segunda-feira, 12 de novembro de 2018

OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS E ESPIRITUAIS


OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS E ESPIRITUAIS
1 INTRODUÇÃO
Fomos criados na misericórdia e para a misericórdia. Jesus foi claro: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36-38).
Sem Misericórdia surgem atitudes  que  afetam a harmonia consigo mesmo e  com o próximo..
A falta de misericórdia gera uma atitude negativa, levando a uma insegurança existencial.
Isto provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir  autocontrolar-se  e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada
Cumpre mostrar o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade  misericordiosa deste Deus que é amor infinito.
Isto porque a misericórdia como o amor, deve ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Eis porque são de suma importância as obras de misericórdia pelas quais o cristão vive o preceito de Cristo que o leva a ser misericordioso.
As  sete Obras de misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada por Jesus na descrição do Juízo Final (Mt 25,31-46).
 A lista das sete Obras de misericórdia espirituais tirou-a a Igreja, através dos teólogos, de outros textos que se encontram ao longo da Bíblia e de atitudes e ensinamentos do próprio Cristo.  Santo Tomás a elas se refere na Suma Teológica (II-II, q. 32, a. 2)

As obras de misericórdia corporais são:
1)Dar de comer a que tem fome
2) Dar de beber a quem tem sede
3) Dar pousada aos peregrinos
4) Vestir os nus
5) Visitar os enfermos
6) Visitar os presos
7) Enterrar os mortos
As Obras de misericórdia espirituais:
1)Ensinar os ignorantes
2) Dar bom conselho
3) Corrigir os que erram
4) Perdoar as injúrias
5) Consolar os tristes
6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
7) Rezar a Deus por vivos e mortos
2 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS
 2.1  Dar de comer a quem tem fome.
Jesus preocupou-se  com a fome dos que O seguiam. A cena da multiplicação dos pães é uma das narrativas mais comoventes, Cerca de cinco mil homens comeram à saciedade naquele lugar deserto.
 As obras sociais da Igreja providenciam então alimento através de promoções como as cestas básicas com quilos de comida, sopas servidas com muito amor.
Luta contínua para que haja da parte dos governantes políticas que afastem a causa da fome e a todos os fiéis inocula o senso da partilha.
 2.2  Dar de beber a quem tem sede
            Claras as palavras de Cristo: “Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa”  (Mt 10, 42).
Daí a necessidade do cuidado com água que pode vir a faltar por causa do desperdício. Em casa as torneiras bem fechadas e o uso racional do precioso líquido ao tomar o banho, na cozinha, na limpeza da casa. Usar a vassoura sempre no passeio em frente à moradia e em outros compartimentos da casa sobretudo na cozinha.

 2.3  Dar pousada aos peregrinos.
Sobretudo nos dias de hoje todo cuidado é pouco no que tange as pessoas desconhecidas, mas trata-se de receber bem parentes e amigos quando de suas visitas. Incentivar continuamente as políticas habitacionais e as associações que acolhem os sem teto. Apoio ao “Lar dos velhinhos” e outras iniciativas que visam minimizar as dificuldades de quem procura um lugar para morar.  Ajudar os membros  da Sociedade de São Vicente de Paulo
2.4 Vestir os nus
Jesus exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a) O apóstolo Tiago  decoficou magnificamente este preceito: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano,  e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?”. (Tg 2, 15-17). Daí a colaboração com os bazares que são feitos junto às Igrejas e com os Vicentinos que conhecem de perto os mais necessitados. O      que estiver inútil no guarda roupa oferecer a estas entidades beneficentes ou diretamente a quem se conhece e não tem como bem se vestir.
2.5  Visitar os enfermos
  Jesus acolheu, atendeu, socorreu e curou os doentes. As  vezes eram levados a Ele no entardecer  (Mc 1,32-34) em outras ocasiões pediam que Ele fosse até a casa do enfermo, como fez o oficial que solicitou a cura do filho que estava morrendo (Jo, 4, 46-53). Na casa de Pedro, curou sua sogra (Mt 8, 14-15). Sua mãe, Maria Santíssima, mesmo grávida, andou quilômetros para ajudar e pôr-se a serviço da idosa Isabel, sua prima, grávida de seis meses.
Esta obra de misericórdia deve ser exercida em casa ou junto dos parentes e amigos, sobretudo, por ocasião de doenças longas e, às vezes irreversíveis.
Trata-se também de um trabalho voluntário em hospitais, asilos, e casas de recuperação terapêutica. Estende-se a uma pastoral urbana que visite e acompanhe aqueles que, nos grandes centros urbanos vivem a dor de sua enfermidade na solidão, e no esquecimento. Interessar-se pela pastoral da saúde.
Estar perto de quem sofre é estar servindo ao próprio Cristo.
Ajudar na compra dos remédios e roupas que se fizerem necessárias. Amparar com as orações que operam maravilhas. Por incrível que pareça, estava a redigir este tópico quando o telefone tocou e era uma senhora a pedir para sua mãe de 95 anos que estava sofrendo com terrível dor de cabeça, sendo que a uma outra pessoa da família a oração por ela fora por este sacerdote feita resultou na sua cura.
 2.6 Visitar os prisioneiros
Jesus foi também taxativo: “Estava preso e me visitaste” ( Mt 25,36). É claro que toda prudência é necessária e a visita aos presidiários nem sempre é conveniente.
Ajudar, porém, aqueles que se entregam à pastoral carcerária dentro das normas vigentes.
Junto das autoridades se pode influenciar para que haja um tratamento humano aos que erraram e cumprem pena.
Não se esquecer das famílias dos que estão presos, pois toda palavra de conforto é saudável em todos os sentidos.
            2,7 Enterrar os mortos
Lemos no Livro de Tobias que ele “com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos (Tb 1, 20).
 Está no Novo Catecismo da Igreja Católica: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300).
Ir ao velório de parentes e amigos é sumamente louvável, além do conforto das palavras as preces diante do falecido têm valor especial diante de Deus e dos familiares.
Cuidar dos túmulos da própria família e insistir junto dos governantes para que zelem pelos cemitérios.

 3 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAL
3.1 Ensinar os ignorantes
Interessar-se pela catequese, orientar os que estão no caminho do pecado, mostrar os valores dogmáticos e morais da Bíblia, dar bom exemplo.
A evangelização é contínua e deve ser feita criteriosamente, levando  a luz do Evangelho  aos que ignoram as maravilhas de tudo que Deus revelou.
São Paulo alertou: “A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente.” (Col 3, 16).
 Pela oração constante, pela vivência pessoal da religião e pela ação oportuna se pode tirar da ignorância os que desconhecem a verdade ou andam pelos caminhos do pecado.
3.2 Dar bom conselho
  Trata-se de imitar a Deus, porque diz o salmista: “Bendito o Senhor que me aconselha, mesmo de noite a consciência me admoesta (Sl 16, 7). É  um dos sete dons do Espírito Santo
É o hábito sobrenatural que perfeiçoa a virtude da prudência, fazendo-nos julgar pronta e seguramente por uma espécie de intuição sobrenatural, o que convém  dizer aos outros, sobretudo nos casos dificultosos.
 O objetivo é a boa direção das ações do cristão, orientando a quem precisa.
Grave omissão é de quem pode e não oferece bons conselhos.
Antes de falar verificar se o próprio conselheiro vive o que vai dizer ao outro. Depois invocar as luzes do Espírito Santo.
 Falar no momento certo com palavras acertadas ditas com muito discernimento.
3.3 Corrigir os que erram
Para Santo Agostinho a correção fraterna deve ser mansa e com caridade. Indica três pontos importantes que devem ser levados em consideração todas as vezes que nos é necessário corrigir alguém, são eles: 
 Nunca se corrige alguém quando estamos perturbados; nunca quando o outro está perturbado e nunca em público.
 Sempre se inicia a conversa indicando um ponto positivo da pessoa, palavras de ânimo e incentivo.
lar a verdade num momento importuno é um desastre.
Primeiro se deve rezar, depois aguardar o instante adequado empregando uma maneira de falar que não figure uma censura, mas o desejo de realmente ajudar. 
Davi era temente a Deus, desejava de todo o coração segui-lo e amá-lo; porém, era fraco e cego pelo pecado, por isso, precisou que o profeta Natã viesse corrigi-lo e  lhe mostrar a verdade. Todos nós necessitamos de um “Natã”, ou seja, alguém capaz de alertar, exortar e ordenar novamente nossas atitudes para a vontade de Deus. Todos nós também necessitamos de um coração semelhante ao de Davi; capaz de reconhecer o erro, arrepender-se e pedir perdão e finalmente retroceder do caminho que leva para longe de Deus.
3.4 – Perdoar as injúrias
Eis o ensinamento de Jesus: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também vosso Pai  não vos perdoará.” (Mt  6, 14-15).
 São Paulo decodificou bem o que Cristo doutrinou e escreveu aos Colossenses: “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixas contra os outros. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai  também vós” (Col 3, 13).
 Este perdão deve ser constante e sem limites (Mt 18, 21-23).Perdoar de coração  leva a esquecer toda injustiça sofrida e a orar pelo ofensor  desejando-lhe tudo de bom.
Diante de uma ofensa, de uma agressão, de um ataque o primeiro movimento meramente humano é cair na defensiva e revidar. Isto ao invés de resolver o problema o agrava, pois o contra-ataque nada  resolve. A falta de perdão lança numa espiral de erros, numa escalada de contradições.
O perdão ensinado por Jesus é um ato de libertação interior, não é uma fraqueza, uma tolice. Ao contrário, é uma prova de que alguém não se deixa dominar pela maldade que seu adversário lhe proporciona e desfaz o círculo malévolo da violência, da incompreensão.
O perdão é sempre um ato criador de harmonia.
Ele permite recrear a relação que foi destruída. É um veemente apelo para que o mal não tenha nunca a última palavra, mas dê lugar a um ato de dileção.
Amar apesar de tudo, acima de tudo, não obstante tudo, apesar da atitude malévola do próximo. Isto é possível quando se considera constantemente a que ponto Deus ama a cada um de nós com uma  ternura de Pai, de Amigo, e ama apesar dos pecados cometidos contra Ele.
 É preciso sempre se imergir na imensidade de Sua misericórdia para difundir clemência em todas as circunstâncias por mais penosas que sejam. Eis aí a chave do perdão.
Quem age como filho e filha de Deus, andando sob o Seu amor, é possível perdoar. Quem experimenta o quanto é amado pelo Pai do céu, tem a força insuperável de anistiar as ofensas alheias.
Como é bom imitar Jesus que insultado, vilipendiado no alto de uma Cruz indultava seus ferozes inimigos: “Pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem”.
 É sempre necessário analisar a razão última das atitudes agressivas do próximo, pois isto facilita relevar-lhe o insulto, a perversidade.
Nunca se medita demais nas palavras do Pai Nosso: “Perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos ofendeu
            3.5 Consolar os tristes
São Paulo, prisioneiro, confortava as comunidades em suas tribulações, tristezas e sentia-se confortado por elas (At 16,40.20,1; 2Cor 2,7; Col 2,2). 
Todos nós passamos  por instantes de angustia, medo, tristeza, desânimo, todos nós devemos superar estes momentos e procurar consolar os tristes. Terrível a angústia de Jesus no Horto das Oliveiras (Mt 26, 37 ss) e um anjo do céu veio confortá-lo (Lc 22,43).
 No contexto atual multiplicam-se as causas de depressão e é um dever do cristão ser arrimo para com os que sofrem entregues ao desânimo. Rezar por eles e lhes levar palavras de conforto. Jesus consolou Marta e Maria ao ensejo da morte de Lázaro (Jo 11,19).
São Paulo explica qual deve ser a atitude do cristão: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação,  que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!” (2 Cor 1, 3-4).
Eis o que Ele disse aos Tessalonicenses: “Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros.” (1Tes 5, 11). Procurar cada um não ser causa de aborrecimentos para os outros em casa e em qualquer lugar. Não ser indiferente às tragédias alheias e perceber sempre o amargor das lágrimas dos sofredores.
3.6  Suportar com paciência as  fraquezas do próximo
Este o conselho de São  Paulo aos Tessalonicenses: “Tende paciência para com todos” ( 1 Tes 5,14). Aos Romanos ele dizia: “Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos que menos o são” (Rom 15,1)
A prática da paciência  sobrepuja a tudo o mais no relacionamento diário e é de grande proveito para  a vida social. É que a paciência é a arte de tocar o coração  dos que padecem.
A paciência é a chave que abre as portas do coração do sofredor  e leva remédio aos seus males. Donde o imenso valor da jaculatória: Jesus manso e humilde de coração fazei o meu coração semelhante ao vosso”.
3.7 Rezar  a Deus pelos vivos e pelos mortos
A oração do cristão é uma voz poderosa que penetra até o céu e abre os tesouros divinos. Tal a promessa explícita de Jesus: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7).
Aliás, o divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua assertiva, dado que também disse: “Tudo que pedirdes em meu nome, fá-lo-ei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jô 14,13).
Desta forma, Cristo empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo conceder a quem piedosamente orasse.
Uma prova do valor da oração mostram os mais significativos edifícios da terra que são os consagrados às preces dos fiéis, desde as pequenas capelas até os grandes templos e majestosas catedrais e basílicas nos quais ecoam os mais belos hinos que são as preces dirigidas ao céu.
  A oração é a fonte de todas as bênçãos para a humanidade e tão importante para o homem como a chuva é necessária às sementeiras, a água ao peixe e o sol à natureza.
Cumpre rezar também pelos mortos.
 Daí a importância da oração pelas almas do purgatório. A alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada, deve expiar durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória eterna.
Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque cometeram faltas leves e não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem como no caso dos pecados mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória terrena, não pode entrar no céu. Purificam-se no purgatório e podem ser amparadas pelas orações dos fiéis e pelos sacrifícios oferecidos a Deus por elas.
Essas almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a justiça divina reclama a purificação total antes da entrada no céu..
O dogma da comunhão dos santos mostra que se pode, de fato, abreviar as penas dos que sofrem nesta antecâmara do céu.
Aliás, todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram. Saibamos, porém, sufragá-las com nossas orações  e sacrifícios durante todo o ano, pois, se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós.
Nunca se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2 Mc 12, 45).

4. CONCLUSÃO*
* As obras de misericórdia corporais e espirituais nos ajudam a sermos mais perfeitos
* Praticando as obras de misericórdia corporais e espirituais o cristão se aprimora espiritualmente
e ajuda a construir um mundo melhor
* Pelas obras de misericórdia corporais e espirituais entramos em comunhão com os vivos e os             mortos
 *As 14 obras de misericórdia encontram sua perfeição e seu modelo em Cristo que as ensinou e praticou (Jo 13,15).
* Os justos do Antigo Testamento e todos os santos do Novo Testamento as continuamente as exercitaram e através delas chegaram a uma notável perfeição.



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