O ESPÍRITO DA VERDADE
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes
de sua Ascensão ao céu Jesus deixou aos apóstolos palavras consoladoras,
garantindo-lhes que Ele rogaria ao Pai e Ele lhes daria outro Consolador, o
Espírito da Verdade (Jo 14,15-21). O Paráclito confirmaria tudo que Ele ensinou
e convenceria o mundo de seus erros. É que o Confortador revelaria sua presença
e comunicaria total fidelidade à sua palavra. Podia então afiançar que não os
deixaria órfãos. Um adeus assim repleto de consoladoras promessas, enchendo o
coração de seus discípulos de confiança e esperança. O critério, porém, do amor
que a Ele é devido seria sempre a observância radical dos seus mandamentos,
cuja guarda seria a prova da dileção a Ele e disto resultaria o amor do Pai.
Admirável, de fato, a presença e a obra do Espírito Santo na comunidade de seus
seguidores. Estes seriam criaturas novas através da renovação interior operada
pelo Espírito da Verdade. Este levaria os cristãos à plena comunhão com o Amor
trinitário, estando presente em cada um de seus fiéis. Este Espírito da Verdade
seria sempre o protetor da fé e o pedagogo da vida espiritual do cristão. A
grande mensagem, portanto, que Jesus deseja que recebamos é acolher este hóspede
interior que não nos deixa jamais sozinhos. É preciso se refugiar nele, nos
entreter com Ele como nosso mestre espiritual. Cumpre sempre criar um espaço
que permita o Espírito da Verdade agir dentro de cada um de nós. É o que deve
acontecer não apenas nos colóquios das orações individuais, mas, sobretudo,
através da participação ativa nas Missas dominicais, que comunicam mensagens
consoladoras para cada semana. Com efeito, o Espírito da Verdade deseja
transformar para melhor a vida de cada cristão. É uma sabedoria celestial saber
escutá-lo e agir por Ele. É deste modo que as palavras de Jesus se tornam atuais
e sempre novas para cada um e para toda a Igreja. Todas estas considerações já
preparam cada um para daqui a quinze dias no glorioso 31 de maio próximo receber
nova efusão do Espírito Santo por ocasião da solenidade de Pentecostes. O
Espírito da Verdade virá para sanar nossas vulnerabilidades, nossas limitações,
os obstáculos que impeçam de ser verdadeiros discípulos de Jesus por meio de um
combate corajosos contra toda mediocridade. A luta entre o bem e o mal, entre a
fidelidade ou a infidelidade para com Deus dependerá sempre da ajuda continua
do Paráclito, do Defensor, do Espírito da Verdade. Ter disto consciência é o
que Cristo pede ao anunciar que sobre seus seguidores viria esta força divina.
É ela que permitirá caminhar vencendo todas as artimanhas do maligno com
coragem, perseverança e continuas vitórias nas veredas do bem e das virtudes. O
critério para estar de acordo com o Espírito da Verdade não vem da
inteligência, mas da própria consciência através da qual nos fala o Paráclito.
A consciência é mais do que um mero saber, é uma luz que leva a crer e
esperar. Daí surge a fidelidade que leva
a um progresso interior, a um dinamismo maravilhoso, a um estilo de vida
realmente cristão. Este então trabalha continuamente para crescer na própria perfeição,
contribuindo para o bem comum, para a felicidade de todos. É a misteriosa
comunhão dos santos que se dá. Compreende-se desta forma que “uma alma que se
eleva, eleva o mundo inteiro”, como bem se expressou Elisabeth Leseur. O
Espírito da Verdade lembra continuamente que Jesus veio para a salvação de
todos. Cada vez que o cristão se esforça para se tornar mais humano está
melhorando toda a humanidade, pois se torna mais próximo de Deus, mais se
assemelha a Cristo. Eis aí a obra maravilhosa do Espírito da Verdade. Grande é,
portanto, a responsabilidade do cristão. Este deverá ter sempre uma intuição
sobrenatural, um olhar novo e positivo a envolver todas as suas atividades,
iluminando a todos que se acham em seu derredor. É a realização concreta do que
preceituou Jesus: “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).
Portanto, é através dos acontecimentos de cada hora que os cristãos podem
impregnar o mundo com a presença de Deus. É uma resposta aos apelos da fé,
permitindo que o Espírito da Verdade trabalhe dentro do coração do discípulo de
Jesus. Nunca plenamente sabemos o bem
que fazermos quando fazemos o bem. * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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