostinho, “o Cristo total” que quis reunir toda a humanidade salva por Ele, que é a fonte da verdadeira vida. De fato, literalmente a seiva da vida do homem regenerado, por que nele é que o Pai faz de nós seus filhos adotivos (Rm 8,15). Graças a Ele somos concidadãos da casa de Deus (Ef 2,20), formando o que a Escritura chama com toda razão a vinha do Senhor. Seu Pai é o divino agricultor que quer cultivar esta vinha até os confins da terra. Na Cruz Cristo se tornou, de modo especial, na expressão dos escritores místicos, este cacho esmagado, quando ofereceu para a humanidade a bebida da vida eterna. Cada dia aqui na terra o vinho da sua vinha se torna o sangue na admirável transubstanciação em cada Missa que é celebrada e, lá no céu, o vinho novo no Reino de seu Pai nas bodas eternas.  Sublime a comunhão eucarística de cuja plenitude recebemos graça sobre graça. Como escreveu São Paulo, nele habita, conjunta com a humanidade, a plenitude da divindade e nele temos plenamente tudo (Cl 2,9). Ora se, assim é, só nos resta uma profunda gratidão. Grande o amor do Pai que quis plantar nesta terra esta Cepa divina , enviando seu Filho único (Jo 3,17) Deste modo, por Ele, com Ele e nele, todos podemos receber e partilhar a Vida, sua Vida divina. Entretanto, o mais belo deste maravilhoso mistério não é somente que o Senhor se fez Ele mesmo por nós a verdadeira vinha, mas desejou que nos tornamos nós mesmos sua própria vinha, uma vez que Ele é nossa cepa e nós somos seus ramos. Nossa genealogia está nele. Quem nos criou também nos regenerou! Nunca se medita demais nesta sublime realidade. O cristão se apoia   neste fundamento e nunca, portanto, está isolado, abandonado. Está ligado a um tronco que o suporta, achando-se insertado diretamente na vida divina que nele corre. A existência do cristão verdadeiro, portanto, é útil e boa porque repleta de esperança e de sentido. Cumpre então que ele dê muito fruto. Grande e prodigioso mistério. Vivemos, nos movemos, agimos, sofremos e morremos, mas Cristo está sempre conosco, pois Ele vive, age, sofre e morre em nós. Ele é a semente, a seiva que está no batizado. A vida eterna lhe é garantida numa grandiosa esperança porque os germes da ressurreição estão já inscritos nos seus corações. Tudo isto é verdade e nós podemos dizer que nós vivemos nele, porque Ele mesmo vive em nós (Gl 2,20). Eis porque sem Ele nada podemos realizar de proveitoso para a vida eterna! A verdadeira vida do cristão é, portanto, tudo fazer por estar em contínua união com Cristo, sendo ininterruptamente fiel a seus mandamentos. Feliz o batizado que observa tudo que Jesus preceituou nele continuamente crescendo e amando sinceramente o próximo. Lembra então São João que aquele que é fiel ao divino Redentor mora em Deus e Deus nele (1 Jo 3,23-24) Eis porque somente o amor vivido em ato e em verdade e a marcha no caminho de Jesus sob a luz da fé dão   sentido e valor à existência humana. O importante é a autenticidade da vida do batizado. Cada instante de sua existência bem vivida. Então, sim, está aí alguém que pode dar bons frutos. Para que tudo isto ocorra é preciso que o homem exterior se vá desfazendo em nós e o homem interior vá se renovando dia a dia (2 Cor  4,16). Nunca agradeceremos demais ao Senhor por ser Ele a verdadeira vinha e que Ele faça sempre de nós uma vinha digna dele, fiéis a seus mandamentos, jamais nos separando dele. É necessário estar atentos à presença da seiva divina em nós para poder dar bons frutos. Esperá-los, porém humildemente, pacientemente, pois eles virão na hora demarcada por Deus, desde que haja total fidelidade à ação da graça divina. Isto é que se deve examinar à hora das orações, sobretudo no instante da Comunhão eucarística. Então se verá se a união com Cristo está repercutindo por toda parte Quem vive em união mística com Jesus deve dar furtos onde quer que  esteja. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

 

02 SER BOA OVELHA DE CRISTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Neste domingo do Bom Pastor nada melhor do que refletir sobre as condições de como ser uma boa ovelha de tão inigualável Pastor (Jo 10 11-) Em primeiro lugar a alegria de se pertencer ao rebanho de Cristo que se imolou pela sua grei e afasta o lobo mau e voraz que aspira dizimá-la. Ele jamais se mostra vil mercenário. Um santo orgulho de ser conhecido pelo senhor deste aprisco e a Ele pertencer. A cada uma delas Ele pode verdadeiramente asseverar: “Com amor eterno eu te amei” (Jer 31,3). Regozijo de ser cumulado, além disto, gratuitamente com continuas maravilhosas graças.  Eis porque no Antigo Testamento o sábio “coloca sua alegria na lei da aliança do Senhor” (Sir 39,8). São Paulo gloria-se de pertencer a Cristo (2 Cor 10 e 11) e a Carta aos Hebreus fala no frescor e na ufania da esperança na qual vive o seguidor de Cristo. (He 3,6). O Catecismo Romano adverte: «Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus» (n. 1691). Trata-se da santa empáfia de ser cristão, discípulo daquele que é o “Caminho a Verdade, e a Vida” (Jo14,6). São João deixou clara a razão pela qual não deve vacilar o seguidor de Jesus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).  O cristão, ovelha de Cristo, deve ser sal da terra e luz do mundo. Como dizia São Paulo a Timóteo, “por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação. Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus (2 Tm 1 6-8), A ovelha de Cristo de nada tem que se envergonhar. Ao contrário, deve levantar a cabeça porque seu chefe tem as chaves da história que revela aos homens o verdadeiro sentido de seu destino. Pode com ufania a exemplo de São Pedro dizer a Jesus: “A quem iremos nós, Senhor, tu tens palavras de Vida eterna. E nós cremos e nós conhecemos que tu és o santo Deus” (Jo 6, 68-69). Trata-se não de um ridículo orgulho, de um sentimento de vã suficiência ou de uma grotesca superioridade Na verdade, Jesus é a salvação e nunca exclusão dos semelhantes, criando privilegiados, distantes uns dos outros. Ele é um dom oferecido a todos podendo dizer: ”Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11:28-30). Todos são convidados a entrar no seu aprisco. Todas estas considerações devem gerar uma total e absoluta confiança na ovelha de Cristo. Tal a sua ordem; “Não tenhais medo”; “Não temais”. Claramente, assim se expressou: “Pedi e dar-se-vos-á; procurai e achareis: batei e abrir-se-vos-á. Na verdade, todo aquele que pede, recebe e quem procura, encontra; e ao que bate abrir-se-lhe-á. Se vós sendo maus, sabeis oferecer coisas boas a vossos filhos, quanto mais o pai celeste dará o Espirito Santo, àqueles que lhe pedirem” (Lc 11,13) . O Bom Pastor promete sua presença às suas ovelhas, a ação de seu Espirito aos que O amam e escutam. As boas ovelhas nos momentos da inquietude, das perseguições terão as luzes celestes sempre que precisarem. Nas situações difíceis estas ovelhas se entregam nas suas mãos e Ele e o  Espirito Santo iluminam e salvam. Tudo isto insufla coragem, segurança e perseverança. Surgem objeções, ataques, zombarias, oposições, mas a boa ovelha jamais sucumbe. Esta ovelha persevera e está sempre revestida de segurança Não se desencoraja nunca, pois tal foi sua afirmativa: “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). A boa ovelha sabe testemunhar em palavras e em atos aquele que foi ‘um profeta poderoso em palavras e ações diante de Deus e diante do povo (Lc 24,19), Proclama explicitamente sua fé. Sabe que o Bom Pastor é a fonte da água viva e que enche de esperança seu seguidor. Esta ovelha pode repetir com São Paulo: “Eu sei em quem eu confiei” (2 Tm 1,12) Pode também proclamar: “Eu acreditei, eis porque eu falei” (Cor 4,13)., ou seja, nós cremos e por isso proclamamos as grandezas deste Pastor admirável A boa ovelha possui então a inteligência da fé, sendo serena, menos perturbada pelas questões dos inimigos de Cristo, menos aturdida pelas críticas dos que não amam o Filho de Deus. É firme, possui uma fé que cresce continuamente e sabe retorquir aos inimigos com uma atitude vigorosa. Exala por toda parte “o bom odor de Cristo” (1 Cor14,16). A boa ovelha testemunha o amor a Deus, a bondade de Deus, a vontade de Deus, Graças às boas ovelhas o rebanho do Bom Pastor pode crescer sempre mais, para a glória de Deus e bem das almas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

 

01 A VACINA CONTRA COVIID-19

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Procurar se vacinar seguindo a escala estabelecida pelo Governo é medida necessária inclusive para que se diminua o número de mortes causada pela atual pandemia. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com muito critério, tem cientificamente mostrado quais são as vacinas confiáveis.  O Diretor Espiritual do JSC, que já recebeu as duas doses desta vacina, pode afirmar que a organização aqui em Viçosa está excelente e as pessoas que a estão aplicando   são muito eficientes, atenciosas e competentes. Entretanto, mesmo quem já se vacinou deve ser rigoroso na aplicação do distanciamento social, no uso de máscaras faciais e na lavagem manual que devem ser rigorosamente observadas. Todo cuidado é pouco, pois a pandemia COVID-19 tem causado múltiplos problemas com graves consequências em todo o mundo. Persistem, porém, dúvidas sobre a capacidade da vacina de evitar a propagação do vírus por si só. Ainda não está claro se os imunizados poderão infectar outros indivíduos. Como salientam os experts no assunto, outro problema de saúde pública pode surgir se um número crescente de indivíduos não se submeter à segunda dose da vacina. É essencial lembrar também que qualquer variante viral pode tornar a vacina menos eficaz ou ineficaz. As medidas preventivas acima recordadas são as únicas que têm dado bons resultados, garantindo que se evite a disseminação do vírus. Subestimar a importância dos meios preventivos é um erro perigoso com graves consequências para a sociedade. É imprescindível manter um alto nível de atenção nesta fase crítica, pelo menos até que os efeitos da vacinação sobre a saúde global sejam patentes e a imunidade do rebanho seja alcançada. A vacina é atualmente considerada uma ferramenta adicional no combate ao COVID-19, mas não é a solução final. Como tal, há o risco de que a ferramenta que pode nos ajudar a superar a crise de saúde cause um efeito deletério com consequências indesejáveis para a saúde pública caso ocorra um relaxamento no emprego das medidas preventivas A vacinação é caminho seguro para gera um estado de tranquilidade apesar da devastação que a pandemia tem causado. Para isto cada um deve fazer o que puder e não se expor a situações de risco. Além de se vacinar cumpre, portanto, seguir fielmente as medidas preventivas, tendo em vista o bem próprio e o bem comum. * Diretor Espiritual do JSC

segunda-feira, 12 de abril de 2021

 

TESTEMUNHAS DE CRISTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Várias vezes, antes de sua gloriosa ascensão ao céu, Jesus para dirimir receios e dúvidas que pairavam para seus seguidores, lhes apareceu. Não foi fácil para os apóstolos acreditarem na ressurreição. O primeiro movimento da parte deles era crer que estavam perante um mero espírito, como, está no Evangelho de hoje (Lc 24 35-48). Isto porque estavam tomados de espanto e de medo. Para eles era mais fácil acreditar em fantasma do que no divino ressuscitado. Jesus então lhes desejava paz, fazia-se ver claramente, e, até, tomava alimentação com eles. O choque causado pela dolorosas morte sobre a cruz fora por demais forte e, apesar do júbilo pela presença do Ressuscitado, não podiam crer completamente, pois estavam tomados por profundo deslumbramento. Cristo, pedagogicamente, os foi convencendo de que a vitória sobre a morte era realidade sublime. A cada aparição aqueles corações desanuviavam-se, as inteligências se esclareciam e eles penetravam mais fundo na Escritura. Tudo que havia sido escrito sobre Ele na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos, tudo que Ele lhes havia dito que se cumpriria, de fato, realizara-se. Até à última aparição foi uma trajetória que visava fazer dos apóstolos as bases consistentes de sua Igreja sobre as quais se apoiasse através dos séculos a doutrina verdadeira. Eis por que com justificável alarde o mesmo São Joao assim se expressou na sua primeira Carta: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida, porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou. O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. Escrevemos-vos estas coisas para que a vossa alegria seja completa"(1 Jo 1 1-4) É de se notar que após sua ressurreição o grande objetivo da parte do divino Ressuscitado era que constatassem que Ele, que estivera, morto, retornara à vida e, deste modo, estivessem inteiramente esclarecidas suas mentes, afastados os empecilhos a uma fé sólida no fato de sua ressurreição.  De vital importância, portanto, a certeza da realidade corporal desta sua ressurreição, ou seja, aquele que morrera agora estava vivo. Eram necessárias testemunhas competentes de tão relevante acontecimento. Aí está a razão pela qual São Pedro escreveu nos Atos dos Apóstolos: “Ele que fizemos morrer, suspendendo-o na Cruz, Deus O ressuscitou ao terceiro dia e lhe deu o poder de se manifestar, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido anteriormente, a nós que   temos comido e bebido com Ele depois de sua ressureição dentre os mortos”. Até à última aparição, de fato, “abriu-lhes então a mente para compreenderem as Escrituras”. Os Apóstolos firmes na fé na ressurreição pregaram depois por toda parte, após receberem o Espírito Santo, sendo testemunhas fiéis de tudo que tinham visto e ouvido. Tal a missão sublime do cristão através dos tempos: ser testemunha de Cristo, um reflexo fulgurante do Filho de Deus, vencedor da morte. Ele que abriu as portas do Reino dos céus para que todos os que O acatassem.  Testemunhas vivas das coisas do alto, apontando para muitos uma eternidade feliz junto de Deus.  De fato, é a ressurreição de Jesus que deve dar um sentido a todos os desejos, a todas as ações do cristão. Pelo seu imenso amor Jesus, através de suas testemunhas, despertaria em seus seguidores a fulgente esperança de sua volta gloriosa, quando Ele retornará para conduzir os que lhe foram fiéis para seu Reino de delícias perenes. Então Ele colocará a seus pés todos seus inimigos como disse São Paulo (1 Cor 15,25). Daí a importância de ser testemunha de Jesus, missão claramente confiada por Ele a seu seguidor. Pelo batismo batizado, pelo sacramento da confirmação, cada participante da Eucaristia tem por obrigação testemunhar Cristo, pois Jesus passa aos outros por ele. Muitos são os que vivem fora de toda referência religiosa ou ignorando a autêntica religiosidade Confessam-se católicos, mas não receberam o sacramento do matrimônio ou admitem o amor livre, aplaudindo programas inadmissíveis por um cristão. Lamentável a ausência de conhecimento religioso de inúmeros que admitem um ateísmo prático, uma sociedade inteiramente secularizada, um indiferentismo religioso. A Igreja tem apelado para uma nova Evangelização. É que o cristianismo, de modo geral, é visto por muitos como inimigo da liberdade, da evolução dos costumes. A mídia apresenta programas inteiramente contrários à Bíblia, mas aplaudidos por tantos telespectadores. Eis aí um campo imenso para a atuação corajosa dos que querem ser verdadeiras testemunhas de Cristo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

sábado, 3 de abril de 2021

 

A MISERICÓRDIA INFINITA DE DEUS

Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*

    Este ano o Evangelho do Domingo da Misericórdia apresenta a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos no Cenáculo. Aí eles, por medo dos judeus, mantinham fechadas as portas. Jesus aparece e belíssima a sua a sua saudação: “A paz seja convosco!” Tendo visto suas mãos e o seu lado, os discípulos ficaram repletos de alegria. Jesus instituiu então o sacramento da Penitência, outro gesto grandioso de seu imenso amor. Oito dias depois, já com a presença de São Tomé, Jesus volta a aparecer aos apóstolos, recrimina presencialmente o infiel e lança sua fulgurante sentença: “Bem-aventados, Tomé, os que não viram e creram”. Como disse Santo Agostinho, Tomé quis tocar o homem Jesus e reconheceu Deus À palavra de Jesus ele percorreu todo o caminho da incredulidade à fé, da humanidade à divindade.  Jesus lhe diz avança teu dedo, avança tua mão, cessa de ser incrédulo, acredita. Quanto a nós é um gesto de misericórdia da parte de Cristo que acreditemos nele caminho, verdade e vida. Ele é a cabeça do corpo do qual nós somos os membros A cada participação na Eucaristia nós nos unimos intimamente a Ele na sua paixão e ressurreição,  nele nos tornamos, pois, de fato filhos de Deus. Somos felizes se temos o desejo de crer na vida mais forte que a morte, de esperar no amor mais certo que o pecado, de acolher misericórdia no mais íntimo de nós mesmos, apesar de todas as dúvidas como as que acometeram a Santo Tomé. Tudo isto vem nos lembrar que   a fé é um caminho, uma passagem progressiva da dúvida à confiança na busca de uma paz mais profunda do que qualquer angústia. Leva ao grande amor de Jesus ressuscitado para transmitir ao mundo a energia capaz de vencer a morte e o pecado.   Vida nova ao influxo do Espírito Santo, ao vigor da confiança, à certeza do amor de Deus, à experiência do perdão, à dinâmica da reconciliação com todos. A vida do cristão nesta terra é itinerante, um caminhar para a frente sem nunca desanimar, um contínuo recomeçar. As chagas gloriosas do divino Ressuscitado demonstram a fidelidade de Deus, elas  traduziam  a eternidade  do amor divino na nossa história humana.  Envoltos nesa admirável misericórdia, os discípulos corajosamente se tornaram mensageiros do perdão e da paz de Deus.  Somos então convidados a renascer na confiança em reconhecendo o Ressuscitado que se acha  além de nossos sofrimentos, nossas enfermidades, nossas misérias humanas.  O novo nascimento a que nos convida a Misericórdia  divina é este consentimento livre  à nossa fragilidade para acolher nela  a Vida em plenitude, a que revela em Cristo o amor além de todo julgamento meramente humano. Expor assim ao influxo do Ressuscitado nossas impotências as mais profundas face ao mal natural a esta vida, reconhecendo nossas fraquezas, mas  também a imensidão do  transformante poder divino. Deve ecoar fundo dentro de nós a advertência de Jesus: “Deixa de ser incrédulo, é preciso acreditar”! Por tudo isto o papa Bento XVI afirmou que “longe de ser uma devoção secundária, o culto da Misericórdia Divisa faz parte integrante da fé e da prece do cristão”. Através do coração transpassado de Jesus crucificado a misericórdia de Deus atinge todos os homens. Festa da misericórdia, dizia São João Paulo II, e Cristo a difunde sobre a humanidade através do dom do Espírito Santo que na Trindade é a  Pessoa–Amor. A misericórdia ensinava ainda São João Paulo II é o segundo nome do Amor e do Amor tomado no seu aspecto mais profundo. As feridas da Paixão nos recordam que a Misericórdia de Deus é uma graça que lança para longe a banalização do mal, frisou   o papa Bento XVI. É que como acentuou  São João Paulo II  Jesus Cristo “ trouxe em seu corpo  e no seu coração todo o peso do mal, toda sua força devastadora. Jesus na Cruz queimou e transformou o mal no sofrimento, no fogo de seu amor sofrido”. A Igreja se tornou, verdadeiramente, a “Casa da Misericórdia” aberta a todos os homens. Neste Domingo da Misericórdia, Jesus nos mostra de novo suas chagas gloriosas e nos convida a nos abandonar com confiança à sua Compaixão.  São Bernardo nos lembra: “Onde pois nossa fragilidade vai encontrar segurança senão nas chagas do Redentor? Aí eu me sinto tanto mais protegido pois sua salvação é poderosa. Minha consciência se perturba, mas não perde coragem, porque eu me lembro das chagas de Jesus que foram traspassadas por causa de minhas faltas”. Repitamos então com total confiança: “Jesus, eu confio em Vós”! * Professsor no Seminário de Mariana durante 40 anos.