segunda-feira, 27 de março de 2017

A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
Côn. José GeraldoVidigal de Carvalho*

O episódio da ressurreição de Lázaro leva os fiéis a refletir sobre a morte e a vida (Jo 11,1-45). Eis aí dois grandes enigmas para a inteligência e para o coração do ser racional. Não será apenas na velhice, no ocaso da vida, que se deve meditar sobre estas duas sublimes realidades, ambas a serem contempladas em toda sua luminosidade à luz da fé. A existência humana ignora prazos e ninguém, como bem advertiu Jesus, sabe nem o dia nem a hora na qual deixará de usufruir da vida nesta terra, passando pela porta da morte. Muitas vezes a doença traz advertência, mas com o progresso da medicina, pode ser vencida, aumentando o número de anos de cada um. Entretanto, para além dos temores e das moléstias se deve encarar a vida e a morte num horizonte de paz e de esperança. As atitudes de Marta e Maria foram reações naturais e nos deixaram boas lições. Ambas tinham perfil caracterológico diferente, mas tributavam uma mesma afeição a seu irmão Lázaro. Este adoece e elas logo se lembram de outro grande amigo que era Jesus. Foram de uma delicadeza admirável e o recado que mandam ao poderoso taumaturgo foi discreto e revelando amizade: “Senhor, aquele que amas está doente”. Quantos, porém, quando são visitados pela doença, sobretudo se são graves, não sabem como se comportar perante Deus e muitos até desesperam. Este Deus, porém, é Pai amoroso, poderoso, merece como fizeram as irmãs de Lázaro ser tratado com grande confiança. Uma prece que seja um lembrete repleto da certeza de que o Todo-poderoso Senhor fará sempre o melhor. Quando Jesus chegou a Betânia, Marta e Maria reagiram de maneira diversa. Uma foi correndo para junto de Cristo, a outra ficou quieta em sua casa. Recebe, porém, o recado sublime: “O Mestre está lá e te chama”. Jesus e Marta sentiram falta de Maria. Perante Cristo elas extravasam seu coração numa frase que poderia até parecer uma reclamação: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”! Elas como que diziam: “Estavas longe e agora que ele está morto podes menos ainda”! Diante desta possível incredulidade no poder de Jesus de fazer Lázaro voltar à vida, Cristo limitou-se a participar da dor de ambas e teve que escutar alguém a clamar: “Aquele que abriu os olhos ao cego não poderia ter impedido que Lázaro morresse?” Entretanto, foi sobretudo diante do túmulo de Lázaro que Jesus chorou perante os sofrimentos de todos que ali se achavam e que sabiam o quanto ele amava aquele que tinha morrido. Jesus serviu-se daquele momento para dar uma demonstração de sua onipotência e concedeu mais uns anos de vida a Lázaro, ressuscitando-o dos mortos. Ele dissera a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida; aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais”. Havia cobrado o ato de fé de Marta: “Crês isto?” A resposta foi admirável: “Creio, Senhor que tu és o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo”. A cada um de nós que vivemos neste século XXI Jesus faz a mesma indagação: “Crês realmente que eu sou a ressurreição e a vida”? A resposta sincera, radical é como o resumo de todo credo da vida neste mundo e na eternidade, oferecendo paz, esperança, otimismo, certeza de que Deus faz e fará sempre o melhor para cada um nos seus planos imperscrutáveis. Viver em estado de graça é já ter em si a semente da glória eterna. A fé em Jesus faz atravessar a morte corporal, porque na outra margem da vida Ele está à espera dos que nele creram e já tendo um lugar lá no céu até o dia da ressureição final do corpo no juízo final. O projeto de Deus engloba todos os mortos que acreditaram em Cristo e assim deram sempre um sentido à vida neste mundo. Daí a importância da preparação para o dia 23 de março, quando a comemoração da Ressurreição de Cristo firmará a crença em todas estas verdades hoje fixadas. A Páscoa convidará a todos a uma nova esperança e projetos novos em vista da vida eterna. Não se trata de uma vã resignação perante o fato da morte, pois a mera resignação não é uma atitude cristã. Vivendo num contexto histórico de tanta agressividade e de desrespeito à vida, tudo contribui para demolir a fé. Jesus está a nos falar de perspectivas luminosas neste mundo e no outro. Quem nele crê e O segue terá a vida eterna* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 20 de março de 2017

JESUS, A LUZ QUE ILUMINA O MUNDO

JESUS, A LUZ QUE ILUMINA O MUNDO.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A extraordinária cura de um cego de nascença mostra como Deus não julga o exterior, mas olha dentro do coração humano (Jo 9,1-41). Aquele que é humilde, fraco, sofredor tem a preferência divina ao contrario dos que julgam pelos critérios humanos os quais valorizam os poderosos. Jesus viu alguém que não enxergava desde seu nascimento, desprezado, considerado pecador ou filho daqueles que haviam pecado e logo dele se compadeceu. Ante um julgamento tão negativo, Ele, que era luz do mundo, se encheu de compaixão perante a cegueira daquele homem. Fez um gesto surpreendente. Antes de simplesmente abrir os olhos do cego cuspiu no chão e fez barro com a saliva e aplicou-o aos olhos daquele sofredor. Cumpre penetrar no significado daquele sinal de Cristo que a primeira vista poderia parecer estranho. Há nele um duplo sentido. No início da Bíblia o Gênesis relata no capítulo segundo que Deus modelou o ser humano com o barro da terra. Era o aparecimento do homem. Pelo gesto de Jesus agora era um homem novo que ele entranhava no cego. Surgia uma nova vida deste encontro com o poderoso taumaturgo e tanto isto é verdade que, mais tarde, no reencontro com Cristo o cego curado fez um ato salvífico de fé: “Eu creio, Senhor. E O adorou”. Jesus lhe restituíra a visão corporal e espiritual. Aquele lodo de que se serviu Cristo era o símbolo do barro do pecado que deforma o olhar humano. São as faltas que impedem de ver a Deus como Pai e o próximo como irmão. Entretanto, Jesus, o taumaturgo, sana também o olhar errôneo que cada um tem sobre si mesmo. Muitos se julgam santos, quando na verdade o mal está enraizado na sua vida pela prática do desprezo dos mandamentos da Lei do Senhor. Jesus então manda ir não já à piscina de Siloé, mas ao sacramento da Confissão, fonte onde se lavam todas as maldades, todos os erros. Depara-se então com Aquele que é a luz que ilumina o mundo. A cura do cego de nascença suscitou inúmeras dúvidas entre seus conhecidos e os fariseus. Quantos incrédulos ainda hoje há no mundo que não creem no poder miraculoso de Jesus para si, para os outros, para quantos nele confiam! Não percebem que é possível a conversão dos que se extraviam e não são capazes também de perdoar os outros. A quaresma, mais do que um tempo de penitência, deve ser um contexto de acolhimento aos outros e a si mesmo. Recepção generosa da Luz de Deus, esta Luz que é Jesus e que deve aclarar a vida de seus seguidores, aumentando-lhes a fé nos mistérios revelados. O cego de nascença não havia nada pedido a Jesus, mas foi Jesus que tomou a iniciativa. Cristo está, sobretudo na Quaresma, à porta de cada coração e bate. Ele quer iluminar todos os recantos deste coração para que seu discípulo possa contemplá-lo na Eucaristia, na pessoa do próximo, nas belezas da natureza. Ele veio ao mundo como luz para restabelecer inteiramente a dignidade humana. O cego de nascimento que reconheceu a divindade de Cristo se tornou seu seguidor e sublinha a necessidade de que haja um apostolado devotado para que outros cegos passem a enxergar as maravilhas de Deus em seu derredor. A cura do cego fez surgir controvérsias e tomadas de posição. Isto faz lembrar o ilogismo daqueles que se opõem ao bom senso e à fé que se deve ter em Jesus e na sua verdadeira Igreja católica. Muitos são aqueles que como os pais do cego se esquivam para não se comprometer e até traem sua crença religiosa por interesses muitas vezes irrisórios. Não querem complicar sua vida, mas abandonam a luminosidade de Jesus. O encontro pessoal com Cristo deve levar a uma profissão completa de fé, porque senão, como disse Jesus, o pecado permanece. Jesus oferece sempre oportunidade para uma escolha sábia entre as trevas e a luz. Aquele que prefere sua cegueira espiritual, porém, não tem escusas, dado que Deus, como aconteceu com o cego do Evangelho, oferece oportunidade para uma cura total. Ele, contudo, não força a liberdade humana. Os fariseus continuaram os verdadeiros cegos e foram repreendidos pelo Mestre divino. Felizes, contudo, os que acolhem o dom da fé e vivem na luz de Cristo dentro da Igreja que guia, conduz e salva. É preciso enxergar a evidência da presença de Deus no decorrer de todas as horas, tendo com Ele uma amizade pessoal, íntima. Solicitar a Jesus para guardar junto de seu coração amoroso todos os passos cotidianos. Assim outros também descobrirão como é doce e suave uma existência sob a luminosidade divina.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 18 de março de 2017

As consequências da ambição

AS CONSEQUENCIAS DA AMBIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Como se não bastasse a corrupção no meio político com verbas faraônicas desviadas dos cofres públicos, as manchetes dos jornais da última semana são também aterradoras. Entre elas “Cabeça de porco, carne podre, salmonela, papelão. Investigação da Polícia Federal revela que, antes de exigir dinheiro em  espécie de suas vitimas, dois inspetores do Ministério da Agricultura se fartavam de hambúrgueres, picanhas e peças generosas de filé mignon”. Além da desmoralização de empresas famosas, o desrespeito aos consumidores é de estarrecer. A busca desenfreada de dinheiro a qualquer preço causa todas estas desgraças e as misérias que campeiam por toda parte. Deus não pode aprovar nenhuma atitude desonesta, mas gratifica toda e qualquer ação eticamente honesta. O dinheiro, fruto de um trabalho consciencioso, deve, portanto, aproximar o cristão de Deus, ao passo que a ganância e a desonestidade proporcionam desgraças para quem as comete e para toda a coletividade. A ambição desmedida é, infelizmente, fonte de muitas perversidades a serem vencidas, mas muitos se tornam escravos do dinheiro. Este se torna então dinheiro da iniquidade, do dolo, do engano, da fraude.  A segurança que as riquezas oferecem são ilusórias e toda corrupção precisa se veementemente execrada. Louvados sejam sempre, isto sim, os  que praticam a justiça, são probos e retos. Combate corajoso à ganância,  ao amor-próprio, ao egoísmo, à  astúcia, ao poder pelo poder. Foi a ambição que levou Judas Iscariotes à mais vil traição registrada na   História. O alerta de Cristo, sobre o perverso emprego das riquezas vale para qualquer contexto socioeconômico, sobretudo para o atual, situação marcada pelo consumismo, pela contrafação edênica, pelo endeusamento da fortuna adquirida por meios lesivos ao próximo e a toda a nação. . Se muitos governantes, vários políticos e os poderosos deste mundo não dão exemplo, o bom cidadão pessoalmente não se deixa contaminar por esta onda de perversidade, aprovando os desvios do dinheiro público e toda espécie de falcatrua, lesando o  que a todos pertence. Basta de enganos que se multiplicam nos mais  diversos setores da sociedade. A grande questão é o reto uso da liberdade, a qual necessita ser iluminada pela retidão, pela probidade, para que haja o discernimento nesta travessia temporal rumo à eternidade. Uma supervalorização da posse de bens transitórios se torna para muitos uma obsessão que fatalmente leva à corrupção com todas as suas fatais consequências. Os depravados então se esquecem de que para a outra vida nada se leva daquilo que com tanta deslealdade foi sendo inutilmente acumulado. No atual contexto histórico no qual, mais do nunca,  há uma sujeição aos bens materiais, uma ambição desmedida e o resultado é um espetáculo, de fato, aterrador. Professor no Seminário de Mariana  durante 40 anos

terça-feira, 14 de março de 2017

SOBRE A COMUNHÃO EUCARÍSTICA

SOBRE A COMUMHÃO EUCARÍSTICA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Instrução Geral do Missal Romano oferece no número 160 esta norma sobre a distribuição da Comunhão aos fiéis. “O sacerdote pega depois na patena ou na píxide e aproxima-se dos comungantes, que habitualmente se aproximam em procissão. Não é permitido que os próprios fiéis tomem, por si mesmos, o pão consagrado nem o cálice sagrado, e menos ainda que o passem entre si, de mão em mão”
Está também nesta Instrução o seguinte: “Na distribuição da Comunhão, o sacerdote pode ser ajudado por outros presbíteros eventualmente presentes. Se estes não estiverem disponíveis e o número dos comungantes for demasiado grande, o sacerdote pode chamar em seu auxílio os ministros extraordinários”.
 O Cânon 925 do Direito Canônico fala na distribuição da sagrada comunhão.
 É que na última ceia Jesus tomou um dos pães que estavam sobre a mesa espaçosa. Fez um instante de silêncio, momento de uma prece especial. Partiu depois o pão e ofereceu um pedaço a seus discípulos, dizendo: “Recebei e comei: isto é o meu corpo” (Mt 26,26).  Os apóstolos o recebem das mãos do Mestre. O laço entre Aquele que dá e aquele que recebe foi um elemento essencial, indispensável naquele instante solene. Foi um dar e um receber pessoal o que ocorreu entre Jesus e cada um dos doze. Todos tiveram parte no mesmo pão divino distribuído individualmente pelo Redentor. Relação interpessoal entre Ele e seu seguidor.
O Catecismo da Igreja Católica no número 1390 lembra o seguinte: “Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão somente sob a espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia.
Por motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais habitual no rito latino”.
Os fiéis podem receber a Comunhão na língua ou na mão. A mão esquerda deve sercolocada sobre a mão direita, de modo que a hóstia possa ser levada à boca com a mão direita.
O sacerdote ou o ministro diz “O Corpo de Cristo” e o fiel responde “Amém
” Quanto ao jejum eucarístico o Cânon do Direito Canônico estabelece no cânon 919 parágrafo primeiro: “Quem vai receber a santíssima Eucaristia abstenha-se de qualquer comida ou bebida, excetuando-se somente água e remédio, no espaço de uma hora antes da sagrada comunhão”.
Após a comunhão é aconselhável só tomar algum alimento ou bebida após cerca de 15 minutos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 13 de março de 2017

SENHOR, DÁ-ME DESTA ÁGUA

SENHOR, DÁ-ME DESTA ÁGUA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admirável o pedido que a samaritana fez a Jesus à beira do poço de Jacó: "Senhor, dá-me desta água” (Jo 4,5-42). Cristo atravessa sempre os caminhos humanos para oferecer a água que jorra para a vida eterna. Ele não tinha sido chamado pela mulher de Samaria, a qual só pensava na água para seu último falso marido. É Jesus que em todas as oportunidades toma a iniciativa como acontece sempre com cada um de seus seguidores. Ele vem ao seu encontro para cumular de dons os que se dispõem a escutá-lo e a seguir suas orientações. O importante é nunca fugir do encontro com Ele e não se esquivar do olhar misericordioso do divino Redentor. Uma condenável autonomia torna sempre menos visível o engajamento ao que Ele propõe e faz menos dificultosa a opção pelo Reino de Deus, menos austeras as vias de união com Ele. A samaritana teve o bom senso de usufruir da presença de Jesus e é possível que tenha pressentido até o que lhe seria pedido no fim daquela abençoada tertúlia. Houve então uma conversão do coração, uma metanoia, uma mudança total de sua vida. Cristo continua a interpelar, mesmo porque ele sabe tudo que cada um faz. Quer, porém, uma manifestação partida do coração. Ele deseja a palavra sincera que liberta ao reconhecer os erros passados como ocorreu com a samaritana. Ele tem continuamente a palavra que salva, uma vez que Ele conhece a história de cada um de nós (Jo 2,25). Tem o condão de perceber, porém, a esperança que paira dentro do ser humano, não obstante suas fragilidades. É preciso, contudo, corresponder a sua graça e não trair sua amizade, seu amor. Ele acolhe os bons sentimentos, o arrependimento, porque quer salvar, libertar o ser humano. Com Jesus o passado não pode frear o futuro. Ele faz aflorar as feridas, mas para abrir caminhos de redenção. Com seu olhar de misericórdia faz descer a verdade no íntimo do coração no qual passa a raiar a liberdade. Jesus havia dito à samaritana que Ele possuía uma água que irrompia para a eternidade e quem bebesse desta água não teria mais sede. A mulher prontamente Lhe pediu: “Dá-me dessa água”. Foi quando Cristo a levou a reconhecer seus pecados, ao mandar que ela trouxesse o seu marido. Ela havia tido cinco e o atual não era seu marido verdadeiro. A pecadora fez um ato de fé na missão messiânica de Jesus, converteu-se e se tornou uma apóstola. Foi anunciá-lo aos seus conterrâneos que também creram, vieram até Cristo pedindo-Lhe que ficassem com eles. É necessário que todos os que recebem a água viva das graças divinas se tornem arautos da evangelização, trazendo muitos para junto do divino Redentor como fez a samaritana. Apostolado pelas palavras e pelo testemunho de vida. A água viva de que Jesus falava era símbolo da revelação que Ele fazia de sua misericórdia. Será sempre por uma vida em tudo correta, fundada na confiança absoluta no divino Redentor que o cristão proclama aos outros que Ele é verdadeiramente o Messias, o Cristo, o Ungido do Pai. Eis por que São Paulo aconselhava aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para discernirdes qual é à-vontade de Deus, o que é bom, agradável a Deus e perfeito” (Rm 12 2). Regenerados pela água do batismo o cristão é uma nova criatura a quem o Pai ofereceu a água que corre para a vida eterna. Trata-se de uma maneira de viver com Jesus para torná-lo, como fez a samaritana, conhecido e amado. Ser cristão é viver com Jesus que pelo Batismo nos ofereceu a água que regenera e abre as fontes da vida propriamente divina, teologal. Os batizados são conduzidos pelo Espírito nos detalhes de sua existência humana pessoal e social, Assim como Deus os leva a partilhar do manancial da água viva, assim os fiéis trabalham para que outros que dele se afastaram venham usufruir desta nascente celestial, ultrapassando todas as dificuldades, todas as contingências inerentes à matéria. O acesso a esta mina de dons se dá através daquela fé que Jesus inoculou no espírito da samaritana, fazendo com isto que no seu coração nascesse o amor mesmo de Deus que ela logo tratou de irradiar na sua comunidade. Saibamos imitá-la! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.






segunda-feira, 6 de março de 2017

É BOM ESTARMOS AQUI

É BOM ESTARMOS AQUI
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O episódio da transfiguração de Jesus está todo ele envolto na glória eterna que deslumbrou o apóstolo Pedro que exclamou: “Senhor é bom estarmos aqui” (Mt 17,1-9). Entretanto, a finalidade do que ocorria naquela montanha era deixar uma mensagem clara sobre a divindade de Cristo e mostrar a seus seguidores o destino glorioso que os aguarda na vida eterna. O cerne desta mensagem era uma pessoa, o filho bem-amado do Pai. Moisés e Elias que apareceram junto de Jesus transfigurado haviam transmitido preceitos que deveriam orientar a vida do povo judeu. Agora com a pessoa de Cristo, a nova Aliança não consistiria, em acolher determinações, mas em crer na obra da graça manifestada no Filho de Deus. A graça redentora seria a semente da glória perene após a trajetória neste mundo. Lá na eternidade é que as palavras de Pedro e de todos que conhecessem a salvação seriam uma realidade sem fim. Com efeito, os que chegarem ao céu é que poderão, de fato, poder repetir: “É bom estarmos aqui”, pois significará estar envolto numa ventura sem fim. Para que isto se torne um dia uma realidade faustosa é preciso escutar Jesus, como ordenou a voz do Pai.  Trata-se de viver conforme a fé no divino Redentor, seguindo tudo que Ele ensinou. Este Jesus que venceu a morte e ressuscitou imortal e impassível no qual o Pai colocou todas as suas complacências é quem garante este final feliz para seus discípulos. Eis i por que Cristo deu a Pedro, Tiago e João a ordem de não falarem a ninguém sobre a visão que tiveram até que Ele ressuscitasse dos mortos.  A ressurreição faria brilhar aos olhos de seus seguidores a realidade da comunhão profunda de Jesus com a vida divina que não seria vencida pelo pecado que ele repararia lá em outro monte, ou seja, no Calvário. Esta vida divina Ele comunicaria aos que O escutassem, pois seu discípulo estaria numa relação via e atual com Ele. Tanto isto é verdade que Cristo pôde posteriormente dizer aos Apóstolos e, assim, a todos que lhe fossem fiéis: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).  No Tabor, onde se deu a transfiguração, ele deixou uma mensagem de coragem: “Não temais”. Com ele seus seguidores atravessariam as provas e dificuldades da vida. Com efeito, as provações seriam a expressão do combate da luz e das trevas no coração de cada um e no contexto social em que vivessem. Aos vitoriosos estava selada a recompensa eterna, pois na vida deles Jesus seria sempre o grande triunfador. Na pessoa do cristão se manifestaria a aliança que o Pai concluiu com seu Filho único e daria aos que Lhe fossem fiéis a participação na sua vida e na luz perene lá na Jerusalém do alto. A mensagem da Transfiguração é deste modo  mensagem da Boa Nova do Amor do Pai, manifestado Jesus sob a assistência do Divino Espírito Santo bem simbolizado na nuvem luminosa que envolver a todos lá no Tabor. A presença da Santíssima Trindade na vida de cada um deve ser permanente e reconfortante, impedindo que se extravie e se venha a perder a glória lá do céu.  Esta presença trinitária é preciosa e importante, especialmente nas turbulências do dia a dia. Como /Pedro não se pode querer apenas momentos privilegiados, bem tranquilos. Jesus desceria do Tabor para depois conhecer todos os sofrimentos de sua Paixão e Morte. É com Ele que o cristão leva de vencida as dificuldades da vida, olhos fixos na glória que um dia se manifestará. Esta glória será a expressão de uma existência vitoriosa sobre o mal. No Tabor o rosto de Jesus brilhou como o sol e suas vestes se tornaram brancas como a luz Todo batizado deve fazer transparecer através da beleza interior da graça santificante o fulgor do amor de Deus a envolver todas as suas ações.   Deste modo o cristão é por toda parte o arauto de felicidade que um dia possuirá lá na Casa do Pai, mas da qual já degusta uma porção nesta terra de exílio. A Pedro, Tiago e João que caíram de rosto por terra Jesus lhes disse: “Levantai-vos!"!  Ele continua a clamar a cada um de nós: “Erguei vossas cabeças, pois sois filhos e filhas de Deus nos quais mora a semente da ressurreição fruto do amor infinito do Pai”. Sejamos sempre agradecidos a Deus que pelo batismo revelou para todos a beleza interior que nos transfigura em outros Cristos destinos à glória eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.