DAR TESTEMUNHO DA LUZ
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Notável São João Batista, por ter sido
ele o mensageiro que preparou o caminho do Salvador da humanidade (Jo 1,
6-8.10-28)). Ele deu testemunho da luz verdadeira que veio a este mundo. Tal deveria
ser, através dos tempos a missão do seguidor de Jesus. O Percursor foi um
personagem excepcional. Admirável sua fé profunda, sua irradiante humildade,
fiel até o fim a sua sublime missão. Personagem excepcional, o último dos
profetas. Trata-se de saber como bem viver este tempo do advento. Nada de um
planejamento artificial. O Batista foi claro: “No meio de vós se encontra um
que vós não conheceis: ele veio depois de mim e eu não sou digno de desatar-lhe
as correias das sandálias”. No contexto histórico
no qual esta sentença foi proferida, aqueles que vinham receber o batismo no Jordão
pelas mãos do Precursor de Jesus não O conheciam. Entretanto, João, o Evangelista
escreveu seu Evangelho 70 anos mais tarde e ele se dirigia a uma comunidade de
batizados que procuravam seguir a Cristo e discutiam as Escrituras. Esta frase
do Batista ressoava para eles de uma maneira surpreendente, como acontece em
nossos dias. Vale ainda hoje a assertiva de que no meio de nós está Aquele que
não conhecemos. No cerne desta afirmativa está o verbo conhecer que vem do
latim cum-nascere, ou seja, nascer com. Conhecer com alguém
é nascer com ele, num processo que exige muita humildade sobretudo no que diz a
Jesus, que foi em tudo manso e humilde de coração. Esta é uma condição
primordial para auferir as graças natalinas. É preciso se despojar de todos os
preconceitos pessoais e tomar em consequência resoluções imediatas, sem nenhuma
tergiversação. Apenas assim se pode estar totalmente à escuta das inúmeras inspirações
que vêm do Presépio. Escutar Jesus, crescer com Jesus, vivendo sempre com Ele.
Nada de presunções humanas, enquadrando o divino Redentor nos próprios moldes
mentais, negando a sublimidade de seu mistério, de seu ser profundo. É tudo
isto que o testemunho de São João Batista recorda, pois no meio de nós está
alguém que devemos conhecer. Cumpre, então, afastar todo orgulho, a exemplo do que
fizeram através dos tempos os grandes místicos. Deste modo o cristão não se
deixa abalar pelos imprevistos da vida, pelos percalços que costumam surgir,
entraves naturais para seres contingentes, finitos, limitados. Foi após seus
sofrimentos que Jó assim falou a Deus: “Eu não te conhecia senão por ouvir
falar de ti, mas agora meus olhos te veem” (Jó 42,5). Depois de deparar a
figura do Salvador, será mais fácil imitar João Batista também na pobreza, na
simplicidade e demais virtudes como resultado do Reencontro com o Filho de Deus
no seu Natal. Outra diretriz do Precursor é “aplainar o caminho do Senhor”,
comparando-se a uma voz que clamava no deserto. Quando se explora um deserto é
preciso levar um roteiro, água e bússola. Na sua época, o Batista interpelava as
pessoas porque elas estavam perdidas, andando sobre uma terra seca longe de
Deus. Conduzia a todos para uma rota a mais segura, ou seja, Jesus Cristo. Hoje
aplainar o caminho do Senhor significa seguir o caminho, ou seja, acompanhar
Jesus através do deserto espiritual longe das insídias do mundo moderno.
Devemos então saber onde encontrar a água viva que é o Filho de Deus, seguindo
o roteiro proposto pela liturgia e tendo como bússola a Igreja. Devemos ser
agradecidos a Deus pelo dom de seu Filho que nos guia neste mundo para saciar nossa
sede do verdadeiro amor às verdades externas e para nos consolar por entre as
vicissitudes terrenas. Trata-se de praticar com eficiência todas as virtudes
que nos aproximam das realidades celestiais recordadas pelo Natal. Cumpre agradecer
a Deus pela dádiva de seu Filho, nosso caminho neste mundo, fazendo uma salutar
mortificação de tantas coisas das quais se deve privar para o bem próprio da
saúde do corpo e da alma. João Batista deixou claro que ele não era Elias,
aquele que deveria inaugurar o fim dos tempos; não era um profeta como Moisés,
destinado a renovar os prodígios do Êxodo, do qual falou o Livro do
Deuteronômio (Dt 18,15). São João Batista deixou patente que ele era, isto sim,
como dizia o profeta Isaias a voz que ressoa no deserto: “Aplainai o caminho do
Senhor” (Is 0,3). Voz não de alguém que fascina e atrai os outros para si, mas
uma voz inteiramente a serviço da mensagem que estaria sendo proclamada ao
mundo pelo Redentor diante do qual deveria se ajoelhar todo aquele que, de
fato, O procurasse conhecer. A exemplo de São João Batista todos os cristãos
deveriam, portanto, por toda parte dar testemunho da Luz. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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