RICO
COM RELAÇÃO A DEUS
Côn. Jose Geraldo Vidigal de
Carvalho*
O Evangelho deste
domingo trata da importante relação dos seguidores de Cristo com os bens
materiais (Lc 13, 13-21). Questão delicada, porque é preciso evitar tanto o
angelismo no que diz respeito às necessidades humanas, quanto o materialismo
que não respeita nossa dimensão espiritual. Assunto importante que nos esclarece
quando se vislumbra o verdadeiro sentido da vida. A existência humana pode ser
vista de duas maneiras, ou seja, considerando que tudo termina com a vida
terrestre ou avaliando esta existência como um etapa preciosa rumo à vida
eterna. Disto depende a maneira como cada um vive sua peregrinação neste mundo.
É preciso então, total coerência entre o que se crê e o que se vive. De acordo
com nossas convicções filosóficas e espirituais somos levados a práticas
diferentes, sobretudo no que diz respeito aos bens materiais. É o que advertem
os comentaristas do supra citado Evangelho. Se tudo termina com a morte, para
os que assim erroneamente pensam, cumpre aproveitar ao máximo os prazeres sem
outro cuidado que não seja a satisfação pessoal. Entretanto, para os que a vida
presente não é senão o começo da vida eterna, uma preparação para o derradeiro
encontro com o Senhor Deus, então é este objetivo que deve orientar a caminhada
do viver nesta terra. No Evangelho Cristo nos lembra que o aumento dos bens materiais
não ajuntará em nada a duração da vida terrestre. Um dia, quer queiramos ou não,
será necessário deixar esta vida, tal como a conhecemos, para entrar na vida perene
com Deus para a qual o ser humano é
destinado. Nossa vida eterna é desde já aquilo na terra foi começado e é preciso
sempre tender para as realidades espirituais as quais serão inteiramente possuídas
após a morte. Nossa vida está oculta em Deus e o batizado, ressuscitado com
Cristo, deve estar sempre voltado para as coisas do alto. São Paulo na sua
Primeira Carta aos Coríntios precisa qual é a realidade espiritual que
ultrapassa a morte, que é o amor. Compreende-se então que Deus sendo amor,
somente em mim a capacidade de amar e de ser amado pode acolher o Amor supremo.
Tudo que não é o verdadeiro amor no cristão é estranho a Deus e assim não pode
subsistir na sua presença. Trata-se então da importância, durante nossa vida
terrestre, de trabalhar para aumentar a capacidade de amar que nos dará a possibilidade
de passar pela porta da morte para entrar na vida eterna junto de Deus. Assim sendo,
o critério do amor autêntico é aquele com o qual podemos julgar a nossa maneira
de utilizar os bens materiais. Pode-se, deste modo, compreender que nada terrestre
levamos para a outra vida e que os bens materiais não oferecem em si
felicidade. Há no coração do homem dois receios e dois desejos que o
impulsionam a procurar os bens materiais. Nós procuramos a posse dos bens terrestres
para apaziguar o temor do futuro ou a satisfação de nosso desejo de poderio e
glória efêmeros. É certo, porém, que há uma certa legitimidade no agir de
maneira responsável quanto ao futuro, especialmente quando se tem a
reponsabilidade de uma família, de uma comunidade. É também legítimo querer ter
sucesso nas tarefas diárias. Não se pode é perder de vista o objetivo final de
toda a vida humana. O desapego que o Evangelho de hoje inculca não impede de se
ter uma vista prospectiva do desejo de viver, de crescer, de possuir, mas utilizando-se
de bens terrenos, visando o bem próprio e o dos irmãos sem endeusar o que é
transitório. Em tudo o importante é ser rico em relação a Deus. Do contrário,
no final da vida muitos terão que lamentar a vacuidade de vãos esforços que
giraram unicamente em torno do que é efêmero, vaidade de tudo que passa. É
necessário se convencer que o único bem é amar a Deus de todo coração e de ser
pobre de espírito. Para entrar nesta dinâmica do desprendimento em relação aos
bens materiais é preciso não somente compreender que nossa finalidade consiste
em fazer tudo para a glória de Deus e bem do próximo, entendendo que com o
verdadeiro amor partilhado o nosso trabalho gerará uma melhor segurança em face
às incertezas do futuro. Diante de tudo isto é de bom alvitre indagar como é nossa relação com os bens materiais e o dinheiro? Nas nossas
prioridades que lugar damos à procura e acumulação de riquezas? Como posso ser rico para com Deus? * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário