O ESTILO DOS EVANGELIZADORES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O cerne
das palavras de Jesus ao dar missão aos doze apóstolos deve ser entendido no
seu sentido mais profundo de uma metodologia admirável (Mc 6,7-11). Ele queria
que a vida dos que Ele enviava se modelasse de acordo com a palavra que eles
anunciassem. O programa de ação de seus evangelizadores não estaria sujeito a
um mero formalismo, como caminhar trazendo consigo um bordão, mas deveria ser
entendido na significação mais ampla. São ordens de uma densidade imensa, dado que
eram baseadas em maravilhosas diretrizes. Inculcavam confiança absoluta na
Providência divina de quem viria tudo que fosse necessário para a atividade
missionária, donde o desapego dos bens materiais, de tudo que fosse supérfluo.
Eram uma mensagem para o sucesso espiritual de uma missão sublime. Jesus queria
que o pregador da boa nova não estivesse envolto em nenhum interesse pessoal.
Seria com estes ingredientes que os pregadores do Evangelho expulsariam
demônios e curariam enfermos. É, deste modo, que através dos tempos
continuariam a agir os evangelizadores, a saber, os papas, os bispos, os
padres, os catequistas, os pais, os educadores os intercessores. Todos eles a
expulsarem os demônios dos vícios, dos pecados mais abomináveis a curarem
através da Palavra divina as enfermidades do corpo e da alma, irradiando paz e
amor. Os esposos sendo testemunhas da aliança de Deus, todos os cristãos
procurando serem outros Cristos, iluminando o contexto social em que vivem. Ao
enviar os apóstolos dois a dois Jesus mostrava o valor do trabalho missionário
em equipe, visando efeitos espirituais. Jesus inoculava também um intenso
espírito de pobreza, condição para o êxito apostólico. Nem todo mundo aceitaria
o projeto de Deus, a aventura de ser cristão em profundidade, mas eles se
condenariam por não aceitar as mensagens divinas. Eis aí o paradoxo cristão,
dado que a Palavra de Deus respeita sempre a liberdade humana. Por causa da infidelidade
muitos correriam o risco da alienação ao dar preferência às ilusões terrenas de
onde surge a oposição ao Evangelho. Deus oferece sempre a felicidade e a
verdadeira alegria, mas muitos, como o Filho Pródigo, as desprezam e preferem o
pó das iniquidades que se voltarão conta eles mesmos, fruto das misérias de
suas devassidões. Sem a correspondência às oportunidades oferecidas por Deus
faltará sempre a muitos o elã que o Espírito Santo imprime na vida dos que
recebem, ouvem e praticam as inspirações que Ele oferece através das pregações
evangelizadoras. Donde o cuidado que se deve ter em não confundir certeza com indolência
espiritual, fé e infantilismo religioso, confiança filial e abandono das obrigações
próprias de cada um. Uma reinvenção errônea da Palavra de Deus causa todo tipo
de desgraça bem alertado por Cristo, resultando o desprezo da graça advinda da
pregação profética. Esta pregação emana do exemplo e da palavra de cada cristão
que é um ser humano chamado e enviado aos outros. Trata-se do apelo contínuo à
conversão, pois tal é a missão do evangelizador: fazer um apelo à
interiorização da Palavra divina. Então, a ação de satanás é impedida e se
instala uma nova arte de viver mais próximo de Deus, mesmo porque a ação final
nunca é do evangelizador, mas provém de Cristo Ressuscitado que envia todo
cristão para obra de tão transcendental importância que é a salvação para
todos, missão conferida a todo batizado que participa do múnus profético do Redentor.
Grande, portanto, a responsabilidade de cada cristão que deve anunciar o
Evangelho onde quer que viva. Com a graça de Deus o cristão pode e deve tirar
os outros da esfera do mal e do pecado, atraindo o pecador para o bem. Donde
ser imprescindível a coerência de vida para que o bem possa se irradiar. O
programa de evangelização traçado por Cristo foi vivido intensamente pelo
Apóstolo Paulo que assim se expressou: “Ai de mim se eu não evangelizar”. É por isto que ele se colocou inteiramente a
serviço de seus irmãos e à causa da evangelização. Ele se fez escravo de todos para
salvar a todos (1 Cor 9, 19-23). A seu exemplo os evangelizadores, incluídos, é
claro, os catequistas, devem ter uma grande dileção para com seu público alvo. O
Apóstolo falava até num certo ciúme que havia em seu coração com relação a
todos que orientava e guiava (2 Cor ll,2).
A este apostolado ele consagrava todas as suas forças de sua rica personalidade.
Tornou-se, realmente, um exemplo para todos os evangelizadores. Isto vinha de
sua paixão por Cristo que Ele desejava fazer conhecido e amado. A ele estava
sempre profundamente ligado. São João Crisóstomo afirmou: que o coração de
Paulo era o coração de Cristo. Imitando este apóstolo todos que se dedicam à
evangelização realizarão inteiramente o programa pastoral traçado por Jesus no
Evangelho de hoje. * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.
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