ENGAJADOS NA VIDA TRINITÁRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Deus no qual nós cremos
e que está no coração de nossa fé, não é um Ser solitário, isolado. Uma só natureza,
uma só substância, “Aquele que é”, como Ele mesmo revelou a Moisés (Ex 3,14). Na plenitude de seu Ser
infinito, porém, a fé nos leva a adorar uma Trindade de pessoas realmente
distintas. Distinção real, não meramente fenomenal ou funcional. Como ensina
Tertuliano, a monarquia divina permanece indivisível, mas está distribuída
entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta diversidade não impede a soberana
unidade da divindade, pois as três pessoas têm a mesma essência em uma harmonia
e identidades perfeitas. Três Centros de Consciência, três Modos de existir,
três Hipóstases ontologicamente arroladas e não apenas em plano meramente
dinâmico e relacional. Tríade divinal que patenteia o Pai, o Filho e o Espírito
Santo eternamente unidos no mesmo nome - Deus, no idêntico poderio e glória,
numa inefável reciprocidade de conhecimento e afeição profunda. Mistério
sublime: desde toda eternidade o Pai se conhece. Este pensamento é eterno,
substancial, é a imagem de toda vida divina igual a sua origem. Eis a segunda
pessoa, o Filho, o Verbo eterno. O Pai e o Filho eternamente se amam. Este amor
é essencial, intemporal, é o Espírito Santo, Terceira Pessoa, que procede do
Pai e do Filho. Foi Jesus quem nos
revelou os segredos do Ser Supremo e empregou uma linguagem tirada do mundo da
família (Jo 1,16-18), pois Ele nos falou de seu Pai, Ele o Filho. O Amor eterno
que os une desde toda a eternidade é o Espírito Santo. Portanto, embora seja
impossível ao ser humano, que é limitado, compreender o mistério do Ser
infinito, Jesus nos ofereceu palavras que estão ao alcance da inteligência
humana para entender que o nosso Deus é Uno e Trino. Isto nos permite falar de
Deus com nossas palavras. Podemos falar com Ele como um Pai, como um Irmão,
como um Amigo. Jesus foi mais além ainda ao dizer que o Pai tanto nos amou que
sacrificou o próprio Filho que tomara também a natureza humana unida à sua
natureza divina e isto porque imenso foi o seu Amor por nós. Voltando, enquanto
homem, para junto do Pai nos enviou, como prometera, o divino Espírito Santo.
Estamos, assim, engajados na vida trinitária. A Trindade é nossa família! Somos
os filhos e filhas bem amados do Pai através do Verbo Eterno todos imersos no
Espírito Santo. Fomos batizados em nome das três pessoas e o batismo nos
imergiu na comunhão de amor que une as três pessoas divinas. Eis porque sempre
traçamos sobre nós o sinal da Cruz em nome destas três Pessoas, expressão viva
de nossa dignidade de filhos de Deus, imersos que somos nesta existência
trinitária e acreditamos no amor que este Deus tem por nós, como salientou São João
na sua primeira carta (1 Jo 4,16). Eis porque o cristão deve reconhecer sua nobreza
vivendo santamente na presença deste Deus três vezes santo, convivendo com o
dinamismo do amor trinitário. Donde o conselho de São Paulo: "Vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só
coração, vivei em paz e o Deus de amor e da paz estará convosco (2 Cor 13,11).
Eis aí a grande mensagem a ser vivida, mesmo porque a fraternidade que deve
unir os cristãos é o sinal vivo da unidade divina. Nossa vida interior se
alimenta deste movimento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, nosso Deus
misericordioso, cheio de amor e de verdade, segundo a revelação feita por Ele
mesmo a Moisés (Ex. 33, 7-11; 34, 5b-9.28). Nem se pode esquecer que na Eucaristia recebemos
o Pão vivo que dá a Vida divina, afim de que entremos sempre nesse amor
trinitário, para depois podermos, de fato, irradiar este amor, amando os irmãos
e irmãs como Jesus nos amou e isto sob as luzes do Espírito de Amor que une as
três pessoas divinas. Somos todos convidados a participar do júbilo da Trindade
para estarmos em condição de transmitir por toda parte este júbilo espiritual.
Adoremos o Pai. Marchemos no desapego do mundo, seguindo Jesus. Abramo-nos às
inspirações do Espírito Santo. Seremos deste modo um apelo à fé para todos.
Acolhamos assim as graças da misericórdia deste Deus uno e trino que deve
fulgurar na nossa vida. Como ensinou São Paulo, Deus é rico em misericórdia.
Seremos salvos pela nossa fé confiante, recebendo com amor os dons divinos
especialmente o Espírito Santo que reforça o nosso coração e nos permite
produzir os verdadeiros frutos de justiça e caridade. Estamos assim celebrando
uma história de ternura, a mais bela história de amor de todos os tempos. Na
solenidade de hoje, mais do que nunca, deve fluir de nossos corações a secular
saudação: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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