É BOM ESTARMOS AQUI
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O
episódio da transfiguração de Jesus está todo ele envolto na glória eterna que
deslumbrou o apóstolo Pedro que exclamou: “Senhor é bom estarmos aqui” (Mt
17,1-9). Entretanto, a finalidade do que ocorria naquela montanha era deixar
uma mensagem clara sobre a divindade de Cristo e mostrar a seus seguidores o
destino glorioso que os aguarda na vida eterna. O cerne desta mensagem era uma
pessoa, o filho bem-amado do Pai. Moisés e Elias que apareceram junto de Jesus
transfigurado haviam transmitido preceitos que deveriam orientar a vida do povo
judeu. Agora com a pessoa de Cristo, a nova Aliança não consistiria, em acolher
determinações, mas em crer na obra da graça manifestada no Filho de Deus. A
graça redentora seria a semente da glória perene após a trajetória neste mundo.
Lá na eternidade é que as palavras de Pedro e de todos que conhecessem a
salvação seriam uma realidade sem fim. Com efeito, os que chegarem ao céu é que
poderão, de fato, poder repetir: “É bom estarmos aqui”, pois significará estar
envolto numa ventura sem fim. Para que isto se torne um dia uma realidade
faustosa é preciso escutar Jesus, como ordenou a voz do Pai. Trata-se de viver conforme a fé no divino
Redentor, seguindo tudo que Ele ensinou. Este Jesus que venceu a morte e
ressuscitou imortal e impassível no qual o Pai colocou todas as suas
complacências é quem garante este final feliz para seus discípulos. Eis i por
que Cristo deu a Pedro, Tiago e João a ordem de não falarem a ninguém sobre a
visão que tiveram até que Ele ressuscitasse dos mortos. A ressurreição faria brilhar aos olhos de
seus seguidores a realidade da comunhão profunda de Jesus com a vida divina que
não seria vencida pelo pecado que ele repararia lá em outro monte, ou seja, no
Calvário. Esta vida divina Ele comunicaria aos que O escutassem, pois seu
discípulo estaria numa relação via e atual com Ele. Tanto isto é verdade que
Cristo pôde posteriormente dizer aos Apóstolos e, assim, a todos que lhe fossem
fiéis: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt
28,20). No Tabor, onde se deu a
transfiguração, ele deixou uma mensagem de coragem: “Não temais”. Com ele seus
seguidores atravessariam as provas e dificuldades da vida. Com efeito, as provações
seriam a expressão do combate da luz e das trevas no coração de cada um e no
contexto social em que vivessem. Aos vitoriosos estava selada a recompensa
eterna, pois na vida deles Jesus seria sempre o grande triunfador. Na pessoa do
cristão se manifestaria a aliança que o Pai concluiu com seu Filho único e
daria aos que Lhe fossem fiéis a participação na sua vida e na luz perene lá na
Jerusalém do alto. A mensagem da Transfiguração é deste modo mensagem da Boa Nova do Amor do Pai,
manifestado Jesus sob a assistência do Divino Espírito Santo bem simbolizado na
nuvem luminosa que envolver a todos lá no Tabor. A presença da Santíssima
Trindade na vida de cada um deve ser permanente e reconfortante, impedindo que
se extravie e se venha a perder a glória lá do céu. Esta presença trinitária é preciosa e
importante, especialmente nas turbulências do dia a dia. Como /Pedro não se
pode querer apenas momentos privilegiados, bem tranquilos. Jesus desceria do
Tabor para depois conhecer todos os sofrimentos de sua Paixão e Morte. É com
Ele que o cristão leva de vencida as dificuldades da vida, olhos fixos na
glória que um dia se manifestará. Esta glória será a expressão de uma
existência vitoriosa sobre o mal. No Tabor o rosto de Jesus brilhou como o sol
e suas vestes se tornaram brancas como a luz Todo batizado deve fazer
transparecer através da beleza interior da graça santificante o fulgor do amor
de Deus a envolver todas as suas ações. Deste modo o cristão é por toda parte o arauto
de felicidade que um dia possuirá lá na Casa do Pai, mas da qual já degusta uma
porção nesta terra de exílio. A Pedro, Tiago e João que caíram de rosto por
terra Jesus lhes disse: “Levantai-vos!"!
Ele continua a clamar a cada um de nós: “Erguei vossas cabeças, pois
sois filhos e filhas de Deus nos quais mora a semente da ressurreição fruto do
amor infinito do Pai”. Sejamos sempre agradecidos a Deus que pelo batismo
revelou para todos a beleza interior que nos transfigura em outros Cristos
destinos à glória eterna. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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