01 O DOMINGO DE RAMOS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
Providência divina concede-nos a graça de iniciarmos mais uma Semana Santa no
domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Alegria com a entrada festiva de Jesus
em Jerusalém (Mt 21,1-11), mas também uma grande tristeza com a narrativa da
Paixão do Senhor, rejeitado, sofredor, levado à morte (Mt 26.14-26,66).
Comemora-se uma notável vitória de Jesus e, ao mesmo tempo, se recorda que Ele é o Messias, salvador da
humanidade, através de seu sangue redentor. É, contudo, isto outra vitória do
Filho de Deus, ou seja, o triunfo do amor eterno. O próprio Cristo havia declarado
que “não há maior dileção do que dar sua vida por seus amigos" (Jo 15,13).
Seus sofrimentos foram garantia absoluta de sua dileção para com a humanidade,
amor sem limites. No alto do Calvário a desobediência de Adão seria reparada,
bem como reparados os pecados de todos os tempos. Portanto, tristeza causada
pelas prevaricações humanas e pelo sofrimento imenso do Redentor. Júbilo,
contudo, por causa do grande amor de Cristo que na cruz triunfou de todo o mal.
Unidos ao divino Redentor pelas preces, pelos sacramentos e obediência aos
sagrados mandamentos, à sua santíssima vontade, todas as cruzes, todos os
sofrimentos, decepções e angústias de transformam no triunfo salutar do bem
contra o mal. Portanto, é preciso a alegria da recepção triunfal de Jesus em
Jerusalém e a compunção perante tudo que ocorreu desde sua prisão no Horto das
Oliveiras até sua morte no Gólgota. Tudo isto deixando uma mensagem de força e
esperança. É que a fé dos seguidores de Cristo oferece a certeza da vitória
final de todos aqueles que perseveram no amor a seu Redentor. Jesus triunfante
entrando em Jerusalém e depois martirizado é a certeza da vitória do bem num mundo
onde reina o pecado e tanta dor. É que a perspectiva da esperança cristã está
centrada naquele que venceu a morte, ressuscitando imortal e impassível. Quem
penetra fundo no mistério do Domingo de Ramos pode repetir com São João XXIII
que “seu passado está entregue à misericórdia divina, o futuro à sua
providência e o momento presente ao seu incomensurável amor”. O importante,
portanto, será viver intensamente a Semana Santa, unindo as apreensões e
sofrimentos causados pelo coronavírus no Brasil e no mundo.à paixão de Jesus.
No Jardim das Oliveiras Pedro, Tiago e João os amigos de Cristo dormiram,
enquanto o Mestre entrava em agonia. Não foram assim capazes de confortá-lo em
momento tão doloroso. Pedro, aliás, depois a negar Jesus no episódio do
Sinédrio. Viver a Semana Santa longe também da hipocrisia de Pilatos que viu
cruzar em sua vida o Salvador do Mundo e não obstante, grotescamente, lavou as
mãos, mas nada fez para libertá-lo de seus inimigos. Procurou uma falsa
tranquilidade de espírito desembaraçando-se de Jesus, o inocente. Os outros apóstolos haviam abandonado a
Cristo. Como Simão de Cirene, porém, é necessário ajudar Jesus a carregar a
cruz até o Calvário, através da aplicação de todos os sofrimentos em reparação
dos pecados próprios e da humanidade prevaricadora. Louvores a Maria Madalena e
às santas mulheres firmes junto de Jesus aos pés da cruz. Aí o exemplo
magnífico de Maria, sua Mãe, de pé, no Calvário após a dor do Encontro na Rua
da Amargura. Ela acompanhou o Filho até o monte da dor e esteve a seu lado,
inclusive no seu sepultamento, apesar de dilacerado estar o seu coração.
Tornou-se a Corredentora da humanidade. Com ela estava o discípulo amado de
Jesus a quem Ele confiou os cuidados de sua Mãe que ali se torna Mãe de todos
os regenerados pelo sofrimento de Cristo, sendo João, o fiel discípulo, ali representante
de todos nós. Como passar a Semana santa senão abominando as infidelidades de
tantos outros ingratos, mas imitando exemplos tão maravilhosos dos que não desampararam
o divino Salvador. Ele quer nesta Semana operar grande transformação em cada um de nós através da liturgia, rumo a
uma união perfeita com Ele, valorizando seu sangue salvador. Santificados nesta
Semana Santa estarão abandonadas as coisas efêmeras, fúteis, pecaminosas,
unindo cada um seu sofrimento ao sofrimento de Jesus para que completa seja a
alegria da Pascoa do próximo domingo. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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