RECEBER COM AMOR O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo
Vidigal de Carvalho*
Com a solenidade de Pentecostes
celebramos o ápice da vida de quem foi batizado. O que era uma promessa de Deus
se torna com a vinda do Espírito Santo um aprimoramento, pois a finalidade da
existência do seguidor de Cristo é atingir a plenitude da personalidade cristã.
São Paulo assim se expressou: “O próprio Espírito atesta com o nosso espírito
que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Então se pode respirar e viver a bondade e
a ternura deste Deus que habita na alma em estado de graça. Trata-se de viver na luz em comunhão mútua
com Ele que é luz (1 Jo 1,7). Criaturas novas iluminadas pela presença divina,
“gozando todos de abundância de graça” (Atos 4,33). Cada cristão se torna assim
uma carta de Cristo escrita com o Espírito do Deus vivo (2 Cor 3,3), procurando
sempre as coisas do alto e não as da terra. Tudo isto resultante da presença de
Deus intensamente vivida. Movidos pelo Espírito Santo, mesmo numa cultura como
a atual voltada para o exterior, é possível fixar nesta realidade sublime que é
ser herdeiros de Deus, coerdeiros de Cristo. Pentecostes então leva cada um a
avançar mais longe e mais profundamente no mistério divino. Somos, de fato,
preciosos diante de Deus, salvos pela paixão e morte de Cristo e repletos do
Espírito Santo. Deste modo, o amor de Deus envolve todos que nele creem e pelo
seu Espírito confirma o quanto cada um é valioso perante Ele, destinado à
glória e ao esplendor eterno da visão beatífica lá no céu. Cumpre então estar
envolvo na ternura e na misericórdia divinas, longe das trevas do erro e de
qualquer pecado, pois o Espírito Santo nos atesta que nosso Deus é o Deus três
vezes santo, Pai amoroso que tanto nos ama. É preciso, porém, deixar que o
Espírito Santo faça em nós o que Ele quiser em nossas vidas, evitando,
cuidadosamente, afastar as resistências advindas de um mundo materializado e
das insídias diabólicas. Donde então o conselho de São Paulo: “Não extingais o
Espírito, não desprezeis as profecias, mas examinai tudo, retendo o que é bom.
Conservai-vos longe de toda a aparência do mal”! (Tes 5,19). A fidelidade em
seguir as inspirações do Espírito Santo é uma garantia para jamais sucumbir
diante do maligno. Saber escutá-lo, pois Ele, continuamente, bate à porta de
cada coração para iluminar, vivificar e salvar. Isto é crer na sua força,
dando-lhe uma resposta de amor, observando sempre seus apelos para uma vida
cada vez mais perfeita diante de Deus. Nas orações individuais ou comunitárias
é necessário perceber o que este Deus quer de cada um, o que Ele deseja fazer
por nós, em nós e conosco. É a esta sabedoria que o Espírito Santo nos guia.
Estar, portanto, atentos à novidade do Espírito em tudo e por tudo na prece ou
em qualquer atividade. O Espírito Santo é para a Igreja e os cristãos o
Espírito da memória, da lembrança, da continuidade com Jesus. O que Ele nos faz
compreender e viver é tudo aquilo que Jesus ensinou. O Paráclito simplesmente,
divinamente nos rememora tudo que Jesus fez e pregou da parte do Pai. Entrar na
novidade do Espírito é, assim, descobrir progressivamente a dignidade de ser
cristão, andando como filhos da luz, captando sempre o que há de eterno nas
menores ações cotidianas, porque feitas por amor a um Deus que tanto nos ama.
Purificado pelo Espírito Santo, imerso nesta dileção divina o cristão se torna,
como desejou Jesus, luz do mundo e sal da terra. Esta se torna então o lugar da
misericórdia divina. O coração do cristão cessará de duvidar e temer pelo
presente ou pelo futuro, perante suas responsabilidades, porque sentirá sempre
junto de si o poder do Espírito Santo a sustentá-lo. O cristão se torna sábio
espiritualmente, dado que o Paráclito fará com que ele entenda a linguagem do
amor vitorioso. Eis porque é preciso sempre pedir ao Espírito Santo seus sete
dons. A sabedoria que leva a degustar
a presença de Deus, jamais dele se separando. A inteligência que ajuda a entrar no mistério de Deus e a compreender
o essencial da fé, da Palavra divina contida na Bíblia, a distinguir o erro da
verdade, levando a uma mudança de vida. A ciência
que permite reconhecer Deus na obra da natureza e na história, valorizando
todas as dádivas divinas, A fortaleza
que conduz à perseverança nas tentações, à coragem de testemunhar por toda
parte o Evangelho, tornando cada um vitorioso no combate espiritual, executando
do melhor modo os deveres de cada instante. O conselho que dispõe a ver claramente o que é melhor para si e para
os outros, em tudo discernindo a vontade de Deus. A piedade que faz entrar na experiência da paternidade divina,
aproximando cada um da ternura do Pai que está no céu. O temor que não é o medo de Deus, mas que é possuir o sentido da
grandeza do Ser Supremo e temer dele se separar. Saibamos cultivar sempre estes
sete dons e seremos cada vez mais santos como santo é o nosso Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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