segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 

A FAMÍLIA DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após a apresentação de Jesus no templo de Jerusalém, diz São Lucas que Ele e seus pais voltaram para Nazaré, onde o Menino “crescia robusto, cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele” (Lc  l 22-40). Uma família santa, perfeita, normal em perpétua busca do equilíbrio. José e Maria custodiavam Aquele que era o “Messias do Senhor, luz das nações pagãs e gloria de Israel”.  Por sua encarnação Jesus escolheu a humanidade inteira como família. A Bíblia apresenta o tema da Aliança entre o céu e a terra, entre Deus e homem. Do Gênese ao Apocalipse, Ele se revela como um Pai que quer estender sua família trinitária   por toda a terra. Todos os seres humanos devem se considerar então irmãos e irmãs. Um ícone sublime desta verdade é, portanto, a Sagrada Família de Nazaré, a qual é uma referência, um modelo para as famílias de todos os tempos. Com efeito, nesta família nasce Jesus o santo de Deus e suas três pessoas tinham em comum, antes de tudo e sobre tudo, o amor divino, anteriores a suas relações afetivas recíprocas.  O mistério da Encarnação, cuja grandiosidade é meditada durante o tempo litúrgico do Natal mostra Jesus como o Filho de Deus, primogênito de uma multidão de irmãos. É assim o tipo da humanidade que acolhe Deus, mesmo porque a família não é um modelo meramente sociológico, mas deve ser um exemplar de inspiração e de imitação. José e Maria vivendo inteiramente em função de seu divino Filho, a mostrarem que primordial é o dever de educação dos Pais, que necessitam ser os educadores por excelência, de tal modo que sua progênie possa exercer plenamente seu papel no mundo em todos os aspectos. Eis porque a família é um lugar importantíssimo para o engrandecimento de toda a humanidade. José acolheu Jesus e Maria com uma fé profunda e assumia a responsabilidade de pai desta família, conformando sua vida não a seus projetos, mas aos desígnios de Deus, Maria em tudo que ocorria em seu derredor, de São José e de Jesus, guardava e meditava em seu coração, tendo absoluta confiança na providência divina. Belo exemplo de José e Maria que amavam Jesus não com seu próprio olhar, mas tentando captar o pensamento de Deus e, por isto, perscrutavam cuidadosamente como deveriam agir com relação a Jesus. A vida de uma família não está nunca já escrita, mas está sempre em construção e, por vezes, numa edificação dentro de um cotidiano, rude, difícil, imprevisível. Aí porque a sabedoria e a dedicação dos pais e a compreensão dos filhos é imprescindível. A solenidade da Sagrada Família vem lembrar que a missão dos pais e dos filhos não é algo fácil e que, com exceção da Sagrada Família de Nazaré não há família perfeita. Assim sendo cumpre reconhecer em cada membro de nossas famílias pessoas que devem ser amadas, respeitadas, acompanhadas, orientadas. Jesus, Maria e José souberam discernir e aceitar os planos divinos e, apesar das tribulações que enfrentaram, cumpriram sua nobre missão. Por tudo isto, não se trata de idealizar todas as famílias, porque sempre aparecem as rupturas, as dores, e até as violências familiares, sobretudo num mundo tão turbulento como o atual. O que cabe ao cristão é minimizar todos os males que atacam a estrutura familiar tudo fazendo para que brilhe por toda parte os reflexos da grandeza da família de Jesus. Não querer nunca enquadrar os outros em moldes individuais, mas acolher o outro não como o queremos que seja, mas tal como ele é, fazendo sempre com perspicácia os ajustes necessários, pois só Deus é perfeito A vida conjugal e familiar é um dos lugares fortes da existência na qual se estuda a maneira de aceitar a realidade assim como ela é e não como a queremos que seja. Na tradição cristã a família é a primeira célula da Igreja, ou Igreja em miniatura. Na família se aprende respeitar os pais e estes a acatar e amar os filhos; os jovens a amar os anciãos e estes a ajudar os moços. A família é uma escola de perdão e de partilha; de abertura para os outros, de compreensão mútua. Da família de Nazaré saiu o Redentor da humanidade, nas famílias cristãs se formam missionários, devotados apóstolos, mesmo porque os pais devem ser os primeiros catequistas dos filhos. O mundo será, de fato, feliz quando os pais, como acentua belíssimo cântico, se assemelharem plenamente a José, as mães a Maria e os filhos a Jesus! E fica, então, a pergunta: “Será porque   mundo não consegue entender o que se deu em Nazaré?  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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