quarta-feira, 4 de março de 2020


A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No episódio da transfiguração de Jesus chama atenção a presença de três apóstolos: Pedro, Tiago e João (Mt 17,1-9). Não se sabe a razão pela qual foram eles os escolhidos para acompanharem o Mestre divino até o monte Tabor. Isto vem lembrar que, embora as preces comunitárias na família, na paróquia sejam de suma importância, é preciso que haja no decorrer do dia orações pessoais, porque Deus tem planos especiais para cada um. Muitas vezes o seu seguidor é levado a repetir com São Pedro: “Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt 17, 1-9). É preciso, porém, perseverança e saber captar o que Ele quer especialmente para cada um, oferecendo diversos meios para nos ajudá-lo, levando-o a melhor conhecê-lo. Por isto o Pai, como no Tabor, falará a cada um: “Este é o meu Filho amado, ouvi-o”. Diz o Evangelista que, ao escutar isto, “os discípulos caíram de rosto por terra e foram tomados de grande medo”. Ficaram impressionados. Tratava-se de um fenômeno sobrenatural do qual participavam Moisés e Elias. As vestes de Jesus se tinham “tornado brancas como a luz”. Foi natural que o espanto tomasse conta daqueles três privilegiados apóstolos. Isto mostra o quanto Deus quer mesmo participar da vida de cada um. Jesus, porém, sempre dirá: “Não tenhais medo”. É que sua presença é sempre alentadora. Ela inspira confiança. Ele oferece todas as condições para estarmos diante do Deus três vezes santo, que Ele ensinou ser o nosso Pai celeste. Cristo transfigurado foi mais uma prova de que a revelação é, antes de tudo e, sobretudo, amor que difunde felicidade. A luminosidade que envolveu Jesus na montanha sagrada indicou a glória do próprio Deus. Este Deus havia dado ordens à humanidade através dos mandamentos transmitidos por Moisés e pelas mensagens passadas pelos profetas então representados por Elias. Ambos eram assim duas figuras emblemáticas da Antiga Aliança. Ali, porém, estava como protagonista Jesus, o Messias enviado por Deus para salvar a humanidade. Entretanto, a luz divina que fulgiu no momento da transfiguração foi momentânea, pois viriam depois as trevas que envolveriam o Filho de Deus no alto da cruz. Ele morreria, mas “Deus de Deus, Luz da Luz” ressurgiria gloriosamente para definitivamente iluminar todos os que lhe pertencem, salvos pelo sangue redentor. É que a glória de Deus não brilha somente no céu, no mundo invisível, ela se expande também no mundo visível através dos seguidores de Jesus. Ele mesmo os chamou de “luz do mundo”. Portando, profundo o sentido da Transfiguração no Tabor, levando cada cristão a se sentir extraordinário e excepcional neste mundo que deve ser por ele iluminado. Dignidade enorme ter parte na luz de Cristo. Ser luminoso, colocando seus passos nos passos do Transfigurado. Ter assim um coração luminoso, fruto da prática das virtudes. É por ser esta luz que o seguidor de Cristo não se envergonha de ser um autêntico cristão, não se calando, quando deve falar; enfrentando todas as dificuldades com ânimo; sendo exemplo para os desanimados. Deste modo, os cristãos mostram que na Nova Aliança não se trata de acolher uma nova lei ou uma nova profecia, mas crer na obra da graça manifestada em Cristo, observando tudo que Ele ensinou. Trata-se de viver segundo a fé e a moral do Evangelho, mas uma fé proveniente da total entrega à Pessoa de Cristo, o bem-amado do Pai, vitorioso sobre a morte. Então, não obstante o mal que desfigura o mundo, a vida divina terá a última palavra graças à ação dos cristãos, mesmo porque Jesus disse claramente: “Eu venci o mundo (Jo 16,33). A religião cristã é a religião da relação viva e atual com Jesus que no Tabor deixou transparecer um pouco de sua infinita grandeza. Isto aconteceu para revigorar seus discípulos que deveriam enfrentar as forças do mal. Desta maneira, participando da aliança que o Pai estabeleceu com seu divino Filho eles, após iluminarem esta terra com seus exemplos, participarão da vida e da luz perenes lá no céu. Ao iluminar este mundo, o cristão está a mostrar que há uma realidade além desta existência visível. Assim sendo, a Transfiguração de Jesus é uma celebração que irradia fé e esperança e dá força para que cada um vença os desafios do cotidiano rumo ao Tabor eterno, * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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