501 NECESSIDADE DA CONVERSÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta de Jesus deve ecoar no fundo dos
corações de seus seguidores: “Digo-vos eu, se não emendardes perecereis todos
igualmente”. Esta sentença Ele a ilustrou com a parábola da figueira
infrutuosa, que, se permanecesse sem dar fruto, deveria ser cortada (Luc 13,
1-9). Galileus tinham sido sacrificados por Pilatos foi a notícia que trouxeram
a Cristo, tendo este lembrado aqueles dezoito sobre os quais caíra a torre de
Siloé. Estes episódios serviram para que o Mestre divino corrigisse a opinião
popular que prevalecia naquele tempo segundo a qual os males eram sempre sinal
da culpabilidade perante Deus a castigar os maus. Julgando assim, os erros
próprios ficavam ignorados. Era esta a primeira lição ministrada por Jesus que
mostrava serem todos são pecadores e que deveriam, portanto, mudar de vida.
Cada um é responsável pelos seus atos. Deus, porém, é misericordioso e, através
do profeta Ezequiel, Ele afirma não quer a morte do iníquo, mas que ele se
converta e tenha a vida. Se o pecador realmente se aparta das iniquidades que
cometeu e faz o que é justo e reto, ele restitui a vida a si mesmo. Donde o
apelo divino: “Voltai atrás, convertendo-vos de todos os vossos delitos, e a
iniquidade não se tornará a vossa ruina” (Ez 18, 25. 30). Cada um é responsável
pelos seus atos e daí a urgência da mudança de vida. Como fica claro na
parábola da figueira Deus dá oportunidade para que o pecador “se retraia do seu
caminho e viva" (Ez 33,11). Daí a importância da penitência e da esmola
que levam à consciência da própria fragilidade e fraqueza. Isto colocando em
Deus a mais absoluta confiança. Eis aí o ponto fulcral da conversão. Admirável
é a paciência divina, a qual, entretanto, aguarda sempre o resultado do esforço
humano, pois o “Senhor é compassivo e entranhável, paciente e rico em bondade”
(Sl 102,8). Não se pode, porém, abusar da misericórdia divina, pois, do
contrário, a árvore será cortada e lançada ao fogo. Donde ser urgente a
necessidade da conversão. Deus retribui a cada um segundo suas obras. A Igreja
oferece um terreno fértil através dos sacramentos, da fé, da esperança, da
riqueza da vida fraterna e do devotamento aos irmãos e irmãs, para que surjam
frutos de paz e alegria. O Senhor é misericordioso e oferece oportunidade a
todos para uma renovação espiritual contínua, mas espera o vigor e a
autenticidade da resposta cotidiana de cada um. Um elemento basilar da
esperança do discípulo de Jesus é que na sua paciência Deus espera a
correspondência dos que Ele agracia com seus favores. Daí a necessidade da
energia espiritual baseada em profunda humildade, simplicidade e coragem,
perseverando o cristão no caminho das boas obras. É o sim que deve ser dado a
Deus, tornando a vida fecunda e repleta de merecimentos para a eternidade. O
tempo quaresmal oferece oportunidade para o rompimento radical com o pecado em
busca da redenção salvadora. Deus espera corações voltados inteiramente para
Ele, envoltos na luz de suas graças. É necessário então um exame sincero da
própria situação, da maneira de viver perante Deus. Cumpre uma sadia
inquietação para que se possa sair do torpor religioso, despertando para uma
nova vida. Jesus, contudo, estará ao lado de seu seguidor, lhe estende a mão e
o conduz para uma completa revisão de sua existência, visando o progresso na
santidade. Jesus invectiva não para condenar, mas para que se deixem de lado as
ilusões terrenas, os falsos ídolos que impedem que se possa caminhar livremente
em busca da própria perfeição. Ele imprime o desejo da verdade numa relação
verdadeira com Ele, com os irmãos e irmãs. Surgem desta forma cristãos que são
gente de fé, de comunhão, abertos à união com Deus que oferece sua completa
redenção, apesar de toda a pequenez humana. A quaresma é todo um programa de
propostas severas que podem até desconcertar os que se deixam levar pela
indolência que é obstáculo à produção de bons frutos. A decisão é pessoal e
este é o tempo da graça que é concedido a cada um. Um apelo para uma imersão na
misericórdia do Pai. Sua bondade se torna o dom de uma coragem persistente na
qual se encontra a energia da inspiração necessária para a purificação
interior. Deus com suma solicitude está ao lado daquele que se deixa levar pelo
anseio de produzir bons frutos e não ser como a figueira estéril. Para que
todas as maravilhas divinas se reflitam na vida de cada um é preciso, porém, pedir
a Maria, a Mãe de Jesus, sua ajuda, pois nela “a graça divina não foi
improdutiva”. Ela nos tornará portadores de Deus, fecundos em virtudes,
auxiliando a todos neste tempo quaresmal a se entregarem a uma profunda e
necessária conversão. *Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos
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