JESUS E OS DISCÍPULOS DE EMAÚS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Primorosa,
sem dúvida, a narrativa do encontro de Jesus com os discípulos de Emaús sob o
ponto de vista literário, mas, sobretudo, pelos aspectos psicológicos que São
Lucas com maestria suscita. (Lc 24, 13-35). A vida humana à semelhança do que
ocorria com Cléofas e seu companheiro é um caminho, alternando-se nele momentos
de ausências dolorosas e encontros inesperados; instantes de obscuridade aos
quais se sucedem ocasiões de alegria e luminosidade. Em qualquer período da
existência ao olhar o percurso feito nesta terra cada um reconhece que às
tempestades se sucede a bonança e, tantas vezes, à serenidade sobrevêm as
borrascas. Em todas estas circunstâncias sempre surgiu, porém, alguém a amparar
na agitação ou para moderar na euforia, ou seja, um pai, uma mãe, um amigo ou
até uma inspiração interior dando sentido ao que estava acontecendo. Foi o que
sobreveio aos discípulos de Emaús que iam curtindo sua dor depois da morte de
Jesus. Suas vidas pareciam não ter mais sentido, a esperança estava perdida. O
Mestre amado morrera ignominiosamente no alto de uma colina sobre um infamante
madeiro. Tudo estava acabado! Tinham o semblante melancólico, marcado pela
profunda tristeza. Alguém se junta a eles, para lhes mostrar que a vida é mais
forte do que a morte. Suas mentes iam se transformando à medida que as
Escrituras eram explicadas por aquele que se juntara a eles. Seus corações
passaram a arder a cada palavra que atentamente ouviam. Seus olhos, contudo,
estavam obnubilados, ofuscados. Eis aí um paradoxo que surge para muitos que
têm fé, pois diante dos sofrimentos, das incongruências do dia a dia a oferecer
trágicas rupturas aparecem as dúvidas e a desesperança se instala. Os
discípulos de Emaús diziam que esperavam o sucesso de Jesus, o que significa
que a desilusão se apossara deles. Quantos diante das intempéries se põem a se
interrogar: “Como isto pôde advir!"? “Porque Deus permitiu este dissabor”?
“Onde está Ele, o Pai amoroso”? Entretanto, é preciso nunca perder o rumo bem
alerta o episódio de Emaús. Aqueles seguidores de Jesus, abatidos, tiveram uma
pulcra inspiração ao chegar à estalagem, convidando aquele misterioso senhor a
ficar com eles. Eis aí, o que todo cristão deve fazer ao enfrentar os problemas
existenciais. É dizer a Jesus: ”Não me abandones, permanece comigo”. Coisas
maravilhosas acontecerão, pois a ansiedade passará. Ele tem o poder de
encorajar, de amparar e oferecer soluções oportunas. No caso de Cléofas e seu
companheiro à hora do partir do pão na refeição que tomavam reconheceram Jesus
que lhes dissipou toda amargura, pois ele estava vivo e tinha ressuscitado dos
mortos. Jesus desapareceu, mas deixou um rastro de luminosidade dentro daqueles
corações. Presença e ausência é bem o sentido de toda vida humana. Ele está
presente junto de quem lhe é fiel pela fé que por vezes não é tão intensa em
todas as horas e vem o sentimento de que Ele está longe, dado que não O vemos
com nossos olhos. Podemos, sim, senti-lo bem perto através do invisível da
Eucaristia e de sua presença lá no íntimo do coração, como fonte de toda
esperança, de todo conforto. Então é preciso ir adiante e anunciar que com
Jesus o sol brilhará sempre, a energia não faltará nunca e a caminhada continua
com suas alternâncias, mas sem desfalecimentos. O cristão passa a compreender
que não basta saber que Jesus está vivo e a seu lado, mas é preciso crer nisto
e abrir-se sempre à esperança. É o passar do conhecimento a um encontro real com
Cristo que nos faz viver de sua vida gloriosa, vitoriosa. Como aconteceu com os
discípulos de Emaús, Jesus está sempre falando à consciência de cada um, mas é
preciso ter ouvidos e olhos atentos a sua Palavra nas mais diversas situações
que se atravessam. A presença de Cristo na Eucaristia é o indício certo
retrospectivamente de sua presença no cotidiano de cada um que nele crê e
espera. Cristo se manifestou aos discípulos de Emaús ao partir o pão e sua
presença se dá também em nossas partilhas de vida, quando levamos aos outros
nossa ajuda generosa para o corpo e para a alma através de doações oportunas ou
de mensagens que vivificam os tristes e desamparados. Então se perceberá como é
bom estar com Jesus que venceu a morte e nos dá alegria e paz. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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