VELAR, ORANDO EM TODO O TEMPO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Evangelho do primeiro domingo do Advento, depois de recordar o fim do mundo, traz a recomendação de Jesus: “Velai, pois, orando em todo o tempo” (Lc 21,34-36). Vigilância contínua para que se possa estar firme na presença do Filho do Homem, quando Ele voltar para o julgamento universal. O mesmo deve se dar com relação ao dia seu Natal para o qual a Igreja prepara os fiéis durante quatro semanas. Cumpre, realmente, idêntico estado de atenta precaução numa atitude de contínua oração. Deste modo, as duas vindas do Redentor exigem dos que crêem na salvação e na vida eterna uma postura profundamente importante para a dupla caminhada, ou seja, chegada até o Presépio e, depois, até o encontro com Aquele que virá julgar os vivos e os mortos após os eventos escatológicos. Uma vigilância singular, ativa rumo a Belém e, depois, para o dia imprevisível. Firmes todos na mais profunda esperança, pois Cristo voltará no esplendor de sua majestade, Ele que se contempla numa humilde manjedoura, cercado por animais, embora envolta no amor imenso de José e de Maria. Seu retorno no fecho da História humana será inesperado. Daí a necessidade imperiosa da orientação de todos os desejos para um final feliz por ocasião da consumação do tempo. No atual contexto de um mundo atormentado pelas rápidas evoluções sociais e tecnológicas que deram uma conotação surpreende à aceleração dos acontecimentos, dos conhecimentos e dos avanços científicos muito se aspira pela segurança interior. Daí o motivo de se viver escudado na cautela para não ser levado na voragem das velozes transformações. É mesmo preciso se antecipar aos problemas. Tudo isto poderia levar a se esquecer dos eventos espetaculares da comoção cósmica anunciada por Jesus, a apoteose final. Não se trata de uma ruptura com o mundo atual, mas, sim, de aguardar atentos ao modo como se estará diante do Filho do homem, quando ele vier na magnificência de um Juiz que saberá recompensar os que foram fiéis a tudo que Ele veio ensinar, quando lhes fará resplandecer sua misericórdia. Deste modo, a vigilância que faz lembrar a gratuidade do dom de Deus, leva também recordar a responsabilidade no que tange à correspondência aos planos salvíficos de Deus. Trata-se da audácia da total confiança de que com a graça celestial será possível atravessar cristamente o tempo para se chegar à eternidade, passando pelo juízo particular e, um dia, pelo juízo universal. Por isto, Cristo recomendou o abandono à prece e disponibilidade atenta para servir à justiça do Reino. Isto significa cultivar uma esperança dinâmica que leve a se despojar de tudo que é supérfluo ou danoso à salvação eterna, para melhor acolher desde já o Reino de Deus. Desta maneira, se torna possível levar de vencida todas as contrariedades e provas da vida, bem como o triunfo contra tudo que possa obstaculizar um veredicto favorável na volta do Filho de Deus, todos com o coração aberto para bem O receber. A garantia está, portanto, na fidelidade a Deus numa certeza que se acha envolta na generosidade do Ser Supremo, liberalidade atestada no dia de seu Natal. Para que haja perseverante lealdade para com Deus é que é necessária a vigilância, orando em todo tempo como recomendou Jesus. São Paulo compreendeu magnificamente isto e escreveu aos Efésios: “Orai em todo o tempo, orai em espírito (Ef 6,18), isto é, que a inteligência esteja atenta e todos os pensamentos dirigidos para o divino Redentor que veio ao mundo no seu Natal para socorrer os que estavam perdidos e que voltará para premiar os que acataram o processo soteriológico que Ele ofereceu. Assim visto, o dia 25 de dezembro é um fato do passado, ocorrido a mais de vinte séculos, mas jamais ultrapassado, antiquado. Jesus é um Deus do presente e do futuro, porque ele é sempre atual na vida do cristão e lhe abre a perspectiva do porvir, de tudo que ocorrerá quando a última página da História for escrita. A solenidade do Natal, mais do que o aniversário da vinda de Cristo, nos recorda que Ele é o Emanuel, o Deus conosco todos os dias e regressará a esta terra para seu triunfo definitivo. Nele, deste modo, o passado, o presente o futuro se unem e sua presença não é uma simples lembrança ou horizonte de um mero desejo. Eis porque é útil refletir no que é essencial para crer e progredir na fé e na esperança. Uma vida luminosa e não encarquilhada. Por tudo isto, o Natal preparado durante o Advento e o fim do mundo, longe de levarem ao imobilismo são um convite solene para que se marche corajosamente rumo à felicidade eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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