segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 

DAR TESTEMUNHO DA LUZ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notável São João Batista, por ter sido ele o mensageiro que preparou o caminho do Salvador da humanidade (Jo 1, 6-8.10-28)). Ele deu testemunho da luz verdadeira que veio a este mundo. Tal deveria ser, através dos tempos a missão do seguidor de Jesus. O Percursor foi um personagem excepcional. Admirável sua fé profunda, sua irradiante humildade, fiel até o fim a sua sublime missão. Personagem excepcional, o último dos profetas. Trata-se de saber como bem viver este tempo do advento. Nada de um planejamento artificial. O Batista foi claro: “No meio de vós se encontra um que vós não conheceis: ele veio depois de mim e eu não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”.  No contexto histórico no qual esta sentença foi proferida, aqueles que vinham receber o batismo no Jordão pelas mãos do Precursor de Jesus não O conheciam. Entretanto, João, o Evangelista escreveu seu Evangelho 70 anos mais tarde e ele se dirigia a uma comunidade de batizados que procuravam seguir a Cristo e discutiam as Escrituras. Esta frase do Batista ressoava para eles de uma maneira surpreendente, como acontece em nossos dias. Vale ainda hoje a assertiva de que no meio de nós está Aquele que não conhecemos. No cerne desta afirmativa está o verbo conhecer que vem do latim cum-nascere, ou seja, nascer com. Conhecer com alguém é nascer com ele, num processo que exige muita humildade sobretudo no que diz a Jesus, que foi em tudo manso e humilde de coração. Esta é uma condição primordial para auferir as graças natalinas. É preciso se despojar de todos os preconceitos pessoais e tomar em consequência resoluções imediatas, sem nenhuma tergiversação. Apenas assim se pode estar totalmente à escuta das inúmeras inspirações que vêm do Presépio. Escutar Jesus, crescer com Jesus, vivendo sempre com Ele. Nada de presunções humanas, enquadrando o divino Redentor nos próprios moldes mentais, negando a sublimidade de seu mistério, de seu ser profundo. É tudo isto que o testemunho de São João Batista recorda, pois no meio de nós está alguém que devemos conhecer. Cumpre, então, afastar todo orgulho, a exemplo do que fizeram através dos tempos os grandes místicos. Deste modo o cristão não se deixa abalar pelos imprevistos da vida, pelos percalços que costumam surgir, entraves naturais para seres contingentes, finitos, limitados. Foi após seus sofrimentos que Jó assim falou a Deus: “Eu não te conhecia senão por ouvir falar de ti, mas agora meus olhos te veem” (Jó 42,5). Depois de deparar a figura do Salvador, será mais fácil imitar João Batista também na pobreza, na simplicidade e demais virtudes como resultado do Reencontro com o Filho de Deus no seu Natal. Outra diretriz do Precursor é “aplainar o caminho do Senhor”, comparando-se a uma voz que clamava no deserto. Quando se explora um deserto é preciso levar um roteiro, água e bússola. Na sua época, o Batista interpelava as pessoas porque elas estavam perdidas, andando sobre uma terra seca longe de Deus. Conduzia a todos para uma rota a mais segura, ou seja, Jesus Cristo. Hoje aplainar o caminho do Senhor significa seguir o caminho, ou seja, acompanhar Jesus através do deserto espiritual longe das insídias do mundo moderno. Devemos então saber onde encontrar a água viva que é o Filho de Deus, seguindo o roteiro proposto pela liturgia e tendo como bússola a Igreja. Devemos ser agradecidos a Deus pelo dom de seu Filho que nos guia neste mundo para saciar nossa sede do verdadeiro amor às verdades externas e para nos consolar por entre as vicissitudes terrenas. Trata-se de praticar com eficiência todas as virtudes que nos aproximam das realidades celestiais recordadas pelo Natal. Cumpre agradecer a Deus pela dádiva de seu Filho, nosso caminho neste mundo, fazendo uma salutar mortificação de tantas coisas das quais se deve privar para o bem próprio da saúde do corpo e da alma. João Batista deixou claro que ele não era Elias, aquele que deveria inaugurar o fim dos tempos; não era um profeta como Moisés, destinado a renovar os prodígios do Êxodo, do qual falou o Livro do Deuteronômio (Dt 18,15). São João Batista deixou patente que ele era, isto sim, como dizia o profeta Isaias a voz que ressoa no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor” (Is 0,3). Voz não de alguém que fascina e atrai os outros para si, mas uma voz inteiramente a serviço da mensagem que estaria sendo proclamada ao mundo pelo Redentor diante do qual deveria se ajoelhar todo aquele que, de fato, O procurasse conhecer. A exemplo de São João Batista todos os cristãos deveriam, portanto, por toda parte dar testemunho da Luz.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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