quinta-feira, 21 de julho de 2022

 

RICO COM RELAÇÃO A DEUS

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho deste domingo trata da importante relação dos seguidores de Cristo com os bens materiais (Lc 13, 13-21). Questão delicada, porque é preciso evitar tanto o angelismo no que diz respeito às necessidades humanas, quanto o materialismo que não respeita nossa dimensão espiritual. Assunto importante que nos esclarece quando se vislumbra o verdadeiro sentido da vida. A existência humana pode ser vista de duas maneiras, ou seja, considerando que tudo termina com a vida terrestre ou avaliando esta existência como um etapa preciosa rumo à vida eterna. Disto depende a maneira como cada um vive sua peregrinação neste mundo. É preciso então, total coerência entre o que se crê e o que se vive. De acordo com nossas convicções filosóficas e espirituais somos levados a práticas diferentes, sobretudo no que diz respeito aos bens materiais. É o que advertem os comentaristas do supra citado Evangelho. Se tudo termina com a morte, para os que assim erroneamente pensam, cumpre aproveitar ao máximo os prazeres sem outro cuidado que não seja a satisfação pessoal. Entretanto, para os que a vida presente não é senão o começo da vida eterna, uma preparação para o derradeiro encontro com o Senhor Deus, então é este objetivo que deve orientar a caminhada do viver nesta terra. No Evangelho Cristo nos lembra que o aumento dos bens materiais não ajuntará em nada a duração da vida terrestre. Um dia, quer queiramos ou não, será necessário deixar esta vida, tal como a conhecemos, para entrar na vida perene com Deus   para a qual o ser humano é destinado. Nossa vida eterna é desde já  aquilo na terra foi começado e é preciso sempre tender para as realidades espirituais as quais serão inteiramente possuídas após a morte. Nossa vida está oculta em Deus e o batizado, ressuscitado com Cristo, deve estar sempre voltado para as coisas do alto. São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios precisa qual é a realidade espiritual que ultrapassa a morte, que é o amor. Compreende-se então que Deus sendo amor, somente em mim a capacidade de amar e de ser amado pode acolher o Amor supremo. Tudo que não é o verdadeiro amor no cristão é estranho a Deus e assim não pode subsistir na sua presença. Trata-se então da importância, durante nossa vida terrestre, de trabalhar para aumentar a capacidade de amar que nos dará a possibilidade de passar pela porta da morte para entrar na vida eterna junto de Deus. Assim sendo, o critério do amor autêntico é aquele com o qual podemos julgar a nossa maneira de utilizar os bens materiais. Pode-se, deste modo, compreender que nada terrestre levamos para a outra vida e que os bens materiais não oferecem em si felicidade. Há no coração do homem dois receios e dois desejos que o impulsionam a procurar os bens materiais. Nós procuramos a posse dos bens terrestres para apaziguar o temor do futuro ou a satisfação de nosso desejo de poderio e glória efêmeros. É certo, porém, que há uma certa legitimidade no agir de maneira responsável quanto ao futuro, especialmente quando se tem a reponsabilidade de uma família, de uma comunidade. É também legítimo querer ter sucesso nas tarefas diárias. Não se pode é perder de vista o objetivo final de toda a vida humana. O desapego que o Evangelho de hoje inculca não impede de se ter uma vista prospectiva do desejo de viver, de crescer, de possuir, mas utilizando-se de bens terrenos, visando o bem próprio e o dos irmãos sem endeusar o que é transitório. Em tudo o importante é ser rico em relação a Deus. Do contrário, no final da vida muitos terão que lamentar a vacuidade de vãos esforços que giraram unicamente em torno do que é efêmero, vaidade de tudo que passa. É necessário se convencer que o único bem é amar a Deus de todo coração e de ser pobre de espírito. Para entrar nesta dinâmica do desprendimento em relação aos bens materiais é preciso não somente compreender que nossa finalidade consiste em fazer tudo para a glória de Deus e bem do próximo, entendendo que com o verdadeiro amor partilhado o nosso trabalho gerará uma melhor segurança em face às incertezas do futuro. Diante de tudo isto é de bom alvitre indagar como é nossa relação com os bens materiais e o dinheiro? Nas nossas prioridades que lugar damos à procura e acumulação de riquezas? Como posso ser rico para com Deus? * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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