segunda-feira, 2 de julho de 2018

A incredulidade dos nazarenos


A INCREDULIDADE DOS NAZARENOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Em Nazareth Jesus ficou decepcionado com a descrença de seus concidadãos e lhes dizia: “Um profeta não é desprezado senão em sua terra” (Mc 6,1-6). Como mestre Ele já havia deixado lições magníficas, ensinando as multidões inclusive através de significativas parábolas. Como Deus poderoso que era, numerosas as curas que operava, mostrando-se o grande Profeta, taumaturgo onipotente, a quem os espíritos imundos obedeciam. Seus ouvintes ficavam admirados e exclamavam: “Uma doutrina nova ensinada com autoridade” (Mc 1,27). Entretanto, indo a sua terra Ele percebeu que lá sua missão não fora decodificada “e não podia fazer ali nenhum milagre”. Hoje, como outrora, Jesus vem a cada um, mas Ele não se impõe, não força ninguém a acatá-lo como Messias e único salvador. Está escrito no Apocalipse> “Eis que estou à porta e bato. Se algum ouve a minha voz e abre a porta, eu entrarei e tomarei a refeição com ele e ele comigo! (Ap. 3,20),. Ele exige uma abertura do coração, um acolhimento cordial. Ele não observa em cada pessoa  o seu coração. Se este está disposto a recebê-lo se dá o que ocorreu um dia com Zaqueu: “hoje a salvação chegou a esta casa”.(Lc 19,9). Em Nazaré muitas portas se fecharam para Jesus É o que ocorre com quem não crê na redenção de Deus, na sua ternura, na sua misericórdia, no seu amor. Ficam, como os nazarenos, fechados na sua incredulidade. Somente aos que o acolhem escutam o que foi dito a São Paulo: “Basta-te a minha graça, pois é justamente na fraqueza que a força da graça mostra sua potência” (2 Cor 12,9). Na existência do cristão surge muitas vezes o conflito entre a visão da fé e a vida cotidiana; entre o desejo de Deus e o peso dos hábitos; entre a liberdade oferecida por Cristo e o apego às coisas materiais; entre o que Jesus ensina e o que se faz, se diz e se pensa. Trata-se de uma tensão que tantas vezes atordoa o fiel, mas este pode reagir com sucesso por entre as tarefas de cada hora. É no cerne de nossas obrigações que cumpre louvar e servir a Deus, guardando sempre um tempo para Ele a quem se deve consagrar tudo que se faz. Assim como Jesus foi a Nazaré, ele vem a cada coração e deixa o apelo de nossa conformidade com a vontade divina, com tudo o que Ele ensinou. É em sua vida concreta que o cristão precisa reconhecer Cristo num ato de profundo amor. Eis porque é tão importante viver na presença de Deus. Jesus fará então que cresça o entusiasmo pelo progresso espiritual na certeza de que  podemos amá-lo onde estivermos, tais como somos, com todas as nossas energias apesar de todas as misérias do corpo de da alma. Isto numa luta perseverante porque os sentimentos humanos são muito flutuantes. Os habitantes de Nazaré pensavam que conheciam Jesus, mas, de fato, não o reconheciam somente como o carpinteiro, um concidadão como outro qualquer. No entanto Ele já se apresentava num contexto muito maior, contexto anunciado pelos profetas. Por isto, ele foi embora de Nazaré sem aí fazer grandes coisas. Continuou em outros lugares sua missão no encontro com  pessoas que nele creriam e por Ele seriam salvas. Num outro horizonte um encontro maravilhoso para multidões que apinhoariam em seu derredor e proclamariam que Ele era o Filho de Deus. Em Nazaré sua mensagem estava bloqueada. Esta situação de incompreensão ou de não aceitação do Evangelho seria vivida por muitos através dos tempos. Muitos que diante das aflições, dos problemas na família, no trabalho, na sociedade em geral haveriam de desprezá-lo. Jesus foi a Nazareth e foi recusado. Isto serve de alerta, pois bem se expressou Santo Agostinho: “Temo a Jesus que passa e pode não voltar”. Cumpre que sempre percebamos Jesus passando às portas de nosso coração que só se abre por dentro, dado que Ele respeita a liberdade de cada um. Cristo não arromba a porta, mas bate suavemente. Pede acolhida e quer um diálogo amigo, salvador, mas exige muita sinceridade da parte de cada um. Ele deseja que tenhamos sempre a disposição e a maleabilidade à graça de sua presença. A Deus que vem até nós é preciso dizer com Davi: “Fazei-nos ver, Senhor, teu amor e dai-nos vossa salvação” (Sl 84,8). Segundo o salmista, “o que Ele diz é a paz para seu povo e seus fiéis e que eles não voltem nunca a sua loucura” (Idem, v 9).”. Não se pode, realmente, nunca deixar passar a hora de Deus que continuamente distribui suas mensagens salvíficas. Não é necessário realizar grandes coisas para que Jesus nos convide a estar com Ele. É preciso saber captar suas inspirações e segui-las com fé e prontidão. O importante é saber acolher sua misericórdia infinita com alegria e perseverança. Ofereçamos a Ele nossa disposição de progredir sempre mais espiritualmente e ele fortificará o nosso espírito, solidificará nossas resoluções e nos cumulará de graças maravilhosas que não lhe foi possível dar aos habitantes de Nazaré. * Professor no Seminário de Mariana durante40 anos.

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