domingo, 13 de dezembro de 2020

 

MARIA, CHEIA DE GRAÇA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Neste quarto domingo do Advento é recordado o grande mistério do anúncio do nascimento de Jesus (Lc 126-38). Esta verdade ficou em silêncio até então e, segundo o relato de São Lucas, foi nesta ocasião solenemente manifestado. A obra da salvação do mundo desejada por Deus ia se realizar através de um intercâmbio entre o céu e a terra onde se achava uma santa jovem judia, chamada Maria. Esta foi saudada pelo Arcanjo Gabriel como a “cheia de graça”. Admirável iniciativa do Criador, mas este, na sua delicadeza infinita, desejou o consentimento daquela que fora predestinada a ser a progenitora do Redentor. A sublime escolha se tornou assim conhecida através de um mensageiro para tal designado.  Dada a anuência de Maria, ela se torna objeto de especial misericórdia do Todo-poderoso. Realiza-se a promessa feita um dia a Davi através do profeta Natã no célebre vaticínio messiânico. Cumulando Maria de graças, o Ser Supremo preparou uma morada digna para si. Quer o Anjo, quer Maria, ficaram maravilhados perante este acontecimento. Gabriel deslumbrado com a beleza daquela que era a escolhida entre todas as mulheres. Maria, por seu turno, enlevada pelo fato de ter sido elegida para tão sublime missão de ser a Mãe do Salvador. Comovida, ela reflete, mas não é precipitada e pede explicação ao Anjo de como isto se daria. Aquele era um instante de respeitoso temor ante os insondáveis desígnios divinos e, ao mesmo tempo, de fascínio ante os planos da eterna Sabedoria. Aí está a razão pela qual o mensageiro do céu explica que tudo seria obra do Espírito Santo e que para Deus nada é impossível. Fulge então a adesão confiante e humilde daquela que sempre esteve unida a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. A promessa anterior de casamento dada a José em nada era infligida, mas serviria para guardar o segredo do projeto salvífico de Deus até o ulterior esclarecimento dado por Deus a José que seria o pai de Jesus perante a Lei. Como registrou São Mateus, «eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados'.  José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua casa sua mulher», Por sua parte Maria, aderindo à obra  de Cristo, oferecia também exemplos extraordinários de colaboração aos intentos do Ser Supremo a cuja vontade deve em tudo estar submisso o ser humano, que precisa estar sempre atento às inspirações celestiais. Muitas vezes se considera Maria como uma mulher fora do comum. Mas ela era sobretudo alguém que estava engajado no serviço de Deus, a Ele ininterruptamente obediente numa liberdade responsável, entrega sem limites. Nela se deve contemplar ainda sua simplicidade e uma confiança admirável, numa oferta pessoal de si mesma sem reservas, total disponibilidade para seguir as determinações do Onipotente. Como Maria, quem tem fé diz simplesmente a Ele:” Eis-me aqui, Senhor!”.  Embora enorme seja a diferença entre a grandeza espiritual da Mãe de Jesus e cada um dos cristãos, reflexos da elevação daquela que é também a mãe dos discípulos do Redentor devem fulgir constantemente na existência de quem se diz seguidor de Cristo. Próximos do Natal esta reflexão sobre a Anunciação de Maria solicita muita atenção, interpelando para que se faça um exame de como tem sido a preparação para a magna comemoração do dia 25 próximo. Jesus mostrar-se-á verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Cumpre agradecer muito a Deus que revelou verdade tão extraordinária. Estupefatos pelo enorme amor do Todo-poderoso Senhor é preciso corresponder a tanta generosidade. Trata-se também de receber com gratidão o perdão que o divino Redentor trás do céu à terra, se imergindo na esperança da conquista da felicidade eterna Ressoa forte o apelo de se levar por toda parte a paz e cultivar um absoluto desapego ao que é transitório neste mundo. É o já viver nesta terra instantes da eternidade, mesmo porque o cristão deve sempre se sentir um bem-amado do Pai. Por tudo isto necessário de faz viver sob a égide de Maria, a cheia de graças que garante a vivência de tão excelsas realidades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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