sexta-feira, 29 de março de 2019

ESPIRITUALIDADE E SAÚDE MENTAL NO PERIÓDO DAS AULAS


A ESPIRITUALIDADE E A SAÚDE MENTAL NO PERÍODO DE AULAS
Côa.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O reinício do ano letivo traz para os jovens uma considerável carga de atividades que exige uma sábia distribuição do tempo, de tal forma que não seja afetada nem a espiritualidade, nem se abra a porta para alterações psicossomáticas. Cumpre precaver o estresse psíquico para que não seja afetada a serenidade do coração. Quando não há um planejamento inteligente da vida pessoal a intimidade com Deus, fonte de toda imperturbabilidade, pode ficar comprometida. Trata-se de não omitir durante o dia preces bem recitadas, as quais não exigem muito tempo. Ao se levantar cumpre elevar o pensamento a Deus pelo menos com o sinal da cruz e nele estar conectado durante o dia, uma vez que quer as aulas, quer as horas de estudo devem ser transformadas em um louvor a Ele.  Antes do descanso da noite um agradecimento pelos benefícios recebidos e o arrependimento pelas falhas ocorridas são uma chave de ouro para um repouso vivificante. Diante das dificuldades acadêmicas é preciso invocar as luzes do Espírito Santo, deixando de lado toda indolência. Deste modo, se afasta um ativismo descontrolado que não oferece solução alguma para as ações. A ausência de planejamento suscita o vazio que provoca nova onda de precipitação. O indivíduo hiperativo nada produz de concreto e acaba, no final, sendo um desocupado, um frustrado ao término de um dia, mesmo porque muitos momentos ficam também perdidos diante de televisão, da internet, das longas conversas inúteis também no celular, da vã verbosidade que não leva a nada. Daí a perda de um centro coordenador das atividades, porque se perde a própria medida das ações essenciais em torno dos conhecimentos a serem adquiridos. Sem a distribuição correta do tempo pode diminuir a autoestima, fator vital para uma boa saúde mental, para  vencer as dificuldades da vida. Adite-se uma alimentação controlada, para não se compensar pela gula a ausência de um projeto de vida bem estruturado. A alimentação exerce um papel crucial na saúde mental. A boa disposição do tempo conduz, além disto, a não se abolir a atividade física regular. Tudo isto ajuda a vencer os momentos estressantes. É de suma importância viver bem cada instante não deixando para depois o que se deve fazer aqui e agora. Nem se pode esquecer que a convivência com os amigos deve ser cultivada e daí o valor também de se pertencer a uma associação como o grupo “Jovens Seguidores de Cristo”. É que a ajuda mútua é de grande valia. Enfim, é preciso estabelecer prioridades que devem ser sempre revistas. * Diretor Espiritual do JSC
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segunda-feira, 25 de março de 2019

O RETORNO DO FILHO PRÓDIGO


O RETORNO DO FILHO PRÓDIGO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Conhecedor dos segredos do coração humano Cristo mostrou o maravilhoso processo da conversão, acentuando a grandeza da misericórdia divina (Lc 15,1-32). Infelizes são aqueles que se deixam levar por uma liberdade ilusória, buscando longe da sabedoria paterna a verdadeira felicidade. Apesar disto, aquele que toma consciência de sua humilhante escravidão e se arrepende sinceramente pode reaver a riqueza malbaratada. A percepção do engano cometido, o pesar pelo erro no qual se envolveu e o retorno para uma nova vida são os passos de quem se contaminou nas mazelas dos vícios, passando a abominar os deslizes cometidos. Deus é bom, é misericordioso e se dispõe sempre a perdoar Não despreza nunca um coração humilhado e arrependido. É generoso, é magnânimo. Na admirável descrição da parábola do filho prodigo uma nova vestimenta, o anel, um banquete festivo são os sinais de uma existência renovada, digna, repleta do genuíno júbilo. Deus é como o pastor que, extraviada a ovelha, vai a seu encalço e, jubiloso, a salva. Ele se assemelha a alguém que tendo perdido uma moeda de sumo valor tudo faz para encontrá-la e extravasa então sua alegria. Belas imagens do regozijo que ocorre no céu quando um pecador se converte. No regresso do filho pródigo é de se notar que à exultação do pai contrasta com a atitude do filho mais velho indignado com a festa promovida para comemorar a volta daquele que estava perdido. Ele se revela um juiz impiedoso de seu irmão e, além do mais, sua conduta não era filial, pois recrimina o pai que no seu modo de ver não valorizava sua fidelidade. Com muita paciência o pai lhe explica, dizendo: “Tudo que é meu é também teu”. Isto significa que a relação do filho mais velho era de um mero serviçal que não sabia usufruir dos bens paternos que eram também seus. Por certo se ele tivesse, por exemplo, pedido ao pai o que fosse necessário para banquetear com seus amigos, o pai lhe daria. É que, além disto, perante o filho que retornara ele se mostrava como pai e não como juiz. É bem o que acontece com tantos cristãos que estão cumulados de bens espirituais e, ao invés de desfrutar dos mesmos, penetrando fundo na generosidade divina passam a vida a lamentar, cegos perante tanta grandeza em seu derredor. Vivem a condenar os outros e a recriminar a Deus pela sua clemência para com os que erram. Todos somos irmãos porque filhos do mesmo Pai que está no céu, aquele que dá a verdadeira vida em Jesus Cristo, querendo sempre a conversão do pecador para que ele viva e se salve. O filho mais velho exaltava orgulhosamente sua obediência que, na verdade, carecia de uma total confiança filial. Para ele esta submissão era um fardo e não uma graça, da qual, aliás, ele não sabia gozar. Para deleitar-se com o Senhor é preciso encontrar o justo lugar junto dos irmãos e do Pai, fonte de amor. Alegria sempre pela conversão dos náufragos espirituais. Se por um lado, nunca se deve agir como o filho pródigo, também é preciso não ter a atitude do filho mais velho, mas reconhecer feliz somente aquele que tem o amor de Deus que vale mais que todas as fortunas. Quem tem consciência desta dileção divina tem tudo. É preciso, porém, saber estimar o valor da intimidade com Deus. Se não foi louvável a autonomia do filho mais novo, a falta do verdadeiro espírito filial daquele que não se afastara do lar paterno não foi menos lastimável. É preciso avaliar continuamente como é que se está comportando perante Deus, mesmo porque é através do reconhecimento interior de sua paternidade amorosa que cada um pode e deve crescer, explorando todos os recursos espirituais que Deus coloca ao alcance de todos que lhe são fiéis. Nunca se deve estar contente com uma dinâmica espiritual que leve a uma rotina no cumprimento dos deveres religiosos. Saibamos sempre abrir as portas da casa paterna para os que a abandonaram e valorizar a felicidade de estarmos juntos de Deus que deve ser filialmente amado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos



  

segunda-feira, 18 de março de 2019

NECESSIDADE DA CONVERSÃO


501 NECESSIDADE DA CONVERSÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta de Jesus deve ecoar no fundo dos corações de seus seguidores: “Digo-vos eu, se não emendardes perecereis todos igualmente”. Esta sentença Ele a ilustrou com a parábola da figueira infrutuosa, que, se permanecesse sem dar fruto, deveria ser cortada (Luc 13, 1-9). Galileus tinham sido sacrificados por Pilatos foi a notícia que trouxeram a Cristo, tendo este lembrado aqueles dezoito sobre os quais caíra a torre de Siloé. Estes episódios serviram para que o Mestre divino corrigisse a opinião popular que prevalecia naquele tempo segundo a qual os males eram sempre sinal da culpabilidade perante Deus a castigar os maus. Julgando assim, os erros próprios ficavam ignorados. Era esta a primeira lição ministrada por Jesus que mostrava serem todos são pecadores e que deveriam, portanto, mudar de vida. Cada um é responsável pelos seus atos. Deus, porém, é misericordioso e, através do profeta Ezequiel, Ele afirma não quer a morte do iníquo, mas que ele se converta e tenha a vida. Se o pecador realmente se aparta das iniquidades que cometeu e faz o que é justo e reto, ele restitui a vida a si mesmo. Donde o apelo divino: “Voltai atrás, convertendo-vos de todos os vossos delitos, e a iniquidade não se tornará a vossa ruina” (Ez 18, 25. 30). Cada um é responsável pelos seus atos e daí a urgência da mudança de vida. Como fica claro na parábola da figueira Deus dá oportunidade para que o pecador “se retraia do seu caminho e viva" (Ez 33,11). Daí a importância da penitência e da esmola que levam à consciência da própria fragilidade e fraqueza. Isto colocando em Deus a mais absoluta confiança. Eis aí o ponto fulcral da conversão. Admirável é a paciência divina, a qual, entretanto, aguarda sempre o resultado do esforço humano, pois o “Senhor é compassivo e entranhável, paciente e rico em bondade” (Sl 102,8). Não se pode, porém, abusar da misericórdia divina, pois, do contrário, a árvore será cortada e lançada ao fogo. Donde ser urgente a necessidade da conversão. Deus retribui a cada um segundo suas obras. A Igreja oferece um terreno fértil através dos sacramentos, da fé, da esperança, da riqueza da vida fraterna e do devotamento aos irmãos e irmãs, para que surjam frutos de paz e alegria. O Senhor é misericordioso e oferece oportunidade a todos para uma renovação espiritual contínua, mas espera o vigor e a autenticidade da resposta cotidiana de cada um. Um elemento basilar da esperança do discípulo de Jesus é que na sua paciência Deus espera a correspondência dos que Ele agracia com seus favores. Daí a necessidade da energia espiritual baseada em profunda humildade, simplicidade e coragem, perseverando o cristão no caminho das boas obras. É o sim que deve ser dado a Deus, tornando a vida fecunda e repleta de merecimentos para a eternidade. O tempo quaresmal oferece oportunidade para o rompimento radical com o pecado em busca da redenção salvadora. Deus espera corações voltados inteiramente para Ele, envoltos na luz de suas graças. É necessário então um exame sincero da própria situação, da maneira de viver perante Deus. Cumpre uma sadia inquietação para que se possa sair do torpor religioso, despertando para uma nova vida. Jesus, contudo, estará ao lado de seu seguidor, lhe estende a mão e o conduz para uma completa revisão de sua existência, visando o progresso na santidade. Jesus invectiva não para condenar, mas para que se deixem de lado as ilusões terrenas, os falsos ídolos que impedem que se possa caminhar livremente em busca da própria perfeição. Ele imprime o desejo da verdade numa relação verdadeira com Ele, com os irmãos e irmãs. Surgem desta forma cristãos que são gente de fé, de comunhão, abertos à união com Deus que oferece sua completa redenção, apesar de toda a pequenez humana. A quaresma é todo um programa de propostas severas que podem até desconcertar os que se deixam levar pela indolência que é obstáculo à produção de bons frutos. A decisão é pessoal e este é o tempo da graça que é concedido a cada um. Um apelo para uma imersão na misericórdia do Pai. Sua bondade se torna o dom de uma coragem persistente na qual se encontra a energia da inspiração necessária para a purificação interior. Deus com suma solicitude está ao lado daquele que se deixa levar pelo anseio de produzir bons frutos e não ser como a figueira estéril. Para que todas as maravilhas divinas se reflitam na vida de cada um é preciso, porém, pedir a Maria, a Mãe de Jesus, sua ajuda, pois nela “a graça divina não foi improdutiva”. Ela nos tornará portadores de Deus, fecundos em virtudes, auxiliando a todos neste tempo quaresmal a se entregarem a uma profunda e necessária conversão.  *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 11 de março de 2019

VIRAM JESUS EM SUA GLÓRIA


VIRAM JESUS EM SUA GLÓRIA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

No episódio da Transfiguração de Jesus um detalhe ressaltado por São Lucas merece atenção especial (Lc 9,28-36). Diz o evangelista que Cristo, “enquanto estava em oração, seu rosto tomou aspecto diferente, seu vestuário assumiu um candor refulgente”. Os discípulos então viram Jesus transfigurado na prece e pela prece. Momentos de pura graça foram para Pedro, Tiago e João contemplar a glória do Mestre divino. Estavam antes oprimidos pelo sono, mas despertaram completamente e se sentiram imersos numa  luz transfigurante. Muitas vezes os que se aproximam de Jesus estão inicialmente sonolentos, sono da fé, porque pouco habituados às maravilhas divinas; sono da esperança, ofuscada pelas ilusões terrenas; sono do amor, desvirtuado pelas mensagens mundanas veiculadas pelos meios de comunicação social. Entretanto, surgem providencialmente instantes surpreendentes que levam a um despertar luminoso das três  virtudes teologais. Isto faz o cristão exclamar com São Pedro: como é bom viver intensamente o contato íntimo com as realidades espirituais que iluminam com o resplendor do Todo-poderoso. Trata-se do júbilo de perceber a presença do Deus três vezes santo nesta terra para um dia contemplar sua face na eternidade. A transfiguração no Tabor foi fugaz, mas anunciava o triunfo definitivo do Redentor da humanidade. Eis porque pôde afirmar São Paulo: “Ressuscitados com Cristo procuramos as coisas do alto lá onde se encontra Cristo, assentado à direita de Deus” (Col 3,1). O Pai transfigura aqueles que olham e cantam seu esplendor, como está na Carta aos Coríntios: “Quanto a nós todos que com o rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transformados nessa mesma imagem, cada vez mais fúlgida como obra do Senhor, o qual é espírito” (2 Cor 3,18). Cristo transfigurado na montanha, então glorificado. Cristo martirizado no Calvário, salvador, manifestando em tudo seu imenso e indescritível amor, mais forte do que a morte. É preciso, contudo, acatar a ordem do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai-O”. Ouvir as palavras de Jesus para ser transfigurado, haurindo todas graças da caminhada quaresmal, vencidas todas as moléstias do corpo e da alma, todas as fraquezas, todos os defeitos. É o convite divino para uma renovação espiritual, desinstalando os que precisam de uma renovação interior, deixando a rotina e se colocando numa peregrinação renovadora até o dia da Páscoa que se aproxima. Combate ao imobilismo e à estagnação. Pedro queria ficar lá no monte com João e Tiago, mas Jesus os trouxe para a realidade que para Ele seria o drama sanguento de sua Paixão e Morte. Lá no Tabor Moisés estava a lembrar a importância do Decálogo e Elias a recordar o valor das lições dos Profetas. Serão felizes e transfigurados aqueles que são fiéis ao Pai. Ao vencer, como vimos no domingo passado as tentações do diabo, Jesus dera uma demonstração desta fidelidade, a qual O levaria ao Calvário. Ele  tomaria sobre si o absoluto do mal  para livrar seus seguidores das garras de satanás e para que o amor tivesse sempre a última palavra. Jesus subiu a montanha para rezar, para se concentrar no Pai e receber dele a força de ser fiel ao Espírito que os unia e que estava sobre Ele. Muitas vezes Ele se retirou sozinho para rezar. No acontecimento de hoje Ele levou consigo três Apóstolos que eram então representantes do corpo eclesial do qual Ele é a cabeça. Seus seguidores conheceriam o júbilo do Tabor, mas também o sacrifício do Gólgota. Ele deixara bem claro: “Se alguém quer vir após mim, que renuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me” (Lc9, 23). Este caminho passa pela morte, mas não é mortífero. Ao contrário é a fonte da vida eterna, conduzindo à luz da felicidade sem fim. Cumpre, porém, escutar Jesus que é a aliança do povo e a luz das nações, pois somente Ele tem a Palavra da salvação eterna. Depois que se ouviu a voz do Pai Jesus estava novamente sozinho. O mistério do grão que lançado na terra morre para dar a vida haveria de continuar nele, na Igreja e em cada um de nós, seus discípulos A missão redentora que Ele consumiria no Calvário seria também a tarefa de seus seguidores.  Se às vezes faltam luz, transfiguração na vida do cristão, é porque o seu alimento não é a vontade do Pai, seu pão não é a Palavra de Cristo, seu olhar está fixado não nele, mas em falsos profetas. Saibamos então contemplar sempre e unicamente a Jesus e Ele nos transfigurará nele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.







 

segunda-feira, 4 de março de 2019

AS TENTAÇÕES E A POSTURA DO CRISTÃO


AS TENTAÇÕES E A POSTURA DO CRISTÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Inicia-se a Quaresma que é um tempo de deserto para onde Deus conduz o cristão para lhe falar ao coração. Diz o Evangelho que Jesus “foi conduzido pelo Espirito ao deserto onde esteve durante quarenta dias (Lc 4,1-13). Trata-se para seu seguidor da procura de um silêncio vivificante, afastamento das distrações mundanas e um maior recolhimento interior. Deste modo, a exemplo do Mestre divino, é que se pode vencer corajosamente as tentações diabólicas. O referencial é a verdade que deve reinar na vida do discípulo de Cristo. Ao reconhecer sua fragilidade diante das provações espirituais e das tentações do inimigo o cristão, superando as incitações para o mal, se dispõe a uma preparação eficiente para a Páscoa. Época, portanto, de uma profunda espiritualização, libertando-se dos critérios do mundo numa luta vitoriosa contra satanás. Jesus permitiu que o espírito maligno o tentasse e os três exemplos registrados pelo evangelista resumem as principais armadilhas do demônio. Este leva muitas vezes o cristão a endeusar o alimento envolvendo-o na gula e fora daquilo que um nutricionista competente prescreveria para a boa saúde. Além disto, muito ousado, como fez com o Filho de Deus, o espírito mau quer ser adorado através das maiores aberrações sexuais ou outras ações perversas. Adite-se, como ocorreu na terceira tentação de Jesus, a deturpação das relações do ser humano com Deus. Tudo isto porque os formadores da opinião através dos meios de comunicação social, vão sorrateiramente envolvendo os incautos na impiedade e no desprezo das coisas sagradas. Quaresma se torna então o tempo favorável para um profundo exame de consciência de tal forma que se possa dizer ao tentador: “Não só de pão vive o homem”, “ao Senhor teu Deus é que adorarás e só a ele prestarás culto”, por meu intermédio não “tentarás ao Senhor”. É preciso, portanto, verificar até onde cada um de nós se coloca no mundo, isso é, ou segundo os critérios de Deus expressos na Bíblia, ou conforme os ditames da mídia multiplicados nos diversos meios de comunicação cada vez mais sofisticados. Revisão de vida para  averiguar  o que se quer de Deus, ou seja, apenas sucesso a qualquer preço, conforto  material, ou até mesmo ousadamente O colocando à prova. Isto porque espírito perspicaz, o demônio sabe multiplicar as emboscadas nas quais os ingênuos podem infelizmente cair. Com isto ele impede que se escute a voz de Deus lá no mais profundo da consciência, não se tendo fome e sede da justiça divina que deve orientar todas as decisões, levando a um sacrifício salvífico e a uma renúncia purificadora. As tentações de Jesus nos mostram o caminho de uma verdadeira conversão. Alimentar-se, isso sim, da Palavra de Deus e render somente a Ele o culto que Lhe é devido. O diabo sabia que Jesus era o Filho de Deus, o que era verdade, mas as consequências que ele tirava foram errôneas e aí o cerne das tentações. Satanás queria que Jesus fizesse prodígios para, enquanto homem, afrontar os planos divinos. O demônio anseia sempre que o homem e a mulher sejam rivais de Deus que é o Senhor de tudo. Este foi o erro de Eva no paraíso querendo, como lhe propôs a serpente, ser a senhora do bem e do mal. Jesus ensinaria a seus seguidores a rezar ao Criador “seja feita a vossa vontade” e não, portanto, desejar as veleidades humanas. Cristo dirá a seus discípulos que seu alimento era fazer em tudo a vontade do Pai e não transformar pedras em pão, nem fazer prodígios desnecessários, ou, pior ainda, adorar aquele que se revoltou contra o próprio Deus. Jesus mostrou que, sendo fiel ao projeto divino e à sua dignidade de Filho de Deus, Ele se mostraria como a Verdade Eterna que se encarnou para salvar a humanidade. Ao vencer as tentações Jesus cumpria as Escrituras e realizava sua vocação bem conforme a sua identidade. Triunfador da fome, do orgulho, do desejo do poder, deixando exemplo magnífico para os seus seguidores. Nas três tentações Jesus mostrou as três atitudes filiais fundamentais: Ser filho de Deus é reconhecer que tudo nos vem dele, recebendo com gratidão o pão de cada dia; é ter confiança no Pai e não O colocar nunca à prova; é se apoiar na Palavra revelada, adorando somente a Ele. Na quaresma é preciso refletir sobre estas verdades, voltando-se cada um para Deus com profunda fé e intenso amor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.