AI
DAQUELE POR QUEM O FILHO DO HOMEM VAI SER TRAÍDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a
maldade de Judas, traindo seu Mestre e Amigo.
Uma perfídia inominável. Ele se abrasara em tais chamas da idolatria ao
dinheiro que pelo vil metal vendeu o seu Senhor, infinitamente bom e caritativo.
Calculou em moedas o sangue preciosíssimo do Filho de Deus. Sua ingratidão foi
sem limites para com aquele que o fizera tesoureiro do colégio apostólico e o
havia enaltecido com a glória do apostolado. A obstinada dureza de seu coração
não foi tocada nem pela familiaridade de última ceia, nem pela humildade que
Jesus mostrou ao lavar os pés de seus discípulos, nem pela suavidade da bondade que Ele irradiava. Admirável, porém, a
paciência de Cristo para com seguidor tão iníquo, o pior de seus epígonos. De
fato, tão grande foi a impiedade do traidor, quão enorme foi a tolerância de
Jesus advertindo-o abertamente: “Ai
daquele por quem o Filho do homem vai ser traído (Mt 26,14-25). Se a deslealdade
viesse de um inimigo declarado, maior não teria sido a paciência do Mestre
divino, porque Ele estava na presença de alguém
no qual pusera sua confiança, o qual presenciara seus milagres e
escutara tantas lições legadas por Ele. Judas deu o golpe da iniquidade que
seria consumada por um ósculo hipócrita na face do Mestre como sinal para que
seus perseguidores o pudessem distinguir e prender. Beijo abominável de um
pérfido ser humano que faria do ósculo da paz, o indício da deslealdade. Bem se
pode imaginar o horror dos demais apóstolos aterrorizados por tamanha
infidelidade e vileza, Judas, um homem, venal, larápio e traidor, escravo de
satanás. Por tudo isto, bem sabemos qual foi o seu fim terrível, pois foi tomado depois pelas garras do desespero.
Entregou o Mestre e não se arrependeu, De fato, se tivesse tido esperança, um mínimo de confiança em
Jesus ele não teria procurado o caminho do suicídio (Mt, 27,5). Ele que
contemplara Cristo perdoando a tantos pecadores, ele que escutara a parábola do
Filho pródigo e outras pregações sobre a ternura de Deus não assimilara os
ensinamentos de Jesus. Ele devia temer e tremer pelo que fizera, mas era
preciso que se lançasse aos pés do amigo traído e lhe pedisse perdão. É
necessário que se tirem deste episódio da traição e desespero de Judas
conclusões vivenciais. Jamais ter um coração tão empedernido que chegue às
raias de tamanha perversidade. O Redentor está sempre disposto a anistiar todas
as ingratidões e todas as faltas, mas quer um mínimo de certeza de que Ele
perdoa sempre. É preciso orar por todos aqueles que a exemplo de Judas traem a
Jesus e não procuram o caminho que leva a seu coração terno e misericordioso. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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