quinta-feira, 14 de junho de 2018
A VIRTUDE DA PACIÊNCIA
06 A VIRTUDE DA PACIÊNCIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho A
A virtude da paciência tem por objeto mitigar a perturbação e o desgosto que sobrevêm pelos males presentes e faz com que o cristão seja manso e tranquilo diante das contrariedades causadas pelo próximo e perante as contradições da vida. É contrária ao vício capital da ira. Proporciona tranquilidade e afasta qualquer tipo de nervosismo. Por esta virtude o discípulo de Cristo valoriza as tribulações inevitáveis a este exílio terreno. Por ela adquirem-se méritos e se segue de perto ao Mestre divino. Lemos na Carta aos Hebreus: “Vos é necessária a paciência para que, fazendo a vontade de Deus, possais alcançar os bens prometidos“ (Hb 10,36). Cristo deixou claro: “Com vossa paciência possuireis vossas almas” (Lc 21,19). Quem cultiva esta virtude tolera as fraquezas dos outros e está sempre disposto a perdoar. Tal o sábio conselho de São Paulo: “Não ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4,26). De fato, pois, do contrário, as trevas aumentariam o ressentimento com todas as suas funestas consequências. Jesus se fez o modelo para todos os seus seguidores, pois suportou heroicamente as torturas físicas e morais e solenemente perdoou seus inimigos lá no alto da Cruz. A impaciência é uma força brutal que desfigura o cristão e o impede de seguir a Cristo. A agitação, o rancor deslustram a existência humana e, até, prejudicam a saúde. Donde o conselho do Livro dos Provérbios: “Não te associes ao colérico nem andes com o iracundo com receio de aprenderes os seus costumes e preparares um laço para tua vida” (Pr 22, 24 25). São Paulo exorta a rejeitar entre outros erros a cólera e a animosidade (Col 3,8). Para isto é preciso ter confiança em Deus em qualquer circunstância. Ele deve ser um refúgio no momento do desgosto. O salmista mostra que só é feliz aquele que se apoia em Deus e coloca sua esperança no seu Senhor (Sl 145,4). Deus quer que caminhemos pelas estradas da paz, da imperturbabilidade A Ele o fiel deve sempre pedir que sua língua, seu coração, sua vida, suas energias estejam inflamados pela paciência. Coisas maravilhosas acontecerão em consequência, em seu derredor. Quem é paciente habita na casa da felicidade. Ao analisar a impaciência e a ira se percebe que estes defeitos surgem quando nossos desejos não são satisfeitos e nos momentos nos quais os outros, com ou sem razão, nos afligem. Quando o ser humano não é paciente ele cria uma espiral de decepções, de revolta e até de violência contra as pessoas. Se o conflito interior não é analisado com inteligência à luz da fé muitas vezes o ser humano se desdobra em expressões contra si mesmo, contra o Criador e contra o próximo. Daí surgem o desespero, a blasfêmia e as agressões. É um ato de sabedoria desmascarar a impaciência para que se evite tudo isto. Não se deve habituar a viver na irritação. É lógico, portanto, que para progredir na perfeição cristã cumpre cultivar a paciência, porque as provações e desgostos se multiplicam a cada hora e é necessária a calma ante as atitudes agressivas do próximo que nos molesta e irrita. Não existe nada melhor também do que conseguir acalmar o coração e cultivar a arte de esperar tudo acontecer no tempo certo. Dar tempo ao tempo! A ansiedade de fazer logo tudo de uma vez, se torna tão intensa que muitos chegam a se entregar a uma aflição doentia. Além disto, muitas vezes se depositam infantilmente as expectativas em acontecimentos, em pessoas, em anseios ilusórios e surgem depois as frustrações. É preciso controlar a vontade absorvente de fazer com que tudo aconteça segundo os próprios moldes mentais Entretanto, por ser a paciência uma virtude, o cristão paciente não é sem vigor, apático, frio, insensível. Paciência nada tem a ver com o modo de ser estoico que leva ao desinteresse de tudo para se isolar na ilha de uma falsa serenidade. Trata-se de um hábito moral, ou disposição da alma para enfrentar as vicissitudes existenciais e o relacionamento com os outros, sabendo que só Deus é perfeito. O paciente fica imunizado contra os aguilhões da angústia, suportando com ânimo os males e as brutalidades do próximo. Saliente-se que a falta de paciência não se manifesta apenas nas palavras hostis, nas ações violentas, nos insultos, mas também no desalento, no abatimento. É que o paciente se entrega nas mãos de Deus e acaba triunfando de todos os percalços, * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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