O
VALOR DO REINO DOS CÉUS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Tesouro,
pérola, peixe, coisas novas e velhas são imagens de extrema simplicidade
empregadas com propriedade pelo Mestre Divino para falar do Reino dos Céus (Mt
13,44-52), A comparação com um tesouro precioso e com uma pérola rara faz
rebrilhar o valor imenso da realidade divina, da vida abençoada, da glória
eterna. Para tão faustoso fim da participação nesta existência venturosa junto
do Criador todos são chamados, mas apenas os que perseverarem no bem gozarão
das delícias da Casa do Senhor. Donde a necessidade de recolher os ensinamentos
do Antigo e do Novo Testamento, pois Jesus não veio abolir a antiga Lei, mas
integrá-la e aperfeiçoá-la com a nova Lei para conduzir os de boa vontade rumo
à Jerusalém celeste. Tal o destino sublime daquele que foi batizado, ou seja, compartilhar por todo sempre do domínio
supremo de Deus. As figuras apresentadas
por Cristo são aptas a despertar o cristão para uma marcha corajosa na busca
dos tesouros perenes, olhos fixos nos acontecimentos futuros na mansão do Pai
Todo-Poderoso. Para isto é preciso acolher os ensinamento desta Boa Nova que
Cristo veio anunciar. Como um tesouro
escondido no campo o Reino dos Céus requer uma busca ininterrupta para ser
encontrado através de uma fé inabalável. Pérola fina, este Reino exige a
paciência do mercador que anda atrás daquela que é a mais valiosa entre todas
as outras, isto é, por entre os bens
fictícios desta terra é preciso não confundir o bem com o mal, se apegando ao
que não pode satisfazer os desejos mais recrescentes do ser humano. Do
contrário, o homem se torna peixe indesejável, incompatível com os valores do
Reino. As duas primeiras parábolas revelam o que o fiel deve fazer, dado que na
terceira é Deus quem faz a escolha. Grande,
portanto a responsabilidade de quem foi batizado, pois deve preferir as normas
do Evangelho a todo e qualquer outro bem terreno. A grande questão é, por entre
as vicissitudes da caminhada por este mundo, colocar Cristo acima de tudo,
deixando de lado as veleidades mundanas. O amor de Deus necessita sobrepujar
tudo o mais, o que é demonstrado na prática pelo cumprimento cabal dos dez mandamentos,
pelo procedimento correto, pela conduta ilibada. A Palavra de Deus é que deve
ser o tesouro precioso, a pérola fina, pois é esta Palavra a lâmpada que
ilumina os passos de quem, de fato, almeja o Reino eterno de Deus. A acolhida
da Palavra de Deus na vida de cada um é o recebimento da obra divina de graças
especiais oferecidas aos de boa vontade. Isto numa participação plena, radical,
consciente. Trata-se do engajamento total no Filho de Deus, o Salvador,
engajamento que entra na ordem do absoluto, de Deus que se situa na raiz do ser
humano, no fundamento mesmo da vida de cada um. É deste modo que a existência
cristã se torna uma abertura para a vida eterna feliz junto de Deus, porque a
fé é uma dimensão fundamental no que diz respeito a uma ventura sem fim além da
morte. Donde todo cuidado é pouco para não se cair no relativismo do mundo
moderno, colocando as verdades sobrenaturais no mesmo nível das opções materiais,
hedonistas. É o que acontece com quem se deixa levar pelos programas cheios de
devassidão dos meios de comunicação social, pelos sites pornográficos, pelas
bacanais dos impuros, dos peixes maus. Se é preciso hierarquizar os bons
valores, tudo aquilo que contradiz o Decálogo deve ser, em consequência,
corajosamente sempre abolido, afastado sob pena de não se chegar ao Reino dos
Céus. Cumpre uma renúncia ao espírito do mundo e suas seduções malignas e viver
numa atmosfera não poluída pelo pecado, numa abertura para a verdadeira
felicidade que flui da relação contínua com o Ser Supremo. É um estilo cristão
de vida que manifesta por toda pare que Jesus é, realmente, o Senhor da vida de
quem caminha para o Reino dos Céus, gozando já nesta terra um pouco das
delícias celestes. Supremo conforto para a esperança cristã a assistência paterna
de Deus. As graças divinas levam à vida
eterna os que sabem escolher o
verdadeiro tesouro, a pérola preciosa, colocando-se em condições de entrar um
dia no Reino dos Céus. * Professor no Seminário
de Mariana, durante 40 anos.
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