quinta-feira, 27 de abril de 2017

A CULTURA PRODUZIDA PELAS MÍDIAS

A CULTURA PRODUZIDA PELAS MÍDIAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No mundo globalizado de hoje merece especial atenção a indústria da comunicação. Esta procura controlar o que cada um vê, ouve ou lê Nas mãos de grupos poderosos está, política e economicamente, o domínio da informação, da diversão e da propaganda. Há uma influência profunda no modo de ser das pessoas que passam a agir segundo os ditames da mídia que se torna dominante. A grande cultura midiática é uma realidade que marca os que vivem neste século 21. A internet ao lado dos benefícios oferecidos leva, muitas vezes, a uma dispersão que afeta a conduta das pessoas. O que se ganha hoje pela extensão de conhecimentos, se perde em profundidade de análise objetiva. Imerso no mundo virtual muitos perdem o contato com a realidade. É de se notar que as mídias ou todos os meios de comunicação de massa estão presentes por toda parte e ocupam um enorme tempo das pessoas. São geradoras de cultura por passarem continuamente mensagens que ficam incorporadas ao modo pensar e sentir daqueles aos quais falta o senso crítico. Os donos do poder com rara habilidade sabem explorar as condições sociais e econômicas, manipulando fatos e as mais diversas ocorrências visando seus interesses. Os incautos não discernem então entre o certo e o errado, a verdade e a falsidade. Uma das táticas dos controladores das mídias, por exemplo, se pode perceber nas manchetes dos jornais e nas chamadas das notícias na televisão. Um bom número de pessoas apenas as lê ou ouvem e recebem um impacto muitas vezes deletério. Cumpre, portanto, verificar o conteúdo do que está escrito ou é falado para detectar as distorções que visam iludir. Além disto, é preciso não ser escravo da internet malbaratando o tempo. Além disto, é preciso não ser escravo da internet malbaratando o tempo. Todo cuidado é pouco com relação às redes sociais. Há muitos imprudentes que entram em contato com desconhecidos que podem ser pessoas perigosas, mal intencionadas. Isto sem falar nos contatos envolvendo conversas amorosas, namoros virtuais, colocando até em risco o próprio matrimônio. É preciso ainda denunciar todos os pactos satânicos, sobretudo entre os jovens, Lamentáveis os casos recentes de suicídios programados através do facebook, a já  tristemente famosa baleia azul.  Anos atrás, outras mortes funestas ocorreram como a que aconteceu  no cemitério de Ouro Preto fruto do RPG, ou role-playing game,  inventado em 1974, nos Estados Unidos. Consequências nefastas fluem também dos sites pornográficos que alimentam uma cultura do sexo desregrado. Quem tem bom senso os evita sem tergiversações. Por outro lado, porém, se há uma cultura do mal, do domínio econômico e político, é necessário que as forças do bem se mobilizem e contraponham com mensagens construtivas para a difusão do bem, da justiça, da virtude e da verdade. Deste modo a mídia se torna um poderoso veículo de evangelização numa proclamação vigorosa da Palavra de Deus. Trata-se de um apostolado esclarecido já exercido por muitos cristãos cujas paginas, por exemplo, no facebook se acham repletas de uma doutrinação eivada dos princípios da doutrina de Cristo. É o que aconselhava São Paulo aos Romanos: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. (Rom 13,11-14). Bem imenso tem feito, a Catolicanet, a Milícia da Imaculada. entre tantas outras entidades a serviço do Evangelho, bem como as redes de televisão, jornais, revistas, boletins católicos a merecerem todo apoio dos que amam a Deus e O querem conhecido e amado. Oferecem impactos positivos, servindo como aporte aos catequistas. Deste modo, afastados os danos, se difundem benefícios culturais. Trata-se de cristianizar a tecnologia numa comunicação proveitosa e construtiva, sem se deixar escravizar pela mesma.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 25 de abril de 2017

PANORAMA POLÍTICO BRFASILEIRO

PANORAMA POLÍTICO BRASILEIRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem percorre a história do Brasil percebe como através dos tempos foi crescendo a abjeção popular contra os políticos, num aviltamento da Política. Esta ciência da organização, direção e administração das coisas públicas, muitas vezes é desviada de seu nobre fim por cidadãos inescrupulosos. Estes ao invés de ter cuidar do real progresso dos municípios, dos estados e do país a empregarem em proveito próprio o que pertence a todos. O político corrupto é hábil em administrar em favor de sua casa. Como já dizia Marco Túlio Cícero nos idos de 63 antes de Cristo, gerem pro domo sua. No famoso discurso pronunciado contra  Clódio, um demagogo revolucionário a empregar meios escusos para obter o poder, o notável tribuno romano cominava implicitamente  todos os ambiciosos que saqueiam os cofres públicos, aumentando absurdamente suas riquezas. Mais de dois mil anos depois seriam os brasileiros que ficariam estarrecidos ante a avalanche de corrupção. Assustador, de fato, o volume de dinheiro acumulado por certos indivíduos a arrasarem as finanças públicas, deixando um rastro de destruição. Pouco se importando com o sofrimento das camadas mais pobres da sociedade, acumulam somas nababescas deixando o país em situação de calamidade. Ao invés da construção da cidadania, a rapina do bem da coletividade colocado a serviço de interesses pessoais. Muito se fala em nossos dias diante de tanta desgraça na construção de uma democracia participativa, Resta saber se, de fato, haverá uma reforma política de base retirando o poder dos grupos dominadores que vivem da falsificação eleitoral. Aí é que deve entrar a consciência cívica de cada cidadão que ao votar não pode buscar favores. O clientelismo é um mal a ser extirpado e o eleitor tem nas mãos um meio de modificar o panorama político atual a partir do voto esclarecido e bem direcionado para pessoas competentes, honestas e, verdadeiramente, patriotas. Trata-se da luta contra a apatia e o conformismo. Há, felizmente, no Brasil pessoas talentosas que não se envolveram nesta onda de corrupção e almejam um país higienizado de tantas desventuras. Então sim se poderá vislumbrar uma pátria livre da miséria, da fome, do desemprego, males que alcançam setores massivos da nossa sociedade.  O Brasil necessita de políticos que saibam superar a economia de exclusão a qual gera a desigualdade social, fonte de violências e dos mais bárbaros crimes. Que haja reformas, mas não ainda mais lesivas aos excluídos que são sempre considerados como resíduos, sobras descartáveis de uma economia que gira em torno do mercado e do lucro, a serviço do domínio do setor político. Nunca é tarde para se lutar por uma nação na qual haja oportunidade para todos e na qual seja banida a concentração das riquezas nas mãos de alguns privilegiados, donos do poder.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 24 de abril de 2017

JESUS E OS DISCÍPULOS DE EMAÚS

JESUS E OS DISCÍPULOS DE EMAÚS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Primorosa, sem dúvida, a narrativa do encontro de Jesus com os discípulos de Emaús sob o ponto de vista literário, mas, sobretudo, pelos aspectos psicológicos que São Lucas com maestria suscita. (Lc 24, 13-35). A vida humana à semelhança do que ocorria com Cléofas e seu companheiro é um caminho, alternando-se nele momentos de ausências dolorosas e encontros inesperados; instantes de obscuridade aos quais se sucedem ocasiões de alegria e luminosidade. Em qualquer período da existência ao olhar o percurso feito nesta terra cada um reconhece que às tempestades se sucede a bonança e, tantas vezes, à serenidade sobrevêm as borrascas. Em todas estas circunstâncias sempre surgiu, porém, alguém a amparar na agitação ou para moderar na euforia, ou seja, um pai, uma mãe, um amigo ou até uma inspiração interior dando sentido ao que estava acontecendo. Foi o que sobreveio aos discípulos de Emaús que iam curtindo sua dor depois da morte de Jesus. Suas vidas pareciam não ter mais sentido, a esperança estava perdida. O Mestre amado morrera ignominiosamente no alto de uma colina sobre um infamante madeiro. Tudo estava acabado! Tinham o semblante melancólico, marcado pela profunda tristeza. Alguém se junta a eles, para lhes mostrar que a vida é mais forte do que a morte. Suas mentes iam se transformando à medida que as Escrituras eram explicadas por aquele que se juntara a eles. Seus corações passaram a arder a cada palavra que atentamente ouviam. Seus olhos, contudo, estavam obnubilados, ofuscados. Eis aí um paradoxo que surge para muitos que têm fé, pois diante dos sofrimentos, das incongruências do dia a dia a oferecer trágicas rupturas aparecem as dúvidas e a desesperança se instala. Os discípulos de Emaús diziam que esperavam o sucesso de Jesus, o que significa que a desilusão se apossara deles. Quantos diante das intempéries se põem a se interrogar: “Como isto pôde advir!"? “Porque Deus permitiu este dissabor”? “Onde está Ele, o Pai amoroso”? Entretanto, é preciso nunca perder o rumo bem alerta o episódio de Emaús. Aqueles seguidores de Jesus, abatidos, tiveram uma pulcra inspiração ao chegar à estalagem, convidando aquele misterioso senhor a ficar com eles. Eis aí, o que todo cristão deve fazer ao enfrentar os problemas existenciais. É dizer a Jesus: ”Não me abandones, permanece comigo”. Coisas maravilhosas acontecerão, pois a ansiedade passará. Ele tem o poder de encorajar, de amparar e oferecer soluções oportunas. No caso de Cléofas e seu companheiro à hora do partir do pão na refeição que tomavam reconheceram Jesus que lhes dissipou toda amargura, pois ele estava vivo e tinha ressuscitado dos mortos. Jesus desapareceu, mas deixou um rastro de luminosidade dentro daqueles corações. Presença e ausência é bem o sentido de toda vida humana. Ele está presente junto de quem lhe é fiel pela fé que por vezes não é tão intensa em todas as horas e vem o sentimento de que Ele está longe, dado que não O vemos com nossos olhos. Podemos, sim, senti-lo bem perto através do invisível da Eucaristia e de sua presença lá no íntimo do coração, como fonte de toda esperança, de todo conforto. Então é preciso ir adiante e anunciar que com Jesus o sol brilhará sempre, a energia não faltará nunca e a caminhada continua com suas alternâncias, mas sem desfalecimentos. O cristão passa a compreender que não basta saber que Jesus está vivo e a seu lado, mas é preciso crer nisto e abrir-se sempre à esperança. É o passar do conhecimento a um encontro real com Cristo que nos faz viver de sua vida gloriosa, vitoriosa. Como aconteceu com os discípulos de Emaús, Jesus está sempre falando à consciência de cada um, mas é preciso ter ouvidos e olhos atentos a sua Palavra nas mais diversas situações que se atravessam. A presença de Cristo na Eucaristia é o indício certo retrospectivamente de sua presença no cotidiano de cada um que nele crê e espera. Cristo se manifestou aos discípulos de Emaús ao partir o pão e sua presença se dá também em nossas partilhas de vida, quando levamos aos outros nossa ajuda generosa para o corpo e para a alma através de doações oportunas ou de mensagens que vivificam os tristes e desamparados. Então se perceberá como é bom estar com Jesus que venceu a morte e nos dá alegria e paz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




segunda-feira, 17 de abril de 2017

A VITÓRIA DA MISERICÓRDIA DE DEUS

A VITÓRIA DA MISERICÓRDIA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No domingo da misericórdia o Evangelho registra o que Jesus disse a São Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20,19-31).  Há um liame profundo entre a comiseração divina e a fé. Tanto isto é verdade que ao aparecer aos apóstolos reunidos esta foi a saudação de Cristo: “A paz esteja convosco”. Este dom do Mestre divino flui exatamente de sua grande compaixão. Esta oferece a todos que nele creem e se arrependem de seus pecados a plenitude da graça santificante, o que é ratificado no sacramento da penitência então por Ele instituído. Ele afirmou claramente aos Apóstolos: “Do mesmo modo como o Pai me enviou eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles estarão perdoados”. Naquela oportunidade Tomé estava ausente e diante do testemunho dos outros apóstolos ele duvidou. Eles haviam visto o Senhor Ressuscitado à luz do Espírito Santo. Contemplaram não apenas Cristo vivo, mas perceberam o verdadeiro sentido da ressurreição do Mestre divino, ou seja, o triunfo da misericórdia de um Deus sumamente bondoso. Quando Jesus torna a aparecer aos Apóstolos, Tomé que faz diante de suas chagas gloriosas um sublime ato de fé: ”Meu Senhor e meu Deus”! Jesus, porém, não passou recibo na incredulidade anterior e diz a Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram”. Apenas os que creem na clemência do Senhor triunfam do pecado. Eis porque Santa Faustina Kowalska, a quem Jesus mostrou seu desejo da instituição do Domingo da Misericórdia, deixou escrito: ”A humanidade não terá paz senão quando ela se lançar com confiança na Divina Misericórdia”. É que esta triunfa das misérias humanas e de toda morte. São João Paulo II na encíclica Dives in misericórdia mostrou o desdobramento do significado da clemência divina: “Cristo nos ensinou que o homem não somente recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas também que ele está chamado a “fazer misericórdia” aos outros: ”Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia” (Mt 5,7). Aos Apóstolos que O haviam abandonado e não estiveram no Calvário Jesus lhes mostrou suas chagas, sinais de seu imenso amor. Ele os perdoou a todos e deixou um exemplo para seus seguidores que devem também perdoar os outros e serem profetas da clemência divina. O coração de Jesus era um coração ferido, mas que se abria à comiseração. É isto que Ele deseja de cada um de seus discípulos. Receber, portanto, a misericórdia de Deus é se tornar portador da mesma para os outros. Jesus era bem maior do que todas as feridas que recebera na Cruz, porque Ele sempre soube amar. Não basta apenas buscar a indulgência de Deus, mas é preciso levar os outros a encontrá-la no Sacramento da Confissão. Isto é reaprender a viver o amor misericordioso do Senhor. Diante da culpabilidade muitos são os que têm necessidade de conhecer o perdão divino. São aqueles que se deixam aprisionar na sua descrença. Ficam presos nas suas feridas, nos seus defeitos. Cumpre levar a eles a força do Espírito Santo, anunciando as maravilhas da ternura de Deus. Trata-se de um apostolado urgente e necessário. A misericórdia e o poder de Deus não têm limites e são inesgotáveis. Deve-se firmar isto por toda parte e levar a muitos a dizer sinceramente: “Senhor, eu confio em Vós”. Ser canais conscientes da torrente da comiseração divina é uma honra e uma glória para o verdadeiro seguidor de Cristo. Jesus deseja derramar torrentes de graças, mas nem todos os cristãos se dispõem espiritualmente para receber os caudais dos dons divinos. Há corações que precisam ser tocados pelas palavras e exemplos dos que depositam total confiança no divino Redentor. Foi o que Ele disse a Santa Faustina: “Que ninguém ao se aproximar de ti. não te deixes sem esta confiança em minha misericórdia que eu almejo tanto para as almas. Reza tanto quanto podes pelos agonizantes e que eles obtenham confiança na minha clemência”. Advertiu ainda Cristo a sua vidente: “Saiba que a graça da salvação eterna para certas almas depende da tua prece. Tu conheces todo o abismo de minha misericórdia e especialmente para com  os pobres pecadores”. Convencido de tudo isto o coração contrito do verdadeiro cristão usufrui da imensidão da bondade de Jesus e difunde estas sublimes mensagens onde quer que esteja. * Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

JESUS RESSUSCITOU DOS MORTOS

JESUS RESSUSCITOU DOS MORTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Páscoa vem recordar de maneira fulgente, no plano da fé, que o homem foi feito para a vida e não para a morte. A Ressurreição de Cristo inaugurou um mundo novo no qual a morte se torna passagem e onde a vida se ilumina com a perspectiva segura de uma eternidade bem-aventurada. Se não houvesse a Páscoa, não existiria o fundamento de tudo que se crê. São Paulo foi claro dizendo que “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação, e também é vã nossa fé”, mas  conclui este Apóstolo: “De fato Cristo ressuscitou dentre os mortos e foi feito as primícias dos que dormem. Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (l Cor 15,14-22).  Aí está a razão de ser do júbilo pascal. Jesus havia dito: ”Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). Eis porque o divino Redentor vem atraindo milhares de corações através dos tempos, há 2017 anos, homens e mulheres colocando sua vida nos seus passos, tudo sacrificando para obterem a felicidade perene que Ele para todos merece. Resplandece neste dia os arrebóis da esperança dos seus seguidores a contemplarem os esplendores das colinas eternas. Trata-se da marcha espiritual gloriosa daqueles e daquelas que proclamam Sua vitória sobre o pecado e a morte. A Ressurreição de Jesus é a marca característica de sua religião. O que acontece após a morte está desvendado de maneira maravilhosa e segura, sem ilusões. Na Páscoa se compreende melhor o cruzamento do humano e do divino, pois Aquele que foi crucificado e morto é o mesmo que ressuscitou dos mortos. Ele foi ao extremo do amor se sacrificando pela humanidade para fazer fulgir um triunfo singular. Esta vitória de Cristo vem aclarar o cotidiano dos seres humanos que nele acreditam e tudo na vida do cristão ganha um significado especial, pois se faz semente da eternidade. Na Páscoa o caminho de Jesus se torna o nosso caminho, caminho que passa pelo Calvário, mas também caminho iluminado pela certeza inabalável de que as portas dos céus foram abertas pelo Redentor triunfante. Sua Ressurreição foi o transbordamento do Seu Amor sem limites. Eis porque o cristão vive imerso neste amor do Filho de Deus a envolver todas as suas ações. Cada um se reconhece um mortal, mas destinado à vida eterna. Apesar de todas as enfermidades, das calamidades próprias deste exílio terreno o discípulo de Cristo supera a solidão, a desesperança e escuta a voz de Jesus a lhe dizer: “Confiança! Eu Ressuscitei e estou contigo”. Ele oferece a todos o tesouro da Páscoa, dando a cada um a plena convicção interior de que não há realidade mais sublime para a humanidade do que este horizonte luminoso que se abre, além-morte, no mundo onde o Amor e a Vida reinarão para sempre vencidos os sofrimentos e as angústias terrenas. A existência do cristão está então marcada com o selo da eternidade e da plenitude de uma ventura sem fim. Eis por que a Páscoa é a fonte do verdadeiro júbilo a afastar tristezas e a inquietudes. O mal nunca terá a derradeira palavra na vida do autêntico cristão, que deve ser o profeta do gaudio, a mostrar a todos que o otimismo “ é uma realidade a ser intensamente vivida.  Deste modo, a Páscoa oferece uma mensagem que ajuda a mudar os problemas de cada hora e tem assim um papel fundamental na vida do seguidor de Jesus. Este é convidado a se revestir de sua verdadeira identidade e, mesmo não podendo resolver todos os males que campeiam pelo mundo, a maioria por força do mau uso da liberdade, o cristão se dispõe a levar por toda parte um hino de alegria, porque com Cristo se pode vencer o egoísmo através do dom generoso de si mesmo, oferecendo aos que sofrem raios consoladores de amizade, de ajuda oportuna. É assim que se partilha o júbilo pascal. Desta maneira, a Ressurreição de Cristo deixa de ser uma teoria abstrata, mas se torna uma realidade que transfigura a existência individual e a do próximo. Muitos dirão “Eu creio que Cristo está vivo e veio até mim através de você trazer sua mensagem de esperança e de vida”!  Cristo vitorioso conta com cada um de nós nesta sublime missão de levar a todos o júbilo pascal. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


SOBRE A QUAARESMA

Sobre a quarema
O tempo de Quaresma vai desde a Quarta-feira de Cinzas até a Missa Vespertina da Quinta Feira Santa. Está claro na Carta Apostólica MYSTERII PASCHALIS número 28. A Quaresma inclui a quinta-feira, terminando com a Missa da Ceia do Senhor exclusive.Começa então o Tríduo Pascal.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

AI DAQUELE POR QUEM O FILHO DO HOMEM FOR TRAÍDO

AI DAQUELE POR QUEM O FILHO DO HOMEM VAI SER TRAÍDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Nunca se reflete demais sobre a maldade de Judas, traindo seu Mestre e Amigo.  Uma perfídia inominável. Ele se abrasara em tais chamas da idolatria ao dinheiro que pelo vil metal vendeu o seu Senhor, infinitamente bom e caritativo. Calculou em moedas o sangue preciosíssimo do Filho de Deus. Sua ingratidão foi sem limites para com aquele que o fizera tesoureiro do colégio apostólico e o havia enaltecido com a glória do apostolado. A obstinada dureza de seu coração não foi tocada nem pela familiaridade de última ceia, nem pela humildade que Jesus mostrou ao lavar os pés de seus discípulos, nem pela suavidade da  bondade que Ele irradiava. Admirável, porém, a paciência de Cristo para com seguidor tão iníquo, o pior de seus epígonos. De fato, tão grande foi a impiedade do traidor, quão enorme foi a tolerância de Jesus advertindo-o  abertamente: “Ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído (Mt 26,14-25). Se a deslealdade viesse de um inimigo declarado, maior não teria sido a paciência do Mestre divino, porque Ele estava na presença de alguém  no qual pusera sua confiança, o qual presenciara seus milagres e escutara tantas lições legadas por Ele. Judas deu o golpe da iniquidade que seria consumada por um ósculo hipócrita na face do Mestre como sinal para que seus perseguidores o pudessem distinguir e prender. Beijo abominável de um pérfido ser humano que faria do ósculo da paz, o indício da deslealdade. Bem se pode imaginar o horror dos demais apóstolos aterrorizados por tamanha infidelidade e vileza, Judas, um homem, venal, larápio e traidor, escravo de satanás. Por tudo isto, bem sabemos qual foi o seu fim terrível, pois foi  tomado depois pelas garras do desespero. Entregou o Mestre e não se arrependeu, De fato, se tivesse  tido esperança, um mínimo de confiança em Jesus ele não teria procurado o caminho do suicídio (Mt, 27,5). Ele que contemplara Cristo perdoando a tantos pecadores, ele que escutara a parábola do Filho pródigo e outras pregações sobre a ternura de Deus não assimilara os ensinamentos de Jesus. Ele devia temer e tremer pelo que fizera, mas era preciso que se lançasse aos pés do amigo traído e lhe pedisse perdão. É necessário que se tirem deste episódio da traição e desespero de Judas conclusões vivenciais. Jamais ter um coração tão empedernido que chegue às raias de tamanha perversidade. O Redentor está sempre disposto a anistiar todas as ingratidões e todas as faltas, mas quer um mínimo de certeza de que Ele perdoa sempre. É preciso orar por todos aqueles que a exemplo de Judas traem a Jesus e não procuram o caminho que leva a seu coração terno e misericordioso. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

IMPORTÂNCIA DA SEMANA SANTA

IMPORTÃNCIA DA SEMANA SANTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No início da Semana Santa é preciso disponibilidade para captar os ensinamentos que jorram, sobretudo, das cátedras do Cenáculo, do Calvário, do Sepulcro, culminado com as alegrias da Páscoa. Na última ceia Cristo proclama seu amor e exalta a caridade fraterna como fundamento de sua Igreja. Oferece ao homem seu Copo para o nutrir com sua graça, com o germe da imortalidade e da ressurreição.  Dá seu Sangue divino para enobrecer o ser racional, que se torna consanguíneo do Filho de Deus.  Concede ao homem seu Coração para moldar o coração humano de acordo com a imensidade de sua ternura. Confere ao homem a ventura de participar de sua divindade e declara: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56) Desta maneira o cristão enxertado nele pode repetir com São Paulo “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gal 2,20). No Cenáculo  Jesus lega também o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros”.  No Calvário estabelece a cátedra do sacrifício e se oferece como vítima do mundo.  Ele quis reparar a glória do Pai ultrajada, pagar as dívidas da linhagem humana, oferecendo uma copiosíssima redenção. Ele se fez na Cruz, Hóstia, Salvação e Vítima. Foi o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo. Mereceu para toda a humanidade o perdão e a graça, frutos de uma misericórdia infinita. Com razão, muitos artistas pintaram o Calvário  com anjos e seus cálices de ouro recolhendo o Sangue da augusta Vítima para derramá-lo sobre o mundo num batismo salvador e sobre o purgatório como um rocio refrigerante. Depois, no Sepulcro a cátedra do triunfo. Ele ressuscitaria imortal e impassível, vencendo a morte e todos os seus inimigos. Vitorioso sobre o pecado, sobre o mundo, sobre satanás. Eis por que ao penetrar no pórtico da grande semana é preciso mais do que nunca ter o coração purificado e a mente disposta a perceber a grandiosidade do tríduo pascal. A participação piedosa nas diversas procissões, nas cerimônias litúrgicas e a atenção nas pregações destes dias sagrados resultará em novas luzes celestiais que guiarão nos caminhos da santidade e da redenção eterna. Cumpre recolher os frutos de dias tão abençoados que brindam de paz e gozo no Espírito Santo aqueles que souberem usufruir de tantas bênçãos divinas. Por tudo isto é preciso gestos com os de Maria Madalena humildemente aos pés de Jesus envolvendo-os com o nardo genuíno de alto preço, símbolo um profundo amor ao Mestre divino. Não imitar Judas que censurou atitude da irmã de Marta e Lázaro, pois ele venderia aquele perfume não para dar aos pobres, mas para se apossar do dinheiro da venda, dado que um larápio. A Semana Santa exige, de fato, muito amor a Jesus e uma conversão total para que se recebam todas as graças especiais destas horas benditas. É bom que se lembre sempre a advertência de Santo Agostinho: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar” *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 3 de abril de 2017

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DE JESUS

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÂO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Desde a entrada festiva de Jesus em Jerusalém até sua morte no Calvário a Semana Santa leva os fiéis a seguir as diferentes etapas do mistério de Cristo, culminando no Domingo de Páscoa, o maior dia do ano, data da gloriosa Ressurreição do Redentor. Jesus foi aclamado como Rei, mas o trono deste soberano era a Cruz, pela qual Ele é o Messias salvador. Um soldado romano, um estrangeiro, proclamaria lá no Gólgota: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus”. Cumpre retirar todo proveito espiritual destes dias abençoados que devem suscitar especial piedade, todos unidos em comunhão com os cristãos do mundo inteiro.  Renovação de uma fidelidade total a Cristo que se sacrificou pela humanidade, derramando seu sangue precioso pela salvação de todos. É necessária a correspondência a tanto amor. Nem se pode esquecer que o contexto histórico atual onde falta tantas vezes a comiseração exige uma profusão de dileção universal. Quem vai  passar ao longo desta Semana Santa é Cristo que descerá no fundo das desesperanças humanas para aí depositar seu imenso amor. Ele quer abrir um caminho que permite a todos entrar um dia na glória do Pai. Cumpre, pois, força e coragem para segui-lo ao longo desta Semana, pois se nós morrermos com Ele com Ele viveremos eternamente. Se com Ele sofrermos, com Ele reinaremos no seu reino de glória. Além da visão do Calvário serão contempladas as luminosidades de sua vitória sobre a morte, numa ressurreição que é penhor da nossa própria ressurreição. Como bem advertiu São João Crisóstomo estes são dias nos quais é preciso subjugar definitivamente a tirania do demônio, vencido pela Cruz. Horas sagradas nas quais, unidos aos anjos, a paz reinará em cada coração arrependido. A participação nas procissões destes dias, a comemoração da instituição da Eucaristia, a austeridade do jejum da sexta-feira santa, seguida da solene vigília pascal oferecem oportunidade ímpar para um crescimento espiritual incomparável. Oportunos conselhos levarão a muitos a procurem o Sacramento da Penitência e a multiplicarem as boas obras numa piedade a atestar a grandeza dos dons divinos numa semana tão privilegiada. São oito dias para passar com Cristo da morte à vida. Passo a passo seguindo Jesus que toma sobre si as fragilidades humanas. A vulnerabilidade de Cristo deve tocar os corações porque ela flui de um grande amor. Graças à sua cruz ninguém pode se sentir abandonado e sujeito a um destino inexorável, submisso à morte. A cruz de Jesus é a vitória sobre o mal e o pecado. A alegria pascal do próximo domingo nasce aos pés da cruz sublimando todo sofrimento dos homens. Tomando sobre si nossas fraquezas, Cristo nos revela o quanto o nosso Deus nos ama. Os acontecimentos da Semana Santa não são uma mera recordação de fatos longínquos, mas através da Liturgia o cristão revive o mistério de sua redenção.  Não se torna um mero espectador, mas entra no mistério de um sacrifício divino que abre as portas de uma eternidade feliz. A Liturgia não é uma sucessão de ritos. Ela introduz o seguidor de Jesus no coração mesmo de seus gestos salvíficos, levando cada um à participação dos sentimentos mesmos do divino Salvador.  Levemos, portanto, parentes e amigos a estarem presentes nas solenes celebrações destes dias repletos de tantas graças. Trata-se de uma união profunda com Cristo, afastada toda indolência e indiferença.  Cumpre que nos encorajemos uns aos outros numa fé profunda, para sermos no coração do mundo um povo que vive em função da misericórdia do Senhor. Este é um tempo favorável a uma renovação de vida num afervoramento interior que signifique uma completa valorização das dores do Redentor da humanidade. Esta não pode ser uma semana como as outras, embora todas as semanas devam ser santas.  Passar, porém, estes dias de uma maneira ainda mais fervorosa é preparar um encontro especial com Jesus Ressuscitado no dia festivo da Páscoa. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.