AS TENTAÇÕES E A POSTURA DO CRISTÃO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Inicia-se
a Quaresma que é um tempo de deserto para onde Deus conduz o cristão para lhe
falar ao coração. Diz o Evangelho que Jesus “foi conduzido pelo Espirito ao
deserto onde esteve durante quarenta dias (Lc 4,1-13). Trata-se para seu
seguidor da procura de um silêncio vivificante, afastamento das distrações
mundanas e um maior recolhimento interior. Deste modo, a exemplo do Mestre
divino, é que se pode vencer corajosamente as tentações diabólicas. O
referencial é a verdade que deve reinar na vida do discípulo de Cristo. Ao
reconhecer sua fragilidade diante das provações espirituais e das tentações do
inimigo o cristão, superando as incitações para o mal, se dispõe a uma preparação
eficiente para a Páscoa. Época, portanto, de uma profunda espiritualização,
libertando-se dos critérios do mundo numa luta vitoriosa contra satanás. Jesus
permitiu que o espírito maligno o tentasse e os três exemplos registrados pelo
evangelista resumem as principais armadilhas do demônio. Este leva muitas vezes
o cristão a endeusar o alimento envolvendo-o na gula e fora daquilo que um
nutricionista competente prescreveria para a boa saúde. Além disto, muito
ousado, como fez com o Filho de Deus, o espírito mau quer ser adorado através
das maiores aberrações sexuais ou outras ações perversas. Adite-se, como
ocorreu na terceira tentação de Jesus, a deturpação das relações do ser humano
com Deus. Tudo isto porque os formadores da opinião através dos meios de
comunicação social, vão sorrateiramente envolvendo os incautos na impiedade e
no desprezo das coisas sagradas. Quaresma se torna então o tempo favorável para
um profundo exame de consciência de tal forma que se possa dizer ao tentador:
“Não só de pão vive o homem”, “ao Senhor teu Deus é que adorarás e só a ele
prestarás culto”, por meu intermédio não “tentarás ao Senhor”. É preciso,
portanto, verificar até onde cada um de nós se coloca no mundo, isso é, ou
segundo os critérios de Deus expressos na Bíblia, ou conforme os ditames da
mídia multiplicados nos diversos meios de comunicação cada vez mais
sofisticados. Revisão de vida para averiguar o que se quer de Deus, ou seja, apenas
sucesso a qualquer preço, conforto
material, ou até mesmo ousadamente O colocando à prova. Isto porque espírito
perspicaz, o demônio sabe multiplicar as emboscadas nas quais os ingênuos podem
infelizmente cair. Com isto ele impede que se escute a voz de Deus lá no mais
profundo da consciência, não se tendo fome e sede da justiça divina que deve
orientar todas as decisões, levando a um sacrifício salvífico e a uma renúncia purificadora.
As tentações de Jesus nos mostram o caminho de uma verdadeira conversão.
Alimentar-se, isso sim, da Palavra de Deus e render somente a Ele o culto que
Lhe é devido. O diabo sabia que Jesus era o Filho de Deus, o que era verdade,
mas as consequências que ele tirava foram errôneas e aí o cerne das tentações.
Satanás queria que Jesus fizesse prodígios para, enquanto homem, afrontar os
planos divinos. O demônio anseia sempre que o homem e a mulher sejam rivais de
Deus que é o Senhor de tudo. Este foi o erro de Eva no paraíso querendo, como
lhe propôs a serpente, ser a senhora do bem e do mal. Jesus ensinaria a seus
seguidores a rezar ao Criador “seja feita a vossa vontade” e não, portanto, desejar
as veleidades humanas. Cristo dirá a seus discípulos que seu alimento era fazer
em tudo a vontade do Pai e não transformar pedras em pão, nem fazer prodígios
desnecessários, ou, pior ainda, adorar aquele que se revoltou contra o próprio
Deus. Jesus mostrou que, sendo fiel ao projeto divino e à sua dignidade de
Filho de Deus, Ele se mostraria como a Verdade Eterna que se encarnou para
salvar a humanidade. Ao vencer as tentações Jesus cumpria as Escrituras e
realizava sua vocação bem conforme a sua identidade. Triunfador da fome, do
orgulho, do desejo do poder, deixando exemplo magnífico para os seus
seguidores. Nas três tentações Jesus mostrou as três atitudes filiais
fundamentais: Ser filho de Deus é reconhecer que tudo nos vem dele, recebendo com
gratidão o pão de cada dia; é ter confiança no Pai e não O colocar nunca à prova;
é se apoiar na Palavra revelada, adorando somente a Ele. Na quaresma é preciso
refletir sobre estas verdades, voltando-se cada um para Deus com profunda fé e intenso
amor. * Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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