quinta-feira, 28 de junho de 2018
NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um título conferido a Maria, mãe de Jesus, representada em um ícone de estilo bizantino. Trata-se de um ícone notável, venerado desde 1865 em Roma, na Igreja de Santo Afonso de Ligório, dos redentoristas, na Via Merulana. Tendo vindo da ilha de Creta e estado antes na Igreja de S. Mateus, igualmente em Roma, onde tinha sido solenemente entronizado no ano de 1499. O ícone é uma variante do tipo hodigítria cuja representação clássica é Maria em posição frontal, num braço ela trás Jesus que abençoa e, com o outro, O aponta para quem observa o quadro. Este gesto alude à frase “É Ele o caminho”. Na representação os arcanjos Gabriel (manto lilás) e Miguel (manto verde), na parte superior, de um lado e do outro de Maria, apresentam os instrumentos da paixão. Um dos arcanjos segura a cruz e os cravos que perfuraram os pés e as mãos de Cristo e o outro a lança e a cana com uma esponja na ponta ensopada de vinagre. Ao ver estes instrumentos, o menino se assusta e agarra-se à mãe, enquanto uma sandália lhe cai do pé. Na Igreja ortodoxa é conhecida como Mãe de Deus, ou ainda, a Virgem da Paixão. A devoção, no Ocidente a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro deve-se à ação dos Missionários Redentoristas que difundiram esta prática religiosa por onde passaram. Relembra a Virgem Maria como socorro dos cristãos nas horas de necessidade e sofrimento. Maria é, realmente, o Perpétuo Socorro de seus devotos. Por tudo que padeceu em sua existência é o amparo em todas as circunstâncias. A vida humana é, realmente, quer queiramos ou não, pontilhada de amarguras. Estas visitam o ser mortal a cada passo e, muitas vezes, deixam sequelas profundas. Umas decorrem de fora, outras são inatas à finitude ontológica do ser humano. As primeiras ocorrem ao ensejo do falecimento de entes queridos, das atitudes maldosas do próximo, das injunções conjunturais a envolverem quem labuta neste exílio terreno. Possuem matizes variados e são detonadoras de outras tribulações. As causas internas podem gerar moléstias orgânicas, estados mórbidos psíquicos, depressões. A capitulação às insídias diabólicas por força da inclinação ao mal, fruto do pecado original, às vezes colocam as consciências em frangalhos imprevisíveis. Os mais variados problemas surgem continuamente aumentando a ansiedade. Adite-se que não é fácil cada um conviver consigo mesmo. O Livro do Eclesiástico retrata bem esta situação existencial do homem: "Vi tudo que se faz debaixo do sol e vi que tudo era vaidade e a aflição do espírito” (Ecl 1,14). Tudo isto, porém, faz parte do processo soteriológico pessoal. Se é verdade que por vezes, a angustia humana pode ser evitada, porque ocasionada pela própria pessoa, por suas imprudências e erros individuais, em outras ocasiões Deus as permite como oportunidades magníficas de aprimoramento espiritual. Os textos bíblicos revelam que se conturba o ânimo diante de uma situação difícil, perante osbstáculos que vão aparecendo. Surge então o temor, a perplexidade. O termo grego stenocoria significa estar mergulhado em miserabilíssima apreensão. É um estado de desolação que aflige quem nele se acha. Na velhice, sobretudo, o campo esta franqueado a todo tipo de situações penosas. Ora, se assim é, Maria que tanto sofreu, juntamente com Jesus, sabe melhor do que ninguém o amargor da lágrima de cada um, a acerbidade do mal que atanaza o espírito e o corpo, a agrura do sofrer, a mágoa que fere, o tormento que aflige. Ela esteve ao lado do seu divino Filho sofredor, viveu os transes de sua Paixão e Morte. Padeceu com tudo isto e, deste modo, está apta para vir em socorro de todo aquele que sofre. Ela sabe e pode ajudar os seus devotos e porque muito os ama não os desampara. O papa São João Paulo II mostrou o fundamento desta sublime realidade: “Era deste amor misericordioso, precisamente, o qual se manifesta, sobretudo, em contato com o mal moral e físico, que participava de modo singular e excepcional o coração daquela que foi a Mãe do Crucificado e do Ressuscitado. Sim, Maria Santíssima participava de tal amor, e nela e por meio dela o mesmo amor não cessa de revelar-se na história da Igreja e da humanidade. Esta revelação é particularmente frutuosa, porque se funda, tratando-se da Mãe de Deus, na singular percepção do seu coração materno, na sua sensibilidade particular, na sua especial capacidade para atingir todos aqueles que aceitam mais facilmente o amor misericordioso da parte de uma mãe”. De fato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está sempre atenta às necessidade de seus filhos, Ela consola, conforta e ampara. Assim sendo, nada melhor do que a venerar e implorá-la, sobretudo, no dia 27 de junho a ela, especialmente, consagrado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
Ó Mãe do Perpétuo Socorro, nós vos suplicamos, com toda a força do nosso coração, amparar a cada um de nós em Vosso colo materno, nos momentos de insegurança e sofrimento. Que o Vosso olhar esteja sempre atento, para não nos deixar cair em tentação e, que em vosso silêncio, aprendamos a aquietar nosso coração e fazer a vontade do Pai. Intercedei junto a Ele pela paz no mundo e por nossas famílias. Abençoai todos os Vossos filhos e filhas enfermos. Iluminai nossos governantes e representantes para que sejam sempre servidores do grande povo de Deus. Concedei-nos, ainda, muitas e santas vocações religiosas, sacerdotais e missionárias para a maior difusão do Reino de Vosso Filho Jesus Cristo. Enfim, derramei no coração dos Vossos filhos e filhas a Vossa bênção de amor e misericórdia. Sede sempre o nosso Perpétuo Socorro na vida e, principalmente na hora da morte. Amém.
segunda-feira, 25 de junho de 2018
A MISSÃO DO PAPA
A MISSÃO DO PAPA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admiráveis as palavras de Jesus ao primeiro Papa: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16,13-19)”. Foi todo um programa de vida, alicerçado num palavra criadora. Desde então, Simão, o pescador será o rochedo de fundação para Igreja de Cristo. Nunca se reflete demais sobre a importância do Papa para a fé católica e para o projeto salvador do Filho de Deus. Vigário de Cristo, “o doce Cristo sobre a terra” na expressão de Santa Catarina, a ele é devida não somente subordinação hierárquica, mas “verdadeira obediência não apenas nas questões que concernem a fé e os costumes, mas ainda naquelas que dizem respeito à disciplina e o governo da Igreja”. Sublime, de fato, a missão dada a Pedro e a seus sucessores. O papa tem o poder supremo do magistério. Como a condição primeira de salvação é guardar a regra da fé ortodoxa, a tarefa papal tem sido realizada através dos tempos graças à promessa de Cristo de que o erro não prevaleceria nunca em sua Igreja. Defensor da Verdade, o soberano pontífice zela pela integridade completa da doutrina revelada por Deus. Trata-se de um carisma indefectível concedido por Cristo a Pedro e a seus sucessores com o enorme encargo da salvação de todos os seus seguidores. Deste modo o rebanho de Jesus, liberto dos extravios venenosos dos erros. sempre tem sido sustentado pela doutrina celeste. Uma Igreja conservada na unidade, solidamente fundada numa rocha imperecedoura, firme contra as invectivas infernais. Através do Papa é o próprio Cristo que governa de maneira visível sua Igreja nesta terra através dos tempos. É por isto que a sujeição à Sé Apostólica é imprescindível para o autêntico discípulo de Jesus sob pena de se tornar um herege. O respeito à autoridade do Papa é elemento fundamental para as ovelhas de Cristo. Em vão se insurgiram aqueles que intentaram retalhar a túnica incorruptível de Cristo que é a Igreja. Passaram e passarão sempre, perdida a prerrogativa de católicos por causa dos desvios dogmáticos, morais e inúmeros subterfúgios, tentando deslustrar a missão do Chefe da verdadeira Igreja de Cristo. Cismáticos endurecidos nas suas contradições! O verdadeiro amor e obediência ao Papa distinguem o autêntico católico. Isto porque o Papa é o pastor de toda a Igreja. É a garantia absoluta da transmissão da mensagem do Evangelho e da unidade da Igreja. Assim o Papa não é um “super-bispo”, mas o Pastor universal. Aliás, Cristo disse a Pedro após sua ressureição, conferindo a ele o primado: “Apascenta os meus cordeiros [...] apascenta o meu rebanho” (Jo 21,15-18). Trata-se de uma universalidade sem exceção alguma. Antes, Jesus já havia determinado a Pedro: “Simão, Simão, eis que satanás vos procurou para vos joeirar como o trigo; mas eu roguei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22,31-33). Como bem se expressou São Leão Magno, “s segurança de todos depende de Pedro” (Sermão IV, 3). Grande a responsabilidade do Papa, mas o fundador da Igreja seria sempre o intercessor poderoso que jamais deixaria fraquejar Pedro e seus sucessores. Daí a infalibilidade de um magistério quando o Papa fala “ex-cathedra". Assim se expressa o Catecismo da Igreja Católica: “Goza desta infalibilidade o Pontífice Romano, chefe do colégio dos Bispos, por força de seu cargo quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de doutrina que concerne à fé ou aos costumes… A infalibilidade prometida à Igreja reside também no corpo episcopal quando este exerce seu magistério supremo em união com o sucessor de Pedro”, sobretudo em um Concílio Ecumênico. Quando, por seu Magistério supremo, a Igreja propõe alguma coisa “a crer como sendo revelada por Deus” como ensinamento de Cristo é preciso aderir na obediência da fé a tais definições. Esta infalibilidade tem a mesma extensão que o próprio depósito da Revelação divina. (§ 891). Por tudo isto, diante da sublime e grandiosa missão do Papa fluem as obrigações dos fiéis em orar pelo Chefe da Igreja, de seguir suas orientações, de ler e estudar as Encíclicas e demais Documentos Pontifícios numa lealdade constante. O Papa conta com nossas orações e merece nossa fidelidade.* Professor no Seminário de Mariana durame 40 anos.
segunda-feira, 18 de junho de 2018
A IMPORTÂNCIA DE SÃO JOÃO BATISTA
A IMPORTÂNCIA DE SÃO JOÃO BATISTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O nascimento de São João Batista foi marcado por fatos extraordinários que mostraram que “a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1,57-66.80). A seus pais, Zacarias e Isabel, já idosos, ocorre, o que era inconcebível aos olhos humanos, um acontecimento de fato inesperado. O que poderia parecer inacreditável acontece: eles teriam um filho. Isto mostra como Deus reserva aos homens surpresas inimagináveis. Nem sempre cada um reflete e repara nos acontecimentos de sua existência terrena. São fatos que retêm significado profundo, indicando que o bom e o bem estão sempre advindos para os que temem o Senhor. É preciso estar atento a tantas benesses divinas. Por entre as aflições próprias de um exílio, fulgem continuamente luminosidades que são um apelo à gratidão para com Deus. Aliás, tal foi a mensagem que o filho de Zacarias e Isabel lançaria através de sua palavra de Profeta do Altíssimo, preparando os caminhos do Redentor: encorajanva a todos a praticar a Lei, a serem bons, a partilharem o que tinham com os mais necessitados. João Batista seria o animador da esperança, anunciando a visita daquele que viria para iluminar os que habitam as trevas e a sombra da morte, para conduzir a todos pelos caminhos da paz. Importante por ser o precursor do Messias, seus admiradores através dos tempos seriam arautos de fagueiras expectativas, jamais se curvando a um pessimismo deletério. Eis porque a festa de seu nascimento impregna os corações e as mentes de um profundo júbilo apesar das decepções e das desilusões deste exílio terreno. João significa “Deus concede graça”. É isto que Deus realiza para todos a cada hora. O Criador, como fez nos tempos de Moisés, intervém continuamente a fim de abrir para todos um caminho de libertação. Esta, aliás, seria a tônica da pregação de João Batista que concitaria seus ouvintes a preparar o caminho do Senhor, a aplainar suas veredas, preenchendo os vales da indiferença, abaixando o monte do egoísmo, pois é assim que todo homem veria a salvação de Deus. Os louvores a João Batista devem então levar os fiéis a receber ainda com mais fervor Aquele que veio para salvar toda a humanidade, fugindo de todo desencontro com o Salvador. Cada situação humana deve ser vivida como uma relação ininterrupta com Deus. Eis porque São Lucas ressaltou que João “crescia e se robustecia no espírito e viveu nos desertos”. Foi longe do bulício dos homens que Ele se entregou à espera daquele que viria, se disponibilizando para o encontro com o Cordeiro de Deus. A seu exemplo é no silêncio, nos momentos de recolhimento, que cada um pode se tornar disponível para receber e fazer frutificar as graças divinas, tornando-se outro João Batista, apto a anunciar as maravilhas de Deus. Deste modo, a festa de hoje se torna a solenidade da alegria, porque comemoração da misericórdia com a qual o Criador envolveu os progenitores do escolhido para preparar a vinda de Jesus a este mundo. Zacarias o pai de João Batista foi colocado por Deus num momento decisivo, crucial da história de toda a humanidade, pois seu filho proclamaria a presença do Messias nesta terra. Zacarias, de incrédulo, se tornou o primeiro profeta a anunciar que as Escrituras iriam já se cumprir; de mudo, ele se tornaria aquele que anuncia os louvores e as bênçãos do Todo-Poderoso. O mundo iria se transformar e Zacarias exclama: “Tu menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois precederás o Senhor para preparar-lhe o caminho, ensinando ao seu povo a senda da salvação na remissão dos seus pecados, graças à entranhada misericórdia de nosso Deus”. O Messias haveria de transformar cada um que O recebesse em um homem novo, um homem segundo o coração do Onipotente. Por tudo isto alegremo-nos nesta festividade em honra de São João Batista personagem que foi investido de uma missão tão grandiosa. Entre os filhos dos homens não há nenhum maior do que ele, como afirmou o próprio Cristo (Mt 11,11). João Batista se apresenta diante de nós, realmente, com uma dignidade eminente, única nos anais dos povos. Louvemos com fervor este santo admirável, mas, sobretudo, procuremos imitar suas virtudes e, entre elas, sua profunda humildade. Assim, um dia, estarem com ele lá no céu por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 14 de junho de 2018
A VIRTUDE DA PACIÊNCIA
06 A VIRTUDE DA PACIÊNCIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho A
A virtude da paciência tem por objeto mitigar a perturbação e o desgosto que sobrevêm pelos males presentes e faz com que o cristão seja manso e tranquilo diante das contrariedades causadas pelo próximo e perante as contradições da vida. É contrária ao vício capital da ira. Proporciona tranquilidade e afasta qualquer tipo de nervosismo. Por esta virtude o discípulo de Cristo valoriza as tribulações inevitáveis a este exílio terreno. Por ela adquirem-se méritos e se segue de perto ao Mestre divino. Lemos na Carta aos Hebreus: “Vos é necessária a paciência para que, fazendo a vontade de Deus, possais alcançar os bens prometidos“ (Hb 10,36). Cristo deixou claro: “Com vossa paciência possuireis vossas almas” (Lc 21,19). Quem cultiva esta virtude tolera as fraquezas dos outros e está sempre disposto a perdoar. Tal o sábio conselho de São Paulo: “Não ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4,26). De fato, pois, do contrário, as trevas aumentariam o ressentimento com todas as suas funestas consequências. Jesus se fez o modelo para todos os seus seguidores, pois suportou heroicamente as torturas físicas e morais e solenemente perdoou seus inimigos lá no alto da Cruz. A impaciência é uma força brutal que desfigura o cristão e o impede de seguir a Cristo. A agitação, o rancor deslustram a existência humana e, até, prejudicam a saúde. Donde o conselho do Livro dos Provérbios: “Não te associes ao colérico nem andes com o iracundo com receio de aprenderes os seus costumes e preparares um laço para tua vida” (Pr 22, 24 25). São Paulo exorta a rejeitar entre outros erros a cólera e a animosidade (Col 3,8). Para isto é preciso ter confiança em Deus em qualquer circunstância. Ele deve ser um refúgio no momento do desgosto. O salmista mostra que só é feliz aquele que se apoia em Deus e coloca sua esperança no seu Senhor (Sl 145,4). Deus quer que caminhemos pelas estradas da paz, da imperturbabilidade A Ele o fiel deve sempre pedir que sua língua, seu coração, sua vida, suas energias estejam inflamados pela paciência. Coisas maravilhosas acontecerão em consequência, em seu derredor. Quem é paciente habita na casa da felicidade. Ao analisar a impaciência e a ira se percebe que estes defeitos surgem quando nossos desejos não são satisfeitos e nos momentos nos quais os outros, com ou sem razão, nos afligem. Quando o ser humano não é paciente ele cria uma espiral de decepções, de revolta e até de violência contra as pessoas. Se o conflito interior não é analisado com inteligência à luz da fé muitas vezes o ser humano se desdobra em expressões contra si mesmo, contra o Criador e contra o próximo. Daí surgem o desespero, a blasfêmia e as agressões. É um ato de sabedoria desmascarar a impaciência para que se evite tudo isto. Não se deve habituar a viver na irritação. É lógico, portanto, que para progredir na perfeição cristã cumpre cultivar a paciência, porque as provações e desgostos se multiplicam a cada hora e é necessária a calma ante as atitudes agressivas do próximo que nos molesta e irrita. Não existe nada melhor também do que conseguir acalmar o coração e cultivar a arte de esperar tudo acontecer no tempo certo. Dar tempo ao tempo! A ansiedade de fazer logo tudo de uma vez, se torna tão intensa que muitos chegam a se entregar a uma aflição doentia. Além disto, muitas vezes se depositam infantilmente as expectativas em acontecimentos, em pessoas, em anseios ilusórios e surgem depois as frustrações. É preciso controlar a vontade absorvente de fazer com que tudo aconteça segundo os próprios moldes mentais Entretanto, por ser a paciência uma virtude, o cristão paciente não é sem vigor, apático, frio, insensível. Paciência nada tem a ver com o modo de ser estoico que leva ao desinteresse de tudo para se isolar na ilha de uma falsa serenidade. Trata-se de um hábito moral, ou disposição da alma para enfrentar as vicissitudes existenciais e o relacionamento com os outros, sabendo que só Deus é perfeito. O paciente fica imunizado contra os aguilhões da angústia, suportando com ânimo os males e as brutalidades do próximo. Saliente-se que a falta de paciência não se manifesta apenas nas palavras hostis, nas ações violentas, nos insultos, mas também no desalento, no abatimento. É que o paciente se entrega nas mãos de Deus e acaba triunfando de todos os percalços, * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 11 de junho de 2018
A VIRTUDE DA TEMPERANÇA
05 A VIRTUDE DA TEMPERANÇA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A temperança é a virtude que refreia o desejo de gozos sensíveis e se opõe à gula que é o amor desordenado ao alimento. A gula quando aplicada à bebida chama-se embriaguez. Esta é a forma mais repugnante da gula e chega ao auge com o consumo das drogas, Santo Ambrósio afirmava que: “Aquele que submete o seu próprio corpo e governa sua alma, sem se deixar submergir pelas paixões, é seu próprio senhor pode ser chamado rei, porque é capaz de reger a sua própria pessoa”, Quem não pratica a virtude da temperança está exposto a inúmeras doenças do corpo e da alma. A temperança leva a um equilíbrio psicossomático saudável. Para isto é preciso viver segundo as inspirações do divino Espírito Santo, conforme ensinou São Paulo: “Se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis” (Rm 8,12). A gula é uma porta aberta para satanás, gerando uma série de pecados que devem ser evitados. É lícito degustar as delícias dos alimentos e de algumas bebidas, mas com total moderação no comer e no beber e com a seleção de nutrimentos sadios. Aí entra o papel importantíssimo dos nutricionistas que podem oferecer cardápio acomodado ao organismo de cada um, ajudando a manter o peso ideal e evitando a circunferência abdominal. É preciso, de fato, usar com discernimento os bens criados por Deus. Jesus esteve numa festa de casamento em Caná da Galileia e até transformou a água em vinho (Jo 2,1-12). Presidiu a última ceia com os apóstolos e transubstanciou o pão e o vinho no seu corpo, sangue, alma e divindade. Ensinou, porém, claramente a moderação:” 4Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra. Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem” (Luc 21,34). . São Paulo então advertia: “Há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo, cujo destino é a perdição, cujo deus é o ventre, para quem a própria ignomínia é causa de envaidecimento, e só têm prazer no que é terreno. Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fil 3,18-21). Condenação clara da busca do prazer imoderado, comendo e bebendo em excesso e, até, alimentos e bebidas nocivos. Entre os remédios contra a gula está evitar tudo que lisonjeia demais o paladar, como iguarias que agridem o bem-estar. Comer para viver e não viver para comer e beber deve ser o lema do verdadeiro seguidor de Cristo. A sobriedade deve regular a relação do cristão com a alimentação, procurando sempre o meio termo. Louvável é a mortificação, privando-se de certos alimentos e bebidas permitidos para assegurar o império da razão sobre a paixão. Cumpre ter um horário certo para as refeições bem distribuídas durante o dia e ser fiel a ele, mesmo porque comer sem necessidade é uma falta a ser evitada. O cristão não pode ser um gastrônomo inveterado. Enfartar-se de comida ou bebida com risco de contrair doenças pode se tornar até um pecado grave, denominado glutonaria. O discípulo de Cristo não come e bebe com avidez, com sofreguidão como certos animais. É preciso tomar as refeições com intenção reta e sobrenatural, ou seja, afim de ter forças para trabalhar, para estudar, para praticar o bem, para adquirir as energias necessárias ao cumprimento dos deveres de cada dia. Toda volúpia é condenável, pois prepara a alma para capitulações perigosas , abrindo as portas aos assaltos do demônio. Cumpre sempre colocar em prática o sábio conselho de São Paulo: “Quer comais, que bebais, fazei tudo para glória de Deus (1 Cr 10,31); Os nutricionistas ensinam que a sobriedade ou a frugalidade é condição essencial do vigor físico e espiritual. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
JESUS, O MENSAGEIRO DA PALAVRA
JESUS, O MENSAGEIRO DA PALAVRA.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
À multidão que o escutava Jesus dirigia sua palavra salvadora através de parábolas (Mc 4, 26- 34). Ele comparou reino de Deus com a semente que cresce. Contempla-se então o semeador tranquilo confiante no desenvolvimento natural, por virtude ingênita, sem necessidade da ação do agricultor. Este espera pacientemente até o tempo da ceifa. É deste modo que Deus age na natureza e é assim que a palavra lançada por Jesus produz maravilhas dentro da História. No contexto atual no qual reina uma cultura de resultados imediatos muitas vezes o esforço dos semeadores do Evangelho provoca, sobretudo, nos agentes de pastoral uma certa ansiedade apostólica com anseios de efeitos de curto prazo. Disto podem resultar decepções que levam ao desânimo. Nem sempre se sabe conjugar a paciência com a atividade.
Plantar, sim, mas deixar a colheita para o tempo de Deus que nem sempre é o tempo dos homens. Uns lançam a semente, outros colherão, mas o principal é que a palavra divina venha a produzir fruto. O processo de crescimento do bem muitas vezes passa sem a interferência do que semeia. Este vigia, mas entrega tudo nas mãos de Deus. Bem se expressou Elisabeth Leseur: ”Não sabemos o bem que fazemos, quando fazemos o bem” e isto, sobretudo, no trabalho árduo da catequese, da pregação, da semeadura. É um dom divino saber contemplar o Mistério do Reino de Deus que depende da graça celeste e não do mero empenho humano. O principal é não ser nunca omisso. A imagem do grão de mostarda é sumamente sugestiva. Isto significa a importância da santidade no Reino de Jesus. O esforço da perfeição cristã por parte das pessoas, mais humildes que sejam, faz irradiar esta santidade por toda a Igreja É que “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Há por toda parte cristãos fervorosos que vivem profundamente a realidade do Reino a que se refere Jesus. O principal, porém, é ninguém atribuir a si mesmo o êxito na evangelização. Nunca se reflete demais sobre o que disse São Paulo aos Coríntios: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus, vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus (1 Cor (3,5-9). Cumpre receber a Palavra divina nos corações sinceros, meditá-la e difundi-la, confiados no poder da graça. É preciso ser cristão de fé para a salvação própria e das almas. Esta é a realidade misteriosa do Reino de Deus. Uma realidade que nos ultrapassa, cujo desenvolvimento nos excede, mas que o poder dinâmico de Deus faz propagar e progredir por toda parte. É com esperança que se deve aguardar o tempo da colheita. Saint Exupéry, escritor francês, deixou uma frase significativa: “O essencial é invisível a nossos olhos”. Nas duas parábolas de hoje Jesus mostrou como a semente lançada à terra, por uma força oculta, imperceptível cresce e se expande. Ele mesmo o pregador genial não converteu muitos de seus contemporâneos e de sua própria família. Ele sabia, porém, que a pregação do Evangelho não era uma audácia inútil, um tempo perdido para o Reino de Deus. Os que se dedicam à evangelização necessitam de muita calma e paciência. O Reino de Deus é uma revelação, porém nem todos se dispõem a nela penetrar. Ao batizado que participa do múnus profético de Cristo cabe cooperar e se alegrar com o crescimento do Reino, lançando com eficiência a semente da Palavra. Deus faz muito mais do que qualquer evangelizador e contempla o esforço missionário de cada batizado e faz frutificar tudo no tempo oportuno. Há muitas maneiras de lançar a semente da vida eterna, ou seja, não apenas nos diversos meios de catequese oferecidos pelas Paróquias, mas também pela oração, pela penitência a favor do progresso do Evangelho, pelo bom exemplo. É que os bons exemplos não mostram somente como se deve fazer, mas imprimem também o desejo de querer praticar o bem. Sejamos semeadores da semente do Reino nesta terra e grande será a recompensa lá no Reino do Céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 9 de junho de 2018
A VIRTUDE DA CASTIDADE
04 A VIRTUDE DA CASTIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
.A virtude da castidade é de suma importância na vida do cristão. pois a alternativa é evidente: ou o ser humano comanda suas paixões e obtém a paz, ou ele se deixa dominar por elas e se torna infeliz. Ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A castidade é uma virtude moral. É também um dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual. O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo (§2347), Acrescenta no parágrafo seguinte: “Todo batizado é chamado à castidade. O cristão "se vestiu de Cristo", modelo de toda castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu específico estado de vida. No momento do Batismo, o cristão se comprometeu a viver sua afetividade na castidade”. Cumpre uma luta constante contra a luxúria que é o vício contrário a esta virtude. A luxúria é perniciosa em razão de seus lamentáveis efeitos. Trata-se da violação do sexto e do nono mandamentos da sagrada Lei de Deus. É o esquecimento voluntário daquilo que o Criador ordena. Consiste no mau uso da finalidade do sexo, vislumbrado fora do projeto de Deus bem expresso no Decálogo. É uma ferida, uma vergonha, uma alienação dos desejos castos. É o domínio da concupiscência da carne. É o uso errado do corpo que fica eroticamente estimulado em si mesmo ou no outro como se fora um mero objeto de prazer. O cristão considera seu corpo como habitação e templo do Espírito Santo, nada admitindo, nada tolerando absolutamente, que o manche. Cumpre sempre fazer triunfar o amor divino sobre qualquer tipo de impureza. A razão precisa vencer todos os apetites desonestos. Com a graça é possível instaurar o império da inteligência contaminada pelo pecado original, governando o corpo e reduzindo-o à servidão, pois, os desvios carnais embrutecem a mente humana. A castidade é o reflexo luminoso da espiritualidade e da imortalidade da alma. Para ser casto o autêntico seguidor de Cristo foge das ocasiões de pecado, evitando inclusive as imaginações desregradas e um sentimentalismo desvirtuado. Emprega ainda atos criteriosos de mortificação sobretudo da vista. Não entra jamais em sites pornográficos, que são caminho tenebroso para os pecados. Procura viver na presença do Deus três vezes santo. É preciso que cada um se convença de que a luxúria aliena a liberdade. Pode-se até ficar na dependência do sexo como do álcool ou da droga. Trata-se de uma patologia espiritual que abrutalha o ser humano. Triste a situação daquele que se entrega à doença da alma vítima da tirania do prazer. É mister seguir sempre o conselho de São Paulo: “ Glorificai a Deus em vosso próprio corpo” (1 Cor 6, 19-20). É necessário acolher o dom da castidade, almejando a pureza interior e procurado logo se confessar se, por acaso, houver algum deslize grave. É de bom alvitre rezar sempre: “-O Maria, concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós” [...] Menino Jesus por nós encarnado, livrai-nos da mancha de todo o pecado”. [ ...} Jesus, eu confio em vós”. Estas preces levam ao controle de si mesmo e fortalecessem a vontade. Deste modo, se preserva a dignidade humana, livrando-a da escravidão as paixões. Num mundo entrega a todo tipo de perversidades é possível conservar uma vida ilibada com a graça de Deus. São Paulo deixou claro: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fil 4,13). São João alertou na sua Primeira Carta: “ Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como Ele é puro” (1 Jo 3, 2-3). Viver a castidade segundo o plano de Deus quer antes do casament0, quer no matrimônio, quer na vida consagrada, eis aí o ideal sublime do autêntico discípulo de Jesus que jamais mancha sua alma, renunciando sempre a qualquer tipo de fornicação. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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