segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

 

01 “MARIA GUARDAVA TODAS ESTAS COISAS E SOBRE ELAS REFLETIA EM SEU

                                   CORAÇÃO” (Lc 2,17)

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na primeira sexta-feira do ano de 2021 unidos à Santa Mãe de Deus, Maria, muitos fazem mais uma comunhão reparadora ao Coração de Jesus, e todos começamos a caminhada através de um Ano Novo. A narrativa do Evangelho sobre a ida dos pastores ao Presépio ressalta a importância da Virgem Maria, Mãe de Jesus, a qual refletia no seu coração sobre os fatos maravilhosos que se davam em derredor de seu divino filho recém-nascido (Lc l2, 16,21). Contempla-se então uma fé confiante. É justamente após a comunicação do anjo de que um Salvador lhes nascera, o Cristo Senhor, é que os pastores se puseram apressadamente a caminho até o presépio. Contemplaram no anjo o mensageiro de Deus e nele creram. Isto se deu   porque havia neles uma abertura sobrenatural que lhes permitia acolher aquilo que jamais eles teriam imaginado, ou seja, um Redentor viera a este mundo. Isto na verdade tinha ocorrido na cidade de Davi bem próximo deles. Sabiam perfeitamente que para Deus nada é impossível, mesmo o inimaginável. Deste modo no raiar de um Ano Novo estes pastores nos ajudam a perseverar em uma absoluta confiança em Deus, bem como Maria, cujo sim dado ao anjo da Anunciação trouxera ao mundo o eterno amor, o filho de Deus, e cujo manto sagrado cobriria de luz os que dessem idêntica adesão às mensagens divinas. Maria, como como ressaltou São Lucas, guardava todas estas coisas e sobre elas refletia em seu coração. Durante todo o amo de 2021 cumpre fazer a experiência do Salvador em nossas vidas. Os pastores se puseram em marcha até onde se achava Menino. Não basta confiar, é preciso agir de acordo com esta confiança e esta fé. Como bem lembra célebre ditado: “Ajuda-te que o céu te ajudará”. É preciso fazer a experiência deste Salvador na própria existência. Os pastores foram ao encontro de Menino Deus e encorajam os fiéis a irem sempre à procura de Jesus, Maria e José, deles nunca se afastando e junto deles encontrando as graças divinas.  Por que vivia imersa nestas realidades celestiais, analisando-as em seu coração, Maria irradiava por toda parte os esplendores divinos. Eis porque então depois de encontrarem Jesus, os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido. Isto a nos convidar a passar este novo Ano numa fé confiante e ardente, fazendo de cada dia uma realidade marcada pelo louvor divino, Uma vida bela, santa e luminosa. A cada hora deparando motivos de uma sincera e vibrante glorificação à divindade, corações imersos na luminosidade do Menino Deus salvador, vivendo em plenitude aa experiência da salvação na qual estava mergulhada Maria. Total disponibilidade interior numa disposição contínua, recolhida, humilde e atenta. Então estaremos aptos a implorar a paz e misericórdia de Deus para o mundo tão conturbado no qual se vive no presente contexto histórico, e haveremos de tornar isto uma faustosa realidade. É de se notar que os pastores não se deixaram envolver por grandes questões filosóficas ou teológicas, mas simplesmente acolheram as mensagens celestiais, aproximando-se daquela que era a cheia de graças junto da qual depararam o divino Redentor. Àquele menino, como registrou ainda São Lucas, completados os oito dias para sua circuncisão, lhe foi posto o nome de Jesus como lhe tinha sido dado pelo anjo antes que nascesse. A exemplo de Maria, José e os pastores saibamos acolher plenamente a palavra de Deus, vivendo-a profundamente em todo o decorrer de 2021 sempre maleáveis à ação do influxo divino.   Lembremo-nos sempre que a fé, a  esperança e a caridade são os anjos que indicam o crepúsculo   seguido duma aurora sempre rósea e ridente.  Estas virtudes não são negada a dor alguma, não recusam pousar no leito de qualquer que seja o doente, de acariciar com sua asa benéfica a fronte de todo aquele que se sentir infeliz com as provações que por certo virão durante 2021. Com a graça divina todas as tribulações poderão ser vencidas.  Grande feitos poderão marcar este Ano Novo. Lembremo-nos de que a vida do autêntico cristão não deve ser um campo imenso, mas deserto; uma árvore grande, mas infrutífera; um dia longo de inverno, mas sem sol. A exemplo de Maria, guardemos todas estas verdades e sobre elas reflitamos em nossos corações. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

01 OFERECERAM OURO, INCENSO E MIRRA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O trecho do Evangelho de São Mateus que narra a adoração dos magos (Mat 2,12) apresenta, além do personagem central que é Jesus, um outro rei que é Herodes, o cruel, cioso ao extremo de seu poder. Ele ficará extremamente agitado ao lhe perguntarem sobre “o rei dos Judeus que acaba de nascer”. Os magos, com efeito tinham vindo para adorar o soberano universal. Eram pagãos que se apresentaram em Jerusalém à procura do senhor dos Judeus. Ao lhes dizerem que em Belém da Judeia que era o local em que isto se daria logo para lá se dirigiram Entram na casa onde o menino Deus se achava com seus pais Maria e José. Como bem observou o sábio teólogo Jean-Christian  Lévêque, eles foram os primeiros entre seus irmãos de todos os tempos que vão às Igrejas para aí encontrar o Salvador universal. A partir deste encontro com Jesus, os Magos se tornam homens de fé, rompendo definitivamente com Herodes. Deus lhes indica um caminho de volta guiados não mais por um astro, mas lhes comunica em sonho para estarem longe dos caminhos herodianos. Rebrilha a teologia da salvação valorizando este precioso texto. Os Magos, vindos do Oriente eram sábios, persas ou babilônios, provavelmente astrônomos que talvez tenham podido ter contato com o messianismo israelita nas joalherias judias da Babilônia ainda florescentes na época. Através deles o mundo da ciência se colocou em marcha para o Redentor, Cristo-Messias. É o universo dos pagãos que se voltava para a luz do Evangelho. NNão se sabe se eram três, a não ser o número dos presentes e, é certo, que não eram reis, como aliás não o afirmaria a tradição cristã antes do Livro aramaico da infância, datado do VI século. No que diz respeito à estrela,  o essencial, que aliás o texto sublinha, é que aqueles sábios viram nela um sinal e, de acordo com a tradição dos judeus que considerava o Astro  da tribo de Jacob como um dos símbolos do Messias esperado: ”Eu o vejo, mas não por agora, eu o contemplo mas não de perto: um astro saiu de Jacob e um cetro  surgiu de Israel( Nm 24,17, oráculo de Balaão) Já os teólogos da Idade Média, no seu sólido bom senso tinham notado que não se  tratava de um corpo celeste ordinário, dado que seu brilho era intermitente e seu movimento descontíuo.O certo é que a mensagem messiânica de todo o episódio é sublinhado pelo texto do profeta Miquéias que os escribas citam logo a Herodes: “E tu Belém terra de Judá, tu não és certamente a menor  das cidades da  judéias, porque de ti sairá  um chefe que apascentará o meu povo de Israel” (Mic 5,1)”. Ao prosseguir a leitura da profecia de Miquéias chega-se ao presépio e aos confins do mundo: “Eis por que eles serão abandonados até o tempo em que dará à luz aquela que deve conceber, e o resto de seus irmãos voltará para os filhos de Israel (os exilados voltarão ao país). Ele permanecerá firme e governará com a força do Senhor, eles serão estáveis, quando ele crescer até os confins da terra e é Ele que será a paz”. Portanto para São Mateus, a   chegada dos Magos a Belém marca o cumprimento das promessas da antiga aliança. Os Magos ao chegarem não viram senão um menino, mas o Evangelista, pela sua narrativa tão clara e tão incisiva, lembra a seus leitores o que a fé deve contemplar naquela criança, ou seja, o Pastor do povo de Deus, o único guia para a salvação do gênero humano, o rei da paz e da autêntica felicidade. São Mateus faz entrever também o destino de Cristo que seria sempre sinal de contradição, marcado pelo drama da descrença. Herodes não pensava senão no poder terreno, cogitando apenas em cidades deste mundo. Os escribas conheciam a fundo as Escrituras.sabiam de cor as profecias messiânicas, mas não agiram em consequência  ao que elas anunciavam sobre estas verdades atinentes ao Messias. Segundo São Mateus, os Magos, estrangeiros vindos de longe, adoraram o Menino e lhe ofereceram seus presentes ouro, incenso e mirra nele reconhecendo o Senhor dos senhores apesar da pobreza que o rodeava. Reconheceram a manifestação de Deus ao mundo para a salvação não só de Israel, mas de todos os povos. Ofereceram-lhe seus dons. A Jesus devemos oferecer o ouro de nosso mais sincero amor, o incenso do mais ardente louvor e o sacrifício continuo de cada instante de nossa vida. Uma entrega sem reserva a quem tanto nos amou e se fez um de nós. Sigamos, porém, o conselho de São João Crisóstomo, isto é, antes de nos prostramos ante o Menino Deus, retiremos de nós todas as nossas misérias para que nossa adoração seja inteiramente agradável a Ele. Fraquezas e limitações assumidas com humildade, bens e riquezas, talentos e qualidades, tudo, porém, sendo colocado ao serviço de Deus e dos irmão e irmãs. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 

A FAMÍLIA DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após a apresentação de Jesus no templo de Jerusalém, diz São Lucas que Ele e seus pais voltaram para Nazaré, onde o Menino “crescia robusto, cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele” (Lc  l 22-40). Uma família santa, perfeita, normal em perpétua busca do equilíbrio. José e Maria custodiavam Aquele que era o “Messias do Senhor, luz das nações pagãs e gloria de Israel”.  Por sua encarnação Jesus escolheu a humanidade inteira como família. A Bíblia apresenta o tema da Aliança entre o céu e a terra, entre Deus e homem. Do Gênese ao Apocalipse, Ele se revela como um Pai que quer estender sua família trinitária   por toda a terra. Todos os seres humanos devem se considerar então irmãos e irmãs. Um ícone sublime desta verdade é, portanto, a Sagrada Família de Nazaré, a qual é uma referência, um modelo para as famílias de todos os tempos. Com efeito, nesta família nasce Jesus o santo de Deus e suas três pessoas tinham em comum, antes de tudo e sobre tudo, o amor divino, anteriores a suas relações afetivas recíprocas.  O mistério da Encarnação, cuja grandiosidade é meditada durante o tempo litúrgico do Natal mostra Jesus como o Filho de Deus, primogênito de uma multidão de irmãos. É assim o tipo da humanidade que acolhe Deus, mesmo porque a família não é um modelo meramente sociológico, mas deve ser um exemplar de inspiração e de imitação. José e Maria vivendo inteiramente em função de seu divino Filho, a mostrarem que primordial é o dever de educação dos Pais, que necessitam ser os educadores por excelência, de tal modo que sua progênie possa exercer plenamente seu papel no mundo em todos os aspectos. Eis porque a família é um lugar importantíssimo para o engrandecimento de toda a humanidade. José acolheu Jesus e Maria com uma fé profunda e assumia a responsabilidade de pai desta família, conformando sua vida não a seus projetos, mas aos desígnios de Deus, Maria em tudo que ocorria em seu derredor, de São José e de Jesus, guardava e meditava em seu coração, tendo absoluta confiança na providência divina. Belo exemplo de José e Maria que amavam Jesus não com seu próprio olhar, mas tentando captar o pensamento de Deus e, por isto, perscrutavam cuidadosamente como deveriam agir com relação a Jesus. A vida de uma família não está nunca já escrita, mas está sempre em construção e, por vezes, numa edificação dentro de um cotidiano, rude, difícil, imprevisível. Aí porque a sabedoria e a dedicação dos pais e a compreensão dos filhos é imprescindível. A solenidade da Sagrada Família vem lembrar que a missão dos pais e dos filhos não é algo fácil e que, com exceção da Sagrada Família de Nazaré não há família perfeita. Assim sendo cumpre reconhecer em cada membro de nossas famílias pessoas que devem ser amadas, respeitadas, acompanhadas, orientadas. Jesus, Maria e José souberam discernir e aceitar os planos divinos e, apesar das tribulações que enfrentaram, cumpriram sua nobre missão. Por tudo isto, não se trata de idealizar todas as famílias, porque sempre aparecem as rupturas, as dores, e até as violências familiares, sobretudo num mundo tão turbulento como o atual. O que cabe ao cristão é minimizar todos os males que atacam a estrutura familiar tudo fazendo para que brilhe por toda parte os reflexos da grandeza da família de Jesus. Não querer nunca enquadrar os outros em moldes individuais, mas acolher o outro não como o queremos que seja, mas tal como ele é, fazendo sempre com perspicácia os ajustes necessários, pois só Deus é perfeito A vida conjugal e familiar é um dos lugares fortes da existência na qual se estuda a maneira de aceitar a realidade assim como ela é e não como a queremos que seja. Na tradição cristã a família é a primeira célula da Igreja, ou Igreja em miniatura. Na família se aprende respeitar os pais e estes a acatar e amar os filhos; os jovens a amar os anciãos e estes a ajudar os moços. A família é uma escola de perdão e de partilha; de abertura para os outros, de compreensão mútua. Da família de Nazaré saiu o Redentor da humanidade, nas famílias cristãs se formam missionários, devotados apóstolos, mesmo porque os pais devem ser os primeiros catequistas dos filhos. O mundo será, de fato, feliz quando os pais, como acentua belíssimo cântico, se assemelharem plenamente a José, as mães a Maria e os filhos a Jesus! E fica, então, a pergunta: “Será porque   mundo não consegue entender o que se deu em Nazaré?  Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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domingo, 13 de dezembro de 2020

 

MARIA, CHEIA DE GRAÇA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Neste quarto domingo do Advento é recordado o grande mistério do anúncio do nascimento de Jesus (Lc 126-38). Esta verdade ficou em silêncio até então e, segundo o relato de São Lucas, foi nesta ocasião solenemente manifestado. A obra da salvação do mundo desejada por Deus ia se realizar através de um intercâmbio entre o céu e a terra onde se achava uma santa jovem judia, chamada Maria. Esta foi saudada pelo Arcanjo Gabriel como a “cheia de graça”. Admirável iniciativa do Criador, mas este, na sua delicadeza infinita, desejou o consentimento daquela que fora predestinada a ser a progenitora do Redentor. A sublime escolha se tornou assim conhecida através de um mensageiro para tal designado.  Dada a anuência de Maria, ela se torna objeto de especial misericórdia do Todo-poderoso. Realiza-se a promessa feita um dia a Davi através do profeta Natã no célebre vaticínio messiânico. Cumulando Maria de graças, o Ser Supremo preparou uma morada digna para si. Quer o Anjo, quer Maria, ficaram maravilhados perante este acontecimento. Gabriel deslumbrado com a beleza daquela que era a escolhida entre todas as mulheres. Maria, por seu turno, enlevada pelo fato de ter sido elegida para tão sublime missão de ser a Mãe do Salvador. Comovida, ela reflete, mas não é precipitada e pede explicação ao Anjo de como isto se daria. Aquele era um instante de respeitoso temor ante os insondáveis desígnios divinos e, ao mesmo tempo, de fascínio ante os planos da eterna Sabedoria. Aí está a razão pela qual o mensageiro do céu explica que tudo seria obra do Espírito Santo e que para Deus nada é impossível. Fulge então a adesão confiante e humilde daquela que sempre esteve unida a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. A promessa anterior de casamento dada a José em nada era infligida, mas serviria para guardar o segredo do projeto salvífico de Deus até o ulterior esclarecimento dado por Deus a José que seria o pai de Jesus perante a Lei. Como registrou São Mateus, «eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados'.  José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua casa sua mulher», Por sua parte Maria, aderindo à obra  de Cristo, oferecia também exemplos extraordinários de colaboração aos intentos do Ser Supremo a cuja vontade deve em tudo estar submisso o ser humano, que precisa estar sempre atento às inspirações celestiais. Muitas vezes se considera Maria como uma mulher fora do comum. Mas ela era sobretudo alguém que estava engajado no serviço de Deus, a Ele ininterruptamente obediente numa liberdade responsável, entrega sem limites. Nela se deve contemplar ainda sua simplicidade e uma confiança admirável, numa oferta pessoal de si mesma sem reservas, total disponibilidade para seguir as determinações do Onipotente. Como Maria, quem tem fé diz simplesmente a Ele:” Eis-me aqui, Senhor!”.  Embora enorme seja a diferença entre a grandeza espiritual da Mãe de Jesus e cada um dos cristãos, reflexos da elevação daquela que é também a mãe dos discípulos do Redentor devem fulgir constantemente na existência de quem se diz seguidor de Cristo. Próximos do Natal esta reflexão sobre a Anunciação de Maria solicita muita atenção, interpelando para que se faça um exame de como tem sido a preparação para a magna comemoração do dia 25 próximo. Jesus mostrar-se-á verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Cumpre agradecer muito a Deus que revelou verdade tão extraordinária. Estupefatos pelo enorme amor do Todo-poderoso Senhor é preciso corresponder a tanta generosidade. Trata-se também de receber com gratidão o perdão que o divino Redentor trás do céu à terra, se imergindo na esperança da conquista da felicidade eterna Ressoa forte o apelo de se levar por toda parte a paz e cultivar um absoluto desapego ao que é transitório neste mundo. É o já viver nesta terra instantes da eternidade, mesmo porque o cristão deve sempre se sentir um bem-amado do Pai. Por tudo isto necessário de faz viver sob a égide de Maria, a cheia de graças que garante a vivência de tão excelsas realidades. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 

DAR TESTEMUNHO DA LUZ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notável São João Batista, por ter sido ele o mensageiro que preparou o caminho do Salvador da humanidade (Jo 1, 6-8.10-28)). Ele deu testemunho da luz verdadeira que veio a este mundo. Tal deveria ser, através dos tempos a missão do seguidor de Jesus. O Percursor foi um personagem excepcional. Admirável sua fé profunda, sua irradiante humildade, fiel até o fim a sua sublime missão. Personagem excepcional, o último dos profetas. Trata-se de saber como bem viver este tempo do advento. Nada de um planejamento artificial. O Batista foi claro: “No meio de vós se encontra um que vós não conheceis: ele veio depois de mim e eu não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”.  No contexto histórico no qual esta sentença foi proferida, aqueles que vinham receber o batismo no Jordão pelas mãos do Precursor de Jesus não O conheciam. Entretanto, João, o Evangelista escreveu seu Evangelho 70 anos mais tarde e ele se dirigia a uma comunidade de batizados que procuravam seguir a Cristo e discutiam as Escrituras. Esta frase do Batista ressoava para eles de uma maneira surpreendente, como acontece em nossos dias. Vale ainda hoje a assertiva de que no meio de nós está Aquele que não conhecemos. No cerne desta afirmativa está o verbo conhecer que vem do latim cum-nascere, ou seja, nascer com. Conhecer com alguém é nascer com ele, num processo que exige muita humildade sobretudo no que diz a Jesus, que foi em tudo manso e humilde de coração. Esta é uma condição primordial para auferir as graças natalinas. É preciso se despojar de todos os preconceitos pessoais e tomar em consequência resoluções imediatas, sem nenhuma tergiversação. Apenas assim se pode estar totalmente à escuta das inúmeras inspirações que vêm do Presépio. Escutar Jesus, crescer com Jesus, vivendo sempre com Ele. Nada de presunções humanas, enquadrando o divino Redentor nos próprios moldes mentais, negando a sublimidade de seu mistério, de seu ser profundo. É tudo isto que o testemunho de São João Batista recorda, pois no meio de nós está alguém que devemos conhecer. Cumpre, então, afastar todo orgulho, a exemplo do que fizeram através dos tempos os grandes místicos. Deste modo o cristão não se deixa abalar pelos imprevistos da vida, pelos percalços que costumam surgir, entraves naturais para seres contingentes, finitos, limitados. Foi após seus sofrimentos que Jó assim falou a Deus: “Eu não te conhecia senão por ouvir falar de ti, mas agora meus olhos te veem” (Jó 42,5). Depois de deparar a figura do Salvador, será mais fácil imitar João Batista também na pobreza, na simplicidade e demais virtudes como resultado do Reencontro com o Filho de Deus no seu Natal. Outra diretriz do Precursor é “aplainar o caminho do Senhor”, comparando-se a uma voz que clamava no deserto. Quando se explora um deserto é preciso levar um roteiro, água e bússola. Na sua época, o Batista interpelava as pessoas porque elas estavam perdidas, andando sobre uma terra seca longe de Deus. Conduzia a todos para uma rota a mais segura, ou seja, Jesus Cristo. Hoje aplainar o caminho do Senhor significa seguir o caminho, ou seja, acompanhar Jesus através do deserto espiritual longe das insídias do mundo moderno. Devemos então saber onde encontrar a água viva que é o Filho de Deus, seguindo o roteiro proposto pela liturgia e tendo como bússola a Igreja. Devemos ser agradecidos a Deus pelo dom de seu Filho que nos guia neste mundo para saciar nossa sede do verdadeiro amor às verdades externas e para nos consolar por entre as vicissitudes terrenas. Trata-se de praticar com eficiência todas as virtudes que nos aproximam das realidades celestiais recordadas pelo Natal. Cumpre agradecer a Deus pela dádiva de seu Filho, nosso caminho neste mundo, fazendo uma salutar mortificação de tantas coisas das quais se deve privar para o bem próprio da saúde do corpo e da alma. João Batista deixou claro que ele não era Elias, aquele que deveria inaugurar o fim dos tempos; não era um profeta como Moisés, destinado a renovar os prodígios do Êxodo, do qual falou o Livro do Deuteronômio (Dt 18,15). São João Batista deixou patente que ele era, isto sim, como dizia o profeta Isaias a voz que ressoa no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor” (Is 0,3). Voz não de alguém que fascina e atrai os outros para si, mas uma voz inteiramente a serviço da mensagem que estaria sendo proclamada ao mundo pelo Redentor diante do qual deveria se ajoelhar todo aquele que, de fato, O procurasse conhecer. A exemplo de São João Batista todos os cristãos deveriam, portanto, por toda parte dar testemunho da Luz.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.