COMO VENCER AS DISTRAÇÕES NA
ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Segundo a clássica
definição, “a oração é a elevação da alma a Deus”. Aí já está incluída uma
luta, ou seja, o fiel se desprende do contexto material em que vive para subir
com todo o seu ser rumo à esfera espiritual. Trata-se, portanto, de um combate.
Os santos também tiveram que enfrentar esta situação, mas a sobrepujaram. Isto
porque combater é uma questão de amor, visando uma união mais íntima com Deus,
entrando na esfera das realidades sobrenaturais. É uma batalha que supõe antes
disponibilidade do que força para afastar as desatenções. A questão é não
capitular as aceitando passivamente Uma primeira postura profundamente decisiva
é a confiança absoluta em Deus, pois, no fundo, os pensamentos que atravessam a
prece são frutos de alguma preocupação. Esta provém de inúmeras fontes como
algum problema pessoal, familiar, profissional ou até de algo menos importante
vindo da insegurança interior. Aí um ponto capital será a atitude tomada por
Abraão: Deus providebit – Deus providenciará.
Não será a criatura que resolverá a dificuldade, mas o poder do Senhor
Onipotente. O fato então de transferir para Ele a solução, além de ser um ato
de valiosíssima confiança, imerge a pessoa numa tranquilidade que favorece seu
contato com Ele, com a Virgem Maria, com os Santos e Anjos num clima de verdadeira
transposição para além das coisas terrenas. Isto deve se dar com simplicidade
sem se opor impetuosamente ao que leva à desatenção. Sem precisar repetir o que
se rezou, se deve continuar calmamente a súplica ou a meditação em tela. Tal
atitude vale inclusive, é claro, para a participação nas Missas. Se o agitamento
se deu nesta ou naquela parte da celebração tal método ajudará muito para maior
concentração a seguir. Distraiu-se, por exemplo, no Ato Penitencial, mais recolhimento
íntimo para então ouvir as Leituras do dia e assim por diante. O mesmo deve
acontecer com as demais orações, como na reza dos Terço. Esta, aliás, é uma das
preces mais fáceis para se domar a imaginação, porque na medida em que os
lábios pronunciam as palavras, o fiel solta a imaginação no mistério do
momento, seja de qualquer passagem dos fatos gozosos, luminosos, dolorosos, ou
gloriosos daquele dia. Pode-se passar a vida inteira percorrendo estes eventos
bíblicos e nunca se esgotará a riqueza imensa que eles detêm em todas as suas
peculiaridades. Em outras ocasiões uma boa tática é transformar a distração em
súplica, pedindo o auxílio celeste exatamente para o problema que angustia e do
céu virá a ajuda necessária para afastar a dificuldade que angustia. Se, porém,
vem à tona acontecimento feliz, eis uma boa hora para um profundo agradecimento.
No mais é lançar para Deus qualquer frustração que aborrece sem se deixar levar
pelo imaginário. Com efeito, tantas vezes são ilusões que surgem e que não têm fundamento
em si mesmas. Cumpre não derrapar para um cenário desfavorável e escapar da
tristeza, da insegurança. Além do mais as distrações podem ser uma boa
oportunidade para cada um se conhecer a si mesmo, apartando as trevas que
envolvam sua alma. Tudo isto significa também um ato de humildade no
reconhecimento das debilidades inatas ao ser humano. O que vale é a intenção
sincera de orar e orar bem. Eis porque é de todo conveniente que haja também
uma preparação para que isto aconteça, a
qual inclui inclusive a postura, o ambiente no qual se vai rezar, enfim tudo
que colabore para uma perfeita concentração espiritual. Tais providências favorecem
a libertação interior, levando a um saudável silêncio favorável ao contato com
o mundo sobrenatural. É óbvio que é preciso, de fato, cooperar com as graças
divinas, deixando campo aberto para a ação das luzes do Espírito Santo. A
tomada de consciência da importância prioritária da oração leva à fidelidade, à
perseverança, pois o pior seria abandonar o contato com Deus. O cristão programa
então sua vida espiritual, deixando espaços especiais para as preces e nem se
pode esquecer que uma das mais recomendáveis é a reflexão de algum texto
bíblico, o qual oferece suporte para uma revisão de vida. É necessário, também
que se lembre ser de vital importância saber escutar as inspirações divinas,
não as sufocando com uma cachoeira de palavras lançadas a esmo. A paz do
coração é essencial para captar os recados do Espírito Santo. Toda negligência
precisa logo ser banida para que as divagações desapareçam e se possa degustar as
preces. Todo cuidado com a fadiga patológica física ou mental, com o ativismo
exagerado, é pouco para que se crie uma atmosfera favorável à oração. É
conveniente também repetir a solicitação feita a Jesus pelos discípulos: “Senhor,
ensinam-nos a orar” (Lc 11,1) e Ele fará com que cada um entre na prece “em
Espírito e em Verdade” (Jo 4,23). Com o salmista
solicitar sempre a Deus: “Unifica meu coração para temer o vosso nome. De todo o coração
eu vos louvarei Senhor” (Sl 86,11-12). *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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