SENHOR,
DÁ-ME DESTA ÁGUA
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Admirável
o pedido que a samaritana fez a Jesus à beira do poço de Jacó: "Senhor,
dá-me desta água” (Jo 4,5-42). Cristo atravessa sempre os caminhos humanos para
oferecer a água que jorra para a vida eterna. Ele não tinha sido chamado pela
mulher de Samaria, a qual só pensava na água para seu último falso marido. É
Jesus que em todas as oportunidades toma a iniciativa como acontece sempre com
cada um de seus seguidores. Ele vem ao seu encontro para cumular de dons os que
se dispõem a escutá-lo e a seguir suas orientações. O importante é nunca fugir
do encontro com Ele e não se esquivar do olhar misericordioso do divino
Redentor. Uma condenável autonomia torna sempre menos visível o engajamento ao
que Ele propõe e faz menos dificultosa a opção pelo Reino de Deus, menos austeras
as vias de união com Ele. A samaritana teve o bom senso de usufruir da presença
de Jesus e é possível que tenha pressentido até o que lhe seria pedido no fim
daquela abençoada tertúlia. Houve então uma conversão do coração, uma metanoia,
uma mudança total de sua vida. Cristo continua a interpelar, mesmo porque ele
sabe tudo que cada um faz. Quer, porém, uma manifestação partida do coração.
Ele deseja a palavra sincera que liberta ao reconhecer os erros passados como
ocorreu com a samaritana. Ele tem continuamente a palavra que salva, uma vez
que Ele conhece a história de cada um de nós (Jo 2,25). Tem o condão de
perceber, porém, a esperança que paira dentro do ser humano, não obstante suas
fragilidades. É preciso, contudo, corresponder a sua graça e não trair sua
amizade, seu amor. Ele acolhe os bons sentimentos, o arrependimento, porque
quer salvar, libertar o ser humano. Com Jesus o passado não pode frear o
futuro. Ele faz aflorar as feridas, mas para abrir caminhos de redenção. Com
seu olhar de misericórdia faz descer a verdade no íntimo do coração no qual
passa a raiar a liberdade. Jesus havia dito à samaritana que Ele possuía uma
água que irrompia para a eternidade e quem bebesse desta água não teria mais
sede. A mulher prontamente Lhe pediu: “Dá-me dessa água”. Foi quando Cristo a
levou a reconhecer seus pecados, ao mandar que ela trouxesse o seu marido. Ela
havia tido cinco e o atual não era seu marido verdadeiro. A pecadora fez um ato
de fé na missão messiânica de Jesus, converteu-se e se tornou uma apóstola. Foi
anunciá-lo aos seus conterrâneos que também creram, vieram até Cristo
pedindo-Lhe que ficassem com eles. É necessário que todos os que recebem a água
viva das graças divinas se tornem arautos da evangelização, trazendo muitos
para junto do divino Redentor como fez a samaritana. Apostolado pelas palavras
e pelo testemunho de vida. A água viva de que Jesus falava era símbolo da revelação
que Ele fazia de sua misericórdia. Será sempre por uma vida em tudo correta,
fundada na confiança absoluta no divino Redentor que o cristão proclama aos
outros que Ele é verdadeiramente o Messias, o Cristo, o Ungido do Pai. Eis por que
São Paulo aconselhava aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação de vossa mente, para discernirdes qual é
à-vontade de Deus, o que é bom, agradável a Deus e perfeito” (Rm 12 2).
Regenerados pela água do batismo o cristão é uma nova criatura a quem o Pai
ofereceu a água que corre para a vida eterna. Trata-se de uma maneira de viver
com Jesus para torná-lo, como fez a samaritana, conhecido e amado. Ser cristão
é viver com Jesus que pelo Batismo nos ofereceu a água que regenera e abre as
fontes da vida propriamente divina, teologal. Os batizados são conduzidos pelo
Espírito nos detalhes de sua existência humana pessoal e social, Assim como
Deus os leva a partilhar do manancial da água viva, assim os fiéis trabalham
para que outros que dele se afastaram venham usufruir desta nascente celestial,
ultrapassando todas as dificuldades, todas as contingências inerentes à
matéria. O acesso a esta mina de dons se dá através daquela fé que Jesus inoculou
no espírito da samaritana, fazendo com isto que no seu coração nascesse o amor
mesmo de Deus que ela logo tratou de irradiar na sua comunidade. Saibamos
imitá-la! * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário