PERENIDADE
DAS PALAVRAS DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Os textos que se referem ao fim do
mundo longe de fixarem uma tragédia, lançam fulgores de esperança anunciando a nova
vinda de Cristo (Mc 13,24-32). Esta é a boa nova do Evangelho de hoje. Isto
dulcifica as imagens que a apreensão dos tempos escatológicos poderia suscitar.
Cumpre ultrapassar a terribilidade dos últimos eventos da história do mundo com
esta certeza dada por Jesus de seu retorno com muita potência e glória. Aliás, deixando
de lado o que ocorrerá no fim do mundo, qualquer contexto da história está
profundamente marcado pela violência, pela injustiça e pelo ódio. Ao anunciar o
término da história Jesus proclama, porém o nascimento de uma nova era na qual
Deus será tudo em todos e não haverá mais choro, nem desgraças físicas e
morais. Então reinará a liberdade, a igualdade e a fraternidade. É para este
mundo novo que caminha a humanidade, mas é preciso que até lá sejam mobilizadas
todas as energias, almejando sempre a vitória do bem e das virtudes, pela
valorização do tempo presente. Antes do cataclismo final que tudo transformará
é necessário preparar a segunda vinda do Filho de Deus a esta terra. Na nossa peregrinação
terrena, contudo, Jesus está continuamente próximo dos que O temem e O amam.
Diante, porém, da miséria e dos pecados o principal é se mergulhar no poder e
no amor do divino Salvador. Coração sempre aberto para acolhê-lo e para viver
na sua intimidade. São Paulo então pôde escrever: “Não há proporção alguma
entre as tribulações presentes e a glória que Deus vai revelar em nós” (Rm
8,18). Cumpre, pois, um encontro transformante com este Deus na fé em Jesus o
qual deve estar no coração de cada um que lhe é fiel, convidando a uma
esperança constante “até que Ele venha” (1 Cor 11,26). Estar unido a Cristo
significa viver em plenitude suas lições de vida e santidade. Sua palavra sempre
colocada acima das ilusões terrenas e passageiras. A perenidade das mensagens
do Verbo de Deus encarnado se sobrepõe à fugacidade dos eventos exteriores. O
tempo do verdadeiro seguidor de Cristo é o tempo do amor a Deus e ao próximo, o
que oferece consistência a suas ações até a revelação total do mistério divino.
É preciso, deste modo, vivificar a capacidade da espera do dia do Senhor. Jesus
é o mestre infalível que mostrou claramente que se pode ir a Deus com confiança
absoluta. Com efeito, diz a Carta aos
Hebreus que Ele ”com uma só oblação tornou perfeitos para sempre os que são
santificados”. É que o encontro com Deus não se dará apenas no final da vida de
cada um ou na consumação dos séculos, mas deve se dar todos os dias. É toda a
vida do cristão que se torna uma oferenda a Ele em união com a oferenda da própria
vida. Este sacrifício espiritual culminará no juízo final. Então os que se
firmaram na palavra perene de Jesus estarão de corpo e alma na glória do céu
pelos séculos sem fim. Assim sendo, está afastado o medo e reina a mais fúlgida
esperança. A vitória final dos bons consagrará a perenidade do que Cristo
ensinou, vencida inteiramente a malícia humana pela hora do imenso amor e
enorme solicitude do divino Redentor, triunfante com todos os seus fiéis
discípulos por toda a eternidade. Desta maneira é com plena serenidade que se
deve abordar o fim do tempo. Cristo veio pela primeira vez para salvar o mundo
e Ele afirmou a Nicodemos que o Pai “enviou o seu filho não para julgar o
mundo, mas para que por ele o mundo fosse salvo" (Jo 3,17). É de se notar
que no Evangelho de hoje São Marcos não fala nem de castigo, nem de punição,
nem de condenação, mas da realização de uma grande cena: “Então se verá o Filho
do Homem vir sobre as nuvens”. Dar-se-á a concretização plena da prece ensinada
por Cristo; “Venha a nós o vosso reino”. Através da história guerras, as mais
variadas agressões no seio das sociedades, desastres naturais, epidemias,
perversidades morais, escândalos, moléstias terminais. Um dia, porém, imperará
a ventura perene com a reunião “dos eleitos dos quatro ventos, do extremo da
terra ao extremo do céu”. Felizes os que estiverem arrolados entre estes
eleitos, porque asseverou Jesus: “Passará o céu e a terra, mas as minhas
palavras não hão de passar”. Encarnemos então suas palavras em nossas vidas,
lembrando sempre o que Ele aconselhou: “Não tenhais medo, eu estou convosco
todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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