segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

ARREPENDER-SE PARA CRER

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A parábola dos dois filhos é concisa, mas deixa claro quão abominável é a falsidade e como é digno de louvor o arrependimento que leva à boa ação (Mt 21,28-32). De fato, não basta dizer “sim” a Deus,  ou “Jesus eu te amo’, ou ainda “Senhor, eu creio em ti”, para entrar no Reino de Deus. É preciso obedecer às ordens de Deus, colocando sempre em prática a vontade divina. Não são suficientes belas palavras, ou meras práticas religiosas externas, destituídas, entretanto, de sinceridade. É necessário um amor vivo, traduzido em gestos concretos. Um dos filhos da parábola disse que não iria trabalhar na vinha do pai, mas se arrependeu e foi. Aderiu à vontade do pai, ao contrário do irmão que falou em obedecer a ordem recebida, mas não obedeceu. É o que acontece com cada um diante dos desejos de Deus, que conhece cada coração humano e sabe suas resistências, seus problemas interiores, suas fobias, suas indecisões. O que conta, porém, é a deliberação final, fruto de um arrependimento sincero que leva a aderir ao que Deus preceitua, adesão plena de afeição. Trata-se da verdadeira conversão de vida, vinda do fundo do coração. A vida do verdadeiro cristão deve estar sempre de acordo com o que quer o seu Senhor, desejo manifestado em seus ensinamentos. A arrogância do primeiro filho deve sempre ser banida, mas seu arrependimento demonstra que a bondade reinava em seu coração. Isto o   levou a um comportamento dentro de uma lógica de valor universal. Numa mesma situação os dois irmãos reagiram de maneira inteiramente diferente, A verdadeira conversão que brilhou na atitude do  primeiro irmão patenteia que a autêntica conversão se realiza unicamente por atos concretos e não por palavras. Jesus falou claramente: “Não é dizendo ‘Senhor, Senhor!’ que se entrará no Reino dos céus, mas fazendo a vontade de meu Pai que está nos céus”(Mt 7,21). Foi o que aconteceu com tantos publicanos que se converteram, como São Mateus, e tantas pecadoras, que mudaram de vida, como Madalena. Por tudo isto, esta parábola deve levar, seja quem for que se diz cristão, a verificar sempre qual tem sido sua atitude no seu relacionamento com Deus. De fato, ou se age desobedecendo como o primeiro filho ou como o segundo que se arrependeu e foi trabalhar na vinha do seu pai. Há necessidade de lutar sempre para que se manifeste em nós o que há de melhor no fundo do coração e jamais perseverar no erro. Não obstante as falhas, a pequenez de cada, um, Deus nos olha e nos diz como o   pai aos dois filhos: “ide para a vinha”. Esta ordem é dada  com doçura, com misericórdia, porque é o coração que Deus perscruta. Nunca é tarde para ser evangelizador na vinha do Senhor e, em tudo, fazer a sua vontade. Dizer sim e agir, ver e crer, Nada de simplesmente prometer, mesmo porque nunca é tarde para acertar a própria vida com o desejo de Deus que quer uma existência santa e virtuosa, estando sempre cada um num processo de conversão. Tal vai ser a surpresa no juízo final quando estarão no reino de Deus aqueles que se arrependeram e tiveram coragem de mudar de vida, reparando, enquanto tiveram tempo, seus erros e extravios. Como mostra a parábola de hoje Jesus deixa patente a exortação ao arrependimento. É preciso captar o que é justo, compreender, discernir, mas isto não basta. Algo mais é necessário, ou seja, sempre uma radical mudança de vida, isto é, pensar corretamente e agir em consequência. Deve haver a primazia dos atos sobre as palavras, da prática da fé sobre o conhecimento da verdade. Nada pior na vida do cristão do que promessas feitas a Deus e não cumpridas. Jesus foi taxativo: “A glória de meu Pai é que deis muito fruto” (Jo 15,8). Durante sua vida nesta terra o cristão diz tantas vezes “sim” a Deus, como na sua profissão de fé através do batismo, do sacramento da crisma, na recepção dos outros sacramentos, ou estando a serviço dos irmãos e irmãs ao assumir uma atividade  específica  nos seus afazeres de cada dia. Seja como for, é sempre tudo isto um trabalho na vinha do Senhor. Ele espera sempre de cada um fidelidade e perseverança. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário