A
SEMENTE BOA E O JOIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com
sua sabedoria insuperável Jesus vendo como o joio pode ser semeado no meio do
mais belo trigal narrou uma parábola surpreendente (Mt 13,24-43). O homem trabalhador semeou a boa semente, mas
o inimigo na calada da noite lançou o joio. Jesus deixa uma mensagem de
paciência, ou seja, deixar para extirpar o joio num momento oportuno a fim de não
danificar o trigo a ser ceifado com prudência. Deixa então o Mestre divino uma
lição de tolerância. Cumpre dar tempo ao tempo para que se evitem ações
precipitadas que só poderiam gerar situações agravando os problemas diante dos
erros alheios. Não se trata de admitir ações condenáveis, mas de uma conduta
sábia para contornar faltas cometidas pelo próximo ou por si mesmo. Cortar o
errado no momento certo, endireitando caminhos sem provocar transtornos
prejudiciais. Nem sempre se vai ao cerne das questões e das ocorrências mais
adversas. Há sempre uma atitude correta para se atingir um resultado plausível.
O joio é bem o símbolo do mistério do mal diante do qual é preciso a
compreensão de tudo, como falou São Paulo a Timóteo (2 Tm 2,7). Jesus explica
donde vem o joio e mostra que o inimigo é quem o semeia, aproveitando-se das
trevas noturnas, ou seja, dissimuladamente, porque o espírito mau é o pai da
mentira. Dele provém todo tipo de tentação que leva para o caminho trevoso do
pecado. O joio resulta da atuação do diabo, especialista em enganar os
incautos. Jesus fala claramente a seus ouvintes e mostra que o mundo é desnorteado
pelo Adversário, atravessado por influências nefastas. Aos Romanos São Paulo
dizia: “Porque segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus, mas vejo
nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me
prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros (Rm 7, 22-23). É uma
rude experiência que experimentaram também os santos. O bem, porém, é anterior
ao mal. Eis porque São Pedro deixou esta advertência: “Sede sóbrios, vigiai,
porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor de vós como um leão a rugir
buscando a quem devorar”. Dá, porém, a solução: "Resisti-lhe, firmes na
fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo
(1 Pd 5,8-9). O fiel está deste modo advertido e fazendo de sua parte , orando, fugindo das ocasiões de
pecado, confiando na graça divina, será sempre um triunfador. Os bons
discípulos de Cristo representam a boa semente. Jesus se fez o Redentor e
fortifica os que nele confiam e buscam as energias espirituais para vencer
sempre os embustes de satanás. Quando, porém Cristo diz para não arrancar o
joio, extirpando ao mesmo tempo o trigo Ele legou outro precioso ensinamento
espiritual. Com efeito, a melhor maneira de evitar o mal ou fazer com que ele
não prospere é praticar o bem. É o que São Paulo decodificou ao afirmar: “Não
te deixes vencer pelo mal, sede vencedor do mal pelo bem” (Rm 12,23). Muitos
com todas as suas forças cominam os erros, as imperfeições, os defeitos dos
outros e até clamam contra os seus próprios desvios, mas se esquecem de fazer
amadurecer o bom grão em suas vidas. Cumpre, isto sim, vencer o mal com o bem,
crescendo nas virtudes, perseverando nas veredas da Luz. A santidade consiste
menos na eliminação das ações diabólicas do que no acolhimento sincero do amor
de Deus. É preciso dar tempo para a conversão dos outros e para a própria
conversão, tendo que conviver com tantas imperfeições, pois só Deus é perfeito.
O processo de crescimento espiritual dura a vida toda de cada um nesta
trajetória terrena. De tudo isto se deduz como é importante a paciência com as
falhas próprias e alheias, não desanimando nunca perante as aliciações do mal
com as quais o cristão tem que conviver, enquanto estiver nesta terra. Portanto
não arrancar o joio não significa pactuar com o mal, ou deixar o campo livre ao
demônio. Trata-se, isto sim, de se converter incessantemente para Deus e
cultivar o bem na vida familiar, comunitária, profissional, fazendo florir a
justiça, a retidão, a paz. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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