OS OPERÁRIOS DA VINHA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalh*
É bastante intrigante a
parábola dos trabalhadores da vinha, por muitos exegetas denominada os operários da undécima hora (Mt 20,
1-16). Com efeito, o lógico seria, à primeira vista, trabalhar mais para ganhar
mais e foi o que reclamaram aqueles que foram contratados pela manhã e, no
entanto, receberam o mesmo que os obreiros que trabalharam menos tempo. Aos
primeiros o proprietário fixa um dinheiro por dia. Aos seguintes, ele diz
simplesmente: “Eu vos darei o que é justo”. Aos últimos ele lhes propõe o
trabalho, mas não lhes promete nada, pois deviam simplesmente confiar no
contratante.É preciso, porém, penetrar o significado desta narrativa assim
pormenorizada por Jesus. Deve-se ver inicialmente nesta parábola a ilustração
de uma situação que se vivia no tempo de Jesus e era destinada, inicialmente,
aos judeus. Foram, porém, os gentios os
que a abraçaram, enquanto que o povo judeu no seu conjunto recusava recebê-la. Entretanto,
a mensagem evangélica consistia na realização das promessas seculares das quais
era Israel o povo depositário. Os últimos passavam a primeiros e os primeiros a
ultimos beneficiários do Reino. É de se notar que a reclamação dos
trabalhadores não foi quanto a ordem do pagamento, ou seja, os últimos
recebendo primeiro, mas quanto a desigualdade da quantia que foi paga. É que
Jesus queria chamar a atenção sobre o apelo feito a Israel que devia
preparar-se para receber o dom supremo anunciado ´pelo Evangelho e isto não
aconteceu. Este foi o momento em que Israel perdeu seu primeiro lugar. Quando
Jesus pregava a Boa Nova a situação tinha por parte dos judeus inteiramente
mudado, como aliás várias vezes o divino Mestre salientou na sua pregação. Isto
ficava claro na maneira como Ele se dirigia aos mestres da Lei. O cerne,
portanto, da parábola era ser desigual o salário diante de serviços tão desiguais.
Ter conhecido Jesus durante sua existência terrestre foi sem utilidade para os
que se haviam tornado “artesãos da iniquidade”. Jesus deixará patente esta
explicação: “Não é aquele que me diz Senhor, Senhor que entrará no Reino céus,
mas sim o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Eis aí a grande
lição desta narrativa. Isso bem
sintetizado também nesta sentença lapidar do Evangelho de hoje: “Os últimos
serão os primeiros e os primeiros os últimos”. A pregação de Jesus não seria
bem entendida por aqueles que estivessem dominados por preconceitos e paixões. Os
corações deveriam sempre estar abertos para receber as mensagens divinas. A
advertência de Deus foi clara “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e
nem os meus caminhos são os vossos caminhos” (Is. 55,8). É preciso ter o
coração aberto para receber as surpresas de Deus. Nem sempre o ser humano
compreenderá, de imediato, a lógica da ação divina. Na sua perplexidade falta
muitas vezes por parte dos seguidores de Cristo a humildade para se adequar à
vontade do Senhor de tudo. Seja como for, esta parábola dos operários da vinha
mostra a essência do pensamento de Jesus sobre a salvaçáo dos que não
pertenciam ao povo judeu. Como foi dito,
fica bem claro que o contrato do trabalho e seu pagamento não infligiram a estrita
justiça. Nem mesmo esta estrita justiça foi violada pelo fato do contratante da
parábola ter mostrado liberalidade para oom os chamados por último. Ele tinha
todo o direito de fazer o que ele quisesse
com o que lhe pertencia, como habilmente se defendeu o dono da vinha. Sua
liberalidade o levou além do que ele devia pagar aos últimos contratados. Eis
aí a grande mensagem desta parábola: Deus é justo, é misericordioso, nele nós
podemos sempre inteiramente confiar! E
assim que Deus age porque Ele é bom e ama suas criaturas que nele confiam. É assim que Deus age, porque sua
benevolência nâo se opõe à sua justiça, mas a ultrapassa. Jesus mostra que Deus ostenta sua ternura perante a
miséria humana. Davi então já aconselhava proclamar agradecimentos ao Senhor de
tudo: “Dai graças a Deus, pois eterno é o seu amor” (Sl 107,1) Ele é um Deus de
desvelo, lento em irar-se e rico em bondade e fidelidade. Felizes os que nele esperam,
pois Ele terá piedade deles como se expressou o profeta Isaias (Is 30,18). Sua
ternura é sem limites: “Eterna é a sua misericórdia” (Sl 136). É isto que Jesus
quis inculcar através da parábola dos operários da vinha. Nele, portanto,
confiemos sempre, porque Ele é o Sumo Sacerdote poderoso e misericordioso (Hb
2,17) * Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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