ARREPENDER-SE PARA CRER
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A parábola dos dois filhos é concisa, mas deixa
claro quão abominável é a falsidade e como é digno de louvor o arrependimento
que leva à boa ação (Mt 21,28-32). De fato, não basta dizer “sim” a Deus, ou “Jesus eu te amo’, ou ainda “Senhor, eu creio
em ti”, para entrar no Reino de Deus. É preciso obedecer às ordens de Deus,
colocando sempre em prática a vontade divina. Não são suficientes belas
palavras, ou meras práticas religiosas externas, destituídas, entretanto, de
sinceridade. É necessário um amor vivo, traduzido em gestos concretos. Um dos
filhos da parábola disse que não iria trabalhar na vinha do pai, mas se
arrependeu e foi. Aderiu à vontade do pai, ao contrário do irmão que falou em obedecer
a ordem recebida, mas não obedeceu. É o que acontece com cada um diante dos
desejos de Deus, que conhece cada coração humano e sabe suas resistências, seus
problemas interiores, suas fobias, suas indecisões. O que conta, porém, é a
deliberação final, fruto de um arrependimento sincero que leva a aderir ao que
Deus preceitua, adesão plena de afeição. Trata-se da verdadeira conversão de
vida, vinda do fundo do coração. A vida do verdadeiro cristão deve estar sempre
de acordo com o que quer o seu Senhor, desejo manifestado em seus ensinamentos.
A arrogância do primeiro filho deve sempre ser banida, mas seu arrependimento
demonstra que a bondade reinava em seu coração. Isto o levou a um comportamento dentro de uma
lógica de valor universal. Numa mesma situação os dois irmãos reagiram de
maneira inteiramente diferente, A verdadeira
conversão que brilhou na atitude do primeiro irmão patenteia que a autêntica
conversão se realiza unicamente por atos concretos e não por palavras. Jesus
falou claramente: “Não é dizendo ‘Senhor, Senhor!’ que se entrará no Reino dos
céus, mas fazendo a vontade de meu Pai que está nos céus”(Mt 7,21). Foi o que
aconteceu com tantos publicanos que se converteram, como São Mateus, e tantas
pecadoras, que mudaram de vida, como Madalena. Por tudo isto, esta parábola
deve levar, seja quem for que se diz cristão, a verificar sempre qual tem sido sua
atitude no seu relacionamento com Deus. De fato, ou se age desobedecendo como o
primeiro filho ou como o segundo que se arrependeu e foi trabalhar na vinha do
seu pai. Há necessidade de lutar sempre para que se manifeste em nós o que há
de melhor no fundo do coração e jamais perseverar no erro. Não obstante as
falhas, a pequenez de cada, um, Deus nos olha e nos diz como o pai aos dois filhos: “ide para a vinha”.
Esta ordem é dada com doçura, com
misericórdia, porque é o coração que Deus perscruta. Nunca é tarde para ser evangelizador
na vinha do Senhor e, em tudo, fazer a sua vontade. Dizer sim e agir, ver e
crer, Nada de simplesmente prometer, mesmo porque nunca é tarde para acertar a
própria vida com o desejo de Deus que quer uma existência santa e virtuosa,
estando sempre cada um num processo de conversão. Tal vai ser a surpresa no juízo
final quando estarão no reino de Deus aqueles que se arrependeram e tiveram
coragem de mudar de vida, reparando, enquanto tiveram tempo, seus erros e extravios.
Como mostra a parábola de hoje Jesus deixa patente a exortação ao
arrependimento. É preciso captar o que é justo, compreender, discernir, mas isto não basta. Algo mais é necessário, ou seja, sempre
uma radical mudança de vida, isto é, pensar corretamente e agir em consequência.
Deve haver a primazia dos atos sobre as palavras, da prática da fé sobre o
conhecimento da verdade. Nada pior na vida do cristão do que promessas feitas a
Deus e não cumpridas. Jesus foi taxativo: “A glória de meu Pai é que
deis muito fruto” (Jo 15,8). Durante sua vida nesta terra o cristão diz tantas
vezes “sim” a Deus, como na sua profissão de fé através do batismo, do sacramento
da crisma, na recepção dos outros sacramentos, ou estando a serviço dos irmãos e
irmãs ao assumir uma atividade específica nos seus afazeres de cada dia. Seja como for,
é sempre tudo isto um trabalho na vinha do Senhor. Ele espera sempre de cada um
fidelidade e perseverança. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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