segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

OS OPERÁRIOS DA VINHA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalh*

É bastante intrigante a parábola dos trabalhadores da vinha, por muitos exegetas denominada os operários da undécima hora (Mt 20, 1-16). Com efeito, o lógico seria, à primeira vista, trabalhar mais para ganhar mais e foi o que reclamaram aqueles que foram contratados pela manhã e, no entanto, receberam o mesmo que os obreiros que trabalharam menos tempo. Aos primeiros o proprietário fixa um dinheiro por dia. Aos seguintes, ele diz simplesmente: “Eu vos darei o que é justo”. Aos últimos ele lhes propõe o trabalho, mas não lhes promete nada, pois deviam simplesmente confiar no contratante.É preciso, porém, penetrar o significado desta narrativa assim pormenorizada por Jesus. Deve-se ver inicialmente nesta parábola a ilustração de uma situação que se vivia no tempo de Jesus e era destinada, inicialmente, aos judeus.  Foram, porém, os gentios os que a abraçaram, enquanto que o povo judeu no seu conjunto recusava recebê-la. Entretanto, a mensagem evangélica consistia na realização das promessas seculares das quais era Israel o povo depositário. Os últimos passavam a primeiros e os primeiros a ultimos beneficiários do Reino. É de se notar que a reclamação dos trabalhadores não foi quanto a ordem do pagamento, ou seja, os últimos recebendo primeiro, mas quanto a desigualdade da quantia que foi paga. É que Jesus queria chamar a atenção sobre o apelo feito a Israel que devia preparar-se para receber o dom supremo anunciado ´pelo Evangelho e isto não aconteceu. Este foi o momento em que Israel perdeu seu primeiro lugar. Quando Jesus pregava a Boa Nova a situação tinha por parte dos judeus inteiramente mudado, como aliás várias vezes o divino Mestre salientou na sua pregação. Isto ficava claro na maneira como Ele se dirigia aos mestres da Lei. O cerne, portanto, da parábola era ser desigual o salário diante de serviços tão desiguais. Ter conhecido Jesus durante sua existência terrestre foi sem utilidade para os que se haviam tornado “artesãos da iniquidade”. Jesus deixará patente esta explicação: “Não é aquele que me diz Senhor, Senhor que entrará no Reino céus, mas sim o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Eis aí a grande lição desta narrativa.  Isso bem sintetizado também nesta sentença lapidar do Evangelho de hoje: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos”. A pregação de Jesus não seria bem entendida por aqueles que estivessem dominados por preconceitos e paixões. Os corações deveriam sempre estar abertos para receber as mensagens divinas. A advertência de Deus foi clara “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e nem os meus caminhos são os vossos caminhos” (Is. 55,8). É preciso ter o coração aberto para receber as surpresas de Deus. Nem sempre o ser humano compreenderá, de imediato, a lógica da ação divina. Na sua perplexidade falta muitas vezes por parte dos seguidores de Cristo a humildade para se adequar à vontade do Senhor de tudo. Seja como for, esta parábola dos operários da vinha mostra a essência do pensamento de Jesus sobre a salvaçáo dos que não pertenciam ao povo judeu.  Como foi dito, fica bem claro que o contrato do trabalho e seu pagamento não infligiram a estrita justiça. Nem mesmo esta estrita justiça foi violada pelo fato do contratante da parábola ter mostrado liberalidade para oom os chamados por último. Ele tinha todo o direito   de fazer o que ele quisesse com o que lhe pertencia, como habilmente se defendeu o dono da vinha. Sua liberalidade o levou além do que ele devia pagar aos últimos contratados. Eis aí a grande mensagem desta parábola:  Deus é justo, é misericordioso, nele nós podemos sempre inteiramente confiar!  E assim que Deus age porque Ele é bom e ama suas criaturas que nele confiam.  É assim que Deus age, porque sua benevolência nâo se opõe à sua justiça, mas a ultrapassa. Jesus mostra que Deus ostenta sua ternura perante a miséria humana. Davi então já aconselhava proclamar agradecimentos ao Senhor de tudo: “Dai graças a Deus, pois eterno é o seu amor” (Sl 107,1) Ele é um Deus de desvelo, lento em irar-se e rico em bondade e fidelidade. Felizes os que nele esperam, pois Ele terá piedade deles como se expressou o profeta Isaias (Is 30,18). Sua ternura é sem limites: “Eterna é a sua misericórdia” (Sl 136). É isto que Jesus quis inculcar através da parábola dos operários da vinha. Nele, portanto, confiemos sempre, porque Ele é o Sumo Sacerdote poderoso e misericordioso (Hb 2,17) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

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