PERDOAR SEMPRE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
1.
O Apóstolo Pedro
fez a Jesus uma indagação concreta: “Senhor, se meu irmão pecar contra mim,
quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes”? (Mt 18,21-35). O Mestre divino
respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete, ou seja,
indefinidamente. Tratava-se de uma falta cometida por uma pessoa próxima e não
de uma reconciliação numa situação comunitária. Referia-se a um fato concreto, pessoal. Era uma questão não teórica, mas um fato real,
causado por alguém próximo do ofendido As faltas e os pecados das pessoas com
as quais se tem maior ligação, as quais mais se amam, ferem muito mais do que
as injúrias e ofensas em geral recebidas no dia a dia. Neste caso é mais
difícil administrar o ressentimento. Trata-se então de uma relação mais íntima que
ficou conturbada. O apóstolo Pedro acrescentou algo na sua interrogação, ou
seja, quantas vezes neste caso se deveria perdoar. Jesus respondeu de uma
maneira definitiva, dizendo que não há limites, pois deve-se perdoar sempre. O
fundamento deste limite ao perdão Jesus o justifica de maneira indireta narrando
a parábola do servo sem misericórdia. Contrastante a atitude do rei que perdoa
quem lhe devia uma alta quantia e a perversa atitude de quem fora perdoado
pequena soma com relação ao companheiro que pouco lhe devia, encarcerando-o até
que pagasse o que devia. Ao tomar conhecimento desta ímpia atitude o
senhor recriminou esta ímpia maneira de agir e o
entregou aos algozes até que pagasse tudo. Jesus lançou então seu notável ensinamento:
“Assim vos fará também o meu Pai celeste se não vos perdoardes de coração um ao
outro”. Deste modo, como Deus perdoa sempre a cada um suas
faltas, do mesmo modo, devemos anistiar o próximo Aquele que recusa perdoar o
outro sai do universo do perdão sem limites de Deus. É a consciência do perdão
recebido que torna o pecador arrependido capaz de perdoar também o ofensor. Um
cristão não pode se dizer discípulo de Jesus se não pratica o perdão à maneira
de Deus. Raiva, cólera, furor, ira, eis aí atitudes abomináveis nas quais
muitos de obstinam. É após perdoar o irmão ou a irmã pelo mal que fizeram é que
se deve suplicar a Deus a clemência, reconhecendo que não há proporção alguma
entre o mal praticado pelo próximo e a injúria feita ao Senhor Todo-poderoso.
Donde a sublimidade do verdadeiro indulto, pois este será sempre uma atitude
humana, superficial, uma sombra diante da absolvição divina. Portanto, perdoar
é ir além de tudo que é do homem, ultrapassando a miséria da estreiteza de um
ser limitado, imitando a imensidão da generosidade do Criador. Deste modo o
homem vai além de si mesmo e passa a realizar o que está na oração que Jesus
nos ensinou: “Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”,
portanto, em qualquer circunstância. Um perdão constante, perfeito, sem limites,
sempre repetido. Isto é possível se a graça de Deus acompanha sem cessar o
verdadeiro discípulo de Jesus, Deve-se então concluir que o perdão é uma
atitude vital, na existência cotidiana do cristão. Trata-se de um dos pilares
da perfeição cristã. É algo essencial para o verdadeiro discípulo de Cristo. É a
mais bela e sublime atitude oferecida pelo Evangelho. Trata-se do tesouro do cristianismo.
É um imperativo ao qual nunca se deve eximir quem se diz seguidor doo Filho de
Deus. Nem se deve esquecer que a misericórdia e o perdão levam a uma notável
capacidade de amadurecimento pessoal. Quando uma pessoa perdoa, ela amadurece e
se aperfeiçoa psicológica e espiritualmente. Na medida que alguém guarda rancor,
ira, sua vida espiritual e psicológica fica enormemente debilitada. O perdão é
o meio necessário para se atingir a paz do coração. Isto implica o abandono do
ressentimento e do rancor para com quem nos ofendeu, a renúncia a qualquer tipo
de vingança; o esforço para responder o ofensor com bondade, generosidade e
amor; rezando por todos os que nos tenham feito algum mal. Jesus quis mostrar
que o amor de Deus deve ser imitado e é sem limites. São Pedro queria uma limitação no gesto do
perdão, quando não há cálculos mesquinhos a fazer. Os grandes santos ao se
imergirem no braseiro ardente do Coração de Jesus aprenderam dele a amar
plenamente, fazendo a experiência luminosa da infinita dileção do Mestre divino.
Saibamos multiplicar o perdão e estaremos dando provas de que estamos sempre
imitando o Coração de Jesus que é um abismo de amor. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
2.
SOBRE A SANTA MISSA NO TENPO DA PANDEMIA
3.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
4. Com
relação a esta indagação "como nos preparar e portar para missa
virtualmente e se a participação só é válida se acompanhada em tempo real”,
cumpre, de fato, fazer uma distinção
5.
O Catecismo da Igreja Católica no §1372 mostra como Santo Agostinho resumiu admiravelmente a doutrina que
nos incita a uma participação cada vez mais completa no sacrifício de nosso Redentor,
que celebramos na Eucaristia: “Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembleia
e a sociedade dos santos, é oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo
Sumo Sacerdote que, sob a forma de escravo, chegou a ponto de oferecer-se por
nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão grande. (...)
Este é o sacrifício dos cristãos: "Em muitos, ser um só corpo em
Cristo" (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo
no sacramento do altar bem conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que
oferece, se oferece a si mesma” Portanto, qualquer modo como se participa da
Santa Missa deve ser feito com a máxima fé numa postura digna do mais
importante dos exercícios de piedade.
6. É óbvio que a Missa transmitida pelos meios de comunicação social é
válida, embora para o cumprimento do preceito da Missa dominical ou dos dias
santos de guarda haja necessidade da presença do fiel na mesma. São dois aspectos diferentes. Embora o
sacrifício do Redentor tenha valor infinito, a capacidade receptora do fiel é
limitada e varia conforme o seu grau de fervor. Deste modo, a cada Missa que
participa, mais fervores celestes ele usufrui. Sendo a Missa o melhor culto a
Deus e a renovação mística do Calvário, ela é a manifestação máxima do louvor à
divindade.
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